Friday, October 16, 2015

NO CINEMA: The Martian (Perdido em Marte)

Atualmente nós tivemos filmes que marcaram o ressurgimento do drama espacial, seja ele algo mais científico e real ou algo mais atrelado ao gênero da ficção-científica. É o caso de filmes como Gravity ou Interstellar, por exemplo, filmes que lidavam com questões complicadas e filosóficas e mostravam a grandeza do espírito humano desbravador. The Martian é algo que fica no meio desses filmes. Ao mesmo tempo que é um drama espacial, também pode ser encarado como uma comédia. O roteiro do filme brinca com as possibilidades e também tira sarro de si mesmo. Imagine algo como Gravity e Apollo 13 com alguns toques (ou piscadelas) de 2001: A Space Odissey e que ao mesmo tempo trouxesse a temática do ser humano fora de seu elemento, como é o caso de filmes como Cast Away (Náufrago) por exemplo, só que tudo isso com ares de um filme da Marvel Studios. Eis The Martian.

A trama revolve em torno de um astronauta (Matt Damon) que acabou sendo abandonado em Marte por sua tripulação, que pensava que ele estava morto, após uma tempestade que obrigou os astronautas a abandonarem o planeta. Acaba que o intrépido aventureiro ainda estava vivo e, como iria demorar em torno de 4 anos para uma expedição poder vir buscá-lo em Marte, ele teve que se virar no planeta vermelho para sobreviver enquanto esperava pelo resgate. Ele passa seus dias em uma estação espacial fazendo planejamento, analisando provisões e tentando cultivar a terra infértil dentro da estação para poder ter mais suprimentos alimentícios, do contrário, morreria por lá.

Enquanto acompanhamos o drama do astronauta perdido, também seguimos o pessoal na Terra planejando o resgate. Dessa forma, a trama se arrasta um pouco nos mostrando todos os detalhes, desde a descoberta de que Mark Watney, o personagem de Damon, ainda estava vivo, até os preparativos para a próxima expedição e finalmente, o resgate de Watney por sua equipe da missão passada.

E quando eu digo "se arrasta", eu não estou desqualificando o filme; só achei que ele poderia ser um pouco mais sucinto em determinadas partes. Talvez a equipe de filmagem tenha filmado material em excesso e na hora da edição não soube o que cortar, garantindo que a projeção tivesse generosos 144 minutos de duração. No entanto, esse arrasto do filme pelo menos nos informava de detalhes técnicos da operação. Em certos momentos é até interessante, mas em outros, só o que se consegue compreender é "ciência, ciência, blá blá blá, trocinho científico... ok, vamos buscá-lo!", então você às vezes fica meio que pensando "OK, já entendi a dificuldade da missão, passa pra frente!".

Em meio a isso, Damon faz de tudo para entreter a plateia do filme. Se gaba de ser o único botânico em Marte, faz piadinhas até mesmo em momentos críticos, usa de sua criatividade para elaborar as mais diversas maneiras de se comunicar com sua equipe na Terra, enfim, nas partes em que aparece, ele se torna o showman, ganhando a simpatia de todos; tem horas que o filme até mesmo evoca a obra I Am Legend (Eu Sou a Lenda) por causa da temática do único homem que habita o planeta. Enquanto isso, lá na Terra, temos o diretor da Nasa, sua equipe de gênios e a tripulação da missão decidindo as melhores alternativas de preparar, no menor tempo possível, a missão de resgate.

A produção do filme vai nos informando da quantidade de tempo que o astronauta passou em Marte, tempo esse que eles chamam de SOL, e é aí que as tais piscadelas de 2001: A Space Odissey estão presentes. A trilha sonora também indica o tom satírico e de reverência do filme em relação a outras obras que o inspiraram, como a música "Starman" de David Bowie, ou o som de discoteca dos anos 70 que Watney ouve em sua estadia em Marte. Ridley Scott (Alien, Gladiator) até faz questão de reforçar o tom descompromissado da trama fechando o filme nos créditos com a música "I Will Survive", o que apesar do tom light da trama causou uma certa estranheza por parte da plateia, apesar de a letra se comunicar com a própria situação do protagonista.

Outras referências vão desde a própria Marvel (a manobra "Homem de Ferro" no clímax da história) até a série de TV Happy Days (Dias Felizes), que Watney assiste na estação espacial, e quando sai para fora dela em sua roupa de astronauta, até mesmo faz pose referenciando o personagem Fonzie, aquele que vestia a jaqueta de couro da série; só que aqui ele não pula o tubarão!

Outra coisa que eu achei curioso é que dois atores que estiveram recentemente em um filme de drama espacial de Christopher Nolan, a saber, Matt Damon e Jessica Chastain, que atuaram em Interstellar, voltam aqui juntos para mais uma missão espacial. É curioso a gente notar essa constante na carreira desses atores em relação ao gênero. Outra coisa é que, pessoalmente eu não conseguia olhar para Jeff Daniels, o Harry Dunne de Dumb & Dumber (Debi e Loide) sem esperar que ele fizesse a qualquer momento, alguma palhaçada ou dissesse alguma imbecilidade; acho que a imagem dele como o parceiro amalucado de Jim Carrey na comédia ficou cristalizada em minha cabeça.

Por fim, devo parabenizar Sean Bean por mais uma produção sem precisar fazer cena de morte! O ator que antes colecionava personagens que morriam no final das produções que estava envolvido agora sobrevive no final! Que mudança de ares! Mas aquela ideia que eu dei de fazer uma lista das melhores mortes de Sean Bean na resenha de Jupiter Ascending ainda está de pé! Uma hora eu faço.

Um pequeno parêntesis antes de concluir. Durante a projeção, eu não conseguia parar de pensar em uma graphic novel do personagem Astronauta, de Maurício de Souza, chamada Magnetar, escrita em 2012 pelo quadrinista Danilo Beyruth. Nesta história, que é uma versão mais adulta e dramática do personagem, o Astronauta parte em uma missão para investigar um cristal espacial e acaba tendo seu veículo avariado, sendo obrigado a viver por algum tempo nas profundezas do espaço, até achar um meio de conseguir retornar à Terra. A história é simplesmente sensacional, a arte gráfica, impressionante, uma história de auto-descoberta e superação incrível, digna de produção hollywodiana. Uma hora eu vou falar dela no blog, mas a questão é que eu não conseguia parar de pensar nela devido à evidente semelhança com o personagem de Matt Damon aqui no filme.

Enfim, com uma trama descompromissada e divertida, The Martian nos entretém e informa, sendo aí a versão rockstar dos dramas espaciais. Divertido, com ótimos atores, trilha muito legal, eu recomendo que você vá conferir este filme que, de uma forma mais descolada que outros filmes, mostra mais uma vez o espírito desbravador do ser humano.

The Martian (2015)
Título em português BR: Perdido em Marte
Nota: 8 / 10

Direção: Ridley Scott
Produção: Mark Huffam, Teresa Kelly, Simon Kinberg, Michael Schaefer, Ridley Scott, Aditya Sood
Roteiro: Drew Goddard (baseado em livro de Andy Weir)
Trilha sonora: Harry Gregson-Williams

Estrelando: Matt Damon, Jessica Chastain, Kristen Wiig, Jeff Daniels, Michael Peña, Sean Bean, Kate Mara, Sebastian Stan, Aksel Hennie, Chiwetel Ejiofor, Benedict Wong, Mackenzie Davis, Donald Glover, Naomi Scott

Trailer:

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