Zonzo e com a cabeça explodindo, William encontra-se com a testa deitada no volante da viatura abandonada que pegou em algum lugar nas proximidades do prédio em ruínas que acabara de sair. Mal conseguia se lembrar como chegou ali ou como reuniu forças para chegar, estava em um estado deplorável. A substância de Batman ainda ajudava a anestesiar a dor, mas no ponto que chegou, não muito. A pouca força ele tirava das muitas noites sem dormir, dos pesadelos, feridas e angústias que passou. De seu ódio mortal pelo assassino de sua família. Ali estava ele, no Narrows, finalmente. Um lugar em ruínas. Terreno esquecido pela população e assombrado pela máfia, um lugar que as pessoas temem em lembrar, inclusive a polícia. O próprio prefeito declarou que a ilha era mais uma cicatriz, uma ferida podre na cidade. Ninguém se importou em recuperar o lugar após um antigo ataque terrorista que quase acabou com a água da população. O lugar tornou-se terreno fértil para montar um negócio de tráfico uma vez que a própria força policial da cidade tinha medo de ir lá. Deve ter sido assim que Máscara Negra pensou.
Border sai do carro com muito esforço. O lugar parecia assombrado. As intermináveis construções em ruínas iam passando pelo olhar perdido do policial, tentando identificar o paradeiro exato de Máscara Negra no meio daquela terra de ninguém. Após passar por vários lugares, Border começa a avistar alguns sinais do que pode ser uma certa movimentação e vai checar. Um helicóptero pousa alguns quarteirões dali. Fazendo um enorme esforço para ficar de pé, Border tenta se mover silenciosamente em direção ao helicóptero.
Enquanto isso, Máscara Negra está se preparando para partir. No enfadonho prédio em que se encontra, contrastando com a podridão local, estão seus manequins e máscaras de mil maneiras, de diferentes faces. Faces que o terrível chefe de máfia matou e faces que ainda mataria. E mesmo faces que ainda não tinham ganho corpo… forma… personalidade. Apenas rostos em uma exposição exótica. Mas a parte mais bizarra da coleção eram as faces de carne e pele que ficavam expostas logo acima das máscaras. Tomado pela insanidade que a identidade de sua máscara lhe confere, Sionis costumava arrancar a parte frontal do rosto de suas vítimas e embalsamá-los para que lembrasse de ter cometido erros. Era uma exposição macabra de rostos que um dia foram de sua organização criminosa e hoje agonizam nas paredes do terrível e doentio mafioso.
Um dos capangas de Sionis adentra o edifício para verificar se tudo está pronto e explicar que Batman os fez recuar. Quando ele avista a face de Roman sem sua máscara de madeira tem uma reação de nojo e repulsa. A face do mafioso era completamente deformada, devido a um incêndio a muito tempo atrás em que Roman esteve envolvido tentando matar Batman. Porém agora, pedaços de carne lhe faltavam no rosto e dava para perceber detalhes de sua estrutura óssea negra, devido à fulígem e outras causas.
- Chefe, o helicóptero está lá fora, acho melhor você se apressar.
- Seu idiota, tenho que pegar Circe. Acha que vou abandoná-la aqui?
- Se eu fosse você estaria mais preocupado, acho que Batman está vindo para cá. Ele e… Border, chefe.
- Ah… sei, e vocês saíram correndo que nem umas galinhas assustadas quando viram o morcego. Border, hãn? Aquele tira asqueroso tem sete vidas. Vou ter que cuidar dele eu mesmo. Está tudo pronto lá fora?
- Wolf está esperando no helicóptero, é só a gente sair rápido dessa ilha pra fora da cidade.
- Ótimo!
No mesmo instante, Máscara Negra metralha seu capanga, matando-o. O impiedoso chefão do crime costuma se livrar de qualquer um que não ache mais útil à sua gangue, sem remorso.
- Deixa eu me livrar do peso extra então…
Em alguns segundos, Sionis está saindo do edifício, enquanto Border, que já localizou sua presa, tenta pensar rápido numa maneira de atrasar o vilão. O valente policial tenta se aproximar da entrada, mas percebe que Wolf está atento a qualquer ação no local. Então se lembra de que Batman deixou com ele algumas cápsulas de gás, e percebe que pode usar de uma rápida distração para se aproximar.
Em seguida, Wolf avista à sua direita, uma densa nuvem de fumaça e vai checar, desconfiado. Quando Wolf se aproxima da nuvem, subitamente dá um grito e desmaia. Border o acerta com um pedaço de madeira que achou pelos arredores. Com Wolf fora de ação, Border fica livre para agir, e rapidamente trata de desaparecer. Máscara Negra acomoda um contêiner com sua coleção de máscaras e uma mala com objetos de valor, incluindo cápsulas com seu veneno, desenvolvido pelo Espantalho.
- Wolf, vamos sair.
Em alguns segundos, o helicóptero já está no ar, e aparentemente não há mais preocupações para Sionis. Mas o destino se revela traiçoeiro, pois quem quer que seja está se desviando da rota planejada para fuga. Máscara Negra resolve tomar partido.
- O que está fazendo seu imbecil? Vira esse helicóptero agora!
À um sinal afirmativo, o piloto faz uma manobra brusca e quase derruba o mafioso, depois vira novamente enquanto Máscara Negra dá de cara com a poltrona do piloto, não fosse sua máscara, teria quebrado o nariz.
Zonzo e enjoado, Máscara Negra tenta se levantar, já empunhando sua arma, mas subitamente vê que a cadeira de piloto está vazia. Pensando que o piloto se jogou, o mafioso assume os controles, mas é surpreendido com uma mão em seu ombro. Instintivamente ele vira e é atingido com um fortíssimo golpe na cabeça que parte sua máscara, apesar de ainda mantê-la cobrindo sua cabeça.
- Bem vindo ao inferno – esbraveja o piloto que ainda se encontrava no helicóptero. Para surpresa do bandido, Wolf retira sua máscara e revela ser William Border. Máscara Negra, diante do perigo de morte não vê tempo para casualidades e parte para cima de Border, apesar de zonzo e enfraquecido, desfere potentes golpes. A luta é intensa. Os dois combatentes soam, sangram, não se dão por vencidos. A esta altura, a dor no organismo de Border já é latente, mas a visão atordoante de seu adversário o faz esquecer toda a dor, e a batalha continua. Punhos desferem golpes terríveis, que testam no limite a resistência humana e conferem urros de agonia e desespero. Não há tempo para pensar, não há como voltar atrás… só o calor da batalha. Após uma queda, Máscara Negra alcança uma arma que caiu no chão e no menor movimento de dispará-la, tem sua mão torcida e um potente soco de William em seu estômago. O inferno de William Border ardia agora na carcaça de seu antagonista, fazendo com que a força que machucou o policial durante tanto tempo se transformasse em sua própria força de combate.
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