Algum tempo atrás, eu havia feito uma postagem falando sobre o famoso livro de Antoine de Saint-Exupéry, que vocês podem ler clicando aí no link que deixei. Pois bem, agora fui assistir ao filme. Primeiramente eu quero declarar que fui no cinema com minha mente aberta, esperando realmente gostar dele, eu estava disposto a deixar qualquer pré-conceito de lado e encarar o filme realmente como uma obra independente do livro. Pois é. Uma pena que nem assim a coisa desceu. Cheio de problemas e com um roteiro desconexo e tramas demais para dar conta, a adaptação não cativa e mostra que os criadores desta suposta "homenagem" (mais para "sabotagem") ao escritor francês realmente se esqueceram daquilo que realmente é essencial.
O filme abre exatamente como no livro, com o narrador confessando o quão difícil era para os adultos entenderem o desenho do elefante no estômago da cobra. Segue adiante e conhecemos a menina e a mãe da história. A mãe é bastante controladora, e elaborou todo um "plano de vida" para a menina se tornar uma adulta excepcional. E por "excepcional", eu quero dizer como toda e qualquer adulta que se vê por aí, exatamente como os estereótipos que conhecemos no livro de Exupéry, e para isso a mãe faz a menina estudar incontáveis horas no dia, tudo com horário programadinho e esquece que ela também tem que ser uma criança feliz para crescer bem.
Aos poucos, coisas do universo do livro vão aparecendo para a menina, como a concha, a bola verde de musgo, a rosa, a raposa, o avião miniatura, etc. Então descobrimos que ao lado da mãe e da filha, mora um velho que está tentando fazer um avião bimotor antigo funcionar de novo. A princípio, a menina estranha, mas ao longo do filme, ela vai conhecendo melhor esse velho e seu espírito jovem de criança, que se torna o único amigo que ela terá na vida.
Aos poucos, coisas do universo do livro vão aparecendo para a menina, como a concha, a bola verde de musgo, a rosa, a raposa, o avião miniatura, etc. Então descobrimos que ao lado da mãe e da filha, mora um velho que está tentando fazer um avião bimotor antigo funcionar de novo. A princípio, a menina estranha, mas ao longo do filme, ela vai conhecendo melhor esse velho e seu espírito jovem de criança, que se torna o único amigo que ela terá na vida.
Em uma narrativa semelhante ao livro Meu Pé de Laranja Lima, a menina vai se afeiçoando do velho e ouvindo a história que ele conta do Pequeno Príncipe. Estes são os momentos que o filme homenageia o livro destacando os trechos mais importantes do mesmo. Não é uma adaptação do livro, mas um filme inspirado pelo livro, encare como se fosse uma continuação dele, assim como aquele filmeco hediondo de Alice In Wonderland, dirigido pelo Tim Burton.
Até o segundo ato, o filme até que vai numa boa, eu até cheguei a pensar que iria ser bacana e tudo mais. A animação tradicional em computador do nosso mundo real difere da animação em estilo "stop-motion" mostrando trechos do livro, o que achei bem legal, porque a gente realmente vê aquelas cenas tão queridas que conhecemos pelo livro tomarem vida. Os problemas começam a aparecer depois, quando as coisas vão se resolver da passagem do segundo para o terceiro ato, em que tudo começa a ficar estranho e bizarro demais da conta.
De repente, somos jogados em um mundo diferente. A menina consegue consertar o avião e fazer ele voar. Aí tudo começa a ficar estranho, e você se pega perguntando "cara, que diabo é isso?", porque a menina de repente aparece em um mundo que você já não sabe mais se é sonho dela, ou se é o que está acontecendo mesmo, fica tudo extremamente confuso e perdido, assim, do nada. Nesse mundo, a menina chega até a encontrar uma versão crescida e limpador de chaminés do Pequeno Príncipe, que se esqueceu de quem era (o Bert de Mary Poppins mandou lembranças!). Também encontra o rei de um dos planetas trabalhando como ascensorista e o burocrata contador que contava estrelas mantendo todas as estrelas que conseguiu em uma redoma.
Você começa a ficar hiper-confuso nesse mundo, já não sabe mais como as coisas funcionam nele, e o filme mesmo já não consegue mais dar conta de todas as subtramas que abriu, deixando de fechar um monte delas. Nem mesmo o fato do Pequeno Príncipe ser contestador e nunca desistir de uma pergunta uma vez que a faz o filme menciona, só pra se ver o quanto o roteiro se perdeu.
Eu quero saber de quem foi a ideia sem noção de confundir alegoria com realidade. Sério, ficou péssimo! A máxima do filme é que não devemos esquecer quem fomos quando crianças para que não esqueçamos quem somos quando viramos adultos. OK, legal, achei a ideia bacana, e poderia ter funcionado bem. Mas aí as tramas começam a ficar emboladas umas nas outras, personagens com arcos perdidos não se resolvem, e tudo acaba desmoronando.
Infelizmente saí do cinema com um gosto amargo na boca. O livro nos ensina que "o essencial é invisível aos olhos". Neste caso, os envolvidos no filme se esqueceram totalmente das coisas essenciais e focaram no espetáculo e na criação desnecessária de subtramas descartáveis para preencher espaço no filme, me lembrando muito um outro arquétipo do livro que o filme também nem faz menção, o geógrafo que não conhece o próprio planeta que vive.
O resultado é uma obra confusa, que não consegue decidir se quer ser uma nova visão sobre uma obra-prima conhecida no mundo todo, ou se quer ser algo dentro do mesmo mundo dela. E eu sou totalmente aberto a mudanças, desde que façam sentido. Mas aqui os caras tentaram consertar algo que não estava quebrado, inventando coisas fúteis e desnecessárias demais da conta e acabaram dando com os burros n'água. Como diria o principezinho, "esses adultos são mesmo muito esquisitos!"
Eu sinceramente não recomendo este filme. Mas, se no meio de tanta lambança, a coisa pelo menos incentivar adultos e crianças a irem atrás do livro de Exupéry para conhecer uma história verdadeiramente cativante e essencial, então está valendo. Mas mesmo assim eu serei enfático: ignorem este filme e fiquem em casa lendo o livro de novo. Ou então vão atrás da versão do seriado em animê de 1978 feita pelos estúdios Knack Productions, que vão se divertir e se emocionar muito mais. Ou ainda, eu recomendo a belíssima versão musical de 1974 estrelando o grande Gene Wilder no papel da raposa. Sim, são versões bem diferentes do livro, mas eu garanto a vocês que vai valer muito mais a pena.
Ah sim, antes que eu me esqueça. Fui atrás da versão legendada da animação, mas estranhamente eu assisti uma versão dublada em francês, com letreiros de placas e outros objetos de cena em inglês e legendada em português... cara... que bagunça! Dá pra entender? Eu não! Aí eu fui ver que o filme saiu tanto em inglês quanto em francês como idiomas originais. Continuei sem entender! Ignoremos então e sigamos em frente.
The Little Prince (2015)
Título em português BR: O Pequeno Príncipe
Nota: 5 / 10
Direção: Mark Osborne
Produção: Jinko Gotoh, Mark Osborne, Dimitri Rassam, Aton Soumache, Alexis Vonarb
Roteiro: Irena Brignull, Bob Persichetti (baseado na obra de Antoine de Saint-Exupéry)
Trilha sonora: Richard Harvey, Hans Zimmer
Elenco original de vozes:
Versão em francês: Clara Poincaré, André Dussollier, Florence Foresti, Andrea Santamaria, Guillaume Canet, Vincent Cassel, Marion Cotillard, Guillaume Gallienne, Vincent Lindon, Laurent Lafitte
Versão em inglês: Mackenzie Foy, Jeff Bridges, Rachel McAdams, Riley Osborne, Paul Rudd, James Franco, Marion Cotillard, Benicio Del Toro, Paul Giamatti, Bud Cort, Albert Brooks, Ricky Gervais
Trailer:
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