Sunday, January 24, 2016

EPISÓDIO: Sherlock 4x00: The Abominable Bride (A Noiva Abominável)

Nota: 9 / 10

Esta é uma ocasião especial para a excelente série Sherlock, série essa que inclusive eu já mencionei aqui no blog, relacionando ela com outras produções envolvendo o detetive do escritor Sir Arthur Conan Doyle.

Especial porque eu, como fã dos livros de Conan Doyle, fiquei animadíssimo com a ideia de ver Cumberbatch e Freeman interpretarem as versões originais dos personagens, ou seja, as versões vitorianas. Eu estava aguardando ansiosamente por este episódio oficial, que até mesmo estreou nos cinemas lá fora.

No fim, o episódio não somente se prova muito interessante, como também esquentou as turbinas para a vindoura quarta temporada da série, que infelizmente só irá estrear em 2017.

Esta então é razão mais do que suficiente para falarmos sobre ele, mas tem uma outra que ficou sendo a cereja no bolo, e quem já leu os livros de Sherlock Holmes, vai saber muito bem do que estou falando, pois trata-se das inúmeras referências que o episódio faz aos livros, citando títulos, e até mesmo reencenando situações. Pra fechar com categoria, a série homenageia o seriado dos anos 80/90, estrelando Jeremy Brett de maneira bastante sutil, mas quem já assistiu este outro excelente seriado, vai notar.

Vamos começar dizendo que, se antes eu dizia que Cumberbatch tem o gene, o fenótipo, os trejeitos de Sherlock Holmes, aqui neste episódio, isso deixa de ser uma simples opinião, e passa a ser um fato consumado. O ator nasceu para este papel, ele É Sherlock Holmes aqui; bem, aqui e em qualquer outro episódio do seriado, ele nunca deixou de ser o detetive; trata-se de um dos maiores acertos de elenco que já aconteceram nos últimos anos! O mesmo pode ser dito de Martin Freeman, seu Watson é nada mais do que impecável, embora eu ainda prefira a versão de David Burke, da série estrelando Brett, porém aqui, Freeman chega extremamente perto do brilhantismo de Burke no papel, até mesmo pelo seu bigodinho.

Vamos à trama: o episódio se inicia, por alguma razão aparente, recordando o que já aconteceu na série até então em pequenos flashes, para logo depois vir o letreiro que irá nos levar a uma realidade alternativa, que é o mundo vitoriano do séc. XIX em que Sherlock nasceu. Então, o filme reconta como Sherlock e Watson se conheceram.

Vale mencionar, que novamente os roteiristas da série não seguiram os livros, porque lá, os dois se conhecem quando Sherlock estava em meio a uma experiência química, descobrindo um reagente que é somente precipitado pela hemoglobina, para facilitar o reconhecimento de manchas de sangue em cadáveres, ao invés de chicoteá-los, como o Sherlock de Cumberbatch geralmente faz em ambas as origens, a moderna e a deste episódio. Mas isto é trivial. A introdução de Watson neste episódio é totalmente copiada dos livros, onde ele diz que com os horrores que passou na guerra, resolveu vir a Londres para descansar.

Então conhecemos o mistério, que envolve uma noiva que estranhamente atira em pessoas na rua e exclama "você". Tanto a noiva, como o próprio título do episódio, são referências a uma passagem dos livros no caso do Ritual Musgrave, onde Holmes, o do livro, menciona o caso de Ricoletti e sua esposa abominável, caso este que jamais foi contado nos livros de Conan Doyle, apenas referenciado.

O caso se passa antes do Natal, e nos apresenta a noiva, que atira em passantes pela janela e depois se mata no apartamento que estava. O caso é que aparentemente, mesmo depois de se matar, Emelia Ricoletti sai por aí matando pessoas, o que chama a atenção do detetive, que cético perante a possibilidade da mulher ter voltado dos mortos, investiga o caso usando de sua lógica e raciocínio para chegar à possível evidência que levará ao assassino.

Holmes vai perdendo interesse no caso, uma vez que o cadáver da moça aparece, mas um pouco depois, resolve investigar mais a fundo após um encontro com seu irmão Mycroft Holmes, no Diogenes Club, que aponta novas possibilidades.

Então somos surpreendidos com uma surpresa que quebra a narrativa: durante dois dias que Holmes ficou pensando em seu apartamento, sem comer e com a ajuda de cocaína para impulsionar o fluxo do raciocínio, o detetive se vê no futuro, em um avião, em uma realidade diferente, dando vazão à linha cronológica da série de TV!!

Os roteiristas quiseram estabelecer uma ligação estranha com a linha cronológica vitoriana e a moderna, que aponta que, enquanto o Holmes moderno estava no avião, ele meditava, também sob o efeito de cocaína, em seu "palácio mental", tentando se imaginar na era vitoriana para conectar um certo crime que aconteceu no século XIX e que ajudaria a explicar o retorno de... JAMES MORIARTY! Eu não estou brincando! E também vou parar por aqui, porque eu já revelei detalhes demais da narrativa deste episódio especial.

A única coisa que posso dizer após estes eventos, é que a reviravolta é incrível! Se a terceira temporada de Sherlock não foi uma das melhores, salvo a grande revelação de como Sherlock fingiu a sua morte, aqui parece que os roteiristas ganharam um novo gás após estes dois anos de pausa. E daí, entende-se a razão pela qual ainda estarão usando mais um terceiro ano para nos manter nervosos, loucos pelos desdobramentos que virão na quarta temporada do seriado. Eu mal posso esperar para saber o que nos aguarda por trás das cortinas!

Quanto às outras referências do episódio, há diversas passagens e citações de eventos célebres da mitologia dos livros. Bem no começo, há a citação do caso do Carbúnculo Azul, onde eles incluem aqui uma piada de que a Sra. Hudson não gosta das histórias de Watson porque ela nunca fala nada. Há também uma cena do memorável conto do Problema Final, onde Sherlock e Moriarty lutam nas cataratas do Reichenbach, que é o conto que Conan Doyle "mata" Sherlock e Moriarty em 1893. Quem nunca leu os livros do Sherlock Holmes, terá dificuldades em identificar esta referência que inclusive estava presente no último episódio da segunda temporada.

Entre outras referências rápidas, temos o caso do Cão dos Barskervilles, o caso do Escândalo na Boêmia, em que Irene Adler aparece, e que no seriado virou o episódio do Escândalo na Belgrávia, com uma Irene Adler totalmente diferente, mais sexy e espirituosa do que a dos livros. E uma referência óbvia, claro, novamente para quem leu os livros, é a palavra YOU escrita em sangue na parede, que dialoga com o caso do Estudo em Vermelho, a primeira história de Holmes publicada no periódico The Strand em 1887, onde tínhamos a palavra RACHE escrita com sangue perto do corpo de um cadáver; na série, este virou o caso do Estudo em Rosa, no episódio que abre o seriado de TV.

E já que estamos falando de diferenças, temos neste episódio também o brilhante Moriarty interpretado por Andrew Scott, que eu vivo falando que superou e muito o Professor Moriarty dos livros de Conan Doyle; o que nos leva a um fato interessante: Até um certo ponto, tudo que vemos no episódio é o mundo vitoriano dos livros de Conan Doyle.

O Moriarty de Scott vem para quebrar isso, mostrando a versão modernizada e lunática do personagem, para nos montar este paralelo com a mitologia original de Conan Doyle e as versões modernizadas da série. É o momento que primeiramente notamos a quebra narrativa, uma vez que se esforçaram para até mesmo fazer o Mycroft vitoriano parecer mais gordo e mais velho do que a sua versão moderna, como é nos livros. Aqui não vemos o Moriarty velho e sisudo dos livros, portanto, isso nos chama a atenção para a quebra de mundo na narração.

Enfim, são muitas as qualidades, e eu poderia ficar discutindo aqui por horas estas referências, sendo leitor de Sherlock Holmes durante anos como sou. A questão é que The Abominable Bride homenageia o Sherlock vitoriano de Conan Doyle de maneira prodigiosa, com toda aquela atmosfera sombria e mofo que eu tanto sentia falta, enquanto nos prepara para a quarta temporada com estilo, classe e com promessas de uma vindoura belíssima nova temporada onde, se Deus quiser, teremos muitas surpresas e reviravoltas e que eu mal posso esperar para conferir no ano que vem.

Sherlock 4x00: The Abominable Bride (2016)
Título em português BR: A Noiva Abominável

Direção: Douglas Mackinnon
Produção: Sue Vertue, Beryl Vertue, Mark Gatiss, Steven Moffat, Rebecca Eaton, Bethan Jones, Diana Barton
Roteiro: Mark Gatiss, Steven Moffat (baseado nas histórias e personagens de Sir Arthur Conan Doyle)
Trilha sonora: David Arnold, Michael Price

Estrelando: Benedict Cumberbatch, Martin Freeman, Una Stubbs, Rupert Graves, Mark Gatiss, Andrew Scott, Louise Brealey, Amanda Abbington, Jonathan Aris, Yasmine Akram, David Nellist, Catherine McCormack, Tim McInnerny, Natasha O'Keeffe, Tim Barlow, Gerald Kyd, Daniel Fearn, Stephanie Hyam, Damian Samuels, Charles Furness, Adam Greaves-Neal, Richard Sutton, Ben Crowe, Nik Davies, Anthony Farrelly, Sophie Slavin, Clem So

Trailer:

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