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Remake de The Lion King não faz feio, mas é mal-cozido e bem inferior à história original de 1994.
Título brasileiro: O Rei LeãoRemake de The Lion King não faz feio, mas é mal-cozido e bem inferior à história original de 1994.
Direção: Jon Favreau
Vozes originais: Donald Glover, JD McCrary, James Earl Jones, Beyoncé Knowles, Shahadi Wright Joseph, Chiwetel Ejiofor, Alfre Woodard, John Oliver, John Kani, Billy Eichner, Seth Rogen, Eric André, Florence Kasumba, Keegan-Michael Key, Amy Sedaris, J. Lee, Penny Johnson, Chance the Rapper, Josh McCrary, Phil LaMarr
Antes de mais nada pessoal, vou fazer este parágrafo inicial e escrever essas linhas aqui sem ter visto o filme ainda. Portanto, terminado este parágrafo, no próximo, eu já assisti o filme e estarei falando sobre ele. Quero fazer isso para garantir a isenção e o distanciamento necessários do que vou falar agora, que é o seguinte: como é meu tratamento com remakes? Eu respondo: para mim, é outro filme, completamente diferente do original. "Ain, mas a história é a mesma e a ideia é a mesma". Sim, pode até ser, mas a execução não é! Então, quando estiverem lendo o que achei sobre esta nova versão, tenham isto em mente: este NÃO É o Rei Leão original. Eu já falei sobre ele ontem, hoje eu vou falar sobre o REMAKE. Remake, refilmagem, reinterpretação, como quiser chamar, e por isso, minha avaliação será diferente e distinta da avaliação que eu dei para o original, ok? Vou analisar este remake do filme como se fosse qualquer outro filme, claro, até vou fazer comparações com o original, muitas comparações inclusive, porque não tem jeito de escapar disso, mas fora isso, é outro filme e não deve ser visto do mesmo jeito que a obra original de 1994. Então vamos lá, no parágrafo seguinte, eu já fui ao cinema e já vi o filme.
Bom, vamos lá. O novo "Rei Leão" pra começar, não é um filme ruim. Todas as características da história original do filme de 1994 foram plenamente mantidas. Nenhum personagem foi mudado, nenhum conceito foi alterado, nenhum tema foi removido ou adicionado. É um remake, portanto, que mantém a essência do original intacto, e por isso não mancha a reputação do original, mas o enaltece.
Só que este remake tem falhas que eu como fã da história original simplesmente não posso deixar passar, e que me fizeram chegar na nota que eu dei para ele. Como eu disse no parágrafo de início, este é um outro filme, completamente diferente do original, e que vai portanto te dar emoções e sensações diferentes.
Eu falei do que o remake mantém. Vamos mais fundo nisso. Temos então o patriarca monarca cujo filho vai herdar o trono, temos os elementos que caracterizam a inspiração em Hamlet, temos o herdeiro do trono, o Simba se perdendo no meio da história, achando os seus futuros amigos, voltando para a sua casa, enfrentando os fantasmas do seu passado e finalmente triunfando e tomando seu lugar ao sol. Temos todas aquelas lições sobre respeito aos seus pais, sobre deixar as coisas e problemas nas mãos de apenas uma pessoa numa autocracia que poderá levar um povo à fome e à miséria, sobre responsabilidades e sobre não fugir delas. Como podem ver, a essência da história está intacta, e nisso o Jon Fravreau teve êxito.
Mas ele errou em pontos importantes que limaram todo potencial do remake. The Lion King é o caso típico em que uma animação jamais pode ser passada para o live action sem o devido cuidado.
Aliás, eu sou a favor de certos filmes e produções clássicas serem tombadas como patrimônio, para que nunca sejam mexidas, e a história de Simba é uma delas.
Mas enfim, vamos falar do fotorrealismo. GRANDE ERRO! Perdeu-se toda emoção passada pelos personagens da história. Já ouvi gente dizer que nos desenhos os animais tem olhos humanos, ora, mas é claro! Nós estamos transportando a nossa identidade humana para uma fábula, uma produção com animais, nada mais lógico que os animais terem características humanas. Agora, quiseram manter os olhos de animais, ótimo, maravilha, mas por que eu vejo Guardians of the Galaxy, e lá tem o Rocket Raccoon com aparência de animal fotorrealista e demonstrando plenamente suas emoções, e aqui não? Me desculpem, ficou estranho. Os personagens falam, mas é aquela secura de sentimentos.
Quando eu vejo, por exemplo, o original, na parte em que o Mufasa vai salvar o Simba no vale das hienas, você vê aquela expressão sisuda e séria do Mufasa, a testa franzida, indicando que ele está puto. Quando você vê a pegada funda do Mufasa no chão, você tem a certeza do quanto o leão está irado com o filho que o desobedeceu, então aquela pegada funda faz todo sentido pra você; só que aqui, você não consegue sentir nada disso, e isso é por causa da secura de expressões que se vê na face dos animais fotorrealistas.
Mais estranho ainda ficaram as músicas aliadas às cenas. Exceto pela abertura do filme, "Circle of Life", que é filmada frame a frame se comparada à original, e também à música "The Lion Sleeps Tonight", o restante ficou medíocre! Cadê aquele espetáculo visual, os animais levantando Simba e Nala, as coreografias em "I Just Can't Wait to Be King", que era tão bonito de se ver, os elefantes, as girafas, os tamanduás, todos rodopiando, dançando, girando numa coreografia vibrante, levantando Simba e Nala, cadê? Cadê aquela sequência contagiante quando cantam "Hakuna Matata"? Cadê "Be Prepared", meu Deus do céu??? Limaram o trabalho primoroso que foi feito no original! Se trabalhava até com as cores durante este número de Scar, onde está todo este trabalho? Não tem aqui! Decepcionante.
Tem mais. Me desculpem, é um filme diferente do original, eu sei, mas a gente que sabe o original de trás pra frente sente que faltou. Uma das cenas mais importantes da sequência em que Rafiki acha Simba, na minha opinião, era a cajadada na cabeça que o babuíno dava no leão. Quem se lembra do original, Simba havia visto seu pai (neste remake Mufasa nem aparece nos céus), e Rafiki volta e conversa com Simba, e Simba vai ficando meio murcho e reflexivo, até que Rafiki o desperta do transe com uma paulada na cabeça, pra ensinar uma das mais importantes lições: "o passado pode doer, mas do modo que eu vejo, você pode fugir dele, ou aprender com ele". Isso é importantíssimo, porque justifica a volta de Simba à Pedra do Rei. Aqui no remake, essa sequência foi limada, retirada. Não tem. É uma pena. Fiquei esperando por ela, e a tiraram.
E quanto ao humor, hein! Este filme é muito mais carrancudo do que o original. Já não chega os animais não expressarem-se facialmente, então some-se aquele sorriso contagiante de Rafiki, aquela franzida de testa e austeridade de Mufasa, a malícia de Scar, e todo o resto. Para piorar, removem cenas que aquecem o coração, como o abraço de Rafiki e Mufasa, quando vai apresentar Simba, as piadinhas de Zazu que dava aquela leveza no coração que a produção precisava para não se levar tão à sério (e é por isso que a gente leva ela à sério), A DANCINHA HULA-HULA DO TIMON, meu Deus, eu queria ver aquela dancinha no meio de tanto fotorrealismo, e eles a tiraram!
Gente, olha, me desculpem, mas não tem como a gente olhar para um filme desses sem fazer tais comparações! São coisas que nos conquistaram quando moleques, que agarraram nossas atenções, momentos que a gente tem na memória e que estão cimentados em nosso imaginário. Agora, você imagina alguém que nunca na vida viu o filme original, vê agora com essa versão mal-cozida, e eu pergunto: será que quando este remake acabar este alguém vai sentir aquela emoção tal, que a gente sente, que deixa nós com a garganta presa, parecendo que cortamos cebola, que deixa a gente rindo, gargalhando, será que vão lembrar do Hakuna Matata? Do ciclo da vida? E de outros tantos momentos belíssimos que a animação nos proporcionou? Eu sinceramente duvido.
Então, essa é minha avaliação. Embora eu tenha gostado de não terem mudado os temas, conceitos, etc, embora eu tenha gostado de terem mantido as mesmas músicas, embora eu tenha até mesmo gostado de ouvir a música-tema do segundo filme de 1998 no meio dos créditos finais, mas aqueles erros para mim foram coisas que eu não posso aceitar e deixar barato. Sei que o John Favreau se esforçou para fazer o melhor que podia, mas no fim das contas, não havia muito o que fazer mesmo. Você tinha uma Ferrari, e você fez um genérico da Ferrari. Funciona? Sim, funciona bem parecido com a Ferrari original, mas não é a mesma coisa. The Lion King, o original de 1994 é um filme perfeito, irretocável, não tem como melhorá-lo. Ele é a Ferrari, e sempre será. Ponto final. Assista este remake por sua conta e risco, e talvez você possa até gostar dele, eu não disse que não gostei, no final, eu até saí satisfeito de não terem mudado coisas demais nele, mas me desculpem, eu tenho uma Ferrari em casa, o DVD do filme original de 1994, e é esta a história que eu mostrarei para a minha filha conhecer. Amo muito ela para lhe dar a opção genérica, por mais que tenham se esforçado em criá-la. É isto.
Bom, vamos lá. O novo "Rei Leão" pra começar, não é um filme ruim. Todas as características da história original do filme de 1994 foram plenamente mantidas. Nenhum personagem foi mudado, nenhum conceito foi alterado, nenhum tema foi removido ou adicionado. É um remake, portanto, que mantém a essência do original intacto, e por isso não mancha a reputação do original, mas o enaltece.
Só que este remake tem falhas que eu como fã da história original simplesmente não posso deixar passar, e que me fizeram chegar na nota que eu dei para ele. Como eu disse no parágrafo de início, este é um outro filme, completamente diferente do original, e que vai portanto te dar emoções e sensações diferentes.
Eu falei do que o remake mantém. Vamos mais fundo nisso. Temos então o patriarca monarca cujo filho vai herdar o trono, temos os elementos que caracterizam a inspiração em Hamlet, temos o herdeiro do trono, o Simba se perdendo no meio da história, achando os seus futuros amigos, voltando para a sua casa, enfrentando os fantasmas do seu passado e finalmente triunfando e tomando seu lugar ao sol. Temos todas aquelas lições sobre respeito aos seus pais, sobre deixar as coisas e problemas nas mãos de apenas uma pessoa numa autocracia que poderá levar um povo à fome e à miséria, sobre responsabilidades e sobre não fugir delas. Como podem ver, a essência da história está intacta, e nisso o Jon Fravreau teve êxito.
Mas ele errou em pontos importantes que limaram todo potencial do remake. The Lion King é o caso típico em que uma animação jamais pode ser passada para o live action sem o devido cuidado.
Aliás, eu sou a favor de certos filmes e produções clássicas serem tombadas como patrimônio, para que nunca sejam mexidas, e a história de Simba é uma delas.
Mas enfim, vamos falar do fotorrealismo. GRANDE ERRO! Perdeu-se toda emoção passada pelos personagens da história. Já ouvi gente dizer que nos desenhos os animais tem olhos humanos, ora, mas é claro! Nós estamos transportando a nossa identidade humana para uma fábula, uma produção com animais, nada mais lógico que os animais terem características humanas. Agora, quiseram manter os olhos de animais, ótimo, maravilha, mas por que eu vejo Guardians of the Galaxy, e lá tem o Rocket Raccoon com aparência de animal fotorrealista e demonstrando plenamente suas emoções, e aqui não? Me desculpem, ficou estranho. Os personagens falam, mas é aquela secura de sentimentos.
Quando eu vejo, por exemplo, o original, na parte em que o Mufasa vai salvar o Simba no vale das hienas, você vê aquela expressão sisuda e séria do Mufasa, a testa franzida, indicando que ele está puto. Quando você vê a pegada funda do Mufasa no chão, você tem a certeza do quanto o leão está irado com o filho que o desobedeceu, então aquela pegada funda faz todo sentido pra você; só que aqui, você não consegue sentir nada disso, e isso é por causa da secura de expressões que se vê na face dos animais fotorrealistas.
Mais estranho ainda ficaram as músicas aliadas às cenas. Exceto pela abertura do filme, "Circle of Life", que é filmada frame a frame se comparada à original, e também à música "The Lion Sleeps Tonight", o restante ficou medíocre! Cadê aquele espetáculo visual, os animais levantando Simba e Nala, as coreografias em "I Just Can't Wait to Be King", que era tão bonito de se ver, os elefantes, as girafas, os tamanduás, todos rodopiando, dançando, girando numa coreografia vibrante, levantando Simba e Nala, cadê? Cadê aquela sequência contagiante quando cantam "Hakuna Matata"? Cadê "Be Prepared", meu Deus do céu??? Limaram o trabalho primoroso que foi feito no original! Se trabalhava até com as cores durante este número de Scar, onde está todo este trabalho? Não tem aqui! Decepcionante.
Tem mais. Me desculpem, é um filme diferente do original, eu sei, mas a gente que sabe o original de trás pra frente sente que faltou. Uma das cenas mais importantes da sequência em que Rafiki acha Simba, na minha opinião, era a cajadada na cabeça que o babuíno dava no leão. Quem se lembra do original, Simba havia visto seu pai (neste remake Mufasa nem aparece nos céus), e Rafiki volta e conversa com Simba, e Simba vai ficando meio murcho e reflexivo, até que Rafiki o desperta do transe com uma paulada na cabeça, pra ensinar uma das mais importantes lições: "o passado pode doer, mas do modo que eu vejo, você pode fugir dele, ou aprender com ele". Isso é importantíssimo, porque justifica a volta de Simba à Pedra do Rei. Aqui no remake, essa sequência foi limada, retirada. Não tem. É uma pena. Fiquei esperando por ela, e a tiraram.
E quanto ao humor, hein! Este filme é muito mais carrancudo do que o original. Já não chega os animais não expressarem-se facialmente, então some-se aquele sorriso contagiante de Rafiki, aquela franzida de testa e austeridade de Mufasa, a malícia de Scar, e todo o resto. Para piorar, removem cenas que aquecem o coração, como o abraço de Rafiki e Mufasa, quando vai apresentar Simba, as piadinhas de Zazu que dava aquela leveza no coração que a produção precisava para não se levar tão à sério (e é por isso que a gente leva ela à sério), A DANCINHA HULA-HULA DO TIMON, meu Deus, eu queria ver aquela dancinha no meio de tanto fotorrealismo, e eles a tiraram!
Gente, olha, me desculpem, mas não tem como a gente olhar para um filme desses sem fazer tais comparações! São coisas que nos conquistaram quando moleques, que agarraram nossas atenções, momentos que a gente tem na memória e que estão cimentados em nosso imaginário. Agora, você imagina alguém que nunca na vida viu o filme original, vê agora com essa versão mal-cozida, e eu pergunto: será que quando este remake acabar este alguém vai sentir aquela emoção tal, que a gente sente, que deixa nós com a garganta presa, parecendo que cortamos cebola, que deixa a gente rindo, gargalhando, será que vão lembrar do Hakuna Matata? Do ciclo da vida? E de outros tantos momentos belíssimos que a animação nos proporcionou? Eu sinceramente duvido.
Então, essa é minha avaliação. Embora eu tenha gostado de não terem mudado os temas, conceitos, etc, embora eu tenha gostado de terem mantido as mesmas músicas, embora eu tenha até mesmo gostado de ouvir a música-tema do segundo filme de 1998 no meio dos créditos finais, mas aqueles erros para mim foram coisas que eu não posso aceitar e deixar barato. Sei que o John Favreau se esforçou para fazer o melhor que podia, mas no fim das contas, não havia muito o que fazer mesmo. Você tinha uma Ferrari, e você fez um genérico da Ferrari. Funciona? Sim, funciona bem parecido com a Ferrari original, mas não é a mesma coisa. The Lion King, o original de 1994 é um filme perfeito, irretocável, não tem como melhorá-lo. Ele é a Ferrari, e sempre será. Ponto final. Assista este remake por sua conta e risco, e talvez você possa até gostar dele, eu não disse que não gostei, no final, eu até saí satisfeito de não terem mudado coisas demais nele, mas me desculpem, eu tenho uma Ferrari em casa, o DVD do filme original de 1994, e é esta a história que eu mostrarei para a minha filha conhecer. Amo muito ela para lhe dar a opção genérica, por mais que tenham se esforçado em criá-la. É isto.
The Lion King (2019)
Produção: Jon Favreau, Karen Gilchrist, Jeffrey Silver, John Bartnicki, Thomas Schumacher
Roteiro: Jeff Nathanson, Brenda Chapman (baseado em personagens e história criados por Irene Mecchi, Jonathan Roberts, Linda Woolverton, Burny Mattinson, Barry Johnson, Lorna Cook, Thom Enriquez, Andy Gaskill, Gary Trousdale, Jim Capobianco, Kevin Harkey, Jorgen Klubien, Chris Sanders, Tom Sito, Larry Leker, Joe Ranft, Rick Maki, Ed Gombert, Francis Glebas, Mark Kausler, J.T. Allen, George Scribner, Miguel Tejada-Flores, Jenny Tripp, Bob Tzudiker, Christopher Vogler, Kirk Wise, Noni White, Brenda Chapman)
Trilha sonora: Hans Zimmer, Elton John
Trailer:
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