Tuesday, June 14, 2016

HQ: Convergence (Convergência)

Nota: 7,5 / 10

Ufa! Finalmente acabei de ler Convergence. Essas HQs-evento que mexem com a realidade do bagunçado Multiverso da DC são cansativas. Não no sentido ruim, afinal de contas, se você é um cara que reclama de ler grandes sagas de heróis, meu amigo, então você não é fã de quadrinhos nem aqui e nem na cochinchina!

Mas enfim, são cansativas, no sentido que você tem que estar a par de muita mitologia. A mitologia da DC não somente inclui inúmeros heróis e personagens, mas também, várias versões paralelas da mesma Terra. Eu lembro lá atrás, nos anos 90, quando li pela primeira vez Crisis On Infinite Earths, que aqui ficou conhecido como Crise das Infinitas Terras, a história-evento de Marv Wolfman que criava o Multiverso e acabou fazendo um limpa no universo DC. Pois é. Aquele universo todo está de volta aqui. Vamos dar uma olhada nele.

Para quem está boiando, o negócio é mais ou menos assim: existem realidades paralelas na nossa galáxia, ok? Diversas realidades paralelas que se dividem e se duplicam, gerando alterações de linhas do tempo no cosmos. A DC gosta demais de mexer com isso pra complicar nossa cabeça, pois dá liberdade aos roteiristas de não se centrarem somente em uma linha cronológica específica, criando assim inúmeras possibilidades para um mesmo conceito ou personagem. Dessa forma, tem a Terra-1, a Terra-2, e assim vai, e todas andam juntas e evoluem paralelas uma a outra, mas claro, há aquele conceito da física quântica que diz que se você fez uma escolha em sua realidade, automaticamente uma outra versão de você, pode ter feito qualquer outra escolha oposta em outra realidade.


Vamos aqui pegar um exemplo: se existem várias Terras em vários universos paralelos, então existem vários Supermans. Em uma delas, a Terra-Prime, o Super é o que conhecemos mesmo, aquela imagem que já vem direto em sua cabeça quando pensa nele; em outra, ele é negro; em outra, ele é um androide, em outra, o Superman na verdade é Ultraman, e é o vilão, e o herói desta Terra é Lex Luthor, em outra, ele tem cueca por cima da calça, em outra ele não tem, em outra, ele é comunista e cresceu na Rússia, em outra, ele nunca virou o Superman, em outra, a Terra foi dizimada e nada existe, e por aí vai.


Sentiu o drama? Confuso, né? Pois é, era confuso pra mim também quando eu comecei a ler essas sagas, mas você se acostuma com a bagunça cronológica. E olha, eu sou o tipo de fã que, de uma certa forma, desejaria que essa patota de Multiverso desaparecesse uma hora, e que eles se centrassem em apenas uma linha cronológica, como vinham fazendo a partir dos anos 80. Mas, não dá pra agradar todo mundo, não é mesmo? Mas eu até gosto da ideia, por um outro lado, dá pra gente fazer comparativos com a versão de um herói que a gente conhece e sentir como seria se ele tivesse sido criado de outra maneira. Só que uma hora, isso tudo acaba cansando, amigo.

E se você é do tipo de pessoa como eu, que estava satisfeito com o fato do Multiverso ter se juntado em uma nova e única realidade em 1986, pode se preparar então, porque ele foi restaurado. Isso mesmo! Sabe toda aquela limpeza que a Crise das Infinitas Terras fez e que transformou tudo em uma só linha cronológica? Onde estava tudo as claras, bonitinho, limpinho e você poderia seguir uma única cronologia sem maiores problemas? Então... sumiu! O Multiverso foi recuperado do limbo, e os roteiristas que adoram fazer histórias em outros universos podem comemorar. Êh DC, que adora dar nó na nossa cabeça!

Enfim, o Multiverso da DC está aí de volta, inevitavelmente, e ele está enfrentando outra crise. Esta crise irá redefinir o universo da DC para a linha DC Rebirth, contando aí com mais algumas histórias de fechamento; a Linha Rebirth vai sair ano que vem aqui no Brasil e já está sendo publicada no exterior. Convergence é o evento que vai catalisar o fechamento oficial dos Novos 52.

Na trama da história-evento, o cérebro eletrônico sensciente Brainiac cria um ser chamado Telos. Ele é como se fosse o Anti-Monitor desta nova crise, mas ao contrário. O Anti-Monitor era um vilão lá da Crise das Infinitas Terras que apagava mundos através da Anti-Matéria. Telos prefere, sob ordens de Brainiac, colocar os mundos para se degladiarem no Multiverso, para ver qual sobrevive e quem morre. Os sobreviventes terão o direito de habitar o novo mundo que ele irá conceber a partir de seu torneio.

A narrativa de tudo isso se centra nos heróis da Terra-2: Superman negro, o Batman que na verdade é o pai de Bruce Wayne, Dr. Thomas Wayne, o Alan Scott remodelado, que é o primeiro Lanterna Verde de todos, versão Novos 52, claro; também temos o Jay Garrick, o primeiro Flash, também aqui versão Novos 52; temos o Dick Grayson, que aqui não é o Robin, temos Yolanda Montez, a Pantera que aqui não é a Pantera, mas tem os poderes dela, ou seja, unhas afiadas cortantes e poder de faro apuradíssimo; e por fim, um cara chamado Deimos, que aparece mais para o fim da edição quatro.

A história toda começou lá no número 0 de Convergence, quando o Brainiac captura o Superman dos Novos 52 e o manda para este novo mundo desabitado, chantageando o azulão por tabela, e aí Telos aparece e diz que vai criar este mundo para seu mestre. Então vem os heróis que eu mencionei acima, e partem numa jornada para deter Telos de fazer o Multiverso inteiro se conflitar, para tentarem salvar o tanto de vidas que puderem.

Enquanto isso, vemos todo o Multiverso entrar em guerra. Vemos o Superman de Reino do Amanhã, vemos o Superman old-school de cuecão, vemos o Batman pai se encontrar com o Batman filho, vemos diversas coisas e referências que remontam desde lá atrás da criação deste vastíssimo universo, em 1938, quando surgiu a primeira história do Superman, até agora, com os Novos 52.

Vemos também a Liga da Justiça do mal, que conta com Ultraman, Super-Mulher, Homem-Coruja, entre outros. Até mesmo as versões dos personagens do game Injustice: Gods Among Us e as versões animais da Liga estão aqui fazendo uma breve aparição. Personagens que vimos morrer lá atrás, aparecem aqui de novo por alguma razão, e são colocados nesta confusão toda.

Mas, voltando lá para os heróis protagonistas, há um enganador entre eles. Mais tarde, ele irá invocar Brainiac, enfraquecer o psicológico de Telos na caverna do Guerreiro, um personagem bem medieval, e clamar pela guerra entre multiversos que irá gerar a Convergência. E aos poucos, ela começa a tomar forma. Chega uma hora que nem Yolanda, que estava com Telos, nem qualquer um dos Supermans ou mesmo o Oráculo dos tempos, que consegue ver passado, presente ou futuro, conseguem fazer alguma coisa, e os mundos entram em guerra. Todas as versões de heróis conhecidos se colidem em um combate colossal.

A busca por uma solução para o conflito continua. Entre toda a convergência, vemos o Hal Jordan velho, que veste o traje de Lanterna Verde, mas ao qual chamam de Parallax, como resultado da Crise das Infinitas Terras e da Zero Hora e... puts, tá ficando confuso... bem, digamos que o verdadeiro causador de tudo é deposto e todas as realidades começam a se destroçar em proporções cataclísmicas.

Brainiac reaparece e tem uma epifania. Neste momento, ele se lembra de seu planeta Colu, e há, em um dos painéis, enquanto ele narra sua história desde o evento Ponto de Ignição, que iniciou os Novos 52, uma leve quebra de quarta parede. O cérebro robô sensciente diz que viu várias versões de Superman, de seus mundos, dele mesmo, e viu até mesmo as pessoas que liam sobre ele e tudo isso, mostrando um menino na cama lendo uma revista em quadrinhos... cara! Me senti lendo o livro do filme da História Sem Fim! Lembra disso? Para quem não se lembra ou é muito jovem, na História Sem Fim, o menino lê o livro e aquela história que ele está lendo se torna real, os personagens do livro até falam com o menino. Meio forçação de barra isso aqui, mas gostei dessa leve rachadurazinha na quarta parede. É como se colocasse a nós, leitores, dentro de toda a trama.

Pra concluir, o Brainiac e o Telos resolvem que deveriam poupar todo o Multiverso para que a estabilidade das realidades, e em especial, do planeta em que estão os heróis da Terra-2, seja reestabelecida. E é o que acontece. No fim das contas, a DC resolve escancarar as pernas e trazer de volta todos aqueles mundos devastados na Crise das Infinitas Terras de volta à vida. Que fácil não? Morrer nas HQs não é nada! De uma hora pra outra, acontece uma crise dessas e você vive de novo. Tranquilex! E quanto a seu mundo que foi devastado? Ora, ora, é só pedir para uma entidade espacial fazer o backup dele e jogar para "restaurar os arquivos" na realidade em que você se encontra e pronto! Tá aí seu mundo de volta, cara! Te contar, viu DC!

A história até que é bacana e tal, mas te dá aquela sensação de que você passou todos esses anos lendo HQs e se preocupando com esses heróis a toa. Mas, como eu sei que o mundo dos quadrinhos é assim mesmo, cíclico, eu já nem me preocupo mais. Que venha agora essas realidades de volta, como se a Crise das Infinitas Terras jamais tivesse acontecido!

Ah, e a nova linha DC Rebirth está se aproveitando desse "backup das realidades", para fazer uma tremenda revelação bombástica em relação ao Coringa, um dos maiores inimigos do morcegão: não só descobriremos sua verdadeira identidade, como também veremos que há mais em relação ao palhaço do crime, do que julga a nossa vã filosofia. Aguardemos os novos acontecimentos.

Recomendação dessa história: olha, eu não me sinto a vontade para recomendá-la para quem está começando agora a ler HQs, acho uma leitura muito pesada pra esse tipo de pessoa. O leitor casual vai se emaranhar todo na massaroca cronológica da editora. Mas, se você for do tipo aventureiro, vá em frente, amigo! Quem sabe você até não acaba gostando? Agora, para os leitores hardcore de HQs, a orgia de realidades tá liberada! É uma narrativa até divertida.


Mas é como eu falei lá em cima, para gente como eu, que gosta mais de se ter uma só realidadezinha redonda, bonitinha... bem, se aproxime com cautela. E não me leve a mal, eu adoro ficção-científica e histórias de viagens no tempo e mundos paralelos e estranhos, mas a DC pega pesado, amigo. Achei divertido, li Convergence rapidinho, em umas duas sentadas apenas. Mas esperava poder contar com um universo mais coeso e unificado, e menos bagunçado no final das contas.

Convergence (Junho/2015 - Julho/2015)
Título em português BR: Convergência
Total de edições: 8 + edição 0
Data de lançamento no Brasil: Fevereiro/2016 - Março/2016

Editora: DC Comics
Formato: Minissérie evento em arco semanal
Roteiros: Dan Jurgens (0), Jeff King (0 - 8), Scott Lobdell (1, 6 - 8)
Desenhistas: Ethan Van Sciver (0, 8), Carlo Pagulayan (1, 2, 8), Stephen Segovia (3, 4, 8), Andy Kubert (5), Ed Benes (6), Eduardo Pansica (6, 8), Aaron Lopresti (7)
Coloristas: Marcelo Maiolo (0), John Starr (1, 2, 4, 8), Peter Steigerwald (1 - 4, 6 - 8), Brad Anderson (5)
Arte-finalistas: Ethan Van Sciver (0, 8), Jason Paz (1 - 4, 8), Mark Farmer (4), Jonathan Glapion (4), Julio Ferreira (4), Rob Hunter (4), Mark Roslan (4), Stephen Segovia (4, 8), Sandra Hope (5), Ed Benes (6), Trevor Scott (6, 8), Scott Hanna (6, 8), Wayne Faucher (6), Mark Morales (7)
Letrista: Travis Lanham
Editores: Dan DiDio (0), David Piña (0), Brittany Holzherr (1 - 8), Michael Kraiger (1 - 3), Marie Javins (1 - 8)

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