Friday, January 6, 2017

NO CINEMA: Passengers (Passageiros)

Nota: 8,5 / 10

Reiniciando um novo ano. Rebootando a contagem e revivendo mais 12 meses de experiências cinemáticas. Sim, eu sempre fico contente quando volto ao cinema, ele é como se fosse minha segunda casa.


E falando em segunda casa, o primeiro filme que fui assistir em 2017 abre o ano de forma muito bacana e com metáforas interessantes sobre as nossas vidas e o mundo que nos rodeia.

Passengers, que estreou lá fora em 14 de Dezembro, mas aqui só foi chegar ontem, nos proporciona uma aventura espacial que, se por um lado não goza de nenhum conceito realmente novo, por outro, executa o que já conhecemos de forma bastante eficaz, nos servindo uma jornada bacana, divertida, emocional e que dá o que pensar.

A história pode ser comparada ao que chamamos de vida. A nave Avalon, termo que, no original, é o nome de uma ilha dos contos arturianos, é como se fosse a nossa própria existência, que vagueia neste imenso espaço, procurando por um sentido.

Tire o fundo de ficção-científica, e o que você tem? Vejam só: um homem chamado Jim Preston (Chris Pratt) vive consigo mesmo por um tempo, mas acaba entediado e se sentindo sozinho. Ele conhece uma belíssima mulher chamada Aurora Lane (Jennifer Lawrence, belíssima, como sempre); aliás, nome sugestivo também, não? Aurora, como o "despertar". Enfim, os dois se conhecem, passam um tempo juntos, até que se apaixonam, mas o homem tem um segredo, e quando a mulher descobre, se afasta dele e os dois rompem o relacionamento. O amigo próximo dos dois, Arthur (Michael Sheen, divertido como sempre) dá conselhos, surge um terceiro personagem, o general Gus (Laurence Fishburne) que, por estar em seus últimos dias, será o catalisador do retorno dos dois apaixonados. Uma situação de risco os leva à reaproximação e isso acaba fazendo toda a diferença na vida dos dois, pois eles acabam redescobrindo que não podem mais viver sem o outro, não depois de tudo o que passaram juntos.

Uma das características da boa ficção-científica, é você justamente não precisar do fundo de ficção-científica para explicar a história. Ela se sustenta sem este fundo, o que nos causa reflexão. Claro, nem sempre isso é verdade, não quando a coisa toda é mal conduzida, o que não é o caso aqui, mas é um bom caminho para se fazer com que uma história enfrente o teste do tempo. Veja, eu expliquei acima, toda história principal do filme, sem recorrer aos elementos de ficção-científica.

Vamos adicioná-los agora: há uma colônia planetária chamada Homestead II, um outro planeta que se tornou habitável, além da Terra, e há uma enorme nave espacial, onde 5000 pessoas em estado de suspensão, ou seja, dormindo conservadas em cápsulas, estão alojadas, com destino a esse novo planeta. Essas pessoas haviam comprado o pacote de viagens na Terra visando construir uma nova vida neste planeta, sendo que a Terra já não está mais assim tão atraente de se viver.

A viagem leva 120 anos, o que requer que todos os passageiros fiquem em suspensão durante este tempo para chegarem no novo planeta com a mesma idade física com que saíram. Só que uma pane acaba ocorrendo na nave, o que faz com que um desses passageiros, Jim Preston, acorde após 30 anos. Desta forma, ele passa 1 ano e 3 meses vivendo sozinho na nave, que além de um bar, tem piscina, área de alimentação, jogos eletrônicos, quadra de esportes, e várias outras coisas, entre elas, trajes espaciais para que os passageiros brinquem de bungee jump espacial. Quando vai ao bar, Jim fica na compania do robô barman Arthur (Avalon... Arthur... como as coisas se conectam, não?), que lhe serve whisky. Após um ano, o cara se sente amargurado, solitário, com tendências a cometer suicídio, sabendo que irá morrer na nave sem chegar ao novo planeta e sem ter contato humano de novo. É aí que a escritora Aurora Lane aparece na história.

Os dois desconhecidos atravessam pela história de amor que mencionei acima, e pela provação do isolamento e do fato de estarem enclausurados na nave, sem chances de retornarem para casa ou de chegarem ao seu destino.

A mistura de 2001: A Space Odyssey com The Shining (as cenas no bar são uma clara referência), com Robinson Crusoe, aliados à jornada espacial e a história de amor, funcionam de forma bastante efetiva, nos proporcionando um híbrido de aventura e drama espacial, aliados a toda vertente filosófica do filme cujo motor é justamente o isolamento que os personagens enfrentam. Não dá para a gente escapar dessa espaçonave chamada vida, a não ser que cometamos suicídio, fora isso, temos que enfrentá-la, subjugar os problemas que ela oferece, consertar coisas, remendar relacionamentos. Como se diz no ditado, "viver é desenhar sem borracha"; não dá para apagar uma linha torta, mas se formos ousados e criativos, conseguiremos transformá-la em algo diferente e excitante, que no final irá nos proporcionar algo de bom.

Arthur, o HAL 9000 do filme, e sua simpática aparência humana nos aconselha: se a vida demora para te fazer chegar ao seu destino final, VIVA-A! Viva-a intensamente! O que importa é a jornada, não o seu destino final. Mesmo no fim do filme, os fotogramas finais mostram brevemente os outros passageiros e o destino final, mas é bem brevemente mesmo, como se não fosse nada de especial. É essa intertextualidade do filme com nossas vidas que transmite esta linda mensagem em uma história envolvente, divertida e cheia de surpresas.

E não é assim que a vida é? Como ela, o filme também tem um tropecinho ou outro. Ele não se decide em encontrar uma assinatura de identidade própria, e há uns momentos, antes do clímax, que ele corre um pouco para preparar a resolução, eu acho que ele poderia tomar um pouco mais de tempo e manter o ritmo fluido que estava demonstrando antes; mas isso não prejudica a diversão e a mensagem final.

Iniciemos o novo ano com essa perspectiva. Vamos trabalhar, nos esforçar, e gerar frutos, mas também, viver, amar, e aproveitar os bons momentos que esta nave espacial da vida nos proporciona. Eu sempre adorei estas tramas de isolamento, com poucos atores e personagens, e mais focadas na jornada pessoal dos protagonistas do que na ação, então acabou se tornando um bom atrativo para mim. O diretor Morten Tyldum, que em 2015 lançou o ótimo The Imitation Game (O Jogo da Imitação), retorna e se supera aqui neste seu novo filme, com bons personagens, ótima ambientação, um bom trabalho de trilha sonora do compositor Thomas Newman, e uma ótima trama, se utilizando de elementos que já conhecemos, mas trabalhando eles com competência. Ótima recomendação para você também iniciar bem o seu ano!

Passengers (2016)
Título em português BR: Passageiros

Direção: Morten Tyldum
Produção: Greg Baxter, Stephen Hamel, Michael Maher, Ori Marmur, Neal H. Moritz
Roteiro: Jon Spaihts
Trilha sonora: Thomas Newman

Estrelando: Jennifer Lawrence, Chris Pratt, Michael Sheen, Laurence Fishburne, Andy Garcia, Vince Foster, Kara Flowers, Conor Brophy, Julee Cerda, Aurora Perrineau, Lauren Farmer, Emerald Mayne, Kristin Brock, Tom Ferrari, Quansae Rutledge, Desmond Reid, Emma Clarke, Chris Edgerly, Fred Melamed, Matt Corboy, Jesus Mendoza, Alpha Takahashi, Matthew Wolf, Jean-Michel Richaud, Jon Spaihts, Curtis Grecco, Joy Spears, Kimberly Battista, Lindsey Elizabeth, Ana Gray, Kenneth Jones, Inder Kumar, Stephen M. LaBar Jr., Robert Larriviere, Andrew S. McMillan, Shelby Taylor Mullins, Jeff Olsen, Kelli Pardo, Jamie Soricelli, Kevin Tan, Travis Thompson, Ivana Vitomir

Trailer:

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