Friday, July 12, 2019

MATÉRIA: Homenagem a Paulo Antonio P.A. Pagni, do RPM

Hoje vamos falar de um cara mais simples e discreto. Amanhã é o dia mundial do Rock. Para fazer a devida justiça, vou falar do P.A., que foi o baterista do RPM. Só que não há muito a falar dele em si, como pessoa, a não ser o pouco que é conhecido: filho de farmacêutico, estudou nos EUA, voltou ao Brasil e fundou um estúdio, foi integrante do RPM entre entradas e saídas da banda, e essa é a história.

Basicamente a carreira dele se concentra no RPM, e um pouco numa banda chamada PR.5, que foi uma banda que o Paulo Ricardo teve por um tempo. Teve também duas bandas praticamente obscuras, a sua própria, e uma chamada Kokamonga, mas pouco se ouviu delas.

Rádio Pirata ao vivo (1986)
Desta forma, vale mais se eu falar daquelas obras em que ele esteve envolvido e que me marcaram muito. A primeira delas, foi quando eu era bem pequeno, uns 8 ou 9 anos de idade. Era o disco Rádio Pirata ao Vivo, do RPM, lançado em 1986, logo depois do primeiro disco deles fazer sucesso. Tenho o vinil desse disco aqui em casa até hoje, e funcionando. Na época, disse aos meus pais que eu queria um disco de Rock, e eles me levaram na loja de discos. Vi esse disco de fundo preto com a caveira, e quis pegar ele. Sim, foi por causa da caveira! Cabeça de moleque. Achava que só poderia ser uma coisa muito doida, tendo uma caveirona na capa, então escolhi ele.

Aí eu me pegava escutando aquilo sem parar! Ouvia "Revoluções Por Minuto" repetidamente e me maravilhava. A introdução dela neste disco eu ainda acredito ser a melhor introdução de um show de Rock brasileiro. Começa com aquele tecladinho espacial do Luiz Schiavon, depois o Pagni puxa na batera aquele bumbo de trovão com aquela batida arrastada, um som realmente magnético. Eu gosto demais daquilo. Pra mim ainda é um dos melhores momentos de uma banda de Rock brasileira, e a música em si também é poderosa, e bastante atual. Outros clássicos, como "Alvorada Voraz", "Olhar 43", "Flores Astrais", e a música final, "Rádio Pirata", também me marcaram, e este último então era um momento muito fera. O momento em que o Paulo Ricardo apresentava a banda, e cada um tinha seu espaço lá pra brilhar, e ele chamava "e na guitarra... Fernando... Deluqui... uuhh!", logo depois, "nos teclados... Luiz... Schia-von!", e finalmente chegava o momento dele... "na bateria... P.A.... Paulo... Pagni!" Era um negócio de outro mundo, e a gente gostava, ouvia repetidas vezes! Era moda.

O pessoal que segue as tendências de hoje talvez jamais entenda o quanto isso era legal, parecia que você estava em outra dimensão onde tudo era mais foda. Algo que se perdeu hoje em dia. Eu vejo isso quando eu observo uma menina como a minha filha, de quase 3 anos, ouvindo esse vinil com o paizão aqui, e mexendo as perninhas no meu colo, depois girando no chão ao som daquele ritmo bacana, as crianças, elas sentem quando rola uma atmosfera diferente e magnética como aquela, que te puxa para dentro do espetáculo. Depois você tenta dar pra elas algo que seja menos do que isso, elas tendem a rejeitar. É o processo natural. Coloque as suas crias num bom caminho, e elas nunca vão se desviar dele. Esses "bailes" aí que certas pessoas curtem hoje em dia não tem a menor chance contra um showzasso de Rock como esse do RPM.

Revoluções por Minuto (1985)
Mas enfim, tem também os três discos de estúdio que o Pagni gravou com o grupo. O primeiro, Revoluções Por Minuto, de 1985, é um clássico do Rock brazuca que eu acho que todos deveriam ouvir. Tem ótimas composições, desde as ótimas "Rádio Pirata" e "Olhar 43", passando pela divertida "A Fúria do Sexo Frágil Contra o Dragão da Maldade", até músicas mais elaboradas, como "P'resse Vício", "Liberdade / Guerra Fria" e "Sob a Luz do Sol". É um trabalho realmente interessante e bem escrito. O Pagni não era ainda membro oficial do grupo, mas ele grava esse disco aqui com o coração, só não participa das gravações de duas músicas: "Louras Geladas" e "Revoluções Por Minuto", essas o Schiavon põe a drum-machine para fazer os ritmos, mas ao vivo, Pagni vai lá e arrebenta, dando vida a esses ritmos das gravações.

RPM (1988)
No segundo álbum que a banda lançou em 1988, o Pagni já era membro efetivo e participava até dos processos de composição; este segundo disco também é bem legal, e para mim, fecha a época boa do RPM. O disco é simplesmente chamado de RPM, mas muita gente também o conhece como Quatro Coiotes, o que eu acho bem mais apropriado. Não é um disco tão bom quanto o primeiro, mas é bom o bastante, e tem sons que eu acho bacanas, como "Quatro Coiotes", "A Dália Negra", "Ponto de Fuga", "Sete Mares" e "Quarto Poder". É um disco que ainda tem aquela chama criativa dos anos 80 e que você reconhece de cara como um disco do RPM, sem forçação de barra, sem distorções, sem essa contaminação que tem hoje em dia. É aquele som que você identifica como o som que o RPM criou e que os fizeram famosos. O Pagni também está dando um show aqui neste disco, tecnicamente ainda mais do que no primeiro até pela maior liberdade, mas as músicas clássicas ainda estão no primeiro disco mesmo.

Elektra (2011)
E eu prefiro parar por aqui. Lamento muito que o P.A. tenha saído de cena agora, pois foi uma força musical muito grande e que influenciou bastante o período que eu fui moleque e que estava descobrindo aquela coisa toda de Rock'n'Roll. Após esse período oitentista, o Pagni esteve envolvido na volta do RPM original, lançou lá com seus antigos amigos um disco chamado Elektra em 2011, mas aquela aura original da banda já havia se dissipado, então nem convém falar desse disco aqui que eu sinceramente acho que deixou bem a desejar, até porque o Pagni é sub-aproveitado nele, então nem compensa, sendo que o intuito é homenagear uma personalidade que fez parte do início da minha vida e contribuiu para eu me reconhecer como um amante de Rock'n'Roll. Finalizo aqui esta matéria desejando ao RPM força para superar essa perda do amigo de longa data, e que encontrem o seu caminho de novo.

Um bom dia para vocês amanhã, e espero que vocês tenham curtido estas homenagens e esta semana da gente revisitando o André Matos e o P.A., e para quem não os conhecia, espero que eu os tenha ajudado a resgatar aquilo de melhor que o cenário musical brasileiro produziu para suas vidas. Feliz dia do Rock para todo mundo, e a gente se fala amanhã, na surpresa que trarei!

"na bateria... P.A.... Paulo... Pagni!"

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