Thursday, May 14, 2015

FILME: Batman (Batman) - especial Batman na Tela: edição 6

Estamos no final dos anos 80, passados mais de 40 anos que o Batman estreou sua primeira produção cinematográfica. Também fazem 20 anos que o Batman não ganha uma adaptação nas telas, seja em filme ou série de TV. No início dos anos 70, os quadrinhos do morcego voltaram a ter o caráter sombrio e misterioso que tinham no fim dos anos 30, claro com uma roupagem diferente. Conforme adentramos os anos 80, as histórias vão ficando cada vez mais sérias e violentas. Este é o auge do renascimento do Batman após o clean sweep que a DC deu em seu universo com a chamada Crise das Infinitas Terras, um evento que arrumou uma cronologia nas HQs que até então tinha se mostrado confusa e difícil de seguir. O próximo passo era contratar jovens talentos para escreverem boas histórias, e isso foi feito nas ilustres figuras de escritores consagrados do homem-morcego como Frank Miller, Alan Moore, Jim Starling, Darwyn Cooke e outros. Com todo este esmero, Batman estava pronto para brilhar na tela do cinema novamente.


Esta será a primeira produção cinematográfica envolvendo o Batman de seu novo proprietário dos direitos, a Warner Brothers Studios, proprietário este que estende sua posse dos direitos do personagem até os dias de hoje. E o estúdio mostra realmente que quer começar sua gestão do personagem de forma séria e comprometida. Partindo desse âmbito, é uma pena que um filme que teve tanto esmero em muitas áreas de sua produção tenha tido um roteiro pensado assim tão nas coxas. Sim, o recomeço de Batman em 1989 tem qualidades que saltam aos olhos, mas ainda não o considero como a versão do Batman no cinema que realmente quero ver e vou explicar aqui o porquê.

Vamos então começar da escolha de cineastas e protagonistas para o filme. Para a direção, a WB chamou o diretor, na época, desconhecido do grande público, Tim Burton. Burton sempre foi alguém que gosta de mexer com universos bizarros e personagens sombrios, portanto, parecia o cara certo para o Batman. O problema é que, até o momento, ele somente havia feito alguns filmes de comédia bizarra e comédia macabra, como Pee-wee's Big Adventure e Beetlejuice, sendo o último, seu maior êxito. Isso sem contar com alguns curtas como Frankenweenie, que viraria um longa-metragem em 2012 e Hansel and Gretel, que era um telefilme baseado no conto dos irmãos Grimm, portanto, sua escolha para dirigir um filme do Batman veio com uma certa desconfiança.

A desconfiança aumentou ainda mais quando veio a notícia de quem é que iria vestir a capa e o capuz do morcego, Michael Keaton. Tendo Burton trabalhado antes com o ator em Beetlejuice e, tendo em vista a predileção dele por trabalhar com colaboradores frequentes e próximos a ele, isso não se revelou uma boa notícia para os fãs do Batman que esperavam alguém que impusesse um pouco mais de respeito. E eu vou ser bem sincero aqui com todos, eu também não gosto de Keaton fazendo esse papel, não me importa se ele ficou mundialmente conhecido por isso, para mim, Keaton não é uma boa escolha. Você pode até argumentar que, quando calado e meio de longe, ele até parece um bom Batman, mas é só chegar perto e a gente começar a ver ele se mover naquele trajezinho robocopiano que dá uma bela de uma brochada. A coisa piora quando ele faz o Bruce Wayne... puts... que sujeitinho patético! Parece um castor com aquela careca, baixinho, enfim, não inspira absolutamente sentimento algum no papel. Sem falar de que o Bruce dele nem mesmo parece um playboy milionário, na frente de todo mundo ele se assemelha mais a um capangazinho neurótico. Eu daria a Keaton o papel de capanga do Coringa no filme tranquilo, agora Batman, olha, me desculpem!

Tá, OK, roupa até bonita de Batman, mas... tá de gozação comigo, né seu Burton? Batman capanga? Ah, vá plantar batatas no mundo do Beetlejuice!

Enfim, após essa bela brochada com o papel principal que levamos, vemos quem vai ser o Coringa, Jack Nicholson! Deixa eu repetir esse nome de novo galera, JACK NICHOLSON! Que sonho! Imagine, Nicholson, um verdadeiro maluco de carteirinha fazendo o palhaço do crime! Prá se ter uma ideia do porque isso parece tão certo, é só a gente se lembrar da atuação magistral de lunático que ele teve no filme The Shining (O Iluminado)! Aquele cara como Coringa, meu Deus! Que jóia! Perfeito!

Olhem a cara de psicopata! É ou não é o Joker, o palhaço, o bobo? PER-FEI-TO!

Enfim, grande escolha para o personagem! Uma pena que não foi aquilo que eu realmente esperava. Sim, meus caros, até o Nicholson deixou um pouquinho a desejar aqui. E não me levem a mal, o cara caiu certinho no papel, no figurino, quase tudo, só tinha uns pequenos problemas: estava mais velho e com uns quilinhos a mais, e por isso não teve a mesma performance matadora que teve em The Shining. O Coringa aqui no filme até diverte sim, pra caramba, frita os miolos de capangas, prega peças, mata pessoas com o gás do riso, faz palhaçadas, insanidades, enfim, tudo que você pensar. Mas em um ritmo mais devagar do que o esperado. Mesmo assim, ele ainda consegue roubar a cena cada vez que aparece. Eu sinceramente mudaria o título desse filme aí, pra mim se chamaria Joker, e não Batman, sendo que nem o Keaton consegue convencer no papel. Honestamente. Tem outra falha descomunal aqui no personagem do Coringa que eu vou dizer já-já.

Temos também o Alfred, que foi escolhido a dedo na figura ilustre aqui do ator Michael Gough, representando muito bem aqui o mordomo e figura paterna de Keaton... digo, Bruce.




Bom, além destes que são os principais, temos também mais dois personagens trazidos das HQs pelo senhor Burton... e aí é nesse ponto que eu realmente questiono onde que o cara estava com a cabeça!

Agora você tá mesmo brincando comigo, não é, Burton? Pat Hingle e o Lando Calrissian? Sério??

Burton, Burton, Burton... um dia eu ainda gostaria de lhe chegar e perguntar o porquê da corpomolência para escolher tão mal os atores para estes grandes personagens, o Com. Gordon e Harvey Dent. Tá, OK, eu ainda dou um tiquinho de desconto para o Billy Dee Williams, afinal, ele nem era o foco do filme mesmo, nem chegamos a ver ele funcionar de fato no papel do promotor público que vai ser o futuro Duas-Caras... mas o Pat Hingle? Sério, Burton? Olha, não é por nada não, mas o Gordon é do tipo atlético, viu? Aliás, não é nem questão de ser o Gordon, é questão do cara ser um comissário de polícia, uma autoridade... e gordo daquele jeito? Ah, Burton, vá pra p... enfim... a descaracterização do Gordon é tamanha que nem mesmo ativo na trama ele é direito, vindo só a ser mais um policial com tendências corruptas. O Gordon não é corrupto, ele é o melhor policial da força de Gotham, incorruptível. Aqui ele parece uma lontra, uma barata tonta.

Por fim, temos o interesse romântico (que novidade, né Hollywood?) e o amigo bobalhão dela, representados aqui pelas figuras de Kim Basinger e Robert Wuhl. Kim aqui faz a repórter Vicki Vale, vinda dos quadrinhos do morcego como a "Louis Lane" da Gazeta de Gotham, o jornal local, mas aqui a repórter é só o bibelô descartável do filme, aquela personagem que você pode tirar e o filme vai continuar funcionando sem ela, sem falar que aqui, a Basinger não faz o menor esforço e só interpreta ela mesma; mais descartável ainda é Wuhl, fazendo um tal de Alexander Knox, o tipo arrogante e metidão a bom repórter, mas que está aqui somente para dizer o óbvio para a audiência e pra torrar nossa paciência.

Então vamos à história do filme. Ela é basicamente sugerida pelas graphic novels Year One (Ano Um) e The Killing Joke (A Piada Mortal), sendo que o filme se apropria de algumas ideias de ambos os trabalhos de Miller e Moore, mas sem o mesmo brilhantismo. Ocorre que Gotham está comemorando o seu bicentenário e a prefeitura prepara as festividades. Mas o crime e a máfia assola a cidade e tem aí um certo vigilante mascarado que está amedrontando esses caras. A opinião geral fica dividida e a polícia vai tanto atrás dos crooks quanto do vigilante. Só que um deles, emboscado em uma fábrica de produtos químicos das corporações Axis acaba caindo em um galão de um produto químico verde, resultando na criação de um certo vilão palhaço que começa a aterrorizar a cidade e a polícia fica em polvorosa. Batman tem que deter o Coringa e trazer a segurança novamente para os cidadãos de Gotham.

A trama em si não é das piores, e poderia ter dado certo se não fosse uma série de impropérios. Um desses impropérios é que a história se arrasta em situações paralelas e desnecessárias, caso por exemplo da paixonite do Coringa pela repórter Vicki Vale ou então do relacionamento que ela se mete com o bilionário Bruce Wayne, que nada acrescentam à trama e só servem pra encher linguiça. 

Outro momento crasso é a revelação do assassino dos pais de Bruce, que remete ao outro erro que eu disse lá em cima do personagem do Coringa; ocorre que o assassino dos Wayne passa a ser o próprio Coringa.

Que porra é essa??

Isso pra mim foi de uma imbecilidade sem tamanho por dois motivos muito simples: é muito óbvio demais e desinteressante e também porque isso mata muito da dinâmica entre o palhaço e o morcego, dinâmica essa que funciona bem nas HQs pelo fato de os dois personagens terem idades muito próximas, e por isso poderem ser dois lados de uma mesma moeda, exatamente como é mostrado na brilhante graphic novel de Alan Moore, The Killing Joke, ou então na obra-prima de Christopher Nolan, The Dark Knight, e tudo isso exatamente por nunca terem tido coisa alguma a ver com a vida do outro. É quase como dois sujeitos que viviam separados e de repente você começa a notar que suas histórias estão muito, mas muito próximas, mas acabam refletindo o oposto do outro, são como uma imagem em um espelho, dois lados de uma mesma carta do baralho. Aqui no filme, isso ficou muito mal e porcamente representado.

E por fim, o erro mais descomunal de todos: Coringa morrer no final do filme! PUTA QUE PARIU! Os caras não somente me usam o arqui-inimigo, o maior e mais perigoso vilão da galeria do Batman mas também cometem a pachorra de matá-lo no fim do filme! É muita cara-de-pau! Sem falar que ignoraram completamente o código de conduta do Batman em não matar, estabelecido a partir de sua revista própria, jogando no lixo aí anos de mitologia do morcego. Na boa, Burton pode até ter tido a intenção de fazer um filme legal, mais adulto, mais condizente com o personagem, mas sinceramente, não me convenceu. Lá atrás até que me convencia sim, não tinha qualquer outra coisa do Batman naquele sentido pra gente comparar, então por um tempo aquilo era o melhor que se tinha. Mas é irritante como os roteiristas teimavam em ignorar vários aspectos do personagem.

Dos pontos positivos do filme, como já falei antes, está Jack Nicholson como Coringa até certo ponto, o Gough como Alfred, não tem Robin aqui pra ficar enchendo o saco e, dos aspectos técnicos, a atmosfera do filme ficou perfeita, sombria, opressora, sem nunca desviar a nossa atenção para coisas mais leves e bobas; a trilha sonora do filme também está perfeita, e se tornou uma das trilhas mais célebres dos filmes de super-heróis, graças ao trabalho do grande compositor Danny Elfman. A trama, como já falei, não é ruim, poderia ter funcionado muito melhor se não fossem os erros que apontei e o visual da roupa de Batman também ficou matador, não fosse as suas limitações robocopianas que também já comentei, o Keaton nem conseguia mexer o pescoço lá dentro, era um horror. Por fim, o Batmóvel ficou sensacional,  eu mesmo quando assistia o filme na TV ficava babando naquele carro.


Conclusão: apesar de ter algumas qualidades, o filme comete uma série de impropérios que eu como fã não consigo engolir. Um filme muito aquém do esperado, morno, preguiçoso, mas que eu até posso considerar alguns aspectos; não vou também ficar pegando tão pesadamente na crítica aqui porque o filme catapultou três coisas extraordinárias: a carreira do Tim Burton que acabou fazendo ótimos filmes depois de sua gestão com o Batman, a cinessérie do Batman que só foi vingar na virada do século XX, mas OK, e a extraordinária série animada de TV dos anos 90 que considero, até hoje, a melhor tradução do Batman para fora das HQs já feita. Ela e, claro os filmes animados em longa-metragem que ela rendeu e da qual vamos falar em mais detalhes nas próximas edições.



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Batman (1989)
Título em português BR: Batman
Nota: 5,5 / 10

Direção: Tim Burton
Produção: Peter Guber, Jon Peters, Benjamin Melniker, Michael Uslan
Roteiro: Sam Hamm, Warren Skaaren (baseada nas HQs escritas por Bill Finger, Bob Kane, Jerry Robinson, Frank Miller, Alan Moore)
Trilha sonora: Danny Elfman

Estrelando: Michael Keaton, Jack Nicholson, Kim Basinger, Robert Wuhl, Pat Hingle, Billy Dee Williams, Michael Gough, Jack Palance, Jerry Hall

Outros filmes desta cinessérie:
Batman & Robin (Batman e Robin) (1997)
- Batman Forever (Batman Eternamente) (1995)
Batman Returns (Batman: O Retorno) (1992)
Batman (Batman) (1989)

Trailer:


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