Thursday, October 29, 2015

FILME: The Dark Knight Rises (Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge) - especial Batman na Tela: edição 30

Toda grande história tem que ter um final. É assim o moto das sagas e trilogias. E foi assim que os irmãos Nolan quiseram deixar sua participação na franquia Batman, com um grande final. Todos nós que já acompanhamos grandes sagas conhecemos o problema de se ter vários exemplares de uma mesma história, certo? Um dos filmes pode não suprir nossas expectativas. No caso das trilogias, na maioria das vezes é o terceiro filme o problema. Felizmente aqui no Nolanverse, Christopher Nolan e seu irmão Jonathan Nolan conseguem juntar os elementos necessários para fechar a história de seu Batman com honra e de forma justa. E enquanto o filme não supera a obra-prima The Dark Knight, os Nolan encontram os elementos certos para fazer com que a conclusão da história deste Batman deles seja catártica e faça com que nós, os fãs fiquemos tristes de saber que terminou, mas ao mesmo tempo contentes em ver o Cavaleiro das Trevas se despedir de forma honrada e épica.


Um dos maiores desafios desta terceira e última parte da trilogia do Cavaleiro das Trevas, como ficou conhecida, ou mesmo trilogia dos Nolan, foi decidir o que fazer com a ausência de Heath Ledger, que os Nolan pretendiam usar em uma possível terceira parte da série de filmes. Após a morte do ator, eles fizeram um juramento solene de que ninguém jamais iria substituir Ledger dentro da série de filmes deles, o que acabou representando um problema. No terceiro filme, Ledger e seu Coringa não iriam ser a peça principal do filme, mas iriam ter papel de extrema importância na história.

Porém, com a ausência do ator, que ganhou um Oscar póstumo por sua atuação, medidas tiveram que serem tomadas no roteiro do filme. Após os Nolan terem terminado a campanha de outra de suas obras-primas, Inception, estas medidas começaram a serem pensadas para o fechamento da saga do Batman, com o anúncio de que Christopher Nolan havia encontrado a forma adequada de fechar sua história do morcego. A primeira delas foi determinar que os eventos de The Dark Knight seriam citados no filme, porém o nome do Coringa não iria ser mencionado em momento algum. O moto foi de que esses eventos já se foram há muito tempo e que não haveria razão para qualquer cidadão em Gotham mencionar algo que a cidade desejava esquecer, como foi o caos e a anarquia promovidos pelo palhaço que, segundo a adaptação literária do filme, se encontrava preso em Arkham e parece lá ter ficado. Quem viu o filme anterior se lembra também de que Batman assume a autoria dos crimes de Harvey Dent para que a figura do "Cavaleiro Branco" de Gotham não fosse manchada e para que as pessoas não perdessem a esperança.

O filme então se passa 8 anos após The Dark Knight. Gotham vive um período de paz. Porém existe uma ameaça espreitando a cidade. Uma ameaça que data de muito tempo atrás, a Liga das Sombras, e que voltou para buscar vingança. No início do filme somos apresentados a outra nova ameaça que está com a Liga. Ela se chama Bane. Bane sozinho consegue dominar um avião e sequestrar alguns dos tripulantes. Ele está se dirigindo para Gotham para se infiltrar pelos esgotos da cidade, incógnito. Aqui no filme, temos um Bane bem diferente das HQs. Além de não ter origens latinas e não ser um lutchador, mas sim um terrorista, ele, diferente das HQs em que injeta um veneno pela sua cabeça para ganhar massa muscular, usa uma máscara com uma substância que faz com que ele não sinta dor, explicando no filme a razão de o vilão ser quase invencível. Não que eu esteja reclamando, é uma boa mudança, até mesmo deu mais profundidade para um personagem de uma saga medíocre que foi criado a toque de caixa nos quadrinhos.

Enquanto isso, Gotham celebra o oitavo aniversário do chamado "Dent Act", o ato que tornou possível a erradicação quase total de crimes da cidade. Durante este tempo, Bruce Wayne tem vivido como um recluso, evitando aparecer em público e completamente desconectado da vida social. Passamos a conhecer então mais um personagem da trama, a ladra Selina Kyle. Ela desperta em Bruce Wayne algo que há muito ele pode ter esquecido. Pela primeira vez ele desce à sua caverna após anos, a mansão Wayne aqui já está restaurada. Alfred, fazendo sempre o papel de pai postiço recomenda que o patrãozinho saia da mansão e vá para fora, rever as pessoas. Ele também confessa que nunca queria ter visto Bruce realmente voltar a Gotham, porque queria ver ele feliz em outro lugar, sabendo que não havia nada para ele na cidade além de dor e sofrimento.

Bruce até chega a se ressocializar, mas então Bane ataca a cidade e todos os planos mudam. Nesse meio tempo há um outro personagem na trama, o oficial Robin John Blake, que vai a procura de Bruce Wayne e confessa saber que ele era o Batman há 8 anos atrás porque o viu em uma visita a um orfanato. Blake também teve suas tragédias e confessa para Bruce que teve que treinar o mesmo sorriso falso no espelho para fazer parecer para outras pessoas que estava bem. Muita gente achou na época essa justificativa meio forçada, mas eu gostei, mostra identidade e também que o personagem sabe julgar o caráter das pessoas. O seu primeiro nome também é uma boa referência a um certo personagem clássico que os Nolan prometeram manter afastado da trilogia, decisão essa que achei ótima.

Então a paz de Gotham é interrompida quando Bane resolve invadir a bolsa de valores de Gotham, numa clara referência dos Nolan ao movimento Occupy Wall Street de 2011 com um plano ambicioso de explodir uma bomba na cidade. Ele não somente consegue ludibriar todo o povo de Gotham, inclusive explodindo um estádio inteiro de futebol americano, mas também instaurar o caos e a anarquia na cidade.

Tudo isso acaba fazendo com que o Comissário Gordon acabe hospitalizado, o que faz com que Bruce decida sair de uma vez de sua aposentadoria para agir novamente como o Batman. Esta decisão acaba não somente fazendo com que o morcego se alie com a gatuna Selina Kyle para conseguir chegar até Bane, mas também que Alfred abandone o patrãozinho com a justificativa de que ele não queria fazer parte da auto-destruição de Bruce.

O duro é que as empresas Wayne acabam perdendo dinheiro e Bruce indo a falência por causa das manobras de Bane. Quando o morcego finalmente confronta Bane, ele é quebrado e mandado para um poço fundo no meio de uma região remota para agonizar, enquanto assiste Bane destruir sua cidade. Aqui vai se iniciar a jornada de recuperação de Batman até conseguir se reerguer, escapar do poço, retornar a Gotham e finalmente conseguir salvar a cidade da sombra da destruição e devastação que a Liga das Sombras veio trazer para terminar o que Ras Al'Ghul não conseguiu terminar em Batman Begins.

O filme é, como todo filme dos Nolan, muito bem filmado e planejado. Como sempre faz, Nolan tenta usar o mínimo de efeitos especiais possível para se concentrar mais nos efeitos práticos, e acreditem, o veículo voador de Batman, a nave que Lucius Fox no filme chama de "The Bat" é um desses efeitos práticos, e quem viu os extras do filme pôde constatar isso! Aliás, muito inteligente da parte do roteiro recuperar os temas anteriores com a qual trabalhou nos outros dois filmes. Aqui vemos trechos de Batman Begins para fazer a conexão com os outros filmes e recuperar máximas como "cair para aprender a se levantar" ou "morre-se como o herói ou vive-se o bastante para se tornar o vilão".

Lembram que eu havia falado lá na matéria sobre Batman Begins que haviam detalhes importantes que deveriam ser lembrados e que recuperaríamos estes detalhes aqui novamente? Pois é, chegou a hora! Dentre estes detalhes, eu havia falado que a trilogia de Nolan deveria ser vista como uma peça de ópera, e que, não a toa, ele fez os Wayne saírem de uma Opera House. Pois bem, aqui neste FURIOSO de sua ópera, podemos notar, como já falei os temas se repetindo e ligando o universo todo da trilogia para não deixar pontas soltas. Entre estes pontos, temos a queda do pequeno Bruce Wayne no poço lá no primeiro filme.

Um pouco de filosofia agora: aquele é justamente o momento que Wayne é, pela primeira vez, tragado pela escuridão e pelas sombras. Na verdade, Bruce nunca havia saído daquele poço! Sim, seu pai o tirou de lá, mas ele não havia "deixado" o poço e a escuridão dele. Aquilo ficou de forma permanente com o menino.

Notem que até o momento em que Bruce Wayne sai da prisão aqui neste filme, nós nunca vemos ele na claridade. Olhem só as pistas visuais que o filme dá: Wayne é sempre visto rodeado de escuridão. Não há luz em sua vida. Claro, há as luzes artificiais de salões de festas, as falsas luzes, mas não há outras luzes, as verdadeiras. Ele chega até a ter alucinações com Ras Al'Ghul, em uma rápida participação de Liam Neesom. Somente quando Bruce Wayne se recompõe dentro da prisão (olha aí o "poço de Lázaro" dos Nolan), volta a treinar, faz a escalada uma série de vezes ao coro do emocionante "DESHI DESHI BASARA BASARA" (que realmente significa ressurgir em árabe marroquino) dos outros prisioneiros e finalmente sai daquele poço é que o vemos, pela primeira vez debaixo de luz. É neste ponto em que finalmente ele resolve deixar toda a escuridão que permeou sua vida até então para finalmente abraçar uma nova vida. Mas antes ele teria que se usar da escuridão mais uma vez para deter Bane e sua comparsa, Miranda Tate, voltando a ser o Batman. E então a punição de Bane deveria ser mais severa!

E falando na Miranda Tate (a Thalia Al'Ghul deste universo), outra coisa simbólica no filme é a morte da comparsa de Bane que era a articuladora de todo o plano. Exatamente do mesmo jeito que Ras morre em Batman Begins. A rima visual aqui fica evidente e funciona como o fecho de um círculo que se abriu lá no começo do primeiro filme. Claro, tudo muito bom e maravilhoso, a não ser pela cena de morte ridícula que Marion Cotillard protagonizou e que, claro, foi motivo de piada na Internet no ano do lançamento. Vai ver que os Nolan estavam com o cronograma apertado e não tiveram tempo de refilmar aquilo.

Enfim, Selina, a gatuna, faz aqui uma referência bacana da Mulher-Gato de Julie Newmar com seu traje e se mostra uma personagem tão interessante quanto os outros. Ela é a razão pela qual Bruce Wayne resolve sair de sua mansão, é a motivação que leva o bilionário a ser o Batman novamente, é aquela chama que havia se apagado de sua vida há muitos anos, após a morte de Rachel Dawes. Ele quer recomeçar sua vida, ela também. Porém a dicotomia entre ladra e vigilante no início evita que os dois concretizem este passo, o que se agrava com a traição da gatuna que acaba levando Batman até Bane. Claro, eu não vou dizer que não seja meio forçado ele tentar pedir ajuda dela após ter voltado à Gotham, mas com a cidade sitiada não haviam muitas opções para ele. Desta forma, através dela, Bruce pôde chegar até Fox e vestir o manto do morcego novamente para concretizar seu plano de salvar a cidade.

Com a ajuda de John Blake, Gordon, Fox e Selina, o plano é concretizado e Batman, em um desesperado esforço para desativar a bomba que iria mandar a cidade pelos ares (olha a referência ao Adam West aí!) voa com ela o mais distante possível para que a bomba explodisse em meio ao oceano, fazendo com que o filme fechasse com essa dúvida se Bruce Wayne tivesse morrido ou sobrevivido à explosão. O final do filme, meio Inception, nos dá essa dúvida, mas ao mesmo tempo fecha a trilogia do Cavaleiro das Trevas de forma honrada e épica, fazendo com que a gente chegue ao final de mais uma era na trajetória do Batman, uma da qual todos ainda se recordam com saudade.

Além das referências das HQs, com histórias como o próprio Cavaleiro das Trevas de Miller que é a cola que gruda toda a trilogia de filmes, e a saga Knightfall (A Queda do Morcego), além de pequenas referências esparsas de outros eventos das HQs e um Bane bastante parecido com o vilão Blackfire da HQ The Cult (O Messias) que até já falei aqui no blog, também tivemos outras referências fílmicas e, desta vez, até mesmo literárias.

Christopher Nolan disse que havia tido a ideia para o filme após ler A Tale of Two Cities (Um Conto de Duas Cidades), obra clássica do escritor Charles Dickens. Podemos inclusive constatar esta influência por toda a trama, um exército tomando a cidade de Gotham, a instauração de julgamentos falsos como é o caso da participação pequena do Espantalho (Cillian Murphy) no filme, e até mesmo com direito à uma citação fantástica do livro de Dickens no final da trama. Anne Hathaway também disse que se baseou na personagem de Dalila, do filme de 1949 com Hedy Lamarr para compor sua Selina Kyle.

Claro, eu não vou falar que o filme não tenha problemas, aliás, eu até já citei um ou dois. Mas existe outra coisa no filme que incomodou muita gente na época. Após Bane ter quebrado o morcego, descobrimos que ele tinha uma vértebra deslocada da coluna que o impedia de andar. Lá dentro do poço, um prisioneiro que é um "médico" da prisão simplesmente soca a vértebra dele para dentro para colocá-la no lugar e fazer Bruce andar de novo. Claro, eu fui pesquisar sobre isso e realmente soa absurdo, mas aí eu pensei e pensei e comecei a suspender minha descrença imaginando que a vértebra dele já havia sido tratada antes dele acordar e que ele só precisava de um incentivo psicológico para andar de novo, então o médico finge que soca a vértebra dele. Enfim, especulações a parte, realmente esta é uma parte que você tem de fato que suspender a descrença e focar mais na mensagem visual do "poço de Lázaro" e na filosofia que falamos mais acima.

Enfim, eu vou terminando nossa conversa sobre uma das melhores e mais legais trilogias que já foram feitas na história, recomendando a vocês este excelente gran-finale de trilogia que na minha avaliação pessoal consegue ser apenas inferior a The Dark Knight, sendo assim superior ao primeiro filme, Batman Begins. Terminamos portanto mais uma era épica do Batman. Nas próximas 8 edições do nosso especial, falarei do penúltimo capítulo da série de games Batman: Arkham e de outras coisas interessantes que surgiram do morcego até o final do ano, então fiquem ligados! Até lá!




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The Dark Knight Rises (2012)
Título em português BR: Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge
Nota: 9 / 10

Direção: Christopher Nolan
Produção: Kevin De La Noy, Jordan Goldberg, Benjamin Melniker, Christopher Nolan, Charles Roven, Dileep Singh Rathore, Emma Thomas, Thomas Tull, Michael Uslan
Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan, David S. Goyer (baseada nas HQs e personagens criados por Bob Kane, Bill Finger, Jerry Robinson, Frank Miller, Chuck Dixon)
Trilha sonora: Hans Zimmer

Estrelando: Christian Bale, Gary Oldman, Tom Hardy, Joseph Gordon-Levitt, Anne Hathaway, Juno Temple, Marion Cotillard, Morgan Freeman, Michael Caine, Matthew Modine, Alon Aboutboul, Ben Mendelsohn, Burn Gorman, Nestor Carbonell, Miranda Nolan, John Nolan, Liam Neeson, Cillian Murphy, Rory Nolan, Wade Williams, Aaron Eckhart (arquivo), Linus Roache (arquivo), Thomas Tull

Outros filmes desta cinessérie:
- The Dark Knight Rises (Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge) (2012)
- The Dark Knight (Batman: O Cavaleiro das Trevas) (2008)
Batman Begins (Batman Begins) (2005)

Título relacionado:
Batman: Gotham Knight (Batman: O Cavaleiro de Gotham) (2008)

Trailer:


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