Friday, April 6, 2018

NO CINEMA: Ready Player One

10 / 10
Filme novo de Steven Spielberg é uma mistura de noslatgia com novas criações, mas não novos conceitos, porém, diverte muito, entretém, e vai abalar os corações dos nerds trintões e quarentões que vieram dos anos 80.

Confira minha opinião!

Título brasileiro: Jogador Nº 1
Direção: Steven Spielberg
Estrelando: Tye Sheridan, Olivia Cooke, Ben Mendelsohn, Lena Waithe, T.J. Miller, Simon Pegg, Mark Rylance, Philip Zhao, Win Morisaki, Hannah John-Kamen, Ralph Ineson, Susan Lynch, Perdita Weeks, Sandra Dickinson, Mark Stanley, Emily Beacock, Rosanna Beacock, Gem Refoufi, Vic Chao, Clare Higgins, Joel MacCormack, Ronke Adekoluejo, Gareth Mason, Lynne Wilmot, Jayden Fowora-Knight, Gavin Marshall, Jane Leaney


Cara... nem sei por onde eu começo! Fiquei realmente sem palavras após o término deste filme! Sem palavras!

Talvez eu devesse dizer que este filme traduz a noção mais pura e verdadeira de escapismo. E olha que vivemos tempos muito difíceis de se ignorar a realidade, uma vez que até mesmo os próprios filmes a estão trazendo para a ficção também. Eu, por exemplo, que sempre fui um sujeito mais voltado ao escapismo e à ficção, ao nerdismo puro, e nunca me interessei por política e coisas assim, ando com dificuldades de ignorar o mundo ao meu redor, por mais que eu deteste o modo como as coisas se encontram e queira fugir toda semana para o cinema, para ter algumas horas de diversão e escapar desta realidade tão incômoda pelo menos por um tempinho, mas anda bem complicado.

Bom, este filme, no entanto foi tão bom, mas tão bom, que me fez esquecer a realidade que nos persegue, pelo menos por duas horinhas e 20 minutos. Faz muito tempo que um filme não captura a minha atenção desta forma. E a fórmula aqui foi bem simples até: NOSTALGIA! Só que o filme tenta unir gerações. Ele se usa da nostalgia para, a partir do que já foi criado, criar algo novo no processo. Ele é um filme claramente feito para os trintões e quarentões, como eu aqui, que viveu os maravilhosos anos 80, mas também consegue chamar a atenção dos mais jovens, que se apaixonam por esta vibe nostálgica.

Logo nos primeiros momentos, já se ouve "Jump", do Van Halen, música de 1983, e o filme me agarra pelo pescoço... sou dele agora! Minha atenção fica toda voltada ao que vai acontecer na telona nas próximas horas! E conforme o filme passa, a música só melhora, variando de Blondie a Tears for Fears, a Twisted Sister!

Então descobrimos que a trama se passa em 2045!! Sim, sem brincadeira! É um futuro "meio" distópico, onde as pessoas vivem em uma realidade não muito atraente. Nele, ninguém mais se importa com o que está acontecendo lá fora, no mundo de concreto e tijolos, mas sim com o que ocorre dentro de um universo virtual chamado Oasis, criado por um certo Hallaway.

Meio parecido com o nosso mundo de hoje, dadas as proporções, não? Muita gente já não quer mais saber do mundo real, preferindo só a ficção e a internet.

Oasis é como se fosse uma espécie de Second Life. Só que o sonho que nós tínhamos lá nos anos 80 e 90 se materializa aqui, ou seja, usamos óculos especiais de realidade virtual para entrarmos neste mundo e interagimos com os avatares das pessoas neles inseridos. É bem real! Você pode ser o que você quiser e ter a aparência que quiser ter.

O protagonista, por exemplo, se chama Wade Watts na vida real. Gosto desta referência que o filme faz aos super-heróis com o nome do menino. No Oasis ele é o avatar conhecido como Parzival, que se parece com um personagem de Final Fantasy, dirige um DeLorean e tem amigos pela rede. Sim, ele tem um DeLorean no Oasis, o carro clássico de Back to the Future; tem uma menina, Samantha, que no Oasis se chama Art3mis, e ela pilota a moto do Kaneda, do filme Akira. Sem brincadeiras! Isso e muitos outros carros-referência que você vê fácil no filme, como o Mach-5 do Speed Racer, o Batmóvel da série do Adam West, e várias outras coisas.

O criador deste sistema todo no filme, Hallaway, era um nerd máximo, o pica das galáxias em nerdismo! Aí você vê as mais inúmeras referências que você puder imaginar no filme, desde coisas como Citizen Kane (o termo "Rosebud" aqui substituindo o termo "MacGuffin", de Hitchcock), a Batman, a King Kong, a Godzilla, Jurassic Park, tem também Mortal Kombat (o Goro do filme de Paul W. S. Anderson), Street Fighter, Iron Giant, nossa, cara... se eu for listar aqui todas as referências que o filme faz, vamos acabar essa resenha só daqui a três dias! Só no começo, você já vê uma sequência em Minecraft! Tem citação de 007: GoldenEye, tem referências de games que variam do Atari 2600 a Nintendo, tem Star Wars, puts, tem o que você quiser neste filme! A sequência que eu mais gostei de todas foi o trecho em que os avatares visitam o hotel Overlook, em uma réplica PERFEITA do hotel do filme The Shining!! Meu Deus!!

Há, só nesta sequência, para os fãs mais hardcore como eu, referências das gêmeas do hotel, o corredor de sangue, o quarto 237 onde tem aquela mulher pelada na banheira, o quadro na parede no final do filme, a sequência do labirinto, o machado do Jack Torrance, a máquina de escrever no lobby... eu fiquei afoito pra caramba nesta sequência! E o mais engraçado é que os personagens do filme que entravam no quarto 237 eram justamente aqueles que não tinham visto o filme! Era bem engraçado de ver a reação de todos, enquanto eu, que já vi The Shining uma caralhada de vezes (e também já li o livro outras tantas) ia acompanhando a surpresa e o horror estampado na cara dos avatares. Eu simplesmente pirei nesta sequência toda! Acho também que eu nunca usei tanto link redirecionador em uma resenha só, porque eu já falei de quase tudo isso aqui no meu blog, pois sou um fã da cultura pop de forma geral, especialmente a oitentista.

E se eu falar mais alguma referência, é capaz de te estragar a diversão toda, então é melhor eu ficar quieto agora. Basta dizer que os personagens tem a missão de localizar no Oasis um "easter egg" que você encontra após localizar três chaves no filme, escondidas estrategicamente pelo criador. Outro problema: o criador do sistema já morreu, e só deixou o avatar dele no jogo para orientar a galera! Enfim, eles fazem isso de modo a poder ganhar o jogo do Oasis, porque ao final do jogo, o ganhador iria ser o proprietário novo do sistema. Mas também há o vilão do filme, Sorrento, que é o atual proprietário do sistema e que tenta manter o seu monopólio, manchando o sistema do falecido Hallaway com updates bizarros.

A gente pode fazer aqui alguns paralelos: os personagens principais passam por uma espécie de jornada, porque o próprio protagonista assume que começou a acessar o Oasis para fugir do mundo real. Só que, até o final do filme, ele vai percebendo certas coisas, e vai entendendo que o mundo real é a nossa base, é o nosso "chão"; ou, como o próprio Hallaway diz em um momento do filme, "o mundo real é o único lugar em que você ainda vai conseguir uma boa refeição." Isso eu achei bacana, porque Spielberg achou um meio sutil de, em meio a toda essa declaração de amor que ele faz à própria cultura pop, enfiar aí essa moral de que apesar disso tudo ser muito bacana para nós, não podemos jamais retirar nossos olhos daquilo que dá o nosso chão, ou seja, nosso mundo de verdade. É uma forma legal que o filme encontrou de nos retirar daquela ficção no final, e nos dizer "olha que moral interessante, tá vendo? Agora vá e melhore o mundo que você vive, meu amigo." Ou, pegando outra ótima frase do Hallaway no filme: "eu gosto do mundo real... porque é real."

Foi uma sacada muito bacana do escritor Ernest Cline e de Spielberg. O próprio personagem Sorrento representa aquele empresário ranzinza, babaca, aquele cara que é o sujeito que nunca jogou um game, que não conhece a cultura pop, e que está lá só pelo poder e pela glória. A gente acaba associando àqueles diretores de cinema que não leem a obra original daquilo que adaptam e querem tentar ganhar a nossa confiança, olha só que coisa! Ou seja, tem com o que a gente se identificar em todas as partes do filme.

Desta forma, eu termino minhas considerações elogiando muito o elenco quase desconhecido. O filme tem o DNA de uma aventura dos anos 80, ele tem essa herança de algo feito nesta década tão fascinante e extraordinária que eu tive o privilégio de nascer e viver. O protagonista mesmo, que nasceu em 2025 no filme, diz que gostaria de ter nascido nos anos 80, porque ele é um dos maiores fãs da cultura oitentista nesta aventura, junto com a menina, e isso me traz mais para perto destes personagens. As atuações são ótimas, as soluções de roteiro são muito legais, e tem horas que o filme fica parecendo um videogame. Eu adorei este toque (intencional, claro) que o Spielberg deu, porque também sou gamer.

E independente de você achar que o livro seja melhor que o filme, ou vice-versa, eu finalizo recomendando com muita força este filme pra você! É uma legítima aventura oitentista, com produção moderna, e que vai te deixar muito entretido, te emocionar se você for um nerdão vintage consumidor voraz de cultura pop como eu, e também te mostrar coisas muito bacanas; dá pra fazer até um jogo com os amigos, assistindo este filme e vendo quem que consegue identificar mais referências nele! Independente de como seja, assista-o! Você vai me agradecer!

Ready Player One (2018)

Produção: Steven Spielberg, Donald De Line, Dan Farah, Kristie Macosko Krieger
Roteiro: Zak Penn, Ernest Cline (baseado no livro de Ernest Cline)
Trilha sonora: Alan Silvestri

Trailer:

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