Thursday, May 28, 2015

FILME: Batman Returns (Batman: O Retorno) - especial Batman na Tela: edição 8

O filme do Batman de Burton em 1989 foi considerado um sucesso de bilheteria, apesar de suas falhas, e catapultou a carreira de Burton para fazer outros projetos, além é claro, de ter garantido a continuação do filme em 1992, chamada de Batman Returns. No mesmo ano, foi lançado pela equipe de animação da WB um projeto muito melhor e mais interessante do cavaleiro das trevas chamado Batman: The Animated Series. Enfim, para este segundo filme em live action, Burton chamou novamente sua equipe de colaboradores. Após ter saído de uma temporada de sucesso com o excelente Edward Scissorhands (Edward Mãos de Tesoura), Burton volta ao universo sombrio do morcego e, parece que aqui ele novamente acabou ligando o piloto automático. Demonstrando um grau absurdo de autorialidade, verdade seja dita, mas mesmo assim, o filme final ficou sendo qualquer outra coisa, menos um filme do Batman. Pareceu muito mais uma homenagem ao cinema mudo expressionista do que uma história do vigilante.


Eu tenho que reconhecer que Burton tem estilo e criatividade, sim, são características indiscutíveis de seu trabalho. Agora, em termos de criação de roteiros baseados em ideias de terceiros, Burton parece sofrer de debilidade criativa, não consigo achar outra explicação. Mais parecido com uma produção capenga que referencia a todo momento os ícones do cinema do início do século XX, Batman Returns decepciona pelo seu roteiro fraco e falta de boas ideias para reintroduzir personagens clássicos. Como eu falei, ele parece estar muito mais preocupado com o estilo e sua realização pessoal e autoral do que em realmente contar uma história do Batman de fato. Mas, não tome minha palavra como certa ainda, caro leitor, vamos dar uma passeada no filme e tirar essas coisas a prova.

O filme já abre com uma cena bizarra, a do bebê Pinguim. Sim, eles mostram as origens, o menino foi abandonado pelos pais quando criança por ser um freak, ter aquelas mãos bizarras que pareciam nadadeiras, predileções por carne crua, etc., ou seja, mais uma vez Burton mostra que nunca leu e nem tem interesse de ler uma HQ do Batman na vida. Com o passar do tempo chegamos à Gotham anos depois, época de Natal, e o Pinguim vive nos esgotos da cidade (!!??) com um exército de Pinguins ao seu redor (???) que cuidaram dele desde quando era um bebê (...??)... tá de sacanagem, né?



Enfim... o lance do Burton é até louvável, ele quis fazer o Pinguim como um pária da sociedade, etc, mas puts, senhor Burton... não dava pra ser um pouco mais comedido? Você espantou um monte de gente do seu filme, rapaz! Não, sério, o Pinguim burtoniano é realmente bizarríssimo! 



Pior... tem um empresário aí chamado Max Schreck (o nome é uma homenagem ao ator de mesmo nome que interpretou o Nosferatu no cinema mudo clássico), interpretado por Christopher Walken que quer tentar fazer com que as pessoas elejam o Pinguim prefeito de Gotham (pra quem não sabe, esse é o roteiro de um episódio da série sessentista do Batman, chamado "Hizzoner the Penguim"). Pois é, pra quem achava que o lance do coitadismo é algo dos nossos tempos.



Enfim, temos também a secretária aqui das indústrias Schreck chamada... estão preparados?... Selina Kyle! Sim, sem brincadeiras! Burton fez da futura Mulher-Gato uma secretariazinha tímida e desajeitada de Max.



Um dia quando ela descobre uma maracutaia do cara envolvendo uma usina de energia, ele a joga da janela lá do alto de um enorme edifício, devia ter uns 20 andares o negócio e ela cai na neve e morre... e então é ressuscitada por lambidas de gato... sim, ela morre, não tenho como pensar o contrário! Ninguém consegue cair de uma altura daquelas e sobreviver, nem mesmo se cair em cima da neve!

Porr-é-essa?

Pois é... eu fico aqui imaginando quantas pessoas naquele ano jogaram suas secretárias da janela... sim, porque logo após ela acordar na neve, já está bagunçando todo o coreto, ela se torna independente, sexy, perigosa, felina, de repente está serelepe fazendo acrobacias e brigando por aí. Essa é a parte que eu gosto do filme, a Mulher-Gato aqui, apesar da origem ridícula, sem nexo algum, é representada adequadamente. Assim como o Coringa de Nicholson no filme anterior, é uma das poucas partes do filme que efetivamente funciona.

MEOW!

Outra coisa que ficou boa no filme são os diálogos entre a Mulher-Gato e o Pinguim. Aqui Burton acertou na dose de vilania e malícia entre os dois, a química deles em cena é muito boa.



As referências expressionistas que saltam aos olhos do filme também são bacanas, mas ficaram muito fora de contexto; se fosse uma legítima produção burtoniana para realmente homenagear o expressionismo como os excelentes Edward Scissorhands e Sweeney Todd, aí a conversa seria outra; mas estamos falando de um filme do Batman, tudo ficou meio deslocado. Este filme é um filme expressionista do Burton, não um exemplar do homem-morcego. Eu costumo até fazer esta distinção chamando o filme de Burtman Returns. O morcego de Burton não é o Batman, mas o Burtman. Sem contar também que o diretor dá tanta atenção para a dupla de vilões no filme e para o empresário Max Schreck, que o próprio morcego no filme acaba se tornando uma participação especial em seu próprio filme.

E como diabos o Pinguim conseguiu todos aqueles apetrechos malucos que ele tem nos esgotos? E não me venham dizer que foi lixo que jogaram por lá, porque não tem jeito de um cara fazer tudo aquilo só dependendo do lixo que os outros despejam num lugar daqueles! Impossível! Tão impossível quanto um ser-humano ser criado por pinguins e ter aprendido a falar com eles ou a fazer traquitanas complicadas daquelas. Absurdo!

O clímax do filme também é um treco bizarro. O Batman arranca sua máscara, a Mulher-Gato que foi tão bem representada pela Pfeiffer enlouquece e quase nem aparece mais depois que dá o beijo da morte no Schreck, o Pinguim morre, enfim, um treco de maluco que nem dá pra explicar direito. A moral da história é que tudo termina com aquele tom agridoce, de forma triste e melancólica (o que em partes é até legal, mas mal executado), a audiência se sente vazia no final do filme, o McDonalds não consegue emplacar linhas de brinquedos "Pinguim babando sangue" no Mc Lanche Feliz para as crianças, os pais se recusam a levar suas crianças para ver o filme no cinema e o Burton é afastado da cadeira de diretor da franquia Batman.

Então, os fãs ficam felizes e na expectativa de, no próximo filme em live action nos cinemas, terem algo melhor e mais próximo das HQs, talvez algo até mais a ver com a obra-prima televisiva Batman TAS, que discutimos na edição anterior. Só Deus sabia o quanto estávamos enganados! Acabamos sendo traídos por bat-mamilos e exageros que fizeram todos os fãs sentirem uma saudade danada do Burton, que se tinha seus muitos tropeços, pelo menos não ficava brincando em serviço e mantinha o tom mais sóbrio de seus filmes. Mas isso é conversa para uma próxima vez. Moral da história: não recomendo este filme e considero que esta era Burton do Batman só vale a pena ser revisitada como uma curiosidade mórbida de um passado que, no fundo, muitos não querem que volte.



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Batman Returns (1992)
Título em português BR: Batman: O Retorno
Nota: 5 / 10

Direção: Tim Burton
Produção: Tim Burton, Denise Di Novi, Peter Guber, Benjamin Melniker, Jon Peters, Michael Uslan
Roteiro: Daniel Waters, Sam Hamm (baseada nas HQs escritas por Bill Finger, Bob Kane, Jerry Robinson, Frank Miller, Alan Moore)
Trilha sonora: Danny Elfman

Estrelando: Michael Keaton, Danny DeVito, Michelle Pfeiffer, Christopher Walken, Michael Gough, Pat Hingle, Michael Murphy

Outros filmes desta cinessérie:
Batman & Robin (Batman e Robin) (1997)
- Batman Forever (Batman Eternamente) (1995)
Batman Returns (Batman: O Retorno) (1992)
Batman (Batman) (1989)

Trailer:


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