FILME: Batman: The Dark Knight Returns (Batman: O Cavaleiro das Trevas) - especial Batman na Tela: edição 31

Nerds e bat-fans de todo o mundo esperaram anos e anos por esta adaptação! Em 1986, Frank Miller escreveria o que viria a ser conhecido como a Bíblia das histórias em quadrinhos. Não, eu não estou brincando! Desenhistas realmente carregavam o volume da HQ de Miller debaixo do braço quando iam para o trabalho, fãs de HQs até hoje reverenciam a obra como a melhor história em quadrinhos já escrita por alguém; esse é o tamanho do reconhecimento que ganhou a obra seminal de Frank Miller. E como discordar? A HQ até pode ser considerada um produto de seu tempo, os anos 80, mas até o momento, nunca ninguém havia retratado o Batman de uma forma tão séria e madura antes. Se Frank Miller pode se dar ao luxo de escrever as besteiras que escreve hoje em dia, ele deve isso e muito à essa minissérie em quatro edições que escreveu em 1986 em sua grande parte. Batman Year One é apenas uma consequência deste excelente trabalho que Miller concebeu e que ganha seu espaço entre as melhores obras de HQs até hoje.

E olha só que coisa: o departamento animado da DC acabou achando que a obra não poderia jamais ser adaptada em um tempo máximo de 1 hora e 20 minutos, como fez com suas outras adaptações. Esta obra de Miller é um divisor de águas para o Batman. Tão importante, que a equipe de animação achou necessário transformar a animação em um filme de 2 horas e 31 minutos aproximadamente, nem que para isso tivessem que dividi-la em duas partes. Dito e feito. Sendo assim, a Parte 1 foi lançada em Setembro de 2012 e a Parte 2 foi lançada em Janeiro de 2013. Foi um sufoco ter que esperar pelo lançamento da Parte 2, eu me lembro que estava tão ansioso para ver o restante da adaptação após ter visto a Parte 1 que nem esperei chegar na loja, fui pedindo minha cópia direto na Internet mesmo, no exato momento em que foi lançada.

"Nós vamos ver um show, garoto!"

Assim como fiz com Year One, catei meu surrado encadernado da HQ, o encadernado que lançaram no início dos anos 90, com aquela capa icônica da silhueta de Batman dando um salto e fui acompanhando o filme ao mesmo tempo que virava as páginas de minha HQ para ver o grau de fidelidade da adaptação. Foi bem fiel. Muito fiel. Muitas vezes chegava a reproduzir diálogos inteiros da HQ, tomando o mínimo de liberdades possível com relação à fonte. Um trabalho realmente exemplar e raro aqui em termos de tradução de uma mídia para outra. Quem, como eu, leu a HQ já quinhentas vezes seguidas vai encontrar quase tudo lá no filme, exceto a narração em off e algumas falas e comentários sobre a sociedade à época que não figuraram. Essa narração em off é algo que fez muita falta aqui, há trechos da HQ com essa narração que quando você lia você não conseguia imaginar de outra forma sendo reproduzido sem aquilo. Talvez essa seja a minha única crítica à adaptação. Fora um ou outro trecho somente da HQ que deram uma acelerada, mas isso foi só para manter a dinâmica da história no filme.

PARTE 1

"A chuva em meu peito é um batismo. Eu nasci outra vez."

OK, para quem não leu a HQ eu faço um breve resumo. Bruce Wayne aposentou o manto de Batman há 10 anos atrás. Já nos seus 50 anos de idade, o bilionário já não luta mais contra o crime, o que não quer dizer que não cometa uma extravagância ou outra, como correr em corrida de carros. Gordon também está para se aposentar da polícia. Mas existe uma gangue de arruaceiros, punks, chamada de Mutantes que está assolando Gotham. Isso acaba trazendo fantasmas do passado para Bruce, que se recorda do assassinato de seus pais, da morte de Jason Todd e fica constantemente ouvindo dentro de si a "voz" que diz que Bruce ainda não está acabado, que tem que deixar sua contraparte voltar à ação. Batman então retorna à ativa e de cara tem que encarar a gangue dos Mutantes, mas também tem mais um problema.

"Eu perdi a conta dos mortos mas você, não. Adoro você por isso."

Harvey Dent havia passado por uma cirurgia para recuperar seu rosto e deixar de ser o vilão Duas-Caras para voltar a ser uma pessoa normal. Acontece que o ex-criminoso não consegue ficar longe de encrencas e Batman também terá que lidar com ele. Aqui termina o primeiro volume da minissérie em HQ. Depois temos Batman interrogando punks na rua daquele jeito característico dele. Ele encara o líder dos Mutantes duas vezes, uma ele quase se arrebenta e na outra, ele vence o punk arruaceiro. Aqui ele conta com a ajuda de uma menina chamada Carrie Kelley, que resolve vestir uma roupa de Robin e ajudar o Batman cinquentão. Menção especial a dois fragmentos que são meus favoritos das HQs, o interrogatório de cima de um altíssimo prédio que literalmente faz um capanga gritar de horror e a vitória de Batman contra o líder dos Mutantes na lama, onde o morcego diz a ele uma das frases mais badass de todos os tempos: "você não entendeu, garoto; isso não é um lamaçal. É uma mesa de operação. E EU sou o cirurgião!" Cara, me arrepia toda vez que eu vejo isso! A Parte 1 termina com uma tomada em um antigo vilão do Batman que acaba de voltar do coma ao ver que ele havia voltado: sim, ele, o Coringa!

PARTE 2

A Parte 2 se inicia no terceiro volume da HQ. Temos pessoas discutindo se Batman é herói ou vilão, exatamente como naqueles painéis da HQ em que víamos discussões do telejornal na história, naquele estilo bem oitentista. De forma sorrateira o Coringa ganha espaço na TV e, por conta disso, consegue a atenção do Batman e sua última batalha contra o vigilante, batalha que encerra a Parte 3 da graphic novel. Superman também se envolve na trama, aqui o homem de aço é mostrado como alguém que trabalha para o governo americano. Nos anos 80 estava ainda acontecendo a Guerra Fria, então há muitas referências ao comunismo e ao nazismo, você vê, por exemplo um conflito entre os EUA e Corto Maltês com mísseis e Superman lutando pelos EUA detonando esses mísseis. Miller coloca aí um subtexto que Superman é o cara que nada mais é do que um peão do governo americano obedecendo ordens, acreditando que está fazendo a diferença. Batman então é o pária, ele é o único que vê a sujeira por baixo dos panos, e por causa disso o presidente ordena que o morcego seja entregue à justiça, mostrando que o sistema que o Superman acredita está corrompido. O comentário político então ganha grande importância aqui, e é veiculado pela TV em intermináveis discussões ideológicas.

"Eu quero que se lembre, Clark, pro resto da vida, nos seus momentos mais
 íntimos. Quero que se lembre... da minha mão na sua garganta...
 a mão... do único homem que derrotou você..."

Como eu falei anteriormente, a adaptação não poderia ter saído melhor! As vozes dos personagens estão ótimas também. Não que eu não tenha ficado chateado à princípio em não poder ouvir Kevin Conroy como Batman ou Mark Hamill como o Coringa, ou até mesmo Tim Daly como o Superman. Mas eu acabei gostando do trabalho dos atores elencados, que são verdadeiras estrelas! Temos nada menos do que o Robocop original, Peter Weller fazendo o morcego! Eu quase que podia imaginar ele saindo do Batmóvel e dizendo "vivo ou morto, você vem comigo, PUNK!" com aquela voz profunda do Batman. Além dele, temos ainda Michael Emerson, o Ben Linus de Lost fazendo o Coringa! Eu fui à loucura, fiquei tentando imaginar o tipo de loucura que seria isso! Ficou ótimo!

A direção de Jay Oliva aqui é ótima, o que impressiona, pois até então ele só havia dirigido episódios da série Jackie Chan Adventures, o longa animado Green Lantern: Emerald Knights e episódios da série Young Justice. Oliva aqui se supera e entrega a todos os bat-fãs a tão sonhada adaptação da adorada HQ de Miller e uma obra que poderia tranquilamente se passar por uma pequena obra-prima perdida dos anos 80. E isso também graças à impressionante trilha sonora de Christopher Drake, realizando aqui o seu melhor trabalho com trilhas. Ela remete e muito àquelas trilhas com sintetizadores dos anos 80 que marcaram filmes de ficção-científica cyberpunk como Blade Runner, por exemplo. Ouça e compare! Trilha, ambientação, diálogos, tudo remete a um verdadeiro e bem vindo retorno aos anos 80.

Com todas estas qualidades, Batman: The Dark Knight Returns se torna um filme imperdível e uma verdadeira preciosidade do mundo da animação bem aos moldes de clássicos como Akira. Eu iria mais longe e chamaria a adaptação de o Kill Bill das animações, o que não deixa de fazer sentido, até mesmo pela divisão em duas partes. Recomendadíssimo, uma verdadeira obra de arte, e um filme essencial e imperdível à todos os bat-fãs e interessantíssimo ao público em geral.

Eu quero que se lembre, caro leitor, pro resto da vida, quando estiver assistindo Batman V Superman: Dawn of Justice nos cinemas... em seus momentos mais íntimos. Quero que se lembre... desta obra de Frank Miller... a obra que tornou o filme de 2016 possível!

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Batman: The Dark Knight Returns - Part 1 (2012)

Título em português BR: Batman: O Cavaleiro das Trevas - Parte 1

Nota: 9 / 10

Batman: The Dark Knight Returns - Part 2 (2013)

Título em português BR: Batman: O Cavaleiro das Trevas - Parte 2

Nota: 9 / 10

Nota geral: 9 / 10

Direção: Jay Oliva

Produção: Alan Burnett, Michael Macasero (Parte 1), Benjamin Melniker, Sam Register, Bruce W. Timm, Michael Uslan

Roteiro: Bob Goodman (baseado na graphic novel escrita por Frank Miller e Klaus Janson, baseada em personagens criados por Bill Finger, Bob Kane, Jerry Robinson, Gerry Conway, Don Newton, Jerry Siegel, Joe Shuster, John Sikela, Mort Weisinger, George Papp)

Trilha sonora: Christopher Drake

Estrelando: Peter Weller, Ariel Winter, David Selby, Wade Williams, Mark Valley (Parte 2), Carlos Alazraqui, Dee Bradley Baker, Paget Brewster, Maria Canals-Barrera, Cathy Cavadini, Townsend Coleman, Grey Griffin, Robin Atkin Downes (Parte 2), Richard Doyle, Greg Eagles, Michael Emerson, Michael Jackson, Danny Jacobs, Maurice LaMarche, Yuri Lowenthal, Michael McKean, Sam McMurray, Jim Meskimen, Rob Paulsen, Andrea Romano, Tara Strong, James Patrick Stuart, Gary Anthony Sturgis, James Arnold Taylor, Bruce W. Timm, Jim Ward, Frank Welker, Gary Anthony Williams, Jim Wise, Gwendoline Yeo, Lex Lang (Parte 2), Tress MacNeille (Parte 2), Jason Miller (Parte 2), Conan O'Brien (Parte 2)

Outros títulos da linha DC Universe Animated Original Movie:

- Batman: The Killing Joke (Batman: A Piada Mortal) (2016)
- Justice League vs. Teen Titans (Liga da Justiça vs. Jovens Titãs) (2016)

- Batman: Bad Blood (Batman: Sangue Ruim) (2016)

- Justice League: Gods and Monsters (Liga da Justiça: Deuses e Monstros) (2015)

- Batman vs. Robin (Batman vs. Robin) (2015)

- Justice League: Throne of Atlantis (Liga da Justiça: O Trono de Atlantis) (2015)

- Batman: Assault on Arkham (Batman: Assalto em Arkham) (2014)

- Son of Batman (O Filho do Batman) (2014)

- Justice League: War (Liga da Justiça: Guerra) (2014)

- Justice League: The Flashpoint Paradox (Liga da Justiça: Ponto de Ignição) (2013)

- Superman: Unbound (Superman: Sem Limites) (2013)

- Batman: The Dark Knight Returns - Part 2 (Batman: O Cavaleiro das Trevas - Parte 2) (2013)

- Batman: The Dark Knight Returns - Part 1 (Batman: O Cavaleiro das Trevas - Parte 1) (2012)

- Superman vs. The Elite (Superman vs. Elite) (2012)

- Justice League: Doom (Liga da Justiça: A Legião do Mal) (2012)

- Batman: Year One (Batman: Ano Um) (2011)

- Green Lantern: Emerald Knights (Lanterna Verde: Cavaleiros Esmeralda) (2011)

- All-Star Superman (Grandes Astros: Superman) (2011)

- Superman/Shazam: Return of Black Adam (Superman/Shazam: O Retorno do Adão Negro) (2010)

- Superman/Batman: Apocalypse (Superman/Batman: Apocalipse) (2010)

- Batman: Under the Red Hood (Batman Contra o Capuz Vermelho) (2010)

- Justice League: Crisis on Two Earths (Liga da Justiça: Crise em Duas Terras) (2010)

- Superman/Batman: Public Enemies (Superman/Batman: Inimigos Públicos) (2009)

- Green Lantern: First Flight (Lanterna Verde: Primeiro Voo) (2009)

- Wonder Woman (Mulher Maravilha) (2009)

- Batman: Gotham Knight (Batman: O Cavaleiro de Gotham) (2008)

- Justice League: The New Frontier (Liga da Justiça: A Nova Fronteira) (2008)

- Superman: Doomsday (A Morte do Superman) (2007)

Trailer - Parte 1:

Trailer - Parte 2: