Tuesday, July 23, 2019

FILME: The Lion King

10 / 10
Eu voltei atrás numa decisão que eu havia feito. Então decidi que sim, vou me render ao remake do clássico. Mas continuo mantendo minha posição de que não precisava fazer. Mas vou assistir. Só que antes, uma palavrinha sobre a obra-prima fonte.

Confira minha opinião!

Título brasileiro: O Rei Leão
Direção: Roger Allers, Rob Minkoff
Vozes originais: Matthew Broderick, Jonathan Taylor Thomas, Joseph Williams, Evan Saucedo, Jason Weaver, James Earl Jones, Madge Sinclair, Rowan Atkinson, Niketa Calame-Harris, Jeremy Irons, Moira Kelly, Robert Guillaume, Jim Cummings, Whoopi Goldberg, Cheech Marin, Nathan Lane, Ernie Sabella, Zoe Leader, Frank Welker, Jack Angel, Michael Bell


"O coração de O Rei Leão é a verdade, o alimento é a moral, o veículo são os pais, o corpo são os filhos, e a força é a razão."

O autor desse epigrama sou eu mesmo. 😁 Pode reproduzir, se quiser. Fica aí em cima como o epigrama do meu texto, porque abaixo, eu vou PROVAR a você que ele é verdadeiro. Fiz a afirmação, agora cabe a mim comprová-la.

E o que eu quis dizer com esse singelo epigrama, é muito simples: todos os pais, independente de lugar, condição social, raça, cor, credo, religião, e o que for, tem a obrigação moral de assistir O Rei Leão com seus filhos pequenos quantas vezes forem possíveis, até que as lições, falas e canções do filme estejam plenamente memorizadas.

E, para um absoluto fã desta animação como eu, que assistiu o filme no ano de sua estreia nos cinemas, teve o VHS do filme e guarda com carinho uma cópia em DVD, e anos depois assistiu de novo em uma reexibição com minha esposa no Cinemark, nada mais fácil do que provar isso.

Antes, um histórico. The Lion King foi lançado em 1994, e foi um daqueles filmes que definiu o antes e o depois da Disney. Por quê? Porque a Disney vinha de uma safra bem fraca de animações e filmes. Precisava se reinventar. Então alguém da Disney, provavelmente depois de ter lido Hamlet, de Shakespeare, ou até talvez depois de ter visto o seriado japonês ジャングル大帝 (Kimba, o Leão Branco) ou não, mas isso é algo que provavelmente nunca saberemos, teve essa ideia brilhante de fazer uma animação séria que destoava totalmente do estilo princesa encantada que reinava na Disney até aquele momento. Nascia então, esta animação que é uma verdadeira obra-prima de todos os tempos, imortal, atemporal e magnífica.

A história você conhece, é sobre um leãozinho chamado Simba (Matthew Broderick), que é filho do rei Mufasa (James Earl Jones), que governa todo o reino natural que vemos no filme, e tem sua esposa Sarabi (Madge Sinclair) e o conselheiro Zazu (Rowan Atkinson), além de um babuino shaman, Rafiki (Robert Guillaume). Simba tem um tio chamado Scar (Jeremy Irons), que tem três hienas de comparsas e que planeja tomar o reino de Mufasa e se tornar o rei por imposição, expulsando Simba de lá.

Simba, por sua vez, é um leãozinho muito ativo, curioso, aventureiro, e que tem uma amiga chamada Nala (Moira Kelly), seu futuro interesse romântico no filme, e o resto não é spolier pra ninguém. Mufasa é morto por Scar em um estampido, Simba foge, conhece Timon e Pumbaa (Nathan Lane e Ernie Sabella), aprende a filosofia do Hakuna Matata e não quer mais voltar. Ele cresce por lá, até chegar à idade adulta, e depois, convencido por Rafiki, ele volta à Pedra do Rei, enfrenta Scar e as hienas, reclama seu reino por direito e vira o novo rei.

Tudo isso regado à uma trilha sonora inesquecível de Hans Zimmer e Elton John, com músicas sensacionais, entre as minhas favoritas, "Circle of Life", "Be Prepared" e "Can You Feel The Love Tonight", além de um trabalho de ambientação e animação primoroso, o melhor da Disney até aquele momento, tão elogiado e cultuado que é referência até hoje. 

E como todo mundo conhece a história, e eu não dei spoiler pra ninguém, até porque, convenhamos, 25 anos já é um tempo mais do que suficiente para se ver um filme, vou me ater a aspectos da animação que considero essenciais para que ela seja uma verdadeira obra-prima e justificar meu epigrama acima. E eu não estou falando apenas em repetir o que os próprios criadores disseram, sobre ser inspirado em "Bambi", ou coisa parecida, mas de coisas um pouco mais aprofundadas.

O filme é claramente inspirado em Hamlet, afinal temos um príncipe cujo pai morreu, temos um tio malvado que induz o sobrinho ao exílio, temos temas de traição, fidelidade, vingança e responsabilidade, e também há a grande semelhança de tanto Hamlet quanto Simba verem seus pais como espíritos após a morte.

Mas é claro, as semelhanças são temáticas porque Hamlet é uma tragédia, mas a moral de The Lion King vai por outro caminho. E essa explicação eu deixo para o final, pois... hehehe, faz parte do meu epigrama.

Enfim, há muitas e muitas maneiras de relacionar os temas e histórias do filme, poderíamos fazer analogias relacionadas à própria Bíblia nesta animação, por exemplo. E isso é espantoso para uma produção de 1994, porque ninguém imaginava que a Disney iria assim tão longe após tanto tempo às voltas com princesas.

Podemos pensar então nos livros do Gênesis, onde vemos a história de Moisés salvando a Criação da catástrofe, ou mesmo as histórias do rei Davi no livro de Samuel, envolvendo o rei Saul e o gigante Golias, e não pára no Antigo Testamento. Peguemos o rei Mufasa, pra começar. Figura respeitada, líder de um reinado, justo, correto, firme, corajoso e valente: o que acontece com ele? Morre, em uma das cenas mais impactantes e traumáticas da história das animações da Disney, algo que me leva às lágrimas até hoje, pois não existe nada mais triste para uma criança que ver seu pai morto. Mufasa é sacrificado por ação de Scar. Temos então em Mufasa a figura de Deus e de Jesus Cristo. O Pai e o Cordeiro, e porque não, aproveitando da representação, o Leão de Judá, como citado no Livro do Apocalipse.

Apenas um parêntesis aqui: se você é cético e crê que eu exagerei, que a intenção do filme não foi necessariamente fazer uma referência a Deus, ou a Cristo com o leão Mufasa apenas com base na cena em que Simba fala com ele neste filme, peço que assista à sequência que saiu direto em vídeo, The Lion King II: Simba's Pride, somente a cena que abre a animação, e depois pense a respeito e tire suas conclusões. Eu não vou dizer nada, apenas assista e reflita. Voltando.

E Simba? Oras, Simba pode ser eu, você, qualquer pessoa, pois pessoas são fracas, más por natureza, e cometem muitos erros por inocência e ignorância do que vem a ser o bem. Simba era arteiro, faceiro, e "o que queria mais era ser rei" como diz a canção, ou seja, ele observava muito em seu pai as características suporte, o que iria garantir a ele a respeitabilidade dentro daquele ambiente hostil, como a juba, a força física, a posição de um líder supremo, etc, ele queria o prestígio e por isso se metia em confusões, mas tinha um guia em seu pai quando este estava vivo para não deixá-lo desviar do bom caminho; mas depois que Mufasa morre, Simba até chega a se esquecer do próprio pai e de seu reinado, aquela imagem de força e austeridade desaparece, e ele acaba abraçando a filosofia de Timon e Pumbaa, o Hakuna Matata, para só depois levar uma "pancada" na cabeça e voltar à razão. Então, a dor que ele tinha anestesiado com um "dipirona" para esquecer seu sofrimento volta de novo, e ele vê seu pai entre as nuvens, como se Cristo descesse dos céus para guiar seu rebanho, ou como Deus guiando Moisés na história do Gênesis, e assim ele percebe suas responsabilidades e volta à Pedra do Rei.

Só que o que acontece com Simba é muito mais do que uma revelação. Simba entende que o que ele via em seu pai quando garoto era somente o quanto ele era forte fisicamente e metia medo em certas criaturas, mas não entendia a inteligência emocional que fazia com que Mufasa pudesse lidar com problemas, prover para sua família, manter os perigos distantes de seu reino (incluindo as hienas) e até mesmo dar uma bela dura em seu filho para logo depois demonstrar o amor e a compaixão digna dos reis para ensinar e liderar. E Simba finalmente entende este propósito quando volta à Pedra do Rei e vê aquele ambiente, antes verde, alegre e harmonioso, agora cinza, desolado e hostil.

E Scar então! Este você diria, pela lógica, que representa o capeta, o tinhoso, o mal, certo? Sim, mas se quiser, podemos dar outros nomes: Hitler, Stalin, ou mesmo qualquer ditador autoritário que já vimos na vasta história, e isso é muito bem representado na sequência da música "Be Prepared", fazendo até mesmo referência ao nazismo, quando vemos o exército de hienas marchando por Scar. Pense nessas hienas como qualquer aproveitador que esteja apenas interessado em seu próprio benefício, rindo da cara dos justos; elas bajulam, por interesse, um ditador que conta mentiras e faz com que todos dependam dele, e essa ação acaba levando um povo inteiro à fome, à miséria e à destruição. É impressionante a semelhança de The Lion King até mesmo com o nosso próprio mundo. E ver Scar sendo malicioso, perverso, fingindo um bom-mocismo que não existe em meio ao seu exército de histéricos, nos faz lembrar de muita porcaria que já vimos neste mundo, não é verdade? Até porque o mal em si não possui forma, e por isso não pode nos ferir fisicamente, mas pode dar ideias. E Scar é cheio delas.

O que nos traz ao meu epigrama inicial e à moral que o filme ensina aos pequenos, e que assim o faz ser uma história épica, emocionante, "perfeita em todos os sentidos" como diria Mary Poppins.

A começar pelo respeito aos pais. Ainda que eu tenha sido avesso à ideia de um remake, digo que a história de Simba se faz necessária hoje, mais do que em qualquer outra época. Vemos famílias todas em frangalhos. O filme mostra o que é um pai de verdade: protetor, sábio, chefe da prole, valente, imponente, inspirador, piedoso e duro com seus filhos quando precisa ser. Não violento; mas firme, ensinando a eles o caminho correto que devem trilhar. Liderando eles, nunca os menosprezando.

Também mostra brevemente o que é uma verdadeira mãe, na figura de Sarabi: lúcida, fiel a seu esposo, carinhosa, amorosa, protetora, guardiã de sua prole JUNTO ao seu esposo, nunca separada, nunca distante, nem acima dele, nem abaixo dele; guardiã emocional e moral. Bastião, suporte, cajado, projenitora e defensora do legado de sua família. Repare na cena em que ela confronta o "rei" Scar e em nenhum momento se dobra a ele.

O filme ensina que a vida pode ser boa, mas não um mar de rosas. Que conquistas e vitórias se dão com muita batalha, suor, e determinação. Que as nossas responsabilidades não vão sumir de nossa vista só porque tocamos o Hakuna Matata e fugimos delas. Que se esquecemos as nossas origens, a nossa descendência, ou a nossa própria identidade, então não somos dignos, mas somos se assumimos as nossas responsabilidades, se lutarmos por aquilo que é verdadeiro e bom, e se tivermos a consciência de que viver significa sofrer, lutar, chorar, derramar sangue, ver nossos entes queridos partirem, e sabermos a hora de assumir seus lugares como herdeiros dignos de suas existências no inacabável ciclo da vida.

Veja quantas coisas que podemos tirar desta maravilhosa história. E por isso, eu repito abaixo o meu epigrama declarando que o provei, e recomendo que você assista e apresente ela a seus filhos e netos. É uma história atemporal, com lições essenciais a todos os seres humanos, e ao mesmo tempo divertida. E Timon e Pumbaa, sendo os dois andarilhos bonachões que todos conhecemos e gostamos, garantem nossa diversão, como bons amigos e menestréis que alegram o nosso reino! A vida é dura, mas nem tudo tem que ser tão sério, há momentos que tudo que precisamos é um bom "Hakuna Matata... é lindo dizer... Hakuna Matata... se vai entendeeeer..."

"O coração de O Rei Leão é a verdade, o alimento é a moral, o veículo são os pais, o corpo são os filhos, e a força é a razão."

The Lion King (1994)

Produção: Don Hahn, Alice Dewey Goldstone, Sarah McArthur, Thomas Schumacher
Roteiro: Irene Mecchi, Jonathan Roberts, Linda Woolverton, Burny Mattinson, Barry Johnson, Lorna Cook, Thom Enriquez, Andy Gaskill, Gary Trousdale, Jim Capobianco, Kevin Harkey, Jorgen Klubien, Chris Sanders, Tom Sito, Larry Leker, Joe Ranft, Rick Maki, Ed Gombert, Francis Glebas, Mark Kausler, J.T. Allen, George Scribner, Miguel Tejada-Flores, Jenny Tripp, Bob Tzudiker, Christopher Vogler, Kirk Wise, Noni White, Brenda Chapman
Trilha sonora: Hans Zimmer, Elton John

Dublagem em português BR: Garcia Júnior, Patrick de Oliveira, Paulo Flores, Jorgeh Ramos, Maria Helena Pader, Carla Pompílio, Roberta Madruga, Pádua Moreira, Mauro Ramos, Pedro Lopes, Pietro Mário, Carmem Sheila, Hércules Franco

Outros filmes desta cinessérie:
- The Lion King 1½ (O Rei Leão 3: Hakuna Matata) (2004)
- The Lion King II: Simba's Pride (O Rei Leão 2: O Reino de Simba) (1998)
The Lion King (O Rei Leão) (1994)

Trailer original:


Trailer dublado:

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