Thursday, May 21, 2015

SÉRIE: Batman: The Animated Series (Batman: A Série Animada) - especial Batman na Tela: edição 7

Após o sucesso que Batman voltou a fazer nos cinemas com o filme de Tim Burton, a WB passou a ter grandes planos para o personagem. Podemos dizer inclusive que é graças à gestão da WB em conjunto com a DC comics que Batman está tão em voga hoje em dia. Claro, houve tropeços homéricos no meio desse caminho, mas isso é uma outra história. Vamos falar aqui nesta edição de uma série de TV animada que fez com que eu e muitas outras pessoas redescobrissem o Batman e começassem a ter uma outra visão do personagem. Estou falando de Batman: The Animated Series. Ganhadora de vários Emmys de melhor série, Batman: TAS (como é popularmente chamada) foi um sucesso à época de sua passagem pela TV e continua ainda a ser a melhor coisa que já se fez com o personagem fora das HQs. Os motivos são vários e eu irei expô-los aqui. Vamos então falar desta que, para mim é uma das melhores séries já feitas na história e uma verdadeira milestone da história da animação.


Esta foi a série que deu origem ao que podemos chamar de universo animado clássico, ou DCAU (DC Animated Universe), que é a sigla que vamos usar nesta série de artigos todas as vezes que nos referirmos a este universo. Criada em 1992 por um seleto grupo de animadores e roteiristas que estavam na época trabalhando na série animada dos Tiny Toons, a série começou na verdade de forma muito cômica. Em um dos episódios dos Tiny Toons que esta mesma equipe criou, eles acabaram fazendo algo dedicado ao homem-morcego, transformando Plucky no Batduck, para que o pato figurasse como dublê no filme de Tim Burton; no episódio Return of Batduck, Batman já ganha mais visibilidade e a equipe do seriado animado dá claros sinais de serem leitores ávidos de HQs e terem a intenção de fazerem algo com o Batman na TV.


Aliado ao sucesso do filme de Tim Burton, vem então os irmãos Warner e dão carta branca para que a equipe formada por Bruce Timm, Paul Dini e Eric Radomski fizessem uma animação onde eles demonstrassem o que realmente queriam com o Batman, então eles acabaram largando praticamente tudo que estavam fazendo com os Tiny Toons à época e se dedicaram a fazer esta animação. O resultado não só convenceu os chefões do estúdio como também deu o sinal verde para o início da produção da série animada.


E o resultado que se vê é realmente impressionante. A série tem animação fluente, traços sensacionais que fizeram escola no âmbito da animação e atmosfera muito condizente com o clima noir dos quadrinhos setentistas e oitentistas. A ideia principal dos criadores foi misturar as épocas. Você vê gangsters e criminosos, ou mesmo outras pessoas usando chapéus e falando como se estivessem nos anos 40, mas ao mesmo tempo, você vê toda a tecnologia do mundo moderno dos anos 90, então não importa se você está vendo a série agora ou já assistiu ela anos atrás, ela será algo atemporal, sempre será uma coisa atual de se ver, e esse foi um grande acerto na produção e no design dela. Não só isso; a carga dramática imposta aos personagens e situações na série também é muito forte, dando a oportunidade de se criar histórias complexas, com personagens tridimensionais, em roteiros dignos das melhores produções dramáticas modernas.



Tudo isso, aliado a um elenco de vozes fabuloso que deu vida a esses personagens que vemos. No elenco original da série temos Kevin Conroy, que se transformou imediatamente na voz do Batman. Sua capacidade de criar texturas para vozes em momentos diferentes, ou seja, quando está fazendo Bruce Wayne, uma voz mais light e amigável e quando faz o Batman, uma voz mais densa, intimidadora, agressiva, o tornou uma grande sensação dentro do departamento de animação da Warner. Outro grande destaque é o trabalho ímpar de Mark "Luke Skywalker" Hamil fazendo o Coringa, aliás, após Star Wars, Hamil ficou muito conhecido pela sua brilhante atuação como o palhaço do crime.



Os episódios do seriado funcionam exatamente como as edições de HQs mais antigas do morcego, ou seja, cada episódio da série é uma história completa. Por vezes, há episódios duplos sinalizando acontecimentos muito importantes ou essenciais de personagens críticos da mitologia, como foi o caso do Cara de Barro, Duas-Caras, Mulher-Gato, Robin, Ra's Al Ghul e outros.

Cara de Barro, Duas-Caras, Mulher-Gato, Robin e Ra's Al Ghul, personagens que ganharam episódios duplos na série

Mas outros personagens importantes da mitologia do morcego também ganham destaque merecido aqui, como é o caso dos aliados Alfred, do Comissário Gordon, Harvey Bullock e de Barbara Gordon.

Alfred Pennyworth, Comissário James Gordon, Bullock, o detetive de meia-pataca e Barbara Gordon, a Batgirl

O detetive Bullock teve aqui uma transição interessante em relação aos quadrinhos, onde era um policial corrupto, fumava e bebia. Em TAS, Harvey Bullock é um detetive bufão que o Comissário Gordon vem mantendo na força policial porque o prefeito da cidade não o deixa que o demita. Gordon então tem que suportar o balofo mal-encarado devorador de donuts que faz o tipo durão de descendência ítalo-americana, mas que na realidade não consegue resolver um caso sequer. Suas características principais envolvem um desejo mortal do gorducho de capturar Batman, que Bullock considera perigoso e um fora da lei e ele está sempre mascando um palito entre os dentes. Deve mantê-lo lá para o caso de ir à padaria para comprar mais um donut, só pode ser.

Do lado dos vilões, temos o Pinguim, as indústrias Daggett, os gangsters que sempre foram a tônica das histórias do Batman nas HQs, e personagens como Bane, Charada, Espantalho, Sr. Frio, Hera-Venenosa, o Ventriloquista e outros mais, que ganham tratamentos ímpares e são tão interessantes na série quanto a figura do homem-morcego.

Os vilões Pinguim, o empresário Roland Daggett, o gangster Rupert Thorne, Bane, Charada, Espantalho, o trágico Victor Fries, Hera-Venenosa e O Ventriloquista bipolar com seu boneco gangster Scarface

O trabalho de vozes do seriado, como eu disse antes, é ímpar e praticamente sem precedentes na história da televisão. Isso ocorre porque todas as vezes que iam gravar um episódio da série, faziam como se fosse um daqueles shows de rádio antigos, ou seja, todos os atores em um mesmo local, juntos, interagindo e interpretando seus papéis. Andrea Romano, a diretora de vozes do seriado, até conta que quando Mark Hamil ia fazer a risada do Coringa, ele por vezes levantava de sua cadeira para rir mais forte, ou fazia gestos e expressões para risadas mais contidas ou intimidadoras, ou seja, rolou todo um processo criativo meticuloso de trabalho vocal no seriado para se fazer desta experiência, algo inesquecível.

Os vilões ganharam muitas vezes recheio e mais conteúdo em suas origens. A origem do Duas-Caras por exemplo, apesar de diferir da dos quadrinhos, é sensacional e trágica em um certo ponto, o modo como ele abraça sua bipolaridade após sofrer o trágico evento que deformou para sempre sua face é arrepiante. Vale menção aqui também a origem do Espantalho, que foi ampliada em relação com aquela mostrada nas HQs. Mas a melhor de todas, e essa eu faço questão de contar em detalhes, é a origem triste e trágica de Victor Fries.

Houve um experimento do cientista que o gabinete governamental de Gotham estava financiando para o doutor Fries encontrar uma cura para sua esposa que estava sofrendo de uma doença degenerativa. O médico então coloca sua esposa em estado criogênico até conseguir encontrar a tal cura. Porém, o financiamento da pesquisa é cancelado e o médico tem seu laboratório fechado; insistente, continua tentando agir na surdina para salvar sua mulher, mas tem seu equipamento destruído e seu corpo é submetido a uma alteração genética que o deixa numa condição de permanente sensibilidade ao calor, tendo que se manter em ambientes a temperatura abaixo de zero para sobreviver, longe de qualquer calor ou contato humano. O médico acaba querendo vingança contra quem sabotou seu trabalho e, segundo ele, quis matar ele e Nora Fries. 

Esta é uma das melhores origens que alguém já criou para um vilão do Batman; nas HQs essa origem não existia, foi criada aqui mesmo no seriado, e, como acabou fazendo um grande sucesso e tendo boa repercussão, foi incorporada depois ao vilão, nos quadrinhos do morcego. E falando em incorporar coisas nas HQs, houve mais personagens novos que fizeram sucesso neste seriado e, mais tarde também foram incorporados aos quadrinhos.

Exemplos? A psiquiatra Harley Quinzel, que é a conhecida namorada do Coringa (ou assim ela diz ser) Arlequina e a sargento Reneé Montoya.

A Arlequina e a sargento de descendência latina Reneé Montoya

A Arlequina, originalmente a doutora e psicóloga Harley Quinzel, era uma médica que atendia pacientes no Asilo Arkham de malucos e insanos. Foi então que, já entediada com a rotina do asilo de loucos homicidas, conheceu um certo palhaço do crime. O palhaço então jogou todo o seu charme pra cima da doutora que acabou se interessando muito pelo seu paciente, vindo a desenvolver uma obsessão crônica por ele. Foi então que, chateada e entediada, resolveu fugir de seu cargo no asilo e planejou a escapada do Coringa, indo junto viver ao lado dele. Desde então a menina tem agido junto com o palhaço sendo seu comparsa nos crimes. Toda vez que Batman diz que o Coringa não se importa realmente por ela, ela retruca que o "pudinzinho" ama ela sim e abusa dela porque... porque... é, essa eu vou ficar devendo, pessoal. Afinal de contas, o amor é cego, não é mesmo? Pois é. Enfim, Harley, como é popularmente chamada, acaba na série se afeiçoando com outra pessoa, quando não está com o Coringa, se tornando dessa, parceira no crime também, Pamela Isley, a Hera-Venenosa.

Pamela e Harley, garotas no crime
Com todo o esmero colocado na produção, a série estreou em Setembro de 1992 com o episódio On Leather Wings, já nos mostrando o tom sério e sombrio que o seriado usaria. A primeira temporada sempre foi a minha grande favorita, não somente porque é a maior de todas, contando com 60 episódios (enquanto que a segunda e a terceira contém 10 cada uma e a quarta temporada, somente 5), mas também por conter, pelo menos na minha opinião, os melhores episódios do seriado. Vou então reservar este espaço abaixo para listar para todos, os 20 episódios da série que mais me marcaram, até chegar no meu favorito absoluto. Sim, caro leitor, 20 episódios. Tentei, tentei, mas não consegui escolher só 10 dos 85 episódios da série, existem muitos que merecem ser mencionados e eu me sentiria ruim se não os mencionasse. Dito isso, aqui está minha seleção, em ordem decrescente, desta série fantástica:

(A Conspiração da Capa e Capuz)
The Cape and Cowl Conspiracy - este ótimo episódio tem muitas das características que destacam o homem-morcego como o melhor detetive do mundo, um grande estrategista e detentor de um poder de persuasão sem precedentes. Existe um russo querendo manter um segredo obscuro, e para tirar o Batman de seu pé, ele contacta um indivíduo para conseguir a capa e o capuz do morcego por motivos ainda mais obscuros. Aqui você verá cenas clássicas do Batman pendurando capangas no alto de torres para persuadi-los a falar, verá porque o morcego é considerado o mestre dos disfarces e se impressionará com a excelente conclusão do caso; quando o episódio acaba, a reação que tenho é de aplaudir o modo como Batman articulou todo seu plano;

(Cego como um Morcego)
Blind as a Bat - Este é um episódio que tem uma das mais interessantes ideias. Batman tem que agir aqui... CEGO. Sim. Um acidente que expõe a visão de Bruce Wayne a um nível de luz muito elevado faz com que ele perca temporariamente sua visão por uns 3 dias; para piorar, o Pinguim vai atrás da tecnologia que causou o infortúnio do cavaleiro das trevas. Batman então usa parte de sua tecnologia para criar um aparelho que o permite ver em vermelho, algo parecido com visão noturna. Só que mais para o final, o aparelho enguiça de vez e Batman tem que enfrentar o Pinguim sem ver. Claro que, ao final do episódio, sua visão está 100% restaurada, mas o suspense que o episódio cria em cima do fato da cegueira do morcego é angustiante e vale a pena ser mencionado aqui;

(Um Favor para o Coringa)
Joker's Favor - Este episódio vale a pena ser mencionado porque, além de divertido, é a estreia da personagem Arlequina no mundo da DC Comics, sua primeira aparição. Lógico, não é a melhor, mas a menção é justamente por ser a primeira vez que vemos ela. No episódio, um cara chamado Charlie Collins ofende o Coringa no trânsito e, dois anos depois ele terá que pagar um favor para que o palhaço esqueça tudo... ou transforme a vida do pacato cidadão de Gotham em uma piada de mau gosto;

(O Ajuste de Contas de Robin)
Robin's Reckoning - este episódio duplo é baseado na história "Introducing Robin, the Boy Wonder", publicada na revista Detective Comics nº 38 de Abril de 1940. É uma versão excepcionalmente melhorada da história, com passagens de drama e ação que não constam na original. Um grande destaque dessa melhora são os desentendimentos de Dick em relação a Bruce. O menino parece muito mais confiante em si mesmo e mais astuto do que na HQ. O clímax é sensacional e a conclusão é recompensadora. Geralmente eu costumo passar os episódios em que Robin está envolvido, mas este é, sem dúvidas, um grande episódio;

(Coração de Aço / Alma de Silicone)
Heart of Steel / His Silicon Soul - aqui neste caso eu simplesmente tive que juntar dois episódios. Este é o arco do computador e cérebro eletrônico H.A.R.D.A.C., um arco incrível e que retoma a temática da cibertecnologia e dos fantasmas da máquina que James Cameron tratou tão brilhantemente em seus dois filmes da franquia The Terminator. Aliás, a trama remete bem à ideia de Cameron. No primeiro episódio, Heart of Steel, que é duplo, um computador sensciente começa a achar que seu criador e todos os outros humanos são dispensáveis e começa a fabricar cópias cibernéticas de várias figuras de Gotham. Algumas das vítimas são o Comissário Gordon, o prefeito Hamilton Hill e Harvey Bullock. Batman tem que deter e destruir o cérebro cibernético. O segundo episódio, His Silicon Soul, é uma conclusão do arco, onde vemos que H.A.R.D.A.C., na tentativa de sobreviver à sua quase destruição, faz uma duplicata de Batman/Bruce Wayne e o verdadeiro cavaleiro das trevas terá que detê-lo. O arco termina em um clímax e final estonteantes e, assim como os filmes de Cameron, nos faz refletir sobre a alma humana e até onde uma máquina é capaz de emulá-la;

(Os Peixes Risonhos)
The Laughing Fish - este, na minha opinião, é o melhor episódio do Coringa de toda a série. O palhaço do crime vem com uma trama de envenenar os peixes da baía de Gotham, transformando-os em peixes risonhos. O episódio tem muitas características das HQs clássicas do Batman dos anos 30 e 40, como a força policial ficar ao redor de uma vítima quando o Coringa ataca, o palhaço anunciar seus crimes pelo rádio (aqui pela TV), sem falar na paleta de cores do episódio que lembra muito as cores utilizadas nessas histórias antigas. Um episódio seminal da série;

(Nunca é Tarde Demais)
It's Never Too Late - Este é um daqueles episódios em que o Batman se aproxima mais de nós. Neste, dois gangsters rivais, Rupert Thorne e Arnold Stromwell tentam obter o controle de Gotham, mas Batman se aproxima de um deles, como o espírito dos Natais passados e o redime. Stromwell nos é apresentado em uma bela sequência em P&B como um garoto que possuía um irmão que o salvou nos trilhos dos trens quando eram garotos; um dos garotos foi para o caminho do crime e o outro tomou um rumo mais filantrópico. Um dos episódios mais dramáticos do seriado e, por isso, um dos meus favoritos;

(Habitantes do Subterrâneo)
The Underdwellers - Um grupo de crianças habitantes do subterrâneo de Gotham é mantido pelo seu líder, o Rei dos Esgotos; Batman tem que libertar as crianças e trazê-las novamente para a luz; este é um daqueles episódios em que, diferente dos loucos de sempre, Batman duela contra tipos mais de carne e osso, mostrando mais o seu lado humano do que quando está lutando contra malucos como o Coringa ou Espantalho; são episódios que trazem o Batman mais para perto de nós e nos provam que um vigilante como ele realmente poderia existir em nosso mundo;

(Cuidado com o Fantasma Cinzento)
Beware the Gray Ghost - Este é um episódio que eu até cheguei a comentar sobre na minha resenha do filme Birdman. Aqui, vemos Batman ir atrás de um ator decadente que costumava fazer um herói que Bruce Wayne gostava muito, o Fantasma Cinzento, tudo porque há um vilão na cidade inspirado pelo vilão do seriado que Bruce assistia quando criança. Este episódio aquece o coração e te dá aquela sensação de prestar reverência aos heróis que foram símbolos de sua infância, assim como o Batman é para mim hoje, além é claro de ter tudo a ver com o filme Birdman, uma vez que o personagem do ator Michael Keaton passa pela mesma crise no filme. E para quem apreciava a série do Batman dos anos 60, um bônus: o Fantasma Cinzento do episódio tem a voz de Adam West emprestada aqui, resultando em um episódio com dois Batmen pelo preço de um!;

(Eu Sou a Noite)
I Am the Night - eu simplesmente amo este episódio de uma maneira especial. Ele é totalmente voltado à persona do Batman, e estes episódios "character-driven" sempre são muito importantes para mim, pois não vejo utilidade em cultuar um personagem que não tem recheio, tridimensionalidade em uma história que quer se levar a sério. Aqui, Batman inicia se questionando se realmente tem feito bem pela cidade, pois sua guerra contra o crime já dura muito tempo e parece não acabar. Então, uma infelicidade acontece. Gordon é atingido por uma bala do mafioso Jazzman e levado ao hospital porque Batman não conseguiu chegar a tempo de evitar o acidente. Então Bruce Wayne fica com raiva de si mesmo e por um breve momento decide abandonar a capa e o capuz e deixar de ser o vigilante noturno, com medo de machucar mais alguém. Claro que no fim das contas, tudo se resolve, mas o que torna tudo mais especial é o momento catártico em que Batman e Gordon expressam a apreciação que tem um pelo outro; aquilo foi algo que tem me inspirado desde o primeiro momento que vi e inclusive foi uma das ideias que me inspirou até a escrever minha fan fiction do personagem. Gordon diz que queria ser um herói como Batman, ao que Batman responde que Gordon já é um herói. O episódio é muito reflexivo e trabalha mais a fundo a psique do morcego e das linhas que ele decide não cruzar para não se tornar tão louco quanto aqueles que combate. Inspirador e seminal;

(A Busca do Demônio)
The Demon's Quest - aqui está mais um incrível episódio baseado nas HQs. Este foi inspirado na história Daughter of the Demon, história lançada na edição 232 da revista do Batman de Junho de 1971, só que aqui ela é transformada em um episódio duplo. A primeira parte do episódio é uma adaptação integral seguindo de perto a história das HQs escrita por Dennis O'Neil, já a segunda parte é uma expansão da história, e uma grandiosa e bem-vinda expansão, tendo muito o clima pitoresco de filmes como Lawrence of Arabia, formando então um arco grandioso da série envolvendo o vilão Ras Al'Ghul e sua filha Thalia Al'Ghul. Imperdível, e o que é melhor: o próprio autor icônico, Dennis O'Neil escreve o teleplay para o episódio de sua própria história, fazendo ser obrigatória a minha menção deste episódio aqui;

(Quase o Peguei)
Almost Got 'im - Este episódio é um dos mais bacanas que tem na série envolvendo os vilões. Nele, o Coringa, o Pinguim, o Duas-Caras, Hera Venenosa e Croc jogam cartas enquanto contam suas histórias sobre como quase pegaram o Batman. O mais legal disso tudo é que eles não estão tentando armar planos elaborados ou coisa parecida, estão apenas jogando cartas e discutindo coisas, como eu ou você em um bar, sendo eles mesmos. Um episódio muito bacana e extremamente criativo;

(O Julgamento)
Trial - mais um episódio incrível que junta muitos dos vilões da galeria do Batman de uma vez só. Neste, uma advogada acredita que Batman é o responsável por criar os malucos homicidas que Gotham possui. A discussão se Batman faz ou não faz mais mal do que bem vem a tona novamente, e nos questiona se Batman é tão louco quanto os que combate ou não. A mulher e Batman são capturados pelos loucos que arrumam um julgamento tendo o Coringa como juiz! Quer mais insanidade do que isso? Um excelente e divertidíssimo episódio;

(Coração de Gelo)
Heart of Ice - Este episódio é aquele que apresenta a trágica história de Victor Fries tal qual como descrevi acima. É um episódio fantástico com uma das melhores origens já criadas na mitologia do Batman e não poderia ficar de fora de minha lista; aliás, origem esta que foi criada aqui mesmo na série, ela não existe nas HQs, é uma origem que dá o conteúdo que faltava ao personagem vilão para que nós realmente o levássemos a sério; Victor Fries aqui se torna praticamente um arquétipo shakesperiano, contendo toda a tragédia que o termo possui. Sua origem aqui foi tão bem aceita que passou a ser usada nas HQs e em praticamente todos os outros veículos, fazendo deste, um episódio indispensável;

(Os Esquecidos)
The Forgotten - este episódio é simplesmente incrível! Bruce Wayne vai investigar o desaparecimento de algumas pessoas disfarçado e acaba perdendo a memória. Com isso, o episódio desenvolve a psique do Batman de forma espetacular. Alfred também aqui tem papel mais ativo na luta contra a organização criminosa que escraviza mineradores, este é mais um daqueles episódios que traz o Batman para mais perto de nós, nos mostrando que ele poderia existir em nosso mundo; o final é recompensador;

(Duas-Caras)
Two-Face - Este episódio duplo tem uma origem diferente da dos quadrinhos. A própria origem das HQs já mudou umas duas vezes, isso não é um inconveniente. De todas as origens do Duas-Caras, esta é a que eu acho melhor, sim, até mesmo melhor do que a origem do filme do Nolan, que também acho ótima. Todas as origens do Duas-Caras oferecem algo de bom, mas comparando todas, acho esta a que tem a maior carga dramática, sendo por isso, a minha favorita;

(A Noite do Ninja / O Dia do Samurai)
Night of the Ninja / Day of the Samurai - aqui eu tive que fazer uma dobradinha e colocar dois episódios em uma mesma posição, porque este é o arco de Batman no oriente, onde ele aprendeu muitas de suas técnicas de luta e, sendo histórias com temática oriental, são episódios fantásticos. Em Night of the Ninja, Batman revê um antigo adversário que estudava no mesmo dojo que ele e quer vingança por causa de desentendimentos do passado. O mais legal neste episódio é que temos uma luta final cara a cara de Bruce Wayne e o ninja Kyodai Ken, sem máscaras; em Day of the Samuray, Bruce tem que partir para o oriente porque seu antigo mestre requisitou Batman para deter seu antigo rival por causa de problemas familiares. Assim como no anterior, aqui Batman remove sua máscara para mais uma vez enfrentar seu antigo rival cara a cara em uma batalha empolgante e tensa, usando-se de uma antiga técnica proibida. São aventuras que se conectam e com um desenvolvimento dramático sensacional;

(Assuntos Internos)
P.O.V. - Este é o episódio em que a valente sargento Reneé Montoya mostra realmente a que veio. É muito interessante também como nele, cada oficial da polícia conta a sua versão de como foi a experiência deles tendo visto o Batman em ação. No clímax do episódio, a sargento e o morcego trabalham juntos para deter uma gangue de criminosos. É muito interessante para mim quando os caras trabalham esta visão que as outras pessoas tem em relação ao morcego, então você ouve um dizer que era um morcego gigante, outro dizer que o Batman só aponta e o capanga cai no chão, ninguém tem muita certeza do que viu, mas no fim das contas achou incrível. Um excelente episódio envolvendo e focando a força policial de Gotham;

(Um Sonho por Acaso)
Perchance to Dream - Este episódio tem uma temática muito interessante: o que aconteceria se um dia, Bruce Wayne acordasse e visse seus pais vivos, sua entrada para a Batcaverna fechada e descobrisse que sua vida como Batman tinha sido uma mentira? O episódio então abre todas as portas para se explorar a reação de Bruce à vida que ele achou que tinha perdido. Claro, em algum momento da história ele descobre que tudo isso não passou de uma mentira bem elaborada e começa a se questionar e a tentar recuperar sua antiga vida de vigilante de volta. Um excelente episódio;

(Encontro Marcado no Beco do Crime)
Appointment on Crime Alley - este é um dos episódios mais interessantes da série e pessoalmente o meu favorito. Nele, o empresário Roland Daggett pretende explodir um conjunto de prédios em Park Row (Beco do Crime) que as pessoas se recusaram a abandonar. Batman também tem um compromisso nesta vizinhança onde seus pais foram assassinados, compromisso esse que ele atende todos os anos com a Doutora Leslie Thompkins. Pegando aqui a ideia do Batman de Burton, em que Bruce deixa todo ano um par de rosas para seus pais na rua onde eles foram mortos, o episódio melhora e expande a ideia. Thompkins aqui na série, faz o papel de mãe postiça, assim como Alfred é o pai postiço de Bruce. Leslie esteve com o Bruce menino e o confortou quando seus pais foram mortos. No meio desta trama, a boa doutora é sequestrada e presa em um prédio com uma bomba porque havia descoberto o plano de Daggett, então Batman se atrasa para seu compromisso. No caminho, o morcego vai resolvendo alguns problemas de rotina na cidade enquanto tenta encontrar a doutora para renovar sua promessa junto à ela, na rua onde a sua vida mudou totalmente. O final emociona e dá aquele sentimento acalentador, mostrando claramente o papel que a doutora exerce na vida de Batman. É um episódio tocante, interessante e um grande momento de humanização da figura heroica do morcego, e por isso, meu grande favorito da série.

Vamos agora dedicar os próximos dois parágrafos à algumas menções honrosas: Nothing to Fear é o primeiro episódio da série que trata dos medos de Bruce; The Last Laugh, é um ótimo episódio com o Coringa e o destaque vai para a escapada ambiciosa que Batman realiza de dentro de um tanque furado embaixo do oceano que lhe poderia custar a vida; Prophecy of Doom mostra uma organização comandada por um pretenso vidente que Batman desmascara de forma muito articulada; Dreams in Darkness, mostra Batman de volta com a toxina do medo do Espantalho, desta vez como um interno no Asilo Arkham; The Strange Secret of Bruce Wayne mostra o Dr. Hugo Strange descobrindo a identidade de Batman através de uma máquina que mostra os pensamentos das pessoas e tentando leiloar este segredo para vilões como Duas-Caras, Coringa e Pinguim.

Tyger Tyger é uma grande história de auto-descoberta e retórica shakesperiana envolvendo um tigre mutante e a Mulher-Gato, que termina de forma sublime com Batman recitando o poema de William Blake; The Man Who Killed Batman é um divertido conto de um pequeno homenzinho que pensa ter matado o Batman e acaba se tornando o maioral por acidente, revelando o desejo oculto de todo homem de estar por cima; Fire from Olympus é sobre um cara chamado Maximilian Zeus que vai a loucura e pensa ser a reencarnação do deus grego, dando vazão a várias referências mitológicas, inclusive de Batman, chamando-o de Lorde Hades; Read My Lips é o primeiro episódio da série envolvendo o ótimo vilão de dupla personalidade Ventríloquo e seu boneco Scarface; The Lion and the Unicorn finalmente nos revela um pouco mais do passado de Alfred como um ex-agente da inteligência britânica, fazendo com que o mordomo entre em ação; e finalmente, Showdown é um episódio de época que conta uma história envolvendo a Gotham do velho-oeste e o personagem Jonah Hex, o cowboy desfigurado das HQs.

Ficou meio grande, caro leitor? Pois é, me desculpe por eu ter me alongado tanto, mas são muitas coisas boas e seria simplesmente um crime deixar tudo isso para trás. Deu muito trabalho para fazer esta edição do especial para você, mas isso me deu a oportunidade de pegar meus DVDs da estante e rever cada belo episódio desta obra-prima das séries de TV para que esta edição ficasse realmente a altura da magnitude que este impressionante trabalho com o Batman detém. Ainda falta falar sobre a continuação desta série que saiu em 1997, chamada The New Batman Adventures, mas eu falarei dela em tempo.

Conclusão: eu diria que este seriado é recomendado para os fãs do Batman sim, todos, absolutamente todos que são realmente fãs do morcego DEVEM checar este seriado; é uma produção seminal para qualquer fã, sendo ela, na minha opinião, o trabalho mais perfeito que alguém já fez com o Batman fora das HQs. Mas eu também ampliaria este escopo e recomendaria tranquilamente esta série para qualquer pessoa que gosta de boas histórias. É uma produção sem precedentes e que eu tenho certeza que, quem assistir, não irá se arrepender.

Ah, Ricardo, mas é uma animação!

É? Então está na hora, incauto leitor, de você deixar seus preconceitos de lado e rever seus conceitos de animação imediatamente! É só isso que tenho a falar. Assista esta brilhante série e impressione-se!


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Batman: The Animated Series (1992-1995)
Título em português BR: Batman: A Série Animada
Nota: 10 / 10

Direção: Kevin Altieri, Boyd Kirkland, Frank Paur, Dan Riba, Dick Sebast, Bruce W. Timm, Eric Radomski, Kent Butterworth 
Produção: Bruce W. Timm, Alan Burnett, Paul Dini, Eric Radomski, Jean MacCurdy, Tom Ruegger
Criação e roteiros: Bruce W. Timm, Eric Radomski, Jean MacCurdy, Tom Ruegger, Paul Dini, Eddie Gorodetsky, Michael Reaves, Alan Burnett, Kevin Altieri e outros (baseado em HQs escritas por Bill Finger, Bob Kane, Jerry Robinson, Denny O'Neil, Gardner Fox, Len Wein, Neal Adams, Dick Giordano, Carmine Infantino, Alan Grant, Dick Sprang, Marv Wolfman, Mike W. Barr, Doug Moench, Chuck Dixon, Frank Miller e Alan Moore)
Trilha sonora: Shirley Walker, Michael McCuistion, Harvey Cohen, Lolita Ritmanis, Kristopher Carter, e outros (baseada em tema musical de Danny Elfman)

Estrelando (elenco da versão original): Kevin Conroy, Efrem Zimbalist Jr., Bob Hastings, Loren Lester, Mari Devon, Robert Costanzo, Mark Hamill, Richard Moll, Lloyd Bochner, Arleen Sorkin, John Vernon, Adrienne Barbeau, Brock Peters, Diane Pershing, Ingrid Oliu, Paul Williams, George Dzundza, Melissa Gilbert, Aron Kincaid, Jeff Bennett, David Warner, Edward Asner, Diana Muldaur, Henry Polic II, Helen Slater, Ron Perlman, Roddy McDowall, Liane Schirmer, Clive Revill, John Glover, Marc Singer, Michael Ansara, Robert Ito, Earl Boen, Eugene Roche, Bruce W. Timm, Tim Curry, Thomas F. Wilson, Walter Olkewicz, Steve Susskind, John Rhys-Davies, Henry Silva, Bill McKinney, Adam West, Alison La Placa, Ray Buktenica, Seth Green, Ernie Hudson, Vincent Schiavelli, Malcolm McDowell

Dubladores do Batman brasileiro: Márcio Seixas, Ayrton Cardoso, Isaac Bardavid, Roberto Macedo, Darcy Pedrosa, Isis Koschdoski, Alexandre Moreno, Ângela Bonatti, José Luiz Barbeito, Antônio Patiño, Marisa Leal, Sônia de Moraes, Mauro Ramos, Marlene Costa, Élcio Romar, José Sant' Anna, Ronaldo Magalhães, Miguel Rosenberg, Iara Riça, Ionei Silva, Sumara Louise, Ricardo Schnetzer, Leonardo José, Márcio Simões, Garcia Jr., Hamilton Ricardo, Francisco José, Paulo Flores, Isaac Schneider, Vera Miranda, Ricardo Schnetzer

Outras sequências desta telessérie:
Batman Beyond (Batman do Futuro) (1999-2001)
The New Batman Adventures (As Novas Aventuras do Batman) (1997-1999)
Batman: The Animated Series (Batman: A Série Animada) (1992-1995)

Trailer:


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