Sunday, September 6, 2015

LIVRO: Woman in the Dark (Mulher no Escuro) - Dashiel Hammett

Sempre fui um grande aficionado pela literatura policial. Gosto de ler e assistir histórias de detetives, as chamadas hard-boiled novels, cuja atmosfera opressora, os ambientes e a moral ambígua dos personagens e a dualidade explícita dos protagonistas, ilustrando um mundo que não é dividido em preto e branco, bem e mal, mas que tem muito cinza entre as atitudes e decisões dos personagens, nos leva à fotografia perfeita de um mundo imperfeito e em constante conflito consigo mesmo. Assim são consideradas as obras do gênero policial NOIR, um gênero que traz a tona, de forma mordaz, toda a podridão do espírito humano, bem como pode nos levar a torcer pela vitória dos tipos mais improváveis, o que faz com que nós mesmos questionemos nossa própria moral. Assim é o gênero literário cuja autoria é adereçada ao escritor Dashiel Hammett, autor de obras clássicas como The Maltese Falcon (O Falcão Maltês), Red Harvest e esta pequena obra que temos em mãos, Woman in the Dark (Mulher no Escuro).

E quando eu falo em pequena, o tamanho justifica mesmo essa qualificação, porque o livro tem em torno de 100 páginas, mais ou menos, dependendo da edição, perto de 80. Porém não deixa de ser uma leitura interessante e bem envolvente. Infelizmente esta é uma noveleta (quase um conto mais longo, pelo tamanho) que não representa o auge do escritor, em obras mais pungentes como The Maltese Falcon, por exemplo, até porque apesar de ter sido escrita e publicada sem muito alarde em 1933, ela só foi redescoberta em 1951, período em que o autor estava enfrentando a perseguição da era do McCarthismo nos EUA, aquele movimento encabeçado pelo Senador americano Joseph McCarthy de caça aos comunistas, e que se deu em torno dos anos 50. E acontecia que o autor era um comunista ferrenho e inclusive registrado no partido comunista americano.

Apesar disso, não se pode negar o grande escritor e romancista de histórias policiais que ele era. E apesar de Woman in the Dark não representar o pico criativo do escritor, que após a publicação de seu último romance em 1934, The Thin Man, ter sofrido de um caso de bloqueio criativo sem precedentes, o pequeno romance ainda consegue ilustrar as qualidades e elementos que fizeram com que o autor passasse para a posteridade como o pai do gênero policial noir americano, bem como ter influenciado outros grandes escritores contemporâneos dele ou que vieram após ele, como Raymond Chandler, Mickey Spillane, Robert Bloch e Charles Bukowski, só para citar alguns.

A história do romance, dividida em três atos e narrada em terceira pessoa, inicia nos apresentando a protagonista, Luise Fischer, andando em uma estrada escura, em meio a uma tempestade, com o salto de um dos seus sapatos faltando. Após lutar contra o mau tempo, ela se depara com uma cabana no meio da estrada onde estão dois habitantes, um homem chamado Brazil e uma garota chamada Evelyn. Eles se oferecem para ajudar a mulher, apesar de Evelyn desconfiar dela, e leva-la até um povoado, quando de repente eles recebem uma visita de tipos que estão atrás de Luise, pois ela havia terminado relações com um mafioso.

Como descobrimos mais para frente, na história, que Brazil também já teve passagem na polícia no passado, ele se oferece para dar uma carona para Luise. Só que os dois acabam se envolvendo em uma tremenda encrenca que faz com que Brazil, recém saído da prisão federal, cometa um assassinato, e assim o casal se torna fugitivos da lei.

A denominação de "um romance de amor perigoso" é bastante adequada aqui para o livro, que possui a subtrama do envolvimento amoroso entre Luise e Brazil e o background de fundo da história policial. Luise estava sem dinheiro e acaba decidindo, após o rompimento com seu ex, vender umas jóias e um anel muito valioso, tentando assim recorrer a alguns colegas de submundo de Brazil, enquanto tenta fugir de Kane Robson e um senhor chamado Dick Conroy e, ao mesmo tempo dentro deste jogo de gato e rato com a polícia e os figurões, Brazil acaba ferindo e matando um dos caras que estava atrás da moçoila para consegui-la de volta.

O que se vê daí pra diante são os encontros e desencontros de Luise e Brazil, que acaba capturado e confinado, levando inclusive dois tiros. Luise acaba seguindo sozinha até o final da história e se arranjando com algumas pessoas, entre elas, Harry Klaus, um advogado. Até o final, ela reencontra Brazil e dá um golpe para reaver sua vida e recuperar Brazil. O final parece bastante escrito as pressas, não satisfazendo de forma substancial a curiosidade que construímos lá atrás para ver a resolução do caso, e parece um tanto feliz demais para uma história desse tipo. Parece que Hammett estava tentando terminar a coisa às pressas por alguma razão que não dá para a gente saber, mas de forma geral, esta conclusão apressada parece com o rascunho de uma obra inacabada.

O que é triste de constatar, porque a ambientação é ótima, os personagens são bem construídos e a narrativa cínica e arrojada de Hammett é interessante. Aqui notamos todos aqueles elementos que Hammett vinha trabalhando em seus romances maiores, como o personagem linha dura, a mulher fatal e donzela em perigo, a violência entre os bandidos e a polícia, a investigação do caso dos personagens fugitivos parcamente abordada aqui, enfim, apesar dos elementos interessantes, a história não foi terminada de forma satisfatória, passando a ser um raro tesouro escondido do escritor que funciona mais como uma nota de rodapé em sua carreira.

Isso, claro, não quer dizer que eu não esteja recomendando a leitura, muito pelo contrário. Eu não só recomendo, até mesmo para que vejamos com mais profundidade as origens da história policial, mas também para que conheçamos de onde vem esses elementos todos que inspiraram tantos e tantos escritores com o passar dos anos. E contando que a edição brasileira do livro está sendo comercializada por meros 8 reais, como diz na própria capa, eu digo que sim, para quem tem curiosidade de saber os primórdios dos detetives durões, eu recomendo que vá atrás deste livro, para então mais tarde, até mesmo ter contato com as obras maiores do escritor, como The Maltese Falcon, por exemplo. Apesar dos problemas, vale a leitura.

Woman in the Dark (1933)
Título em português BR: Mulher no Escuro
Nota: 7 / 10

Escrito por: Dashiel Hammett

2 comments:

  1. Gostei tanto do texto que vou recomendar outros detetives durões nos quadrinhos: Leo Pulp e Blacksad. :)

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