Tuesday, June 2, 2009

FAN FICTION: Batman: Sob O Domínio Da Face Oculta - Capítulo 16

Renascer

É noite. Um vulto caminha por um canto escuro de Old Gotham, seu rosto é uma incógnita. Ele pára em frente a um conjunto com uma placa escrito "CONDENADO". A silhueta deixa no chão da calçada um ramalhete de flores e permanece lá por alguns segundos, depois se retira do local.

Mais tarde, o vulto se dirige para o Beco do Crime. Chegando em uma rua abandonada, ele se curva e permanece de pé, mãos no bolso do casaco, pensativo. Atrás dele, surge uma outra silhueta, um pouco mais magra e feminina. Ela se dirige ao primeiro vulto com ternura.

- Noite difícil?

A luz natural da noite ilumina timidamente estas pessoas. Dra. Leslie Thompkins e Comissário de Polícia James Gordon.

- Nada é fácil quando se mora aqui.

- Novidades?

- Sobre?

Leslie aponta o olhar para o prédio.

Gordon suspira e dá de ombros. Já fazia um mês.

- Se eu soubesse que o afetaria tanto, teria dito a ele antes. Evitaria que aquilo tudo acontecesse.

- Você fez o que deveria ser feito, o manteve longe do alcance do olho público, ficou do lado dele quando todos se afastaram. Deu-lhe uma oportunidade de recomeçar quando outro o teria tirado de ação.

- Eu me apeguei Leslie, isso não pode acontecer. Eu…

- …o que? Precisa ser menos sentimental? Vou te dizer uma coisa. Eu conheço Bruce desde quando seus pais ainda eram vivos. Pouco tempo depois que eles morreram, ele me disse ter feito um juramento solene. Pensei, meu Deus, era apenas uma criança, não achei que devesse levar tão a sério. No dia seguinte, Bruce foi à procura do assassino. Eu fui achá-lo aqui, após três dias, sozinho, sujo e esfomeado, Alfred também recorreu a mim, preocupado. Naquela hora eu tive a certeza do quanto aquele menino amava seus pais a ponto de sacrificar qualquer coisa pra que a morte deles tivesse algum sentido. Então eu o abracei e o levei pra casa.

- Vindo de Bruce, isso é algo novo pra mim. Quero dizer… eu conheço suas obras e projetos filantrópicos, mas sempre tive a impressão que ele era um sujeito meio que à margem da sociedade. Nunca me pareceu interessado em trabalho policial ou coisa do tipo. Sempre associei suas atitudes a esse trauma de infância.

- Bruce tem muitos defeitos, é verdade. Mas sempre se importou com os outros ao seu redor. Às vezes é preciso ver através da máscara de indiferença que ele usa. Algumas vezes eu ainda vejo aquele menininho assustado após seus pais serem baleados. É em momentos como esse que ele vem me pedir ajuda. Você é um ótimo juiz de caráter, James, mas a vida me ensinou que não adianta prender um obsessivo compulsivo. Chega uma hora que eles devem seguir seus caminhos. Por mais que a gente queira o bem deles.

Uma pausa tomou o lugar em um grande silêncio. Um raro momento de tranqüilidade e meditação em um território considerado hostil. Leslie aproveita o momento e, pousando a mão sobre o ombro do justo policial, lhe conforta o espírito. Gordon desabafa.

- Foi uma partida difícil, especialmente pra mim.

- Você conversou com ele?

- Algo assim.

- Você o via como um filho, não?

- É… talvez… me faz pensar em Bárbara…

Mais tarde, Gordon retorna para a delegacia. Iria passar outra noite em claro para uma batida. Alguém mais se encontrava na parte dos fundos, mexendo no velho arquivo de crimes não resolvidos. As luzes não estavam acesas por todo lugar. Um pequeno porta-retrato se encontrava na mesa, bem ao lado do ocupante da sala, que observava uma pasta. Gordon então se aproxima.

- Sente-se melhor? – pergunta a sombra para Gordon.

- É a primeira vez que pergunta isso pra mim. Bom… um pouco.

A silhueta então sai da escuridão. É Batman.

- Ele deixou pra que se lembrasse – diz Batman, apontando para o retrato.

- É, eu li o bilhete dele.

- Ainda se sentindo culpado?

- De certa forma. Não consigo parar de pensar que as coisas poderiam ser diferentes. Desculpe se estou lhe incomodando com isso…

- Você nunca me incomoda, Jim.

- Acho que estamos todos conectados com algo, não é? Quero dizer… embora eu não faça idéia do que alguém como você passou, mas creio que tem os seus motivos. Todos temos.

Achando que a essa hora Batman já tinha ido embora como costuma fazer, Gordon levanta a cabeça e, para sua surpresa, ainda o vê em sua frente. Gordon dá um leve sorriso.

- Achei que não precisava ouvir isso.

- Só ouço o que é necessário ouvir.

Batman se dirige para a janela do escritório, pronto para partir, mas antes disso se despede dizendo "boa noite, Jim".

Gordon apenas acena com a cabeça. Logo depois, vê que Batman tirou um documento da pasta, que se referia à Máscara Negra e o assassino da família de Border. Finalmente poderia tirar aquele peso de suas costas, com Máscara Negra em Black Gate poderia descansar um pouco. Gordon não pôde deixar de admitir que havia um certo conforto em sua alma. Então leu novamente o bilhete que Border deixou:

"Estou deixando Gotham. Nada pessoal. Fique com o retrato, sei que gostava de Daisy. Boa sorte."

William

"Boa sorte, meu caro; espero que encontre o que procura" Gordon diz pra si mesmo enquanto guarda o bilhete e acena com a cabeça. Então era isso. Sem despedidas nem ressentimentos. "Melhor assim" pensa Gordon. Border pensou muito em tudo enquanto estava hospitalizado, após sair de um coma, graças às doses reforçadas de composto que lhe foram aplicadas.

Gordon viu sua ascensão como a nata da força policial da cidade, presenciou sua queda e sua sede de vingança… tentou controlar por muito tempo o animal que aquela tragédia tinha criado dentro do coração de William. E também passou noites em claro esperando qualquer reação de William, entrando e saindo do hospital, após a violenta batalha contra Máscara Negra. Já era hora de deixar Border seguir seu próprio caminho.

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