Histórias de ficção-científica futuristas podem variar entre aquelas que criam uma realidade futurista distópica e aquelas que dão uma mensagem otimista em relação ao futuro. Entre aqueles que criam a distopia, estão contos seminais como Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, A Clockwork Orange de Anthony Burgess, o conhecidíssimo 1984 de George Orwell, os dois filmes da série The Terminator de James Cameron e The Matrix dos irmãos Wachowski, além de exemplares recentes como a trilogia de livros The Hunger Games de Suzanne Collins, todas elas, obras que criam realidades pessimistas e opressoras para a humanidade; do outro lado, temos os futuros otimistas de Back to the Future: Part II eee... ah sim, os contos da compilação I, Robot do genial Isaac Asimov... e tambééém... é, pois é... não há muitas famosas por aí.
Isso é porque histórias de futuros distópicos e de paisagens pessimistas fascinam o ser humano desde sempre. Mas a grande verdade é que realmente prestamos muito mais atenção naquilo de ruim que pode nos ocorrer do que realmente naquilo de bom que pode nos ocorrer.
Tomorrowland, nova empreitada da Disney, tem até uma perfeita analogia para isso: imagine dois lobos, um chamado "luz e esperança" e o outro chamado "escuridão e tristeza"; qual é o lobo que vai se sobressair? Aquele que nós alimentarmos.
E é desta premissa que se alimenta a trama do filme. Na trama, vemos um menino gênio e talentoso, ainda nos anos 60, e uma menina considerados especiais que são enviados secretamente para uma terra de livre pensamento e livre de ganância e burocracia para criar coisas que vão dar à humanidade um futuro melhor. Mas este futuro jamais acontece, porque segundo o personagem de Hugh Laurie, a humanidade não quer se livrar de suas desgraças, ou por ego, para as pessoas mostrarem o quanto estavam certas em suas previsões, ou porque desistiram mesmo de buscar um mundo melhor.
O tempo passa, Casey (Britt Robertson) nasce, o menino Frank Walker (Thomas Robinson) se transforma no George Clooney, a menina Athena (nome sugestivo) dos anos 60 (Raffey Cassidy) não envelheceu um ano sequer e temos agora essa trama em que Casey recebe um broche com um T estilizado que, quando ela toca, a leva a ter um vislumbre de um possível futuro, um futuro promissor e feliz.
O filme é muito feliz em sua mensagem otimista. Fico muito contente em ver uma história infanto-juvenil de ficção-científica que aponta possibilidades positivas e passa uma mensagem de encorajamento para a audiência, sem necessariamente parecer palestra motivacional. Por outro lado, o filme deixa transparecer em alguns momentos que só o fato de querermos e acreditarmos, na melhor moda Disney, já vai resolver nossos problemas, e todos sabemos que não é assim.
Ser otimista, não significa nos cegarmos para os problemas do mundo. Significa termos razões para justificar nosso otimismo; e só teremos razões para isso se realmente fizermos alguma coisa para sustentar essa razão. Por outro lado, temos que aceitar que, em nossa insignificância, nós realmente temos alimentado demais o lobo errado. Passamos esse futuro distópico o tempo todo para a nossa cultura em filmes, games, etc, falamos mal do governo, falamos mal dos outros, procuramos razões para nos preocupar e esquecemos muitas vezes de procurar soluções para os nossos problemas.
Nesse sentido, temos um pouco de tudo em um filme que fará bem tanto para crianças e jovens, quanto para adultos. Uma cena que me chamou bastante a atenção é a dos professores falando sobre como a situação está ruim, de como nossas vidas estão um horror e de como escritores como os já citados no início da minha resenha preveram o que iria acontecer. Então Casey, a otimista, levanta a mão e diz "OK, nossa vida está uma merda, eu entendi, mas o que estamos fazendo para mudá-la?"; a resposta de um dos professores simplesmente foi esperar o sinal tocar e dizer até logo, no sentido de não sei, voltem pra casa, estudem e voltem aqui para eu te contar mais desgraças na aula que vem.
Portanto, está aí, caro leitor que sempre me acompanha, uma coisa para nós pensarmos a respeito. Será que estamos apenas celebrando a visão profética de Ray Bradbury e George Orwell ou estamos também trabalhando e fazendo o possível para que essa visão não se concretize?
Ah sim, e eu não pude deixar de notar as referências de Star Wars e outras produções clássicas na cena da loja Blast from the Past. Além de divertida, é também um lembrete a nós de que estamos, desde o início dos tempos nessa eterna luta entre a escuridão e a luz, exatamente como a metáfora do lobo, então eu volto à pergunta de Casey no filme, caro leitor: qual lobo estamos alimentando?
Cinematografia ótima, bem no estilo filme pipocão mesmo, trilha sonora mais uma vez primorosa de Giacchino, roteiro bom, mas falho em alguns aspectos e com muitas situações clichês, mas que não estraga de forma alguma a diversão dos 130 minutos de projeção. Recomendo uma assistida e a atenção à filosofia no filme, que apesar de parecer bem primária, nos alerta para mensagens importantes em nossas vidas.
Tomorrowland (2015)
Título em português BR: Tomorrowland - Um Lugar Onde Nada é Impossível
Nota: 8 / 10
Direção: Brad Bird
Produção: Bernard Bellew, Brad Bird, Debbi Bossi, Jeffrey Chernov, Damon Lindelof, Brigham Taylor
Roteiro: Damon Lindelof, Brad Bird, Jeff Jensen
Trilha sonora: Michael Giacchino
Estrelando: George Clooney, Hugh Laurie, Britt Robertson, Raffey Cassidy, Tim McGraw, Kathryn Hahn, Thomas Robinson, Judy Greer, Michael Giacchino
Trailer:
Texto fantástico cara, essa é uma reflexão que precisamos fazer em nossas vidas. Que futuro estamos construindo, o futuro é resultado das ações que nós fazemos hoje. O filme faz muito bem de nos lembrar isso. Deu vontade de assistir, mesmo sendo da Disney. Acho que essa é a primeira produçãço adulta da Disney que eu me recorde. Deve ser muito bom, mas o seu texto já serviu para uma reflexão e tanto, não apenas a nível de sociedade, mas a nível pessoal também.
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