Wednesday, June 17, 2015

HQ: Wolverine (Eu, Wolverine)

Quando eu penso na Marvel, eu vejo ela como aquela editora que todo mundo adora de paixão, menos eu. E não me entendam mal, não estou dizendo que eu não curto a editora, apenas que eu não morro de paixão, só isso. É bom clarificar antes que alguém aqui queira pegar no meu pé. Quando eu era moleque eu lia HQs de ambas as editoras, a DC e a Marvel, mas minha paixonite sempre acabou mesmo pendendo mais para o lado da DC, e até hoje é assim, me interesso mais pela mitologia de heróis da DC do que da Marvel. Mas eu não sou territorialista como uns doidos que aparecem por aí não. Se há uma história interessante para conferir, eu vou atrás, não importa quem publicou, a DC, a Marvel, a Vertigo, a Dark Horse, a Image... não, a Image não, vai, também não vamos extrapolar! De interessante a Image só tem o Spawn e olhe lá! Mas enfim, eu leio o que vier de bom. Aqui está, portanto uma das HQs que me marcou a memória e também a mitologia da Marvel e dos X-Men, sobre um certo baixinho canadense invocado que foi sucesso no cinema.

Você certamente já ouviu falar no Wolverine, né? NÉ? Se não ouviu, vai pesquisar, lazarento! O personagem da Marvel criado por Len Wein, Herb Trimpe e John Romita, Sr., a pedido de Roy Thomas, em 1974, não somente é um dos que mais andou fazendo sucesso nos cinemas como também, assim como o Batman na DC, é o personagem da Marvel pela qual eu mais me interesso. No arco de história que marca a estreia do baixinho com suas revistas solo em 1982, Wolvie, ou como costumamos chamá-lo, Logan, aparece envolvido com a máfia japonesa e a procura de uma donzela com quem ele se envolveu por lá. A edição brasileira deste encadernado que eu tenho em mãos saiu por aqui no Brasil com o título Eu, Wolverine. Titulozinho meia-boca, eu sei.

No início da trama, vemos Logan em uma missão nas montanhas geladas se apresentando nas narrações em off como o melhor no que faz, embora o que ele faça melhor não seja nada bonito. Vemos alguma ação nas montanhas e Logan detonando com um urso usando de suas garras de adamantium. Eu sei que é muito cedo pra isso, mas eu só quero ressaltar um negócio inconveniente aqui que Claremont faz em todo volume da revista de Wolverine; o cara fica reapresentando o personagem todo começo de história! Ô coisa chata! Porra, já deu pra entender lá no primeiro volume que ele tem fator de cura, que ele tem garras de adamantium retráteis que cortam metal feito manteiga, sentidos aguçados em relação a uma pessoa normal, instintos primitivos, que ele pode assar marshmallow numa fogueira com as garrinhas dele, etc, etc. Não precisa ficar nos relembrando disso a toda edição do arco como se fôssemos idiotas! Parece que o Claremont tá escrevendo a história para pessoas que tem Alzheimer. Mas enfim, a história é muito legal, ela bebe das influências do cinema japonês de samurais. A arte de Frank Miller aqui é soberba, com o uso de sombras e traços que evocam figuras icônicas, quem conhece o traço clássico de Miller sabe do que estou falando. Tem aquela aparência meio crua, mas ao mesmo tempo épica, com detalhes selvagens, muito como se vê nas revistas que Miller desenhou o Batman. A trama aqui é de Claremont, mas o traço é 100% milleriano.

Quando Logan está voltando para os EUA, ele recebe umas cartas que ele havia enviado para uma mulher chamada Mariko Yashida no Japão, todas seladas, mostrando que ela simplesmente não as leu. Preocupado, ele viaja para o Japão para re-encontrá-la. Aqui é onde aprendemos que Mariko foi um caso de amor que Wolvie teve algum tempo atrás, mas que por alguma razão não deu certo. Na esperança de re-encontrar seu amor perdido, Logan descobre a triste realidade de que Mariko estava casada com um cara por vontade do pai dela. Pior, o pai dela é um membro de uma prominente e influente família de mafiosos japoneses. Ele captura Logan, o derrota em uma luta e o expulsa do lugar, após ele ver Mariko com a cara e o olho roxos e o autor disso.

Logo depois, ele se encontra na rua da amargura, no meio de um bairro barra pesada e conhece uma mulher chamada Yukio, que o salva de uns sujeitos mal-encarados. Logan começa a sentir algo por Yukio, mas não consegue tirar Mariko da cabeça. Descobrimos mais tarde que Yukio é na verdade uma enviada do pai de Mariko que ele mandou para seduzir e ludibriar Logan e por fim matá-lo, mas a mulher falha na missão várias vezes, e acaba se envolvendo com o mutante. Juntos, os dois decidem invadir os aposentos de Shingen, o pai da moça que o mutante é apaixonado. Rola uma treta lá dentro, Yukio mata o marido de Mariko e Logan enfrenta Shingen e o mata. Mariko percebe os males que seu pai causava e ao invés de matar Logan para restabelecer a honra da família como era tradição, ela dá a espada de honra de Masamune para ele.

Até aqui, eu achava uma das histórias mais legais que eu já li, perfeita, bastante carregada com aquele climão de cinema japonês de samurai contendo vários temas recorrentes como honra, respeito e o caminho do guerreiro. Aliás, não foi difícil notar a referência deslavada a um dos mestres do cinema japonês em um dos painéis, quando se vê um letreiro luminoso escrito "Kurosawa", toque que deu brilho à ilustração! Mas isso até aqui, na penúltima página da porção desenhada por Frank Miller, que termina na penúmbra, com Logan e Mariko abraçados. Seria o final perfeito e a história acabaria de forma épica. Eu pessoalmente a terminaria exatamente ali, naquele ponto.

Mas, como nem tudo são flores, nos deparamos com a triste última página da história que faz a transição para a revista dos X-Men e mostra Logan escrevendo para seus amigos nos EUA para convidá-los para o casamento dele com Mariko. Eu nunca imaginei Wolvie como o tipo que escreve cartas a alguém, mas tudo bem. Na época, este arco do Wolverine foi serializado em 4 edições no mesmo ano, terminando em Dezembro. Os leitores nos EUA tiveram que esperar um ano inteiro para saber como que a coisa se concluiria na revista dos X-Men, em The Uncanny X-Men #172 e #173. Nesta altura, Frank Miller não estava mais a cargo de desenhar, passando a incumbência para Paul Smith.

A história então continua com os traços mais simplistas e a estética inferior e nada impressionante de Smith. Foi-se aquele clima épico de história japonesa da HQ do Wolverine e também foi-se o foco em Logan, tendo o mutante que dividir espaço com os outros integrantes do grupo. E não me entendam mal, eu gosto dos X-Men, mas porra, eu estava lendo uma história do Logan, tudo bem os outros entrarem na jogada agora, já que estamos na revita dos X-Men; mas não dava pra manter o foco no baixinho não? Enfim, somos apresentados ao Samurai de Prata, Víbora e Nabatone Yokuse, três vilões que, surpresa das surpresas, estão lá para caçar Wolverine, inclusive o Samurai de Prata é filho de Shingen e quer reclamar o controle sobre sua família.

A trama aqui agora fica bem confusa, com coisas de arcos dos X-Men de outras histórias entrando no meio da narrativa, como por exemplo uma richa que o Logan tem com a Vampira, um acidente de avião que Scott Summers, o Cyclop, quer desvendar, a morte da Jean Grey que culminaria com a aparição da Fênix Negra, e todo o resto dos arcos que não interessam agora nessa história, e portanto eu nem vou me aprofundar muito, vou apenas terminar a trama principal. O Logan recebe os X-Men em sua residência no Japão eles conversam, bebem, etc, etc, o Logan é atacado pelo Samurai de Prata, a Yukio reaparece e ajuda seu antigo amigo, logo mais vemos a moça disfarçada de Mariko desvendando a tramóia dos três vilões, o Logan teme um novo ataque a ele e o pessoal, então ele e a Vampira saem à caça.

A Yukio e a Tempestade tem algumas interações e também ajudam na caça aos vilões, a Tempestade fica mais rebeldinha por influência da moça, há um confronto final entre Logan e o Samurai, e tudo volta ao normal. Tem um pouco mais de blá blá blá entre os convidados do casamento e no fim das contas a Mariko se mostra uma putinha relaxada porque se decide que não vai mais se casar com o Logan porque ele não é digno. Puta que pariu! Todo esse restinho de arco jogado para o alto! Não serviu pra porcaria nenhuma, só para enrolar o leitor. Todo aquele preparativo, tudo planejado, para no final a gente ganhar um tapa na cara desses. É de cagar!

E é por essa razão que eu falei que teria parado a narrativa onde disse que pararia. Até aquele ponto, história fantástica, narrativa épica, muito legal; depois disso, só embromação. Mas, no fim das contas, eu recomendo sim a todos que vão atrás de ler este grande arco do baixinho canadense! O final decepciona um pouco e é até estranho quando se muda o traço elaborado do Miller pelo desimpressionante traço do Smith nas páginas finais, mas a jornada é cativante e bastante recompensadora. E não é assim a vida de Logan, cheia de altos e baixos? Pois é. No geral, vale a leitura.

Wolverine (Setembro/1982 - Dezembro/1982 | Agosto/1983 - Setembro/1983)
Título em português BR: Eu, Wolverine
Nº de edições: 6
Nota: 8 / 10

Editora: Marvel Comics
Formato: Minissérie
Roteiro: Chris Claremont
Desenhista: Frank Miller (Wolverine #1-4), Paul Smith (The Uncanny X-Men #172-173)
Colorista: Glynis Wein
Letrista: Tom Orzechowski
Editor: Louise Jones, Joe Quesada (Wolverine #1-4), Jim Shooter (The Uncanny X-Men #172-173)

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