Saturday, December 31, 2016

MATÉRIA: Monstros da Universal - o primeiro universo compartilhado do cinema

Você deve estar acompanhando a onda do cinema moderno, não? Se está, então já deve ter percebido que a moda atual são os universos compartilhados, muito por culpa da Marvel, que começou o seu em 2009 com o primeiro filme do Homem de Ferro. Fox e DC também entraram nessa, e até o Kevin Smith começou a criar o seu nos anos 90, com o filme Clerks. Pois bem, o que talvez você não saiba, é que essa ideia é muito, mas muito antiga!

Veja a lista completa de filmes aqui.


Essa matéria final deste ano é para tirar um pouco o gosto ruim das recentes mortes das atrizes Carrie Fisher e Debbie Reynolds e do cantor George Michael, e tentar acabar 2016 de forma mais divertida, afinal, os monstros pareceram que estavam a solta este ano.

Também está sendo feita para lhes fornecer mais informações, pois há uma espécie de reboot sendo planejado por Hollywood recentemente dos Monstros da Universal, iniciando com o filme The Mummy, em 2017, estrelando Tom Cruise. Se vai dar certo ou não, é outra história, mas seria legal vermos, pelo menos em  alguns detalhes, como foi a primeira tentativa de Hollywood de compartilhar universos.

Dito isso, voltemos; quem realmente começou com essa ideia de crossover nos cinemas foi a Universal com seus monstros.

Não, meu caro fã da Marvel... não, meu caro fã da DC! Podem abaixar suas foices e estacas, meus queridos. Nenhum de vocês tem propriedade sobre o que se conhece hoje como "universo compartilhado". Em defesa da DC, sim, foi ela a primeira editora de quadrinhos a promover isso na nona arte, mas independente disso, esse conceito é tão antigo, mas tão antigo, que na época que ele se tornou um embriãozinho, nem sequer ainda tinham estes quadrinhos famosos que a gente conhece hoje!

Eu estou falando, meus caros, de uma série de filmes que a gente conhece como Monstros da Universal.

Claro, não havia a real intenção de se tornar uma série, obviamente, afinal de contas, estamos nos anos 20 do século XX! Mas futuramente, encontros entre personagens começaram a serem planejados e virarem filmes de sucesso, o que incentivou os envolvidos a colocarem tudo em um mesmo universo.

Sendo assim, vou apresentar a vocês aqui, sem dar tantos detalhes técnicos ou de roteiro, porque a lista é imensa e alguns destes filmes ficaram meio obscuros hoje em dia, mas aguçando sua curiosidade sobre o que representa estes filmes para a história do cinema.

ANOS 20


Pois bem, começou em 1923, com o filme The Hunchback of Notre Dame, e nos anos subsequentes, Hollywood abriu espaço para uma enxurrada de outros filmes do gênero terror, todos eles contendo monstros tirados da literatura. Assim foi com o assustador The Phantom of the Opera, de 1925, ambos os dois filmes citados estrelando Lon Chaney; o desconcertante The Man Who Laughs, de 1928 também impressionou, e outros dessa década também foram produzidos, mas ficaram meio desconhecidos, especialmente o último, The Last Performance, de 1929, que teve algumas de suas cenas perdidas devido à queima dos rolos originais que era feita na época.


ANOS 30



Não demorou muito, e outros filmes vieram na esteira destes, como o famoso Dracula, estrelando Bela Lugosi como o vampiro da Transilvania, em 1931. No mesmo ano, sai Frankenstein, com Boris Karloff, e em 1932, três filmes absolutamente seminais do gênero: Murders in the Rue Morgue, estrelando Bela Lugosi como o Dr. Mirakle, que não consta na obra original de Edgar Allan Poe, pois o filme foi levemente baseado no conto, mas eu recomendo; teve também The Old Dark House, que é ótimo, eu vivia vendo o pôster desse filme na entrada dos banheiros do cinema UCI aqui na minha cidade, até que um dia resolvi assistir, e foi uma grande experiência no gênero do supernatural; por fim, The Mummy, que não lembra em nada aquela série estrelando Brendan Fraser, e está mais para um ótimo espetáculo de horror com a presença ilustre do ator Boris Karloff, ótimo no papel!


Como se isso já não fosse o bastante, ainda tivemos outras grandes produções; para eu não me alongar muito, as principais e mais satisfatórias para mim são The Invisible Man, de 1933, estrelando o ótimo ator Claude Rains, que retrata perfeitamente um homem indo a loucura com sua condição de invisibilidade. Houve também a continuação de Frankenstein, The Bride of Frankenstein, que, naturalmente, é levemente baseado na segunda metade do livro de Mary Shelley. Outros filmes ainda, como o ótimo The Raven, de 1935, tendo como premissa um médico com uma bizarra afeição por Edgar Allan Poe, vieram também nesta esteira de sucesso, inclusive um terceiro filme sobre o monstro de Victor Frankenstein, Son Of Frankenstein, de 1939, e mais uns dois ou três que ficaram na obscuridade, mas muitos destes que citei acima são o foco principal para chegarmos nos crossovers e encontros que virão na próxima década.


ANOS 40

Aqui é onde as coisas realmente começaram a se misturar. O mais interessante também era como a Universal não se contentava somente com reunir os monstros, mas também fazer com que outras personalidades do cinema se encontrassem com eles, não importando se o tom da produção mudasse. É aqui que eu estava pretendendo chegar para mostrar esses crossovers antigos.

Antes disso acontecer, no entanto, tiveram mais alguns filmes solo. É a década onde a Universal produziu mais filmes de monstros, em torno de uns 38, quase o dobro do que foi feito na década anterior.

Começou com o retorno do homem invisível em 1940, The Invisible Man Returns. Ainda no mesmo ano teve uma sequência para a múmia, The Mummy's Hand, e a mulher invisível, em The Invisible Woman. Em 1941 veio o Lobisomem, complementar a trupe de monstros, em The Wolf Man, com Lou Chaney, Jr no papel principal. Em 1942 ainda, tivemos mais duas sequências, The Ghost of Frankenstein e The Mummy's Tomb.

PRIMEIRO CROSSOVER

Eis que resolvem finalmente juntar alguns monstros. Em Frankenstein Meets The Wolf Man, de 1943, temos o primeiro encontro legítimo de criaturas monstruosas. Infelizmente, o filme foi duramente criticado; aconteceu que o que se esperava era um encontro muito mais chocante e de grandes proporções das duas criaturas, o que não ocorreu, no lugar disso, tivemos apenas uma trama de suspense que trazia os dois monstros juntos. As cenas de horror isoladas eram boas, como por exemplo a que dois homens encontram o lobisomem, ou quando o próprio monstro em sua forma humana sonha ter assassinado alguém, mas fora isso, nada muito excepcional. Uma luta mediana entre as duas criaturas encerra o crossover.

Era a primeira tentativa de Hollywood de cruzar universos. Pelo que o filme oferece, até que é bacana conferir, mas se você espera um encontro de proporções épicas, vai se decepcionar. Pelo menos é assim que me senti em relação ao filme.

AS MONSTRUOSIDADES CONTINUAM E MAIS CROSSOVERS

Após este crossover, eles continuam a produzir mais filmes, incluindo sequências, como Son of Dracula, de 1943, The Invisible Man's Revenge, The Mummy's Ghost e The Mummy's Curse, todos de 1944.

House of Frankenstein marca o segundo crossover. desta vez trazendo juntos, em um filme só, Frankenstein, Dracula, o Lobisomem e o Corcunda, sendo até um esforço bem mais louvável em termos de reunir estes monstros do que o anterior; estes monstros ainda se encontrariam novamente em House of Dracula, de 1945, não tendo o mesmo sucesso do anterior, mesmo reunindo os mesmos monstros.

PRIMEIROS ENCONTROS COM CELEBRIDADES

Com o quase insucesso dos encontros anteriores, a Universal achou que deveria apostar em encontros com outras celebridades do cinema, não importando se o formato do filme mudasse. E foi assim que a série de monstros da Universal tomou um rumo completamente inesperado, e achou as celebridades que constantemente apareceriam nestes filmes, os comediantes Abbott e Costello. Estes filmes foram definidos, em gênero, como comédias de horror. Consegue imaginar o tamanho da loucura aqui, colega?

Pois bem, esta mesma década viu seus dois primeiros filmes com essas duas figurinhas tarimbadas: o primeiro foi Abbott and Costello Meet Frankenstein, de 1948, e o segundo foi no ano seguinte, Abbott and Costello Meet the Killer, Boris Karloff.

O primeiro, faz com que a dupla de comediantes esteja enrascada com o monstro de Frankenstein e ainda nos traz Dracula, o Lobisomem e uma "aparição" do Homem Invisível, só na voz. Não falei que a coisa era doida? Isso não só é uma, como chamavam, comédia de horror, mas ainda um crossover de monstros. Algumas pessoas na época até parecem ter gostado da brincadeira, outras, bem, nem tanto.

O segundo já é menos generoso. Nos traz apenas o ator Boris Karloff, interpretando aqui um personagem conhecido como The Killer, ou Swami Talpur, como era chamado. Coisa estranha que Karloff não fez o monstro de Frankenstein no filme anterior, papel pela qual ganhou fama.

ANOS 50

Esta década marca o fim da linha de filmes de monstros da Universal. Com o interesse do público reduzindo cada vez mais por esse tipo de filme, a década teve apenas mais 21 filmes até 1960, encerrando aqui a série com produções não muito memoráveis.

Os crossovers e encontros continuaram a todo vapor. Tivemos três deles: Abbott and Costello Meet the Invisible Man, de 1951, Abbott and Costello Meet Dr. Jekyll and Mr. Hyde, de 1953 e Abbott and Costello Meet the Mummy, de 1955.

Um caso curioso aqui é que o segundo, é o único filme a trazer para a Universal o personagem dicotômico. Já havia sido feito um filme sobre o Dr. Jekyll e Mr. Hyde em 1931, um remake em 1941 e uma sequência em 1951, mas nenhuma delas dentro da Universal.

O maior problema que eu vejo com estes encontros cômicos é justamente inserir comédia onde não deveria existir. As pessoas iam aos cinemas, pagando para ver um filme de monstros, e ganhavam comédia no lugar.

E não me leve a mal, eu adoro Abbott e Costello e outros comediantes da época, mas creio eu que essas produções ficaram bem fora de continuidade e fora de lugar, se formos pensar nos outros filmes que houveram. 

Mas enfim, aqui acabam os encontros e crossovers. O que teríamos depois disso não foi muito. Há ainda um último filme com o ator Boris Karloff em 1952, The Black Castle, mas não foi lá muito popular. Também tivemos um monstro tardio a ser acrescentado neste universo, que é o Monstro do Pântano, no filme Creature from the Black Lagoon, de 1954, que fez um grande sucesso e gerou mais duas sequências: Revenge of the Creature, de 1955, em que temos a primeira aparição do futuro astro, cowboy e cineasta Clint Eastwood em um papel menor, e The Creature Walks Among Us, de 1956.

Fora estas produções, tivemos mais algumas um tanto relevantes: It Came from Outer Space, de 1953, que é um filme bacana e divertido, e The Incredible Shrinking Man, de 1957, que foi até refeito nos anos 80 e mostrava os efeitos de encolhimento de Hollywood de forma interessante.

O último filme da série foi The Leech Woman, de 1960, e foi parar no seriado Mystery Science Theater 3000, de 1988, que era um seriado onde você tinha reexibições destes filmes clássicos com criaturinhas numa sala de cinema tirando sarro dos filmes que viam. Foi o que originou a onda das resenhas na internet, onde as pessoas fazem roasts de filmes famosos que deram errado, como o webshow do Nostalgia Critic, por exemplo. Aliás, muitos destes filmes da Universal desta década foram parar no Mystery Science Theater 3000, devido à baixa qualidade.

ENFIM...

Aqui termina o nosso pequeno passeio pela série clássica dos monstros da Universal, caro leitor! Espero que você tenha gostado. Eu vou tentar colocar aqui no site uma hora, quando eu tiver tempo, uma lista complementar com todos os filmes desta série clássica, caso você queira acompanhar e assistir um por um, como eu fiz.

Lembrando novamente que, ano que vem, inicia-se o reboot dos Monstros da Universal com o filme The Mummy, estrelando Tom Cruise. Vamos ver o que vão aprontar, dizem que vão seguir o modelo Marvel Studios de crossovers. Você está apostando nisso? Eu, sinceramente, não estou lá com expectativas tão altas. Talvez eu dê uma espiadinha no filme, só para ver no que o Tom Cruise se meteu, vamos ver, vou esperar as resenhas. Já estou notando meio que um desgaste do público com este formato. Mas enfim, é melhor esperar e ver o que vai dar.

Enquanto isso, curta os clássicos acima, sem moderação, pois são ótimos filmes, alguns até bem assustadores.

E dito isso, eu me despeço; vou tentar manter a tradição de fazer uma matéria especial de fim de ano como esta e a do James Bond, que fiz ano passado, todos os anos, seria legal, não? Assim, desejo a todos vocês um excelente ano novo, boas festas, comemorem, porque o ano de 2016 finalmente terminou!! E que nunca mais volte!

FELIZ ANO NOVO A TODOS E NOS VEMOS ANO QUE VEM!!

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