Wednesday, March 16, 2016

NO CINEMA: The Witch: A New-England Folktale (A Bruxa)

Nota: 9,5 / 10

Ok... vamos ver se consigo falar sobre este filme; após todos os acontecimentos de hoje a noite, ficou meio complicado focar, mas vou fazer o melhor que posso, como sempre fiz.

Primeiramente... em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo... Amém!

E caso alguém se pergunte, não, não sou supersticioso nem nada disso, mas não custa nada prevenir!

Stephen King disse que saiu correndo do cinema após assistir este filme. Pensei "caramba... o mestre do terror literário se arrepiando todo... isso deve ser bom!" Faz muito tempo que eu não assisto um filme bom de terror, então com essa declaração de um de meus escritores favoritos, fui animado assistir esta produção independente.


O cenário da trama é a Nova Inglaterra. Para quem não sabe, este é o nome dos EUA quando os colonos chegaram da Inglaterra e desembarcaram na América na primeira metade do século XVII, em busca de uma nova vida, e de se livrarem das amarras da Igreja Católica naqueles tempos. No entanto, estes desbravadores vieram com todos os costumes e tradições importadas de lá, o que ocasionou diversas complicações à região. Era um povo agrário e primitivo, muito apegado à fé Cristã, às tradições e aos costumes.

Foi assim que começaram os EUA. Existe um livro de Nathaniel Hawthorne, chamado The Scarlet Letter, conhecido no Brasil como A Letra Escarlate, que mostra este cenário muito bem através de uma história de tentação, amor e traição. Eu inclusive já falei sobre o filme que adapta a obra aqui no blog, quem quiser, pode checar minha resenha publicada no ano passado pelo link que deixei aí em cima. E recomendo assistirem ao filme também.

Pois bem, há uma família desses colonos vivendo nesta fazenda perto de uma floresta. Eles são um casal, cinco filhos e um cachorro. Na floresta, há uma lenda de uma bruxa, e por isso todos tomam um imenso cuidado para não se distanciarem demais do local onde moram.

Acontece que um dia, a filha mais velha do casal que vive lá, Thomasin, leva o bebê recém-nascido para fora, e quando ela estava brincando de susto com o bebê, em uma das vezes que ela tampou a cara, o bebê sumiu sem deixar vestígios. Desesperada, ela volta para casa, e enquanto isso, vemos uma cena muito sinistra envolvendo a criança. Pois bem...

No dia seguinte, o pai se conforma e diz a todos que a criança a esta hora já deveria estar morta. O processo continua tomando a família de assalto, e fazendo mais vítimas. A forma como um dos filhos do casal, Caleb, é levado, e depois trazido de volta, para depois ter reações estranhas deitado em lençóis improvisados, cuspir uma maçã da boca, e desacordar, é bizarra. E por causa de uma brincadeira que Thomasin fez com as crianças, todos começam a achar que ela era a bruxa.

Mais coisas horripilantes e bizarras continuam acontecendo com esta família, mudando para sempre, e de forma trágica, a vida de todos. Ao final da projeção, você já viu um pouco de tudo... feitiçaria, espíritos, incorporações de entidades malignas, febre de cabine... tem até um semi-exorcismo, e tudo é muito aterrorizante. A família fica, a todo momento recorrendo à providência divina, mas isso não impede que a bruxa ande a solta pela fazenda.

E o terror do filme acerta em cheio, porque o filme se baseia na ideia do que não se pode ver. Muita gente confunde filme de monstro com filme de terror. O filme de monstro mostra a criatura, então você sabe que aquilo é de mentira, e aceita como uma regra daquele universo. Mas este filme não. Ele te deixa refletindo sobre tudo aquilo que você viu, sem nunca mostrar o mal que assola aquela família.

O andamento do filme é lento, como em um filme de Ingmar Bergman. A fotografia é escura, mesmo nas partes mais claras do filme, mantendo o clima gótico e sombrio. A família, nada mais é do que um grupo de ovelhas prontas para o abate, para qualquer que seja a entidade demoníaca que os assombra. E todos estes elementos realmente te causam um tremendo desconforto, alguns deles quase fazem você virar a cara, se você for um pouco mais supersticioso. Aliás, eu não recomendo este filme se você é uma pessoa facilmente impressionável ou supersticiosa. Te garanto, você vai ter pesadelos a noite. Minha reação ao final do filme foi de horror, mas como eu não sou supersticioso nem nada, encarei de forma mais tranquila.

Há também um intertexto interessante, escondido aqui no filme. Nele, vemos relances do que parece ser a tal da bruxa da floresta. Eu entendi que esta entidade representa o mal. Nas religiões Cristãs, o diabo é descrito como um ser sem forma, que não pode fazer coisa alguma a não ser influenciar as pessoas, dar ideias; é por isso que ele é chamado de o pai da mentira; um ser que tem um poder enorme de influenciar negativamente as pessoas. Tem até uma cabra negra que o casal de crianças mais novas do filme dizem ouvir falar com elas. MEDO!

Assim, fica a pergunta aqui após a hiper-sinistra última cena que fecha o filme: estaria o mal sendo incutido dentro das pessoas através de uma entidade invisível? Ou o mal é algo inerente ao ser humano desde seu berço? Nós terminamos a projeção sem a menor ideia de o que ou quem possa ter causado a desgraça daquela família, então fica aí esta cruel dúvida no ar, que é o elemento que finalmente nos causa todo o terror que experimentamos durante a projeção.

Calcado em elementos soturnos, se aproveitando do baixo orçamento para criar situações tensas e aterradoras com efeitos práticos e muitos trechos angustiantes, The Witch é um filme recomendadíssimo para os amantes do bom terror. Eu estou morrendo de vontade de assistir novamente. E para aumentar mais ainda nosso clima de terror, ao final da projeção, somos informados de que as situações que testemunhamos na tela, foram tiradas de trechos de jornais da época, registros e depoimentos de pessoas que estavam lá naquele período sombrio. Eis o veneno para seus pesadelos por pelo menos as próximas três noites de sua vida!

E como a bruxa anda solta aqui no nosso país também, eu desejo a todo mundo bons sonhos; mas só por precaução, eu vou fazer igual o nosso amigo Chaves aqui embaixo pelo resto da semana, antes de dormir! Que bons ventos soprem na direção de todos!


The Witch: A New-England Folktale (2015)
Título em português BR: A Bruxa

Direção: Robert Eggers
Produção: Daniel Bekerman, Lars Knudsen, Jodi Redmond, Rodrigo Teixeira, Jay Van Hoy
Roteiro: Robert Eggers
Trilha sonora: Mark Korven

Estrelando: Anya Taylor-Joy, Ralph Ineson, Kate Dickie, Harvey Scrimshaw, Ellie Grainger, Lucas Dawson, Bathsheba Garnett, Sarah Stephens, Julian Richings, Wahab Chaudhry, Brooklyn Herd, Derek Herd, Viv Moore, Jeff Smith, Madlen Sopadzhiyan, Ron G. Young

Trailer:

No comments:

Post a Comment