Monday, December 23, 2019

FILME: Ad Astra

9 / 10
Novo filme de trama espacial estrelando Brad Pitt e Tommy Lee Jones nos traz uma rede de significados e reflexões para nossas vidas.

Confira minha opinião!

Título brasileiro: Ad Astra: Rumo às Estrelas
Direção: James Gray

Estrelando: Brad Pitt, Tommy Lee Jones, Ruth Negga, John Ortiz, Liv Tyler, Donald Sutherland, Greg Bryk, Loren Dean, Kimberly Elise, John Finn, LisaGay Hamilton, Donnie Keshawarz, Bobby Nish, Sean Blakemore, Freda Foh Shen, Kayla Adams, Ravi Kapoor, Elisa Perry, Daniel Sauli, Kimmy Shields, Kunal Dudheker, Alyson Reed, Sasha Compère, Justin Dray, Alexandria Rousset, Natasha Lyonne, Zoro Saro Manuel Daghlian, Jacob Sandler, Elizabeth Willaman


Bom, este me parece mesmo ser o último filme, então vamos fazer algumas reflexões. Este filme eu realmente não consegui assistir nos cinemas em 2019, e olhem, em relação a este aqui, eu realmente lamento de não ter conseguido! É um belo filme. Não perfeito, mas tem ideias muito boas nele.

Filmes espaciais já me fascinam por natureza, se forem feitos de um jeito que me chame a atenção, melhor ainda. E um dos elementos que mais me chama a atenção em um filme espacial é a solidão. É aquela sensação de confinamento em uma situação e a mais completa e brutal solidão. E isso é porque eu penso que a ideia tem muito a ver com o espaço. Lá, você está sozinho, exilado de tudo e de todos, e não conta com ninguém mais além de você mesmo e suas habilidades.

Veja filmes por exemplo como 2001: A Space Odissey que eu inclusive empreendi todo um estudo aqui no site, ou os filmes Gravity, Moon, Solaris, ou a HQ Magnetar do Danilo Beyruth. Todos exemplos magnânimos de como eu aprecio uma boa trama espacial, ou seja, tem que ser um misto de espaço com historia de náufrago; tem que ser praticamente um filme de um ator só, um único showman.

Por que eu tenho mais apreço por esse tipo de coisa? Nunca consegui explicar com exatidão. Quando eu era mais jovem, às vezes eu costumava sonhar que estava em um módulo espacial, completamente sozinho e isolado de todo mundo. Às vezes essa solidão incluia uma pequena saleta no fundo do módulo depois de um corredor enorme, onde eu me recolhia e ficava com os meus pensamentos. Na vida real, eu sempre fui meio loner também, tinha amigos, mas gostava de constantemente me isolar dos outros.

A solidão é algo que eu consigo explicar bem: claro que não podemos nos isolar o tempo todo, e claro que a ajuda dos outros em muitos momentos da vida é bem vinda, mas em outras situações, quando se está sozinho, é aí que o homem verdadeiramente se supera. Você não tem ninguém para pensar ou dividir problemas. Se você deseja realmente chegar a algum lugar, você conta inteiramente com você e suas decisões. É praticamente o homem contra ele mesmo, tentando se superar e alcançar as estrelas; eis o título do filme, que em latim, quer dizer "para as estrelas".

Neste filme, Brad Pitt é o loner da vez. Não que ele fique sozinho o tempo todo, há muitas cenas do filme em que ele está muito bem acompanhado de uma equipe ou outro ator, mas é bem pouca gente, e nas cenas decisivas, é praticamente só ele a tocar a ação.

Na trama, Pitt interpreta Roy McBride, um astronauta que havia acabado de vir de uma missão arriscada e tem problemas de relacionamento com sua esposa. Então ele recebe uma missão do controle, para verificar um incidente localizado nos arredores do planeta Júpiter, relacionado com o Projeto Lima, ao qual seu pai Cliff, interpretado por Tommy Lee Jones, esteve atrelado 30 anos atrás. 

Para convencer o astronauta a se engajar verdadeiramente na missão, eles se usam de um dado que diz que possivelmente o pai de Roy ainda pode estar vivo lá em Júpiter, após todos esses anos. Então Roy aceita a missão e parte para averiguar.

Há momentos muito interessantes na projeção, como a passagem dos astronautas em terreno lunar e a ida deles para Marte. É como se Roy estivesse fazendo um voo de conexão. Há inclusive uma personagem que é a encarregada de uma estação construída em Marte para suportar a vida humana, e o mais interessante nela é que ela nasceu lá, e durante toda sua vida, visitou o planeta Terra somente uma vez. Isso faz dela quase que praticamente uma alienígena. É o mais perto de "vida inteligente fora da Terra" que Roy encontra, isso porque o Projeto Lima tinha como finalidade justamente isso, achar vida inteligente fora do nosso planeta.

Agora, o arco que mais me interessou do filme está presente nos trechos que envolvem Roy e seu pai. Eu não pretendo dar spoilers, mas desejo destacar o discurso de Roy que me marcou imensamente quando via o filme, falando especificamente de seu pai Cliff; ei-lo:

"Ele capturou mundos estranhos e distantes em detalhes nunca vistos.
Eles eram belos, magníficos, cheios de surpresas e maravilhas;
mas sob suas sublimes superfícies, não havia nada:
nem amor, nem ódio;
nem luz, nem escuridão.
Ele só conseguiu enxergar o que não estava lá,
 e não viu o que estava bem diante dele."

Pois então vamos lá: quais são os possíveis e prováveis significados que podemos atribuir a esta fala?

Ora, o primeiro e mais provável é o que expressa a relação de pai para filho. Isso é o que está na superfície. Em um nível mais profundo, sugere uma relação da própria pesquisa que seu pai estava realizando e o fato de pouco ou nada ter descoberto a respeito. Estes são os prováveis significados auferidos a esta bela sequência. Mas há ainda um nível que eu gostaria de auferir à própria sétima arte. Então vamos colocar tudo em perspectiva:

Aos mundos belos, magníficos e estranhos descobertos, sugere-se os momentos de alegria que o menino possivelmente teve com seu pai quando criança, antes de Cliff o abandonar, isso em um primeiro sentido. Ao segundo sentido, destaca-se os próprios planetas e galáxias que seu pai provavelmente descobriu e às vidas que não achou. A um terceiro e possível sentido, podemos enxergar a relação de Hollywood com suas próprias obras, e quantas belas obras foram realizadas ao longo de vários anos até chegarmos aos tempos bicudos presentes.

Roy conclui que não havia amor, ódio, luz ou escuridão que expressasse qualquer sentido que não aquele que ele achava o mais evidente, e assim define-se novamente, num primeiro sentido, à relação de seu pai com seu trabalho e sua família, num segundo sentido possivelmente o fato de realmente não haver qualquer tipo de vida observável nesses horizontes, e num terceiro e potencial sentido, à relação de Hollywood em relação a seus próprios pares e à sua audiência, ou seja, NÓS mesmos.

E quem me acompanha e vê minhas críticas a Hollywood, sabe de onde vem essa ideia e porque chamo a atenção para esses possíveis significados. Nenhum pai deve renegar sua família e colocá-la abaixo de qualquer trabalho que seja. Nenhuma pesquisa que aponte a existência ou não de algo deve jamais deixar de ser tentada com medo de se falhar. Paralelamente, nunca, jamais uma empresa ou organização deve privilegiar seus pares, em lugar de agradar primeiro sua audiência.

Portanto, essa rede de significados, com ou sem a intenção explícita, descreve precisamente a Hollywood de agora; é algo que não podemos deixar de ponderar e fazer menção, se quisermos uma realidade mais palatável do que a que estamos; se não quisermos nos sentir tão alheios a tudo... tão... alienígenas.

Devemos sempre estar atentos. Deixar o homem antigo, esse que o grande sistema midiático quer que sejamos e pinta como o """novo""", e abraçar verdadeiramente o novo homem: aquele que enxerga a verdade acima de qualquer coisa; aquele que sabe consertar o que está quebrado, e não aquilo que não precisa de conserto; aquele que se atenta ao essencial, ao que verdadeiramente importa; que quer se elevar, alcançar as estrelas. Aquele que professa esse mesmo Deus que Cliff professa em seus vídeos ao longo da projeção.

Permaneçamos atentos!

Recomendação muito boa de filme para terminarmos o ano com alguma reflexão positiva; dê preferência a este aqui, assistir em total solidão, isolado de todos, para poder ouvir seus pensamentos um pouco melhor. Obrigado a todos, e vamos em frente.

AD ASTRA!

Ad Astra (2019)

Produção: Dede Gardner, Doug Torres
Roteiro: James Gray, Ethan Gross
Trilha sonora: Max Richter, Lorne Balfe

Trailer:

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