Monday, November 30, 2015

NO CINEMA: Victor Frankenstein (Victor Frankenstein)

Em Victor Frankenstein, nova obra inspirada no romance clássico de Mary Shelley escrito em 1818, Hollywood nos mostra que não perdeu essa mania ingrata de simplificar o máximo possível a ideia de uma história para a audiência, provavelmente por pensar que ela seria estúpida demais para não enxergar as referências com um pouquinho de pesquisa. Além disso, continuando sua proposta de prelúdios, Hollywood resolve ir mais longe e pegar um personagem que sequer existia na obra original da escritora, o corcunda Igor, e transformá-lo no centro das atenções. Desta forma, se o filme é vendido como uma espécie de "Victor Frankenstein Begins", o tiro sai pela culatra logo na concepção do roteiro, se tornando um "Igor Begins". Quer mais? Bem, vamos lá.

O filme, narrado e "co"-protagonizado pelo Igor do filme, Daniel Radcliffe (Harry Potter) já começa com o distinto cidadão dizendo que já conhecemos a história. Ou seja, já sabemos que tipo de sopa vai virar essa receita. Então a narração mostra as origens do Igor, sendo um palhaço maltratado de circo, mas tendo interesse por ciência e biologia, o que chama a atenção do Dr. Victor Frankenstein, pois os dois tentam salvar uma trapezista que caiu do trapézio. Este desenvolvimento do personagem eu gostei, pois até então o Igor, nos filmes antigos, era só aquele tipo estranho e bizarro de corcunda que falava esquisito e tinha uma aparência medonha e ninguém se importava com ele, então essa história de origem foi até bacana, nos deu mais detalhes sobre o personagem.

Que pena que tiveram que cagar o personagem título! O Dr. Frankenstein, interpretado por James McAvoy (o Dr. Xavier mais jovem dos filmes dos X-Men) parece um abobalhado! Se nos filmes da Universal, ou mesmo no telefilme dos anos 90 com Robert De Niro como a criatura, ou até no livro de Shelley, temos um cientista cuja personalidade ilustra um cara como qualquer outro, aqui parece que ele é parente do Patolino! Os roteiristas entenderam errado a ideia de loucura, o cara não é louco nos trejeitos, mas sim nas suas ideias e ambições de ofício. É a mente do cientista que é deturpada, não sua forma de se comportar. Aqui a loucura aparece nos dois âmbitos.

E se o livro tinha questionamentos interessantes e profundos, como por exemplo, a discussão que respalda na dicotomia entre criador e criatura e também na natureza maligna do ser humano, aqui essas discussões são todas cuidadosamente confiadas para esta pessoa:

MEH...

Pois é! E até mesmo a referência do livro que sobrou, a do mito de Prometeu, acabou sendo banalizada. O cientista fica martelando o termo no filme incansavelmente, à exaustão, até cansar nossa paciência, como se a audiência fosse estúpida demais para ver que a referência se encontra NO PRÓPRIO SUBTÍTULO DO LIVRO! Hollywood cada vez se sobressai mais em termos de como estupidificar uma obra para sua audiência. E a discussão envolvendo razão x religião aqui também é mal colocada e fundamentada, ficando mais rasa do que um pires.

Fora que temos o interessezinho romântico do Igor no filme, a trapezista, que ele convenientemente reencontra numa festa após algum tempo. Sem falar que a cura da condição de corcunda do Igor foi pra lá de exagerada e inverossímil, hein? Tudo pra conferir no começo da coisa um caráter de gênio para Victor que nós já sabemos que ele tem, afinal de contas, como diz a narração inicial, NÓS JÁ CONHECEMOS A HISTÓRIA!

Apesar de tudo isso, o filme tem pontos positivos. A história de Igor é bacana, como já falei, a ambientação é ótima, a trilha sonora, embora fique sendo martelada na nossa cabeça o filme inteiro, é bonita, a criatura, que só aparece no final da projeção, é bem feita graficamente, lembrando alguns traços da versão de Boris Karloff do filme de 1931, a direção de Paul McGuigan (diretor da 1ª e 2ª temporadas da excelente série Sherlock) é ótima, apesar de não conseguir fazer milagres com o roteiro medíocre, e o personagem de Andrew Scott (o James Moriarty de Sherlock) é bom.

O filme também mantém os elementos góticos e bizarros que permeiam toda versão desta obra de Shelley, inclusive aqui até mesmo de forma mais gráfica, detalhando a confecção da criatura. Destaque para a cena onde Victor e Igor fazem um par de olhos criar vida. Só que tem o seguinte: não só o que aconteceu com a criatura, no clímax do filme, é estranho mas também o filme acaba deixando uma porta aberta para uma - adivinhem? Dou um doce se adivinharem! - SEQUÊNCIA. Uaaaau! Que surpresa, não? Enorme! A mesma surpresa que tive da última vez que ouvi que fogo queima! Supimpa!

Enfim, Victor Frankenstein até diverte se você ignorar as falhas, mas definitivamente eu não veria de novo. E quando eu vi Dracula Untold, ano passado e descobri que o filme era o ponto inicial de uma nova série de monstros de Hollywood, fiquei me perguntando se este filme agora tem algo a ver com aquele universo, porque se estiver relacionado, terão que melhorar e muito! Comparado com a excelente versão teatral que assisti este ano no cinema estrelando Benedict Cumberbatch e Jonny Lee Miller, esta aqui fica à milhas de distância de sequer arranhar a superfície em termos de conteúdo. Vá no dia de desconto.

Victor Frankenstein (2015)
Título em português BR: Victor Frankenstein
Nota: 5,5 / 10

Direção: Paul McGuigan
Produção: Mairi Bett, Derek Dauchy, John Davis, Brittany Morrissey
Roteiro: Max Landis
Trilha sonora: Craig Armstrong

Estrelando: Daniel Radcliffe, James McAvoy, Jessica Brown Findlay, Andrew Scott, Callum Turner, Bronson Webb, Daniel Mays, Spencer Wilding, Robin Pearce, Charles Dance, Alistair Petrie, Mark Gatiss

Trailer:

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