10 / 10
Nostalgia é a palavra de ordem este ano para mim. Vou falar de coisas novas também, mas decidi voltar mais ao passado e recordar bons momentos. Como, por exemplo, os discos do Guns N' Roses que eu era doido a ponto de pintar as ilustrações.
Mas entre as bandas de Rock como o Guns N' Roses, esse alvoroço era triplicado, especialmente da minha parte. Eu venho de uma família simples, muito boa, mas assim como toda família de classe média naquele momento, não tinha como eu torrar fortunas em discos de vinil, portanto a gente pegava o disco emprestado do amigo e gravava em fita cassete para ouvir, ou então gravava músicas das rádios. Eu fazia muito isso. Não tinha internet, computador, nada, então a gente tinha que confiar nas amizades da escola.
Eu era tão fã do Guns, que eu comprava as fitas BASF onde eu tinha gravado o meu UYI que peguei emprestado do amigo da escola, e tirava xerox da capa do disco no tamanho exato de uma caixa de fita cassete; depois, pegava os lápis de cor, e ficava colorindo a capa para ficar exatamente igual a do disco original! Fiz isso com os dois UYI, e acabei memorizando aquelas capas, por conta disso!
Esse, provavelmente, foi o disco mais esperado do Guns N' Roses naquele momento. A banda vinha de um tremendo sucesso com seu primeiro disco, Appetite for Destruction, e também de seu segundo "álbum", que na verdade era uma compilação de EPs de material antigo, o G N' R Lies. Esse daí eu tenho o vinil dele até hoje, comprado perto de onde eu morava! Segundo a própria banda, eles se encontravam numa efervescência de ideias tão grande naquele momento, que tiveram a ideia de lançarem um álbum duplo, mas o produtor falou que era melhor dividir, pois discos duplos não tinham tanta popularidade. Balelas à parte, o disco entrou para a história como um dos maiores marcos do Rock de todos os tempos, até mesmo pela sua enigmática capa.
A capa do disco era uma reprodução de uma dita pintura de um artista americo-estoniano chamado Mark Kostabi. Só que o cara era uma fraude! Axl Rose na época não sabia disso, e acabou comprando a pintura por uma grande quantia em dólares. O quadro, chamado por Kostabi de "Use Your Illusion", era um pequeno trecho de uma pintura famosa do artista italiano clássico Raphael, ou se preferir, Raffaello Sanzio da Urbino. Ele pintou a obra-prima "Scuola di Atene", e o Kostabi foi lá, pegou aquele trechinho aí assinalado, e ampliou a imagem para vender como uma obra independente. Marreteiro de primeira categoria! Mas pelo menos, o tal do Kostabi nos proporcionou um belo momento memorável na história do Rock, chamando a atenção de todos para a arte de Raphael. No fim das contas, há males que vem para o bem.
Mas vamos ao prato principal do disco, claro, as músicas! Eu vou primeiramente assinalar aquelas músicas que eu sempre volto nelas para ouvir de novo, os destaques do disco segundo a minha percepção. E começo destacando o blues-rock "Dust N' Bones"; eu amo essa faixa! É um blues-rock no melhor sentido do termo, às vezes eu coloco ela e pego meu jogo de gaitas para treinar um pouco, acompanhando a melodia.
"Live and Let Die" é uma versão cover da música do Paul McCartney & The Wings, que primeiramente ficou famosa no filme Live and Let Die de 1973, com Roger Moore no papel de James Bond. Só que eu primeiramente tive contato com a versão do Guns, o que me causou a surpresa inversa quando eu vi o filme do Roger Moore anos após. Gosto das duas versões, a original de Paul e a cover do Guns, mas é desnecessário dizer que quem prefere uma sonoridade mais pesadona, vai curtir mais a do Guns.
Depois tem a power balada "Don't Cry" que aqui é tida como a versão original, mas ironicamente, na época, eu vi primeiro a versão do UYI II, com letra alternativa, acreditam? Sei lá, eu era assim, meio às inversas, he he! É uma balada bonita, com uma letra sentida, e segundo contam, ela é a primeira parte de uma trilogia de canções de amores trágicos e corações partidos, completada pela fantástica "November Rain" e por "Estranged", no UYI II. Eu ficava tentando cantar o vocal final dela, longo e demorado, na frente do sistema de som, e minha mãe vinha pra mim e dizia "pára de miar que nem gato!"; aí eu voltava e tentava de novo!
E aproveitando que eu citei "November Rain", ela certamente é uma das primeiras coisas que me vem à cabeça quando penso nesse disco. A primeira parte dela é toda doce, açucarada, não aquele açúcar que te dá enjoo, mas uma melodia bacana; era a parte que a rádio sempre tocava, mas a segunda parte dela não. Essa é amarga, fúnebre, agressiva, violenta. É uma catarse de emoções mistas que eu acho indescritível, você tem que ouvir! O clipe dela sempre tinha aquela cena sensacional do Slash tocando guitarra na praia, coisa mais épica, e naquele momento, eu queria muito ser o cara! Foi uma das minhas maiores inspirações para eu começar a tocar guitarra.
Outra que eu curto bastante o peso e os riffs é "Back Off Bitch", que ironicamente é sobre Axl reclamando da sua ex-namorada da época, 1987. Ela tem um forte arranjo e os riffs são muito marcantes, marca registrada do Slash. Essa eu também me pegava na atmosfera e ficava repetindo "bitch, bitch, bitch" no finalzinho, isso energizava você! Depois que aprendi inglês, descobri o que era "bitch", e tomei mais cuidado ao berrar isso por aí! O mesmo vai para a acelerada "Double Talkin' Jive", cujo refrãozinho eu curtia sair cantando pelos lugares! Mas vamos falar aqui, era foda esses tempos, tinha uma banda como essa que não tinha reservas em ser boca-suja, e fazia uns rocks maneiros! Hoje em dia está todo mundo extremamente afrescalhado, dá até náusea de pensar!
"The Garden" é outra que acho muito bacana, muito embora o pessoal não comente muito sobre ela. "Don't Damn Me" é mais uma dessas pouco faladas, mas que eu curto pra caramba; é acelerada, e tem um vocal muito legal do Axl. Por fim, a longa "Coma", você entendendo a letra, parece até um episódio de Chicago Med. É sobre as overdoses que Axl e Slash tinham na época, e tem até efeitos especiais de hospital e um desfibrilador. Gosto muito dela, tem um arranjo dos mais criativos, e passagens ótimas!
Tem muitas outras músicas e passagens bacanas no disco, só não apontei como destaques porque as que apontei acima me marcaram muito mais. Mas eu posso citar rapidamente aqui a agressividade e rapidez das boas e energéticas "Right Next Door to Hell", "Perfect Crime" e "Garden of Eden", A pegada mais country de "You Ain't The First" e "Bad Obsession" e o som tipicamente gunner de "Bad Apples" e "Dead Horse".
Olha, eu sinceramente tenho que ir de encontro com certas opiniões de pessoas que dizem que eles erraram na escolha da capa do disco. Sim, tem gente que diz isso! Eu acho que a escolha pelo trecho da pintura de Raphael não poderia ter sido mais acertado, porque eu considero essa fase do Guns como a fase de ouro deles! É uma fase onde você pode pegar tudo que você quiser no disco e achar algo que te emocione, que te chame a atenção, com a qual você se identifique. Para mim, é a fase que tem as melhores músicas possíveis deles, e eu sou muito grato por ter vivenciado ao vivo essa fase dos caras quando moleque e pintado com lápis de cor aquelas xerox que me fizeram memorizar aquelas artes!
Na boa, tenho muita dó de quem só foi descobrir o Guns em 2008, com toda honestidade! Você pode até curtir aquele disco que demorou 10 anos para sair, mas não me venha dizer que é o que tem de melhor da banda, cara, porque simplesmente não é! Vão atrás do UYI I, eu não poderia recomendar o suficiente esse discasso de Rock se você é um apaixonado pela coisa como eu.
Tracklist:
Com Dizzy Reed nos teclados de apoio.
Eu era tão fã do Guns, que eu comprava as fitas BASF onde eu tinha gravado o meu UYI que peguei emprestado do amigo da escola, e tirava xerox da capa do disco no tamanho exato de uma caixa de fita cassete; depois, pegava os lápis de cor, e ficava colorindo a capa para ficar exatamente igual a do disco original! Fiz isso com os dois UYI, e acabei memorizando aquelas capas, por conta disso!
Esse, provavelmente, foi o disco mais esperado do Guns N' Roses naquele momento. A banda vinha de um tremendo sucesso com seu primeiro disco, Appetite for Destruction, e também de seu segundo "álbum", que na verdade era uma compilação de EPs de material antigo, o G N' R Lies. Esse daí eu tenho o vinil dele até hoje, comprado perto de onde eu morava! Segundo a própria banda, eles se encontravam numa efervescência de ideias tão grande naquele momento, que tiveram a ideia de lançarem um álbum duplo, mas o produtor falou que era melhor dividir, pois discos duplos não tinham tanta popularidade. Balelas à parte, o disco entrou para a história como um dos maiores marcos do Rock de todos os tempos, até mesmo pela sua enigmática capa.
Scuola di Atene, Raphael, entre 1509 e 1511 A arte original |
Use Your Illusion, Mark Kostabi, 1991 A marretagem |
Mas vamos ao prato principal do disco, claro, as músicas! Eu vou primeiramente assinalar aquelas músicas que eu sempre volto nelas para ouvir de novo, os destaques do disco segundo a minha percepção. E começo destacando o blues-rock "Dust N' Bones"; eu amo essa faixa! É um blues-rock no melhor sentido do termo, às vezes eu coloco ela e pego meu jogo de gaitas para treinar um pouco, acompanhando a melodia.
"Live and Let Die" é uma versão cover da música do Paul McCartney & The Wings, que primeiramente ficou famosa no filme Live and Let Die de 1973, com Roger Moore no papel de James Bond. Só que eu primeiramente tive contato com a versão do Guns, o que me causou a surpresa inversa quando eu vi o filme do Roger Moore anos após. Gosto das duas versões, a original de Paul e a cover do Guns, mas é desnecessário dizer que quem prefere uma sonoridade mais pesadona, vai curtir mais a do Guns.
Depois tem a power balada "Don't Cry" que aqui é tida como a versão original, mas ironicamente, na época, eu vi primeiro a versão do UYI II, com letra alternativa, acreditam? Sei lá, eu era assim, meio às inversas, he he! É uma balada bonita, com uma letra sentida, e segundo contam, ela é a primeira parte de uma trilogia de canções de amores trágicos e corações partidos, completada pela fantástica "November Rain" e por "Estranged", no UYI II. Eu ficava tentando cantar o vocal final dela, longo e demorado, na frente do sistema de som, e minha mãe vinha pra mim e dizia "pára de miar que nem gato!"; aí eu voltava e tentava de novo!
E aproveitando que eu citei "November Rain", ela certamente é uma das primeiras coisas que me vem à cabeça quando penso nesse disco. A primeira parte dela é toda doce, açucarada, não aquele açúcar que te dá enjoo, mas uma melodia bacana; era a parte que a rádio sempre tocava, mas a segunda parte dela não. Essa é amarga, fúnebre, agressiva, violenta. É uma catarse de emoções mistas que eu acho indescritível, você tem que ouvir! O clipe dela sempre tinha aquela cena sensacional do Slash tocando guitarra na praia, coisa mais épica, e naquele momento, eu queria muito ser o cara! Foi uma das minhas maiores inspirações para eu começar a tocar guitarra.
Outra que eu curto bastante o peso e os riffs é "Back Off Bitch", que ironicamente é sobre Axl reclamando da sua ex-namorada da época, 1987. Ela tem um forte arranjo e os riffs são muito marcantes, marca registrada do Slash. Essa eu também me pegava na atmosfera e ficava repetindo "bitch, bitch, bitch" no finalzinho, isso energizava você! Depois que aprendi inglês, descobri o que era "bitch", e tomei mais cuidado ao berrar isso por aí! O mesmo vai para a acelerada "Double Talkin' Jive", cujo refrãozinho eu curtia sair cantando pelos lugares! Mas vamos falar aqui, era foda esses tempos, tinha uma banda como essa que não tinha reservas em ser boca-suja, e fazia uns rocks maneiros! Hoje em dia está todo mundo extremamente afrescalhado, dá até náusea de pensar!
"The Garden" é outra que acho muito bacana, muito embora o pessoal não comente muito sobre ela. "Don't Damn Me" é mais uma dessas pouco faladas, mas que eu curto pra caramba; é acelerada, e tem um vocal muito legal do Axl. Por fim, a longa "Coma", você entendendo a letra, parece até um episódio de Chicago Med. É sobre as overdoses que Axl e Slash tinham na época, e tem até efeitos especiais de hospital e um desfibrilador. Gosto muito dela, tem um arranjo dos mais criativos, e passagens ótimas!
Tem muitas outras músicas e passagens bacanas no disco, só não apontei como destaques porque as que apontei acima me marcaram muito mais. Mas eu posso citar rapidamente aqui a agressividade e rapidez das boas e energéticas "Right Next Door to Hell", "Perfect Crime" e "Garden of Eden", A pegada mais country de "You Ain't The First" e "Bad Obsession" e o som tipicamente gunner de "Bad Apples" e "Dead Horse".
Olha, eu sinceramente tenho que ir de encontro com certas opiniões de pessoas que dizem que eles erraram na escolha da capa do disco. Sim, tem gente que diz isso! Eu acho que a escolha pelo trecho da pintura de Raphael não poderia ter sido mais acertado, porque eu considero essa fase do Guns como a fase de ouro deles! É uma fase onde você pode pegar tudo que você quiser no disco e achar algo que te emocione, que te chame a atenção, com a qual você se identifique. Para mim, é a fase que tem as melhores músicas possíveis deles, e eu sou muito grato por ter vivenciado ao vivo essa fase dos caras quando moleque e pintado com lápis de cor aquelas xerox que me fizeram memorizar aquelas artes!
Na boa, tenho muita dó de quem só foi descobrir o Guns em 2008, com toda honestidade! Você pode até curtir aquele disco que demorou 10 anos para sair, mas não me venha dizer que é o que tem de melhor da banda, cara, porque simplesmente não é! Vão atrás do UYI I, eu não poderia recomendar o suficiente esse discasso de Rock se você é um apaixonado pela coisa como eu.
Use Your Illusion I (1991)
(Guns N' Roses)
Tracklist:
01. Right Next Door to Hell
02. Dust N' Bones
03. Live and Let Die (Paul McCartney And The Wings cover)
04. Don't Cry (Original)
05. Perfect Crime
06. You Ain't the First
07. Bad Obsession
08. Back Off Bitch
09. Double Talkin' Jive
10. November Rain
11. The Garden
12. Garden of Eden
13. Don't Damn Me
14. Bad Apples
15. Dead Horse
16. Coma
02. Dust N' Bones
03. Live and Let Die (Paul McCartney And The Wings cover)
04. Don't Cry (Original)
05. Perfect Crime
06. You Ain't the First
07. Bad Obsession
08. Back Off Bitch
09. Double Talkin' Jive
10. November Rain
11. The Garden
12. Garden of Eden
13. Don't Damn Me
14. Bad Apples
15. Dead Horse
16. Coma
Selo: Geffen
Guns N' Roses é:
Axl Rose: voz, piano, sintetizador, violão
Slash: guitarras, violão, dobro, voz
Izzy Stradlin: guitarras, voz, percussão
Duff McKagan: baixo, violão, voz
Matt Sorum: bateria, percussão, voz
Duff McKagan: baixo, violão, voz
Matt Sorum: bateria, percussão, voz
Com Dizzy Reed nos teclados de apoio.
Discografia:
- Chinese Democracy (2008)
- "The Spaghetti Incident?" (1993)
- Use Your Illusion II (1991)
- Use Your Illusion I (1991)
- G N' R Lies (1988)
- Appetite for Destruction (1987)
Site oficial: www.gunsnroses.com
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