Nota: 8 / 10
Eu sempre fui um aficionado pela cultura americana. Mas nunca fui um aficionado em esportes. Jogava bola na escola, porque era isso, ou ficar de fora das aulas de Educação Física. Agora, se tem uma coisa que eu realmente nunca gostei na cultura dos EUA, é o futebol americano. Curiosidade, eu sempre tive, mas como eu nunca fui um cara físico, sempre soube bem pouco das regras desse jogo da "bola estranha", como eu costumo chamar.
O que eu já suspeitava há algum tempo, é que os caras realmente se quebram nesse jogo. E no filme de hoje, Concussion, o assunto era justamente esse do título, a concussão que os jogadores desse esporte sempre sofrem na cabeça ao bater dos capacetes. Um patologista e cirurgião nigeriano acabou chamando a atenção das pessoas para isso. E com isso, quase foi expurgado do país.
A história, baseada em fatos reais, que aconteceram na primeira década do século XXI e que foram relatados por Jeanne Marie Laskas, em um artigo da revista GQ, chamado Game Brain, trata de Bennet Omalu, que estava acostumado a trabalhar em um lugar onde deixavam ele dissecar cadáveres para descobrir a causa mortis e chamar a atenção para possíveis e inconvenientes verdades que as pessoas deveriam saber. Determinado e corajoso, o patologista, interpretado aqui por Will Smith em um excelente papel após muito tempo, acaba por fazer a autópsia de um ex-jogador de futebol americano, que é amigo de um amigo dele, interpretado por Alec Baldwin, e é assim que o patologista nigeriano acaba se envolvendo com o mundo do futebol americano.
Omalu diagnosticou que o ex-jogador, e mais dois outros que ele tinha dissecado, morreram, após vários anos, devido às pancadas que levavam durante o jogo americano. Eles morriam de problemas mentais, Alzheimer, frustração e depressão, e demais causas que levavam ao suicídio ou a acidentes, tudo em decorrência do mal funcionamento do cérebro. O médico tenta levar isso a público com o pacote completo, provas, avisos, etc, e tentar convencer a NFL, a Associação Nacional de Futebol Americano, que era hora de pensar em mudanças para o jogo. Suas provas eram contundentes, ele dava exemplos de que um pica-pau, por exemplo possuía um amortecedor em sua cabeça, para aguentar as bicadas na madeira, mas nós humanos, não possuímos tal característica, o que torna nossa estrutura craniana suscetível a impactos de grande porte.
Porém, a ganância acaba tomando conta dos envolvidos na organização, incluindo um dos grandões, Dave Duerson, interpretado pelo Mr. Eko da série Lost, Adewale Akinnuoye-Agbaje e que também é um ex-jogador. O médico recebeu várias ameaças e foi rechaçado várias vezes, acusado de querer afeminar a América, ou então de querer o mal das instituições do país.
Finalmente, após um silêncio de três anos, já casado e com uma filha, o médico é contactado por esse ex-jogador, que admite estar tendo problemas, e comete suicídio para que todos soubessem que o problema era real. Assim Omalu, com o constante apoio de sua esposa, interpretada por Gugu Mbatha-Raw, e da providência divina, acaba finalmente sendo ouvido pela NFL e fazendo a diferença, alertando a todos dos problemas, e finalmente em 2015, sendo reconhecido como um cidadão americano.
Esta história de luta e superação me lembrou, em vários aspectos, a realidade em que vivemos. Muitas pessoas se recusam a ouvir a verdade, mesmo que ela seja dolorosa e exija que nós mudemos nossa visão de mundo. Um grande exemplo, é a luta dos médicos para conseguir com que a fosfoetanolamina seja testada para ser comprovada sua eficácia no tratamento do câncer. É uma verdade inconveniente que a indústria farmacêutica, por ganância ou seja lá o que for, tentou abafar durante muitos anos, e recentemente, finalmente veio à público e recebeu candidatos dispostos a testar a substância.
Dessa forma, não há como não reconhecer o esforço de pessoas notáveis, como Bennet OMalu, que apesar das adversidades, enfrentam o mundo e nunca desistem de fazer a diferença.
Com uma direção ótima, roteiro bem escrito e ótimas atuações de Will Smith, Alec Baldwin, Gugu Mbatha-Raw, Albert Brooks, David Morse, a dupla de Lost, incluindo Adewale e a atriz L. Scott Caldwell, a Rose de Lost em uma breve aparição, mais o resto do ótimo elenco, e também contando com a produção de Ridley Scott, Concussion é um retorno mais do que bem vindo de Will Smith aos filmes sérios, uma vez que seus últimos papéis foram muito medíocres ou péssimos. Um excelente filme do ano passado, que só foi estrear aqui três meses depois. Atenção inclusive para a dedicação e o esforço empregado por Smith em mudar o sotaque com que fala, para ficar mais parecido com um estrangeiro vindo de um país africano, o que eu acho digno de nota.
Enfim, recomendo a todos o filme, e como uma última mensagem, digo o seguinte: se antes eu já não tinha apreço pelo futebol americano, agora eu faço um apelo a todo o povo dos EUA: voltem para a glória do basketball! Se por um lado eu não ligo muito para esportes, o basketball sempre foi uma das minhas características favoritas dessa cultura americana que eu tenho tanto apreço! Nas aulas de Educação Física, quando moleque, eu preferia estar jogando basquete do que futebol! Façam isso, americanos! Voltem suas atenções para o basquete, para as cestas, para as enterradas, e deixem os touchdowns para lá; ouçam a verdade, por mais dolorida que possa ser, para que no futuro, não seja mais necessário vir um médico nigeriano ter que abrir as cabeças de vocês para entenderem o quão arriscado é continuar batendo cabeça neste assunto.
Concussion (2015)
Título em português BR: Um Homem Entre Gigantes
Direção: Peter Landesman
Produção: Amal Baggar, Elizabeth Cantillon, David Crockett, Giannina Facio, Michael Schaefer, Ridley Scott, Larry Shuman, David Wolthoff
Roteiro: Peter Landesman (baseado em fatos reais, relatados no artigo Game Brain, da revista GQ, escrito por Jeanne Marie Laskas)
Trilha sonora: James Newton Howard
Estrelando: Will Smith, Alec Baldwin, Albert Brooks, Gugu Mbatha-Raw, David Morse, Arliss Howard, Mike O'Malley, Eddie Marsan, Hill Harper, Adewale Akinnuoye-Agbaje, Stephen Moyer, Richard T. Jones, Paul Reiser, Luke Wilson, Sara Lindsey, Matthew Willig, Bitsie Tulloch, L. Scott Caldwell, Larry John Meyers
Trailer:
Obrigado pelo post, muito bom, esse é um grande filme. Este ator nos deixa outro projeto de qualidade, de todas as suas filmografias essa é a que eu mais gostei, acho que deve ser a grande variedade de talentos, Beleza Oculta é um novo filme de Will Smith maravilhoso, ele sempre tem muito sucesso, ásegurado, ancho que a história é muito boa, e a trilha sonora é maravilhosa, enfim, um dos meus preferidos.
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