Faltava apenas alguns minutos para amanhecer em Gotham. No horizonte ainda escuro da cidade, vê-se uma silhueta parada. Aproximando-se da lápide que está na frente desta pessoa, pode-se ler as inscrições:
Katherine Hills Border
E
Daisy Eckhart Border
Amadas esposa e filha de William Eckhart Border
E
Daisy Eckhart Border
Amadas esposa e filha de William Eckhart Border
Parado em frente ao túmulo de sua família com um pequeno retrato na mão, William se preparava para se despedir da cidade e das pessoas que amava. Após conversar silenciosamente com elas, Border murmura uma última recomendação. "Toma conta de sua mãe, flor". Border alisa a foto com a ponta dos dedos de seu braço bom, e depois se retira para pegar o próximo vôo para fora da cidade, deixando tudo para trás. Iria ser ótimo respirar novos ares, talvez conseguisse até arranjar serviço em outro lugar e começar novamente do zero. Antes de partir, porém, assim que ia saindo do cemitério, uma voz familiar chama sua atenção.
- Amém.
- Uma pessoa mais sensível pode morrer porque você faz isso na porta de um cemitério, morcego.
- Já estava de saída?
- Sim, vou pegar o vôo daqui a 20 minutos…
Border faz uma breve pausa.
- Como se sentiu, Bruce?
Batman não estava surpreso, só achou que iria levar mais tempo. Border justifica-se.
- Eu já sentia algo familiar em sua voz, aquele seu "sinto muito" acabou removendo sua máscara. Não se preocupe, seu segredo está seguro.
- Naturalmente. Você parece diferente.
- Eu… - Border balança a cabeça para os lados – eu vi Kate, Bruce. Enquanto estava em coma, no hospital, eu… eu vi ela e minha filha. Não sei dizer se era sonho, ilusão ou o efeito das drogas, mas… elas vieram até mim… minha filha… veio até mim e me segurou pelo braço como ela costumava fazer – a emoção toma conta de Border, fazendo uma lágrima brotar do seu olho direito – minha esposa me pegou pela mão… elas pareciam dois anjos e… me disse que eu deveria seguir em frente… que eu tinha um propósito, que… minha hora não havia chegado… e então ela… disse que sempre vai me amar e… e as duas partiram – Border interrompe a narrativa e enxuga as lágrimas – Bruce… você acredita em anjos?
- Eu tento me focar naquilo que é concreto, William… mas acredito que tudo é possível.
Border somente acena com a cabeça. Uma nova pausa.
- Então? – Border resolve retomar a sua pergunta - Como se sentiu quando…
- Quer saber se eu quis vingança?
Border acena com a cabeça.
- Uma vez – responde Batman.
- E conseguiu?
- Não.
- Teve que viver com seu medo. Acabou fazendo dele sua arma. Que escolha, Bruce.
Ambos fazem outra pausa. Então William quebra o silêncio.
- E Máscara Negra?
- Ainda em Black Gate. Tem recebido acompanhamento médico do Arkham, será transferido em alguns dias. Mas não representa perigo agora.
- Isso é bom. Bem, acho que eu devo ir então. Boa sorte – diz Border estendendo sua mão.
- Igualmente.
Os dois trocam apertos de mão. Antes de partir porém, Border tenta se justificar.
- Olha, eu… sinto pelo que falei sobre você antes. Pelo visto, eu estava errado. A cidade tem sorte de ter você por aq…
Border se vira e Batman já não está mais lá. Então dá de ombros e descobre porque Gordon sempre parecia falar sozinho.
- É… a gente se vê.
William dá mais uma breve olhada na foto de sua família antes de partir, beija-a e sussurra "eu amo vocês" e a guarda com todo cuidado. Ainda tem tempo até chegar ao aeroporto, então resolve caminhar. Antes de ir, ele havia deixado algo no túmulo de sua família. Sua garrafa de Whisky agora contém flores.
Acima dele, uma grande silhueta observa vigilante o grande horizonte. Antes de amanhecer, estas duas figuras ainda terão algo em comum: a escuridão da noite que os rodeia. Elas carregam seu próprio fardo, motivados e conectados por circunstâncias semelhantes que o destino escolheu, dividindo as mesmas angústias e anseios.
Border agora caminha sabendo de seu propósito. E após muito tempo seu olhar já não parece mais perdido. Nele, brilha novamente um sentimento que antes lhe parecia distante: esperança.
Ao alto do detetive, o grande Cavaleiro de Gotham mergulha no vazio da cidade. A grande sombra de seu manto envolve os prédios, construções, casas, clubes noturnos e pessoas que protege. Ele é o guardião silencioso, o medo de toda e qualquer forma de maldade. Esta é sua cidade, seu território. E ele continuará lutando, sempre determinado a varrer a sujeira do submundo.
--------FIM--------
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