Saturday, May 21, 2016

HQ: Batman: Death of the Family (Batman: Morte da Família)

Nota: 9 /10

Após terminar a leitura de uma das mais recentes histórias do Batman envolvendo a bat-família e o Coringa, Death of the Family, o termo que eu escolheria para descrever sua abordagem é bizarra.

Bom, faz muito tempo que autores de HQs vem tendo a intenção de nos chocar, mais do que de escrever realmente histórias memoráveis. Porém, Death of the Family, de muitas formas, consegue balancear o nível entre o choque e a qualidade e, se ainda não há consenso entre os fãs em relação ao arco ser espetacular ou não, eu digo, como fã, que simplesmente adorei. É ótimo!

Quem sempre acompanhou Batman nas HQs vai ver aqui diversas referências a histórias antigas, bem como vislumbrar um dos confrontos mais épicos que Batman e Coringa já tiveram em toda sua história.

E vou dizer mais, eu creio que esta história deveria ser considerada, pela equipe de animação da DC, para virar um futuro filme animado, pois é digna de tal tratamento.

Para explicar a trama da HQ, vou precisar fazer um breve recap sobre o que aconteceu lá atrás, no início da linha Os Novos 52. Não é muito longo, vou apenas dar umas pinceladas bem rápidas, pois já fiz uma resenha da HQ Detective Comics #1, que você pode conferir aí pelo link. É até legal você conferir, pois é uma história-prelúdio a esta daqui.

Em Detective Comics #1, de 2011, Batman tem sua mais recente batalha contra o Coringa e o manda de volta ao Arkham. É aí que um vilão conhecido como Dollmaker (Criador de Bonecas) usa um estilete para arrancar cirurgicamente a cara do Coringa. Sim, arrancar a cara dele! A pele da face do palhaço é desgrudada, sem anestesia e com ele acordado.

E o palhaço do crime, masoquista como é, diz que a experiência foi "divergásmica". Pois bem, o palhaço então escapa do Arkham de novo e fica sumido por um ano dos Novos 52 até a revista Detective Comics #12 em que faz uma aparição rápida. Então o arco de histórias se inicia e é publicado de Outubro de 2012 a Fevereiro de 2013 em 5 edições.

Estes eventos nos fazem chegar a esta narrativa, em que o Coringa, em uma de suas tramoias mais ambiciosas e bisonhas, irá oferecer o desafio supremo ao morcego e à sua bat-família. Sim, para quem não acompanha, uma breve explicação: o Batman tem uma bat-família.

Outra observação, para quem quer pesquisar mais a fundo: as origens de alguns personagens da bat-família variam conforme você se situar em um dado universo. Na série antiga, comumente chamada Batman: Vol. 1, alguns destes personagens tem determinados detalhes de origem, que foram trabalhados com o passar dos anos. Já aqui, nos Novos 52, ou Batman: Vol. 2, se assim quiser, esses detalhes são alterados e alguma coisa é encolhida, são visões um tanto diferentes destes mesmos personagens, claro, mantendo a maioria das características e motivações que os originaram. Por isso, eu não vou entrar em detalhes em relação à origem de cada um, apenas apresentá-los.

Estes personagens são os seguintes: Dick Grayson, o Nightwing, ou Asa Noturna no Brasil, que foi o primeiro Robin; temos também Jason Todd, o segundo Robin, que foi morto pelo Coringa e voltou através de uma maracutaia de realidades paralelas, e passou a ser o justiceiro de alcunha Red Hood, ou Capuz Vermelho, aqui no Brasil;

Temos também o jovem Tim Drake, o terceiro Robin, que assumiu mais tarde a identidade de Robin Vermelho; o quinto Robin, e no momento o Robin atual, é Damian Wayne, filho de Bruce Wayne com Thalia Al'Ghul. Ele assumiu o papel de Robin, depois da morte da quarta Robin, Stephanie Brown, que após também voltar dos mortos, se tornou a Caçadora;

Por último, temos o Alfred, o Comissário Gordon e a sua filha, Barbara Gordon, a Batgirl. Do lado dos vilões, temos a Mulher-Gato e a Arlequina, que não se cansam de ficar andando na corda-bamba entre a lei e o crime, isso sem falar em outros vilões e aliados. Bom, o Coringa, nesta história, irá mexer todas estas peças de tabuleiro, em um jogo intrincado de xadrez, para atrair o morcego em sua arapuca, e tentar esfacelar o seu mundo, pedaço por pedaço.


Eu não cheguei a ler as revistas mensais quando foram publicadas porque eu havia parado de comprar as revistas de Batman após Batman #11, que concluía a saga da Corte das Corujas, então peguei a caixa que ilustra minha matéria, contendo o encadernado e a máscara de silicone do Coringa, de cara arrancada, que vinha de brinde, e que inclusive, já me rendeu altas diversões com um sobrinho. Vendo como esta história da linha dos Novos 52 estava sendo elogiadíssima, pensei que seria melhor, no fim das contas, eu ir atrás dela, uma vez que eu havia deixado a festa cedo nas revistas mensais. E não me arrependi!

Pois bem, fatos e personagens devidamente apresentados, vamos então à história. O Coringa retorna para atazanar a vida do morcego e de seus aliados combatentes. Ele começa invadindo o prédio da polícia de Gotham para recuperar sua cara que ficou preservada como prova, ameaçando de morte o prefeito pela TV (e até matando alguém em rede nacional) que sobrevive enquanto que a força policial atarefada da segurança do prefeito é morta por um composto químico. Batman então descobre que a substância era composta de três elementos cujas iniciais eram A.C.E., referenciando a fábrica de produtos químicos ACE Chemicals, onde o Coringa ganhou sua conhecida cara na história The Killing Joke. Lá, o palhaço prepara uma emboscada para Batman com uma pessoa com a máscara de Red Hood, mas descobre que essa pessoa é Harley Quinn, que diz ao Batman que o Coringa já não é mais o mesmo, temendo ser morta pelo palhaço. Ela também revela que o Coringa está reencenando todos os seus crimes mais conhecidos.

Claro que Batman já havia notado isso. Vemos como o Coringa havia ludibriado Harley para essa história, encontrando-a na escuridão e é aí que rola aquela coisa bizarra entre os dois; o Coringa pede para que Harley tire suas roupas e vista um terno, depois diz, apontando uma faca para ela que irá fazer ela parecer igual a ele... pânico! E então ele simplesmente coloca na cabeça dela o capacete antigo de Red Hood. Ha-ha!

Nesse meio tempo, Alfred Pennyworth é sequestrado pelo palhaço, que inclusive brinca, sadicamente, com os sentimentos do morcego. Batman descobre que o próximo alvo da investida de seu adversário é o Comissário James Gordon. Após salvá-lo, Batman enfrenta o Coringa e o palhaço revela que vai matar cada um dos membros da bat-família, alegando que eles fizeram o morcego ficar fraco com o passar dos anos.

A história prossegue mostrando Batman encarando o seu desafeto e ficando paralisado com uma toxina que estava no corpo do palhaço quando Batman o segurou pelo pescoço. O morcego então é resgatado por Robin, Nightwing, Robin Vermelho, Red Hood e Batgirl, que foram previamente avisados pelo morcego para ficarem em alerta máximo. De volta à caverna eles encontram uma carta de Coringa deixada pelo próprio palhaço, que revela que ele sabe da identidade secreta de todo mundo.

A partir daí, a história mostra vários aliados de Batman correndo grave risco de vida. Temos Gordon sendo levado para o hospital após algo ter afetado seu sistema sanguíneo, temos o mesmo comissário lembrando do pior dia de sua vida, quando ele foi vítima de sua Piada Mortal; temos o Coringa se encontrando com diversos vilões da galeria do morcego, como o Pinguim, Cara de Barro, Charada, Duas-Caras e Espantalho, e promovendo um "jantar"; o Coringa havia pouco a pouco revelado que seu intuito era matar a família de Batman, uma vez que ele sabia de tudo sobre Bruce e seus aliados, Gordon, Dick, Jason, Tim, Damian, Barbara, Alfred, enfim, todos que são de alguma forma relacionados ao morcego. O motivo das mortes? Bem, você poderá perceber, que as motivações desse louco só fazem sentido para ele mesmo: ele diz a Batman, que após descobrir a identidade de todos, a mágica, a fantasia, se foram, eles perderam a graça! Cara normal, não? Não.

Uma das coisas que eu mais gostei aqui é que o Coringa está pior do que nunca, jamais esteve em toda sua carreira criminal; ele está louco, bizarro, lunático, e absurdamente perigoso! Ele vai até o Asilo Arkham e prepara uma festa para Batman, com detentos do asilo todos em pares, e vestidos de Batman e de Coringa, dançando de mãos dadas e dizendo que não aguentavam mais serem torturados pelo palhaço, quando em um segundo, o Coringa joga uma descarga elétrica em suas cabeças, matando a todos. O palhaço ainda faz uma exposição macabra, cheia de cadáveres vestidos de Batman, Robin e Coringa mostrando todos os confrontos que os dois já tiveram, referenciando aí anos de histórias em quadrinhos.

O clímax da história é o jantar. O Coringa trata Batman como o "rei" e seus súditos são cadáveres, pessoas que serão mortas, além de seus aliados. Os vilões são seus servos e o Coringa seu menestrel, o jester, o bobo da corte. Tudo isso em um dos encontros mais alucinados que já vimos em anos de histórias em quadrinhos. Para salvar vidas, Batman aceita sentar no "trono" que o Coringa lhe preparou, que na verdade é uma cadeira elétrica. Ele eletrocuta o morcego com pequenos choques e depois revela seus deformados aliados e seu mordomo que foram capturados.

O que está em jogo aqui é a família. Batman tenta proteger sua família. Tanto do Coringa quanto dele mesmo. Este é o tema principal tanto da história, quanto da "piada" doentia que o Coringa pretendia fazer. Eu não posso revelar mais do que isso, porque senão eu vou acabar contando a conclusão da HQ. Um outro aspecto muito interessante aqui é que o palhaço, apesar de conhecer a identidade do morcego, mostra que está pouco se lixando para ela. Por quê? Oras, porque ele se diverte com o cruzado. Ele jamais quer permitir que um "mero mortal" entre no meio da diversão entre o menestrel e seu "rei"; essa abordagem eu achei magnífica! É Lorde Hades e Loki se degladiando; a HQ vai muito por essa veia, e ela salta da pele, visceral como uma ferida aberta, como um ferimento que não fechou. A ideia da "máscara" que o Coringa agora está usando e toda a concepção de seu plano em mostrar que por trás de uma máscara que dá vivacidade, e faz tudo ficar mais interessante para as pessoas, somos apenas cascas vazias... é formidável! Uma releitura digna das melhores histórias do Batman. O que nos faz chegar ao final.

O final tem lances muito legais, incluindo uma das contra-chantagens mais legais que Batman já aplicou no palhaço. Mas ao mesmo tempo, achei o final meio covarde por parte dos roteiristas. Eles optaram pela rota fácil que garantirá revistas da bat-linha de HQs por mais tempo, mas eu se fosse os roteiristas teria arriscado um caminho diferente. Já que tiveram colhões o suficiente para desfigurar o Coringa e nos preparar toda essa armação fantástica, acho que deveriam ter ido adiante com a ideia, mas enfim, como nem tudo é perfeito, vamos apenas dizer que a história termina como um conto macabro de Batman deve terminar: com aquela sensação agridoce. É um final que deixa a gente satisfeito de uma certa forma, mas ao mesmo tempo meio vazio, achando que poderia ter tido um pouco mais de coragem e tomado uma rota alternativa, mais interessante. O título, que implica na tal morte da bat-família, no entanto é justificado, e quem chegar ao final irá compreender seu sentido.

As ilustrações são ótimas, não as minhas favoritas, mas é inegável que Greg Capullo aqui faz um bom trabalho com os traços, inclusive seus melhores momentos foram fazer o Coringa parecer mais medonho e macabro do que o normal. Você olha para as ilustrações que o palhaço aparece e já é o bastante para garantir seus pesadelos a noite. Scott Snyder também desenvolveu aqui uma trama muito bem amarrada, aliás ela é bem melhor do que a trama desenvolvida na história da Corte das Corujas, também escrita pelo mesmo Snyder.

Após ler essa história, me arrependi de certa forma de não continuar comprando a revista de Batman nas bancas. Mas, por outro lado, eu pude colocar minhas mãos neste encadernado belíssimo. Como eu falei antes, não há consenso se é a melhor história envolvendo o Coringa, ou não, até mesmo pelo final que pega a rota segura, uma armação tão formidável assim achei que mereceria uma conclusão mais arriscada, mas certamente é um conto macabro do morcego que merece toda a nossa atenção!

Os críticos especializados adoraram, dizendo que se trata de uma nova história clássica do Batman que estava esperando para ser escrita. Minha opinião? É muito cedo pra dizer isso ainda, a história saiu faz poucos anos, e só virou encadernado em 2014. Vamos ter que esperar uns anos e ver se ela vencerá o teste do tempo. O que eu sei é isto: é uma leitura tensa, com muito suspense e que traz uma visão nova e interessante destes personagens.

E a máscara do Coringa que vem junto ao volume é também um item de colecionador muito bacana e que dá pra brincar tranquilo, até mesmo no Halloween! Leitura recomendadíssima, e que no fim das contas, te deixará com um sorriso entalhado no rosto, e com aquela sempre célebre frase tão marcante de qualquer menestrel, palhaço ou bobo da corte: HA.



Batman: Death of the Family (Outubro/2012 a Fevereiro/2013)
Título em português BR: Batman: Morte da Família
Arco de histórias envolvendo as edições de: Batman (#13-17)
Linha: The New 52

Editora: DC Comics
Formato: Encadernado
Roteiro: Scott Snyder
Desenhista: Greg Cappulo
Colorista: Jonathan Glapion, FCO Plascencia
Letrista: Jimmy Betancourt
Editores: Scott Snyder, Greg Cappulo, Jonathan Glapion

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