Nota: 8 / 10
Ah, é muito bom ir assistir um filme standalone no cinema, que não seja adaptação de jogo ou baseado em HQs. Não me entendam mal, não estou reclamando, eu adoro essas coisas, mas tem tido tanta adaptação ultimamente, que às vezes você satura, e tem vontade de mudar de ares. Felizmente, me apareceu esta chance, e ainda por cima, em uma midnight screening. Meia noite em ponto o filme estava começando.
Também é uma boa chance para ver um filme novo do Clooney, com boa direção da Jodie Foster. Este filme novo da diretora/atriz levanta questões bem delicadas.
Não achei um dos melhores thrillers dramáticos que eu já assisti, mas fiquei mastigando, por um bom tempo as ideias que o filme levantou, então vamos por partes.
Não achei um dos melhores thrillers dramáticos que eu já assisti, mas fiquei mastigando, por um bom tempo as ideias que o filme levantou, então vamos por partes.
A trama de Money Monster - título que, por si só, já traz um teor de crítica - acompanha um apresentador (Clooney) de um programa de TV em New York, sobre investimentos na bolsa de valores. Julia Roberts interpreta a "mulher do ponto", a que se comunica com o apresentador lhe dando as deixas para o programa de TV, que é ao vivo. Há toda a questão do espetáculo que a TV promove sobre os mais diversos assuntos e que nos passa aquela mensagem antiga de que nada do que vemos na telinha do aparelho está isento de manipulação, de teor espetaculoso e da glamourização do absurdo, uma vez que vemos o apresentador dançando com duas assistentes ao som de um rap quando o show abre.
Pois bem, este apresentador deu a dica na TV de investir em uma compania, algum tempo atrás. Só que, um infeliz investidor acabou perdendo 60 milhões de dólares no processo e ficou quebrado, e outras pessoas também perderam dinheiro, numa soma, mais ou menos, de 800 milhões em investimentos; por causa da dica infeliz, ele vai até a estação de TV, armado, e rende todos lá dentro, obrigando o apresentador a vestir um colete que o terrorista diz estar armado com uma bomba para explodir, se ele apertar um botão.
Então a polícia entra em cena e Julia Roberts, a mulher do ponto, pede para todos que tiverem funções secundárias na estação, abandonarem o navio, e ela e o cameraman ficam lá com Clooney e o terrorista, que quer ser ouvido em rede nacional.
A trama é bem tensa, mas falha em alguns aspectos. Estamos diante de um dos "vilões" mais otários que eu já vi. Se o cara diz que viu a dica de investimento na TV e investiu o dinheiro de sua mãe falecida, sem, teoricamente, nem sequer pesquisar mais a fundo as repercussões que isso teria, - e a internet está aí pra isso - como que ele pode culpar meio mundo pela própria desgraça e ficar dizendo hora e meia "eu não sou otário"? Oras, amigo, todos nós sabemos, hoje em dia, que a TV é um dos meios menos confiáveis para se atualizar; você é sim, um otário, desculpe, mas caiu no espetáculo da telinha.
Mas isso é de certa forma bom, no filme, porque traz aquela questão novamente: até quando as pessoas vão ficar confiando cegamente em absolutamente tudo que veem na TV, nas revistas (papel aceita tudo, vide papel higiênico) e em outros meios, sem procurar saber de fato a veracidade de tudo aquilo que está sendo passado para nós? Perguntar não ofende, não é mesmo? Não estou dizendo "não veja TV", embora eu recomende que não se veja mesmo, estou dizendo "desconfie de tudo aquilo que você vê na TV".
Enfim, o que nos traz a outra questão: pouco a pouco vamos descobrindo, em meio à investigação empreendida para salvarem a vida do apresentador, que tudo se tratava de um esquema de fraude, de desvio de dinheiro da compania que o infeliz investiu. Pois é... quando eu tento fugir da corrupção que vemos na política todos os dias, eis que um filme me vem lembrar dela de novo. Haja! Mas é um ponto importante a se abordar, o que nos traz à questão que o filme levanta, da ganância.
E não me entendam mal; eu sou totalmente a favor das pessoas fazerem fortunas e ganharem dinheiro por mérito próprio, de forma lícita, honesta; a questão levantada aqui não é querer que você pare de querer ganhar dinheiro, mas sim, até que ponto você consegue enriquecer sem passar por cima dos outros, sem destruir vidas, sem ver as pessoas como meros números em sua vida. E é levantando este ponto da fraude e dos números imaginários que o filme promove sua crítica. O personagem de Clooney diz logo no começo do filme: "antigamente, íamos no banco e o cara te mostrava o dinheiro vivo na maleta, mas hoje em dia, tudo é apenas bits e dígitos, figuras virtuais, eletrônicas, o dinheiro se tornou apenas uma ideia".
Ou seja, como você confia, 100%, em um sistema puramente eletrônico? O programador do algoritmo da compania no filme é contactado e ele mesmo denuncia que o sistema foi programado de uma forma que, inocentemente até, confiaria nas ações humanas; só que o ser humano é mau por natureza, e todas as suas ações, boas e más, devem ser monitoradas, previstas, antecipadas. Desta forma, o filme fica neste jogo de ping-pong, procurando quem culpar pela desgraça financeira do cara que invadiu a rede de TV.
E não me entenda mal. Eu não estou dizendo que a ação dele está certa de forma alguma; está errada, muito errada, pois coloca vidas em risco, e o desfecho do filme apenas mostra a conclusão óbvia e inescapável para suas ações. Mas você se identifica com sua perda milionária, e percebe que todo este circo que ele aprontou acaba fazendo com que essas questões sejam levantadas. E é bom que essas questões sejam levantadas, especialmente se desejamos enriquecer; investimento é um risco, e ao eu ver, neste caso, o policiamento constante de nossas próprias ações no processo, é a forma mais segura de garantir que tomemos as decisões certas, embora também sejamos, como seres humanos, passíveis de falhas.
Ao fim do filme, quando todo o circo acaba, vemos as pessoas simplesmente tirando o olho da TV e voltando a fazerem o que quer que seja que estavam fazendo. Essa mensagem desconfortável, sem contar a cena que evidencia a cultura do meme na internet, que foi a parte que eu dei risada mesmo, atestando que as pessoas já estão tão acostumadas com o absurdo, que já não se impressionam mais com nada, é como o filme acaba. Um brinde à humanidade!
De forma geral, a trama é bem conduzida, mas como eu disse antes, não é perfeita. O segundo ato do filme parece não sair do lugar por vezes, e fica por algum tempo nessa lenga-lenga de vai-não-vai. Mas acaba indo, e acaba promovendo questões interessantes para que pensemos. Nem preciso dizer que as atuações estão sensacionais, como sempre, e que Foster faz um grande trabalho na direção. Eu sinceramente não me vejo vendo esse filme novamente daqui alguns anos, mas recomendo que você vá conferi-lo nos cinemas e se faça estas mesmas perguntas que eu levantei. Desconfia de mim? Que bom! Fico feliz! Mostra exatamente o ponto onde quero chegar e a razão deste blog ter o nome que tem. Vá checar por si mesmo e tire suas conclusões.
Money Monster (2016)
Título em português BR: Jogo do Dinheiro
Direção: Jodie Foster
Produção: Lara Alameddine, George Clooney, Tim Crane, Daniel Dubiecki, Grant Heslov, Kerry Orent
Roteiro: Jamie Linden, Alan DiFiore, Jim Kouf
Trilha sonora: Dominic Lewis
Estrelando: George Clooney, Julia Roberts, Jack O'Connell, Dominic West, Caitriona Balfe, Giancarlo Esposito, Christopher Denham, Lenny Venito, Chris Bauer, Dennis Boutsikaris, Emily Meade, Condola Rashad, Aaron Yoo, Carsey Walker Jr., Grant Rosenmeyer, Jim Warden, Joseph D. Reitman, Olivia Luccardi, Anthony DeSando, Ivan Martin, John Ventimiglia, Dominic Colón, Chad Jennings, Cliff Moylan, Brian Edwards, Greta Lee, Charlie Thurston, Patricia Dunnock, Vernon Campbell, Darri Ingolfsson, Svavar James Kristjansson, Bobby Kruger, Liz Celeste, Clem Cheung
Trailer:
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