Já fazia um tempo que eu estava querendo fazer uma matéria dessas. Venho acompanhando a série de TV baseada nos livros de Conan Doyle e ela sempre conseguiu me impressionar de várias formas, mesmo em seus dias de menos inspiração. O melhor de tudo é o grau de respeito e dedicação com a qual a série transita cada aspecto dos livros para a modernidade, mas entre esses aspectos, há o curioso take moderno do personagem James Moriarty, e é o que estaremos vendo aqui nesta matéria.
Eu não sei quantos de vocês já tiveram contato com a série de livros de Sherlock Holmes. Não é necessário você ler os livros para curtir a série de TV, verdade seja dita, mas tê-los lido somente aumenta mais a diversão, devido às diversas referências que a série faz da mitologia. Agora, há sim, muitas, muitas liberdades que o seriado tomou em relação aos livros. Muitas mesmo. Algumas das mais notórias são o perfil da esposa de Watson, Mary Morstan; outra bastante diferente da versão original é Irene Adler, que na série é muito mais provocadora e... bem... safadinha do que sua versão na literatura.
Eu não sei quantos de vocês já tiveram contato com a série de livros de Sherlock Holmes. Não é necessário você ler os livros para curtir a série de TV, verdade seja dita, mas tê-los lido somente aumenta mais a diversão, devido às diversas referências que a série faz da mitologia. Agora, há sim, muitas, muitas liberdades que o seriado tomou em relação aos livros. Muitas mesmo. Algumas das mais notórias são o perfil da esposa de Watson, Mary Morstan; outra bastante diferente da versão original é Irene Adler, que na série é muito mais provocadora e... bem... safadinha do que sua versão na literatura.
E também há a questão do humor na série; pois é, nos livros esse humor não existe, ou pelo menos é bastante reduzido dependendo do seu senso de humor. E essa é uma das características que eu mais elogio na série de TV, a forma inteligente e sofisticada que ela achou para inserir humor nas histórias de Sherlock Holmes; o timing cômico da série é perfeito, e o humor aparece justamente no ponto certo... diferente da inútil e inadmissível versão cinematográfica estrelando Robert Downey Jr., com seu humor deslocado, babaca e totalmente dispensável.
Dentre todas essas características, o personagem que mais me chamou a atenção foi, sem sombra de dúvida, a do Napoleão do crime, James Moriarty. E, devo dizer que, em relação a esse, a série de TV realmente alterou muita coisa. A boa notícia, é que as alterações não só funcionam, mas também produzem, em tempos recentes, a melhor versão do vilão que eu já vi! E eu falo isso sem absolutamente reserva alguma!
Dessa forma, vamos comparar as versões do vilão e entender as diferenças entre a versão original e a versão do seriado.
O Moriarty de Conan Doyle
Este é o Prof. Moriarty da forma como Conan Doyle originalmente o imaginou nos livros:
O prezado Prof. James Moriarty, de acordo com Conan Doyle, é um senhor de idade, de cara fechada, calmo, sisudo e o mandante de vários crimes que chamaram a atenção do detetive em suas histórias. Um homem metódico, absurdamente inteligente e competitivo. Não é a toa que Sherlock Holmes o considera como o Napoleão do crime.
Moriarty, na literatura, não se dá ao luxo de brincar ou de demonstrar qualquer tipo de sentimentos além de indiferença, raiva ou irritação. Fisicamente, ele é o arquétipo de personagem semelhante ao Sr. Scrooge, de Charles Dickens. Em termos psicológicos, ele é o clássico vilão, fala o necessário com o herói, não se dá por vencido, tenta manter a calma a todo momento e ser polido, mas ameaçador, e deseja, a todo custo, provar a todos que é o intelecto superior. Eu gosto muito de usar o ator Eric Porter, da série de TV dos anos 80/90, para representar o Moriarty de Conan Doyle, porque ele é a versão mais próxima e exata de como o autor o imaginou:
Percebe-se de cara a semelhança com o personagem dos livros, não é verdade? Desde a expressão sisuda e séria até a idade, o Moriarty de Porter é exatamente o do livro. Esta versão não aparece sempre nas histórias de Sherlock Holmes, na verdade ele aparece muito pouco. No volume The Memoirs of Sherlock Holmes, publicado em 1894 está registrada sua única aparição, na história curta The Final Problem. O detetive e o vilão se enfrentam uma única vez, e pronto, acabou.
Nos é revelado, em The Final Problem, que Moriarty foi o mandante original de muitos dos crimes que aconteceram nas histórias anteriores e essa fica sendo a razão de Moriarty ter sido o maior vilão das histórias de Sherlock Holmes. Ou seja, ele não é o maior vilão por causa do número de vezes que apareceu, mas sim porque foi, segundo a história curta, o que mais deu trabalho para Holmes derrotar.
Sentindo-se desapontado? Te entendo! Eu mesmo, quando lia as histórias de Holmes quando mais jovem, ficava procurando a todo instante mais aparições dele, tentando entender por que ele era considerado um grande vilão nos livros. Acaba que é só por isso, foi o cara que mais deu trabalho ao detetive, e quase provocou a morte do mesmo.
Enfim, este é o James Moriarty de Conan Doyle. Vamos dar uma olhada agora no da série de TV.
O Moriarty de Sherlock
Este é o James Moriarty de 2010, da série Sherlock:
TÓIN... CUCKO! CUCKO! |
Falando no lunático, ele aparece! O Moriarty da série de TV é doido varrido!
OK, vamos por partes! Se para o Moriarty de Conan Doyle, a situação entre ele e o detetive estava "ficando impossível", e ou um ou outro teria que ser eliminado, aqui temos um Moriarty totalmente amalucado, e doido por um desafio mental.
Quando lemos os livros, percebemos que o Moriarty original é que fica incomodado com a interferência de Holmes em suas operações, mas ao contrário, o detetive se sente estimulado mentalmente por suas maquinações, checando todos os dias nos jornais, pistas de seus ardis.
O Moriarty de Andrew Scott já é o oposto. Ele meio que é o Coringa do universo do Holmes da TV, e algumas vezes até faz certas caras e bocas, ou falas finas para provocar o detetive. O toque de celular dele então, que toca "Stayin' Alive" dos Bee Gees, é impagável! O Moriarty de Scott se sente atraído por Holmes, não repelido como nos livros. Ele lembra bastante o Coringa de Heath Ledger dizendo ao Batman "você me completa", ou algo como "você não quer admitir, mas você sou eu! Exceto que você é chato, pois está do lado dos anjos."
Extremamente imprevisível e articulado, ele é capaz de tudo para chamar a atenção de Holmes na série. O cara me aparece em um roubo de uma coroa, vestido de rei com a coroa na cabeça! Doido é pouco! O Moriarty original jamais se daria ao luxo de fazer tais brincadeiras! Aliás, o Moriarty original seria considerado chato pelo de Andrew Scott! Para se ter uma ideia, em um episódio da segunda temporada, Moriarty se passa pelo amigo gay de uma colega de Holmes, só para fazer andar um plano ambicioso e exótico que ele tinha para queimar a reputação do detetive. E o cara consegue!
Tarado por jogos mentais, trocadilhos, charadas, e diversas outras coisas, o Moriarty da TV joga verde para colher maduro; ele brinca com o detetive, não para matá-lo - embora seu objetivo seja matá-lo eventualmente, quando se cansar dele - mas sim para se divertir com ele. E também, diferente do dos livros, este Moriarty aparece em mais de um episódio. Não só isso! Ele realiza a proeza de aparecer em mais de uma temporada! Para ser mais exato, o personagem aparece em todas as temporadas da série! Sim, todas! Não em todos os episódios, mas em algum momento chave, ele vai lá e dá as caras. O cara é tão maluco, que é capaz até de tirar a própria vida para ferrar com a de seu oponente!
PONTOS EM COMUM
Em meio a todas estas diferenças, ambas as versões tem sim, pontos semelhantes entre si. Ambos são extremamente inteligentes e donos de uma organização secreta capaz de, como diz o personagem de Scott, "explodir a OTAN em ordem alfabética", se quiserem, só para provarem alguma coisa. Além de inteligentes e poderosos, ambos tem aspirações enormes de poder e domínio, e a rivalidade com Sherlock característica em qualquer versão que você considerar. Também são extremamente focados e nunca desistem de algo, uma vez que começam. Sabem muito bem que o detetive representa uma ameaça real para tudo aquilo que almejam.
VEREDITO
Mas com isso eu não estou dizendo que eu desgoste do original. O Moriarty de Scott é uma modernização, e como toda modernização, há aspectos que precisam ser traduzidos para os nossos tempos. Continuo sim a gostar muito da breve rivalidade do Sherlock original dos livros com o seu eterno desafeto grisalho que encontrou o seu fim nas Cataratas do Reichenbach. Eu gosto dele na versão original, na da série de Jeremy Brett, que é uma transposição fidedigna, na série de filmes dos anos 40, estrelando Basil Rathbone... e também nesta sensacional série de TV que adapta o detetive para a modernidade com esmero, sofisticação e muita esperteza, acho que todos estes que eu citei agregam ao personagem, tem seu valor. Mas a versão com Andrew Scott para mim é bem mais interessante, e, em um mundo tecnológico como nós vivemos, parece bem mais ameaçadora.
E você? Qual versão do personagem mais te agrada? Escreva nos comentários!
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