Sunday, June 7, 2015

CINEPEÇA: National Theatre Live - Frankenstein (Jonny Lee Miller)

O National Theatre Live que foi fundado em 2009 por uma iniciativa do Royal National Theatre da cidade de London, Inglaterra é um veículo pela qual se filma apresentações de peças ao vivo que são transmitidas via satélite. Estas produções são massivas, muito bem arquitetadas e com cenários arrebatadores. Uma dessas peças teve a graça de ser exibida nos cinemas brasileiros por tempo limitadíssimo, nos dias 4 de Junho e 7 de Junho deste ano, e teve considerável bilheteria. Eu pessoalmente confesso que foi um prazer, uma honra e uma tremenda satisfação e oportunidade a de assistir a peça Frankenstein. Minha única decepção foi não poder assistí-la no dia 4, uma vez que os atores principais fizeram algo bastante inusitado, ou seja, trocaram seus papéis. Nesta peça de 2011 que adapta, e muito bem adaptada, a história da escritora Mary Shelley, publicada em 1818 e já filmada várias vezes para o cinema, sendo a versão mais famosa a de 1931 com Boris Karloff, os atores se revezaram entre ser o criador e a criatura.

Na trama, temos a clássica história do livro: Dr. Victor Frankenstein, cientista que quer saber de onde vem a vida, cria um ser através de vários pedaços de cadáveres. O cientista consegue ter êxito em fazer de sua criatura, alguém muito inteligente e ágil, mas não conseguiu lhe dar beleza, o que faz com que as pessoas o rejeitem e o abandonem. Sentindo-se um pária e um monstro, a criatura encontra um senhor cego que lhe ensina os fatos do mundo, lhe ensina a ler e a escrever. Descobrindo coisas indesejáveis sobre si mesmo e qualidades que são apenas inerentes às pessoas nascidas por vias naturais, a criatura retorna a seu criador com o intuito de lhe pedir uma companheira. Negando-se a lhe fazer uma companheira, o monstro estupra e assassina a esposa de Victor Frankenstein e o torna também um pária ao fazê-lo perceber que não é menos "monstro" do que aquele que criou.

A peça é simplesmente um espetáculo visual e cenográfico! O elenco afiadíssimo, junto com os dois mega atores em seus papéis principais, brilham ao trazerem para a vida seus personagens. Os objetos de cenário são espetaculares, a forma arredondada do início da peça que representa o "útero" artificial de onde surgiu a criatura é convincente e os cenários quando se fazem necessários podem surgir do chão em um mecanismo giratório do palco ou serem adaptados conforme a necessidade pela equipe de cenografia da peça, fazendo com que a experiência visual seja rica em detalhes e dinâmica. Os efeitos de névoa que retratam a Inglaterra vitoriana também dão o tom da peça.

As maquiagens são espetaculares! Especialmente a maquiagem da criatura, um trabalho que me deixou atônito! A trilha sonora da peça é brilhante, e vem quando necessário, como forma de ajudar na narrativa, e não de se sobrepor à ela.

A trama traz aquelas discussões que o texto de Shelley contém, provenientes do período da literatura inglesa moderna, a de ciência, racionalidade, profanando os princípios da vida ou contribuindo para seu prolongamento e o desejo e curiosidade humanas de buscarem imitar uma entidade divina criadora de vida e de querer saber se é possível que as criaturas desta entidade divina podem também imitar os poderes de criação de seu criador, o quanto isso influi na nossa ética e nos nossos valores, o valor da vida e da trajetória humana em busca do conhecimento e finalmente a questão do diferente, daquele que não se aplica às convenções sociais.

Aliados ao roteiro de Nick Dear e da brilhante direção de Danny Boyle, Benedict Cumberbatch e Jonny Lee Miller realizam aqui um trabalho primoroso de atuação. Aqui nesta segunda noite de peça, Cumberbatch interpreta o cientista e Miller faz a criatura. Infelizmente eu não consegui assistir a primeira noite que trazia a situação inversa, mas pelo que assisti aqui, vi Miller trazer sua atuação brilhante para a criatura em seu modo torpe de falar, seus tiques, o jeito de atuar como se estivesse tentando adquirir controle de seus braços e pernas, enfim, uma atuação brilhante; Cumberbatch também traz aqui um Dr. Frankenstein primoroso, sendo um dos maiores talentos da atualidade, o ator faz uma pessoa atormentada e cheia de medos, mas também curiosa e disposta a levar seus talentos como cientista às últimas consequências para descobrir o segredo da vida.

Eu saí do cinema atônito com o que vi, maravilhado. Eu detesto ser o portador de más notícias, mas tenho que dizer que, quem não foi, perdeu uma experiência única e sensacional que, se não há como ser presenciada ao vivo com os atores no National Theatre, deve ser presenciada na telona grande do cinema, em todo seu magnífico escopo. Um trabalho ímpar de grandes talentos e que eu jamais esquecerei. Antes do filme da peça, tivemos também um pequeno making off no início da projeção, com Boyle contando alguns detalhes de como foi trazer esta experiência fantástica para os palcos. Indispensável!

National Theatre Live: Frankenstein (2011)
Nota: 10 / 10

Direção de palco: Danny Boyle
Roteiro: Nick Dear (baseado na obra de Mary Shelley)
Trilha sonora: Karl Hyde, Rick Smith

Estrelando: Jonny Lee Miller, Benedict Cumberbatch, Ella Smith, John Killoran, Steven Elliot, Lizzie Winkler, Karl Johnson, Daniel Millar, Naomie Harris, Hayden Downing, William Nye, Jared Richard, George Harris, Daniel Ings, Martin Chamberlain, Mark Armstrong, John Stahl, Andreea Paduraru, Josie Daxter

Trailer:

No comments:

Post a Comment