Tuesday, March 1, 2016

NO CINEMA: Solace (Presságios de Um Crime)

Nota: 7,5 / 10

Fazia muito tempo que eu não via o Hopkins em um filme novo. Que sorte eu estar sapeando o site Ingresso.com e dar de cara com este. Gosto muito do Hopkins, daquela cara de psicopata adorável dele, do sotaque, das falas articuladas.

O novo filme estrelando o ator não é um dos melhores thrillers policiais que eu já tive a chance de ver, com toda certeza. Quer um thriller policial realmente de respeito? Assista Seven (1995). Ou então The Fugitive (1993). Ou então, se quiser ver o Hopkins, qualquer filme da série do assassino Hannibal Lecter (exceto o quarto, sobre a origem do personagem, que é uma bosta) também vai te satisfazer.

Mas o filme não deixa de ser interessante, até mesmo pela relação do título original, Solace, inglês para a expressão "consolo na perda", com a situação do protagonista.

Na trama, temos um ex-agente da polícia, John Clancy (Hopkins), que é chamado de volta à ativa por uma dupla de policiais, o agente Joe (Jeffrey Dean Morgan) e a agente Cowles (Abbie Cornish) para investigar um assassino serial com um modus operandi muito peculiar. Isso porque o senhor Clancy possui um dom especial de premonição, ele consegue ver o que vai acontecer no futuro, o que teoricamente ajudaria os agentes a identificarem rapidamente o assassino.

Claro que ele não volta sem um pouco de insistência dos dois agentes. Após o tradicional "não faço promessas, mas estou aqui", Clancy começa a ter visões dos dois policiais sendo mortos e começa a ficar mais cauteloso. A pista acaba levando a um cara que supostamente assassinou a esposa na banheira, mas a coisa dá em nada. Entra então, no meio do filme, o personagem Charles Ambrose (Colin Farrell), que tem o mesmo dom que Clancy tem, com o Hannibal dizendo que o do de seu antagonista é muito melhor do que o dele, o que indica uma possível relação Sherlock-Moriarty entre os dois de rivalidade. Mas não chega a tanto.

Ambrose diz que mata pessoas terminalmente doentes para lhes pouparem o sofrimento que enfrentarão no futuro, e é o que vinha fazendo desde então. Ele parte da premissa de que "às vezes, os verdadeiros atos de amor são difíceis de serem realizados" A investigação chega até ao absurdo de pedir aos pais de uma família para desenterrar o corpo do filho morto para fazerem uma autópsia do cérebro do menino, porque Clancy suspeita que há algo lá que ninguém estava vendo, e que revelaria o modus operandi do assassino. No meio da autópsia, Clancy resolve largar o caso, mas com um pouco de jeito, a agente Cowles puxa o aposentado policial de volta à investigação.

Algumas coisas aqui ficam meio soltas, como a natureza do poder dos dois antagonistas da história. Uma hora parece que eles podem ver as coisas tocando nas vítimas, outra, parece que podem ver a qualquer hora, e depois, parecem estar "conectados mentalmente" por alguma razão. O filme falha miseravelmente aqui em estabelecer regras claras de como funciona esse dom que eles tem. Outra falha do filme, é que algumas situações poderiam ter sido resolvidas simplesmente com um pouco mais de diálogo entre os protagonistas, mas esses diálogos acabam não acontecendo, prolongando um pouco mais as coisas.

Apesar disso, a trama segue de forma interessante e nos dá uma pista de que o personagem de Hopkins tem um lance em relação ao seu passado um pouco mais sinistro do que aparenta sua expressão sempre serena. Bom, ele é o Hannibal Lecter, eu não esperava menos do que isso; até cérebro sendo fatiado tem no meio do filme, então já se vê aqui que Hopkins está sempre referenciando alguma característica de seu passado como ator, seja nas grandes ou pequenas coisas.

Enfim, a direção do filme é boa, feita pelo diretor brasileiro Afonso Poyart (2 Coelhos), inclusive com sua própria equipe brasileira de efeitos visuais, que você, que não fica para ver os créditos finais do filme, provavelmente nem sonhará que estão lá; os atores estão ótimos, as atuações do Hopkins (que também produz o filme) são sempre excelentes, e é sempre um grande prazer vê-lo em cena, o mesmo pode ser dito da atriz Abbie Cornish, que apesar de ter uma pequena mancha feia em seu currículo (Sucker Punch), aqui ela tem a chance de se redimir como atriz. O ator Jeffrey Dean Morgan, que estará fazendo o papel de Thomas Wayne em Batman V Superman: Dawn of Justice agora em Março também está mostrando serviço aqui, provando que ser presunto não é para qualquer um (ok, leve humor negro aqui) e o ator Colin Farrell, que ultimamente tem se ocupado da série True Detective, retorna nas telonas em um papel interessante.

A discussão sobre o quão perigoso é sabermos do nosso próprio futuro e as repercussões que isso tem ao se considerar o ser humano como aquele que dirá se uma vida continuará ou não, tomam proporções na forma de tensão no clímax final do filme, agregando muito valor à discussão. Se descobríssemos que alguém terá uma doença terminal que vai lhe causar muita dor e sofrimento nos últimos momentos de sua vida... escolheríamos lhe tirar a vida antes que essa dor e sofrimento a alcancem, ou deixaríamos esta pessoa passar pela tempestuosa passagem espiritual que a aguarda? Será que, pra você, o consolo vem da possibilidade de a pessoa não sofrer em sua passagem, ou será que é o oposto disso? Será que isto é verdadeiro amor? Está aí o ótimo questionamento sobre a vida e a morte que o filme nos oferece, que relembra bastante, neste aspecto, a premissa do filme francês Amour de 2012, do diretor Michael Haneke.

Discussões sobre a autoridade de Deus em relação à vida dos homens são colocadas na mesa aqui neste bom thriller policial, que apesar de falho em alguns aspectos e pouco falado na mídia, diverte e nos proporciona comida para o pensamento, sem a necessidade de dissecar cérebros... tá bom, tá bom, parei com as piadas de humor negro! Um filme que eu recomendo, tanto para os fãs de Anthony Hopkins, quanto para apreciadores de boas tramas policiais modernas.

Ah, sim... prestem atenção na piada que Hopkins conta no filme sobre mulheres que tomam testosterona! Para o padrão de humor de um assassino serial, achei que essa piada foi, no mínimo, serviçável!

Solace (2015)
Título em português BR: Presságios de Um Crime

Direção: Afonso Poyart
Produção: Thomas Augsberger, Sean Bailey, Claudia Bluemhuber, Matthias Emcke, Beau Flynn, Anthony Hopkins, Wendy Jacobson, Tripp Vinson, Adam Yoelin
Roteiro: Sean Bailey, Ted Griffin
Trilha sonora: BT

Estrelando: Anthony Hopkins, Jeffrey Dean Morgan, Abbie Cornish, Colin Farrell, Marley Shelton, Kenny Johnson, Janine Turner, Xander Berkeley, Sharon Lawrence, Autumn Dial, Matt Gerald, Jose Pablo Cantillo, Jordan Woods-Robinson, Joshua Close, Luisa Moraes, Rey Hernandez

Trailer:

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