Três constatações ao assistir Ted 2: 1ª: Eu ri para cara-le-o! Não parava um segundo de dar risada; 2ª: é incrível como a gente se identifica com esses personagens, pelo menos em alguns aspectos; 3ª: no mundo moderno existe um contingente enorme de pessoas mal-humoradas. Enorme! Puta que me pariu! E isso é uma constatação fácil a partir do momento que a gente vê tantas críticas às comédias atuais, a maioria com razão de ser, mas não todas, meu caro, não todas. Em suma: Ted 2 é engraçadíssimo! Mas tudo bem, eu posso entender que a série de filmes e a ideia de Seth MacFarlane tem um tipo muito particular de humor e que não é para qualquer tipo de pessoa. Mas aí você perde a esperança na humanidade quando você vê até mesmo algumas pessoas para as quais o filme é direcionado criticá-lo.
Quando eu fui assistir o primeiro filme eu fui quase que no escuro, sem saber muita coisa sobre ele, além do fato de que era a estreia cinematográfica do criador de Family Guy. Ao sair do cinema eu não me lembrava de ter dado tanta risada em muito tempo. O filme era desbocado demais para a polícia do "politicamente correto", e isso foi um dos aspectos que me agradaram imensamente, pois é assim que tem que ser a boa comédia. O outro fato foi a química sensacional entre o personagem urso de Seth e o Marky Mark, quase como se fossem Mel Gibson e Danny Glover na cinesssérie Lethal Weapon (Máquina Mortífera).
Você se pegava pensando nas várias vezes que não teve um amigo assim e ambos ficavam fazendo bobagens. E o humor deles é exatamente isso, pura bobagem. Você tem que dar créditos para um cara como o Seth por saber trabalhar a bobagem de uma maneira tão habilidosa e fazer você soltar litros e litros de risos sem parar!
No primeiro filme, a história era sobre amadurecimento. Aqui no segundo, temos o urso buscando sua identidade e reconhecimento de outras pessoas no mundo. E o filme trabalha muito com a ideia de espelhamento, repetindo conceitos do primeiro filme. A introdução dos filmes é parecida, por exemplo; ambos os personagens principais se casam; ambos tem que lidar com a dura realidade; ambos quase acabam perdendo a vida e ambos voltam mais... "amadurecidos", digamos. Mas não tanto; aliás, graças a Deus, porque sabemos assim que podemos rir desses personagens sem medo e sem culpa!
Vemos no fim do primeiro filme John se casar. Aqui o filme começa com o casamento do urso, e John divorciado (Mila Kunis não volta para a sequência). Meses depois o casal começa a brigar e discutir, você sabe, já viu isso antes. Aí uma das caixas do supermercado que Ted trabalha sugere que o urso tenha um filho com sua mulher para salvar seu casamento. O problema... bem... além da falta da... é... ferramenta necessária para isso... é que com essa iniciativa, o fato de que Ted começou sua existência como um urso de pelúcia antes de ganhar vida, vem a tona, e então o Estado começa a tirar seus direitos; em um subtexto do filme de luta pelos direitos das minorias (claro, tirando sarro disso), Ted vai à luta nos tribunais para ser reconhecido como uma pessoa, e o filme vira uma história de tribunal misturado com road movie, com a entrada da personagem de Amanda Seyfried, a advogada que lutará pelos thunder buddies Ted e John.
As piadas são ótimas, engraçadíssimas, e repetem aquela rotina de humor negro, nerd, sexista e escatológico do primeiro filme e que também já vimos dezenas de vezes em Family Guy, inclusive meu irmão acertou em cheio salientando que o filme é um Family Guy com pessoas reais e um urso digital. Tem por exemplo a sequência engraçadíssima da clínica de fertilidade, com os potes de esperma, tem a ótima sequência do laptop do John, com a reação engraçadíssima de Ted, as tiradas no tribunal, as referências nerd sem fim que vão desde o Flash Gordon (Sam Jones retornando mais uma vez) até Rocky, Star Wars, Knight Rider (Super Máquina), Hellboy, Law & Order (a cena de Ted e John cantando a música da série é muito bacana), a sequência de Ted dirigindo que é uma recriação de Planes, Trains & Automobiles, filme de 1987, ou então a sequência da plantação de maconha que é uma recriação de uma das sequências mais famosas de Jurassic Park. Enfim, tem de tudo! MacFarlane não perde sua veia nerd e presenteia os fãs com diversas referências. Até o casal gay do filme aparece na Comic Con com fantasias de soldado Klingon, de Star Trek e uma fantasia do personagem The Tick.
E vamos encarar, você que gosta de cultura pop e cultura nerd já se identificou com pelo menos alguma coisa aqui no filme! Ou vai me dizer que você não tem um amigo fã de uma erva? Ou então que só acessa pornografia no computador? Ou talvez a personagem de Amanda, que tem um conhecimento muito bom de literatura e coisas mais refinadas, mas você tem que ficar explicando a todo momento as coisas da cultura nerd pra ela! Eu por exemplo tive que corrigir um amigo meu outro dia que não se lembrava do nome do Alfred, mordomo do Batman! Imagina! E diversas vezes eu também já tive que ficar explicando diversas citações nerds que eu faço espontaneamente para ele!
Exemplo é a cena em que os personagens fazem piada com o nome do escritor F. Scott Fitzgerald, dizendo que ele abreviava o primeiro nome porque tentava esconder o que tinha por trás do F! E sabe qual é a melhor coisa? É você saber do que se trata e rir mesmo assim! É uma piada atrás da outra, tirando sarro com tudo! Os personagens tiram sarro de tudo que conseguirem e até deles mesmos! Exemplo é a cena em que John fotografa Ted fumando um narguilé que tem a forma de um pênis e postando no Facebook #summervacation. É essa auto-zoeira, essa habilidade de rir de si mesmo, que gera essa identificação com a gente, é o que faz esses personagens parecerem tão reais e próximos de você!
Eu fiquei simplesmente abismado quando eu vi uma crítica na internet detonando este filme. Era crítica maldosa mesmo, mal-humorada. Depois reclamam que não tem mais comédias boas hoje em dia! Quando aparece uma dessas, xingam! Ah, vai se F. Scott Fitzgerald!
Oras, amigos, pensem comigo! Ter uma estante de potes de esperma caindo em cima de você não é tão diferente da cena em The Naked Gun 33 1/3 (Corra que a Polícia Vem Aí 33 1/3), onde Leslie Nielsen vai "bater umazinha" numa clínica de fertilidade e fica fazendo palhaçada com a atendente. É um humor sacana, pervertido, por vezes até mesmo escatológico, sim, claro que é. Mas trabalhado com timing cômico, bem pensado, bem colocado, sem desculpas e sem frescuras. O grande problema de hoje em dia é essa polícia do politicamente correto que fica de mimimi com tudo que aparece. É essa gente que não sabe rir, que se leva a sério demais quando deveria aprender a rir de si mesmo também, que estraga a boa comédia.
Mas para você que talvez ache que não verá recheio dramático no filme, fique sabendo que ele também tem um considerável recheio, quando a gente vê a humanidade de Ted aflorando, em sua preocupação por John, suas atitudes nada corretas, ou em suas atitudes altruístas, suas lágrimas, emoções, a cena tocante do clímax do filme que também espelha o primeiro filme. Você será pego de surpresa se abrir a sua mente e deixar que o nonsense da dupla de protagonistas chegue até você.
E eu tenho que agradecer aqui: Deus, obrigado!! Obrigado por nos proporcionar a chance de ver Morgan Freeman dizendo palavrão em um filme!! Valeu, porra!!
Eu vou terminando por aqui para não dar mais spoilers do que eu já dei, e espero que você vá assistir Ted 2 sem preconceitos, sem ficar tentando levar a coisa a sério demais, quando os próprios personagens, e Seth MacFarlane também, não se levam a sério demais. Eu te garanto uma coisa, meu amigo: se você gosta de Family Guy, ou se você gostou do primeiro Ted, e ainda, se você curte humor sacana, desbocado e despirocado, mas bem feito e com a intenção de te divertir e até mesmo de te emocionar, eu recomendo a você que vá assistir esta sequência. Vou ser muito honesto com você: eu não dava tanta risada assim já faz bastante tempo! Eu quase me derreti de rir no cinema, e as pessoas que lá estavam também riam alto, sem culpa e sem pudor! Vá tranquilo assistir esta sequência e divirta-se.
Ah, e fique após os créditos para a cena final que fecha a curta participação de Liam Neeson no filme! Vai valer a pena!
Ted 2 (2015)
Título em português BR: Ted 2
Nota: 9 / 10
Direção: Seth MacFarlane
Produção: Jason Clark, John Jacobs, Mark Kamine, Seth MacFarlane, Joseph J. Micucci, Scott Stuber
Roteiro: Seth MacFarlane, Alec Sulkin, Wellesley Wild
Trilha sonora: Walter Murphy
Estrelando: Mark Wahlberg, Seth MacFarlane (voz), Amanda Seyfried, Jessica Barth, Giovanni Ribisi, Morgan Freeman, Sam J. Jones, Patrick Warburton, Michael Dorn, Bill Smitrovich, John Slattery, Cocoa Brown, John Carroll Lynch, Ron Canada, Liam Neeson, Dennis Haysbert, Patrick Stewart, Tom Brady, Jay Leno, Jimmy Kimmel, Kate McKinnon, Bobby Moynihan, Taran Killam, Rachael MacFarlane, Tara Strong, Chris Hemsworth
Outros filmes desta cinessérie:
- Ted 2 (Ted 2) (2015)
- Ted (Ted) (2012)
- Ted (Ted) (2012)
Trailer:
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