Saturday, May 9, 2015

FILME: Terminator 3: Rise of the Machines (O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas)

Em 1991, James Cameron havia encerrado uma história magnânima, uma história que fala diretamente das ânsias e aspirações de nós, seres humanos; que trata de nossos medos e expectativas com relação a nosso futuro e também de nossas esperanças. Uma história que recebia um verniz de filme de ação, mas no fundo dela, nas entrelinhas, estava uma mensagem clara de cautela que a humanidade deve ter em querer aproximar seu poder do poder de Deus. Esta história me marcou profundamente. Histórias sobre o futuro, como já disse antes, me marcam profundamente, especialmente histórias que falam sobre possibilidades futuras. James Cameron havia cumprido um papel muito importante e essencial no cinema de ficção-científica, alertar-nos sobre os avanços da inteligência artificial, e havia encerrado sua participação no assunto de maneira sensacional e única. Pois é... uma pena que, 12 anos depois, vieram esses embusteiros oportunistas e fizeram o desserviço de macular uma história perfeita.


A terceira encarnação da série de filmes dos robôs do futuro e da resistência humana tem um background tragicômico. Ocorre que haviam esses caras que tinham comprado os direitos da franquia The Terminator, dessa vez, como eu disse na matéria anterior que a cada encarnação a franquia mudava de mão, a proprietária é a IMF Internacional e a C2 Pictures, com distribuição da WB nos EUA e da Columbia no Reino Unido, e estavam decidindo o que fazer com a franquia. Sim, a Carolco, proprietária anterior da franquia foi à falência também em 1997, e aí tiveram que fazer uma liquidação financeira onde em torno de 50% dos direitos da franquia tiveram que ser leiloados, sendo que os outros 50% continuaram nas mãos de Gale Anne Hurd, co-criadora da franquia e Cameron saiu perdendo, e isso após ele anunciar por anos que iria acabar fazendo um T3! Nesse meio tempo, Arnold Schwarzenegger, chateado e sem nada interessante pra fazer, estava concorrendo à uma vaga como governador do estado da California, nos EUA. Aí juntou a fome e a vontade de comer e foram lá cometer este filme que convencionaram chamar de Terminator 3: Rise of the Machines.

O filme tenta ser uma espécie de homenagem e continuação do segundo filme de James Cameron na franquia, Terminator 2: Judgment Day. Lembro que eu havia ido ao cinema assistí-lo em 2003, pois eu nunca havia tido a oportunidade de assistir qualquer um dos dois filmes da saga no cinema, então fui lá assistir este terceiro, animado e esperançoso que iria ser um grande filme. Não vou mentir, no dia que assisti, até gostei dele, afinal de contas, jamais havia tido a experiência de assistir um filme da saga na telona. Mas, conforme o tempo foi passando, minha cabeça foi amadurecendo e então eu me dei conta de que havia visto somente uma pálida versão do segundo filme da saga nos cinemas, tamanhas foram as incongruências de roteiro, as contradições cronológicas e outras coisas mais que eu vou relatar aqui e que assim, partiram meu coração de fã dos robôs de titio Cameron.

A partir de T3, a franquia Terminator já não aparenta ter mais coisa alguma de interessante para nos dizer. Os filmes subsequentes aos dois que Cameron fez não passam de pura masturbação em cima do que já foi estabelecido por Cameron em seus filmes, mais nada.

Muito bem, ocorre que Cameron já havia largado mão da coisa. Medo! Prá resumir, ele acabou decidindo que sua história estava completa em T2 e pulou de um navio para embarcar em outro. Já, portanto, não iria haver a direção do diretor visionário. Então os três patetas, John, Michael e Tedi, os roteiristas da patota, foram procurar a atriz Linda Hamilton para ver se ela queria participar do filme. Acabou que ela detestou sua participação e a forma como Sarah Connor é tratada na trama e declinou a oferta. Muito medo! Portanto, os três patetas tiveram que criar uma personagem para substituí-la, reescrever o roteiro com essa personagem e escolher uma atriz correndo e nas coxas porque a produção já estava em andamento. Nesse ponto amigo, eu já teria quebrado o vidro e cancelado a produção de vez! Mas, não, ela continuou.

E o resultado foi mais ou menos este aqui: John Connor (Nick Stahl) vive por aí acuado e à margem da sociedade, sem casa fixa e sem registro algum, como uma forma de as máquinas do futuro pararem de persegui-lo. Ele faz todo um monólogo inicial dizendo que ele foi atacado pelas máquinas aos 13 anos, e...

... pera, pera, pera... 13 anos??

Mas em T2 diziam que John Connor tinha 10 anos! Como é que isso funciona, por acaso ele teve amnésia ou algo parecido? Já começam daí as incongruências cronológicas e daí, amigo, é só ladeira abaixo! Já chegou em um ponto agora que nem é bom tentar sanar essas incongruências mais, senão dana-se tudo de uma vez. Resultado, a linha cronológica da franquia já foi pro espaço faz tempo! Enfim...

Ele diz que está com medo do futuro, que está com medo de ser um líder, etc, etc, etc. Ou seja, de um menino brilhante, dinâmico e corajoso, ele passou a ser um reclamão, cagão, borra-cueca! Nem se tem sinal daquele moleque esperto que vimos na pele do ator-mirim Edward Furlong. E olha que o futuro apocalíptico das máquinas, o "juízo final" que estava planejado para acontecer em 1997 nem aconteceu ainda, e mesmo assim o mancebo vive por aí amargurado. Eu nem vou dizer mais nada, só vou comparar aqui o franguinho assustado desse filme que mostram pra gente com o que Cameron nos mostra que é o John Connor dele e você tira suas próprias conclusões.

À esquerda, o Connor frangote de T3, à direita, Michael Edwards, o John Connor futurista em T2... você vê alguma semelhança?

Bom, eis que temos essa outra personagenzinha na história, uma tal de Kate Brewster (Claire Danes). Sabe o que ela faz no filme? PORRA NENHUMA!! É isso que ela faz. Essa é a personagem que supostamente era pra ser a substituta de Sarah Connor na trama. Sério, é um desperdício de fotograma, ela é só um bibelozinho descartável, só sabe gritar por socorro que nem uma gazela e fugir, toda vez que eu vejo essa personagem em cena eu torço pra que algum acidente aconteça com ela e ela morra de uma vez pra deixar a gente em paz. Só que ela não morre. A historinha dela é que ela tinha esse noivo e esse pai aí que trabalha na força aérea, o general Brewster, que convenientemente está envolvido no projeto de ativação da Skynet. Isso é pretexto não só pra levar a menina pra lá, mas também pra manter ela viva durante a trama, inclusive porque ela vai ser, segundo o filme, a futura esposa de John Connor... puta que PARIU... e é ela que vai enviar o novo androide modelo Arnold para o passado dessa vez.

Kate "Brustâ" fazendo o que faz melhor... fugindo
Entram então na trama os dois robôs da vez. Arnold, repetindo seu papel aqui como o... T-850? Bom, pelo visto, esse modelo é 50 vezes mais avançado... parabéns! Não sei até hoje que diferença isso faz, uma vez que ele é baseado no mesmo protótipo T-101 de infiltradores que o T-800 era baseado, mas OK. Dessa vez o robô inclusive vem equipado com... pasmem... programa de psicologia! Puta que pariu! O androide agora é psicólogo, e fica torrando nosso saco com frasezinhas baratas. Santa paciência! Sem contar o modo como reapresentam o personagem; quem se lembra dos dois filmes de Cameron, vai se recordar como eram legais as apresentações, hora que o T-800 chegava e ameaçava alguém se não lhe cedessem as roupas. No segundo filme é mais legal ainda, o T-800 saca os óculos escuros de um cara, monta na motoca ao som de "Bad to the Bones" e sai com estilo. Uma apresentação cool, badass e marcante. Já, aqui...

Fala com a minha mão, seu bofe! Puta que pariu... que vergonha!!

Bom, do outro lado temos o... a... Terminatrix (?)... whatever... ela é o modelo T-X (Kristanna Loken) que veio para 2004 para eliminar todos aqueles que irão futuramente fazer parte da resistência contra as máquinas e enfraquecer o exército do John Connor do futuro. E devo dizer que a escolha de fazer androide para a "atriz" Kristanna Loken caiu até bem, visto que ela mal sabe atuar.

Fala a verdade... o lado androide dela tem ou não tem mais expressão do que a própria menina?

Eu sinceramente não sei por qual razão as máquinas iriam querer fazer um robô parecer com uma mulher, eu sempre achei que o sexo do robô não fazia diferença para máquinas assassinas, mas enfim, aparentemente elas também tentam ser politicamente corretas aqui, não me pergunte porquê.

Enfim, o filme parte daí e... bom, simplesmente o filme se arrasta, caro leitor, só isso. Se arrasta até o final. O tempo todo o que a gente vê é exposição demais e história de menos, personagens desinteressantes, alguns deles a gente só tem alguma conexão por causa dos filmes do Cameron e é isso. Eles fogem, vão do ponto A para o ponto B, depois tem mais exposição de trama, depois vão do ponto B para o ponto C, no meio do caminho tem uma aparição rápida do Dr. Silberman de uns 3 minutos somente, "oi, tudo bem, eu sou o Earl Bohen, pra quem não se lembra, eu estive nos outros dois filmes da franquia, OK? Falou, tchau!", depois tem mais ação e fuga, aí eles vão parar em um lugar onde a Sarah Connor que morreu de leucemia deixa um caixão cheio de armamentos, saindo dalí tem um quebra-pau entre a T-X e o T-850 que dá pau no sistema do androide e ele é reprogramado pra matar o John Connor.

Aí meu amigo... aí... tem que segurar prá não dar risada! Como se já não bastasse o T-850 tentar emplacar a ridícula frase "fale com a minha mão" antes, agora tem um diálogozinho entre o Connor e o T-850 que vai mais ou menos assim:

John: Você não quer me matar, você não quer fazer isso!
T-850: Desejo... é... irrelevante... eu... sou... uma máquina!!



Preciso dizer mais alguma coisa? Enfim, vamos dizer que o Connor consegue impedir o T-850 de fazer qualquer merda, ele faz a dancinha do robô em curto-circuito e trava.

Não...con-sigo... evitar-ar-ar... meu Windows é Vistaaaa!

Chegando lá na futura base da Skynet de helicóptero, o "casal" vai lá procurar o pai da Kate Brewster na tentativa de impedir que ele ative o sistema que iniciará a Skynet e causará o juízo final, que o T-850 anteriormente havia informado que não foi evitado, apenas adiado; pois é, em outras palavras, a valentia da Sarah e do jovem John e o sacrifício de Miles Dyson no filme anterior, em apenas uma cena de diálogo foi jogado na privada com direito a descarga. Parabéns, roteiristas de T3, parabéns!



Acaba que eles são atacados pela T-X, saem correndo de novo, o pai dela é assassinado pela androide, nessa altura o T-850 já rebootou o sistema dele e voltou na programação normal. Aí tem outra cena bizonha que me dói os bagos de rir só de pensar! Já lá dentro da base da Skynet, o casal sem química... sério, não tem coisa alguma lá que mostra que eles vão ficar juntos, nada, zero, bola; eles só seguram as mãos no final do filme e pronto, acabou... enfim, eles são atacados de novo pela T-X acham um jeito de atrair ela para um campo magnético e ela fica grudada lá sem poder se mexer... eis que a "Brustâ" manda essa frase: "JUST DIE, YOU BITCH!" (MORRE, SUA VACA!)


Nossa, meu Deus, que malvada!
Sério mesmo, alguém aqui ainda tá ligando pra alguma coisa? Eu já desisti faz tempo! Vou até resumir pra não ficar mais torrando a paciência de todo mundo. Resumindo, o T-850 volta, segura uma porta em uma base subterrânea pra que o casal passe, destrói a T-X com direito à frase clássica da série "you're terminated!" morrendo também no processo, o John e a Sarah acham um salão e descobrem que não conseguiram coisa alguma. Na verdade, o T-850 sabia que o juízo final era inevitável e a única coisa que estava fazendo não era ajudar os dois a evitá-lo, mas simplesmente a sobreviver a ele. Essa cena final é a melhor coisa do filme, então vamos gastar um parágrafo para ela aqui.

John Connor e Kate Brewster chegam no salão da base subterrânea; John fica perplexo ao saber que não havia nada lá que servisse para evitar o temido dia e se desespera; então alguém entra em contato pelo dispositivo de comunicação do lugar abandonado e pergunta quem é o responsável pelo lugar. Neste momento, John deixa de ser o cagão que estava se mostrando até agora em todo o filme e começa a assumir a responsabilidade e a aceitar a situação de que a inevitável guerra contra as máquinas para a qual sua mãe o preparou a vida inteira terá início. Após uma breve pausa, ele responde que o responsável é ele e assume sua posição de primeiro no comando da unidade que se encontra dentro da resistência contra a Skynet, que acaba de ser acionada.

É um fecho bom de filme porque pela primeira vez em toda essa frenética produção e todo o corre-corre que houve, há algum drama, algum desenvolvimento de mundo que leva a algum lugar. No entanto, precisou-se de mais de uma hora e meia de pura enrolação para termos isso. O final do filme acaba sim, compensando por toda aquela babaquice que a gente viu anteriormente, mas no fim das contas, é muito pouco e tarde demais.

Conclusão, Terminator 3: Rise of the Machines é um filme extremamente medíocre com uma trama bobinha e clichezona, diálogos péssimos e que não apresenta coisa alguma de novo à mitologia dos robôs exterminadores. Tem muito corre-corre, muita explosão, muita enrolação e pouco desenvolvimento. Aliás, as melhores coisas desse filme são as cenas de ação, e não se pode realmente negar que este é um excelente filme de ação. Mas pelo pouco que foi apresentado de conteúdo, não compensa. Nem a trilha sonora do filme ajuda desta vez, pegaram um pouco do tema principal de Brad Fiedel e, a partir dele, Marco Beltrami compôs uma trilhazinha e um tema muito preguiçosos.

A crítica e a desilusão com este filme foi tanta, que até originou, em 2008, uma série televisiva chamada "Terminator: The Sarah Connor Cronicles". Como eu só assisti a três episódios desta série, eu não posso falar dela aqui, mas também não pretendo. A série pega do ponto onde o segundo filme terminou e continua daí, ignorando completamente os eventos do terceiro filme. Pessoalmente eu não gosto dos atores escolhidos para os papéis de Sarah (Lena Headey) e John (Thomas Dekker), e também não gostei muito do andamento, achei muito enrolativo, então parei de assistir. Quem continuou assistindo, costuma dizer que a série ficou muito boa, mas aí eu já não sei. Aliás, a série foi cancelada em 2009 na segunda temporada, ficando portanto sem final, o que colaborou mais ainda com o meu desinteresse pela série.

Enfim, T3 foi sucesso de bilheteria na época que passou, mas recebeu críticas mistas da imprensa, e após isso, começou a cair em constante declínio. Claro, isso não impediu alguém de tentar fazer mais um filme, agora continuando a história anos à frente já no meio da batalha da resistência contra as máquinas da Skynet. Mas isso é assunto para a conclusão deste especial. Nos veremos então em Junho, caro leitor, com essa conclusão e as perspectivas finais.

Curiosidade: para aqueles curiosos que sempre quiseram saber de onde vem a cara de Arnold que todos os modelos T-101 de robôs infiltradores têm, eles fizeram um pequeno extra para o DVD do filme que pode ser visto no Youtube. O extra é até engraçadinho e conta com o elenco do filme da base aérea e Arnold como um tal General Candy, que se voluntaria para dar sua cara para os robôs. Só que sua voz não era bem exatamente o que os generais estavam procurando, então pegaram a voz de outro comandante lá da equipe. Claro, tudo muito bem redublado pelos atores. Apesar de engraçadinho e tal, a gente se sente estranho, como um daqueles segredos que você jamais iria querer que fosse revelado, sabe? Enfim, se você está curioso, confira:



Terminator 3: Rise of the Machines (2003)
Título em português BR: O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas
Nota: 5 / 10

Direção: Jonathan Mostow
Produção: Moritz Borman, Matthias Deyle, Gale Anne Hurd, Mario Kassar, Hal Lieberman, Joel B. Michaels, Andrew G. Vajna, Colin Wilson
Roteiro: John D. Brancato, Michael Ferris, Tedi Sarafian (baseado em personagens criados por James Cameron e Gale Anne Hurd)
Trilha sonora: Marco Beltrami (com tema principal de Brad Fiedel)

Estrelando: Arnold Schwarzenegger, Nick Stahl, Claire Danes, Kristanna Loken, David Andrews, Mark Famiglietti, Earl Boen

Outros filmes desta cinessérie:
- Terminator: Dark Fate (O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio) (2019)
- Terminator Genisys (O Exterminador do Futuro: Gênesis) (2015)
Terminator Salvation (O Exterminador do Futuro: A Salvação) (2009)
- Terminator 3: Rise of the Machines (O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas) (2003)
Terminator 2: Judgment Day (O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final) (1991)
The Terminator (O Exterminador do Futuro) (1984)

Trailer:


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