Nota: 10 / 10
Este é um livro interessantíssimo e que eu sinto um imenso prazer em compartilhar com todos. Trata-se de um conto épico de ficção-científica e das descobertas macabras de um homem em um mundo sem mais gana por aventuras e conhecimento, levando todo o planeta para um indesejável desfecho.
Não, caro leitor, não estou falando do último blockbuster de verão, mas sim de uma das obras mais clássicas de ficção científica que já foram escritas, The Time Machine, publicada primeiramente em 1895 como uma série em um periódico local.
O livro popularizou o conceito de quarta dimensão e viagem no tempo, muitos, muitos anos antes de sua primeira adaptação cinematográfica, feita em 1960, a qual também falarei aqui muito em breve. Conheci o livro de Wells, através deste filme, portanto nada mais justo que eu também homenageie esta seminal produção baseada em sua obra.
Eu já havia lido a adaptação deste livro para o português brasileiro há uns 11 anos atrás, e a uns 3 anos, mais ou menos, eu fui feliz em encontrar na livraria o texto original em inglês e reler mais uma vez esta obra, que eu já tanto havia lido.
Este livro inclusive foi fonte de inspiração para talvez a trilogia de filmes mais famosa de todos os tempos. Sim, você sabe do que estou falando: Back to the Future! A aventura clássica de Marty e Doc produziu até mesmo vídeos propagandeando o filme de 1985 na época, em que Marty McFly sentava na poltrona da máquina do tempo de Wells, o modelo utilizado na adaptação cinematográfica da obra do autor de 1960. Séries de TV como a engraçadíssima The Big Bang Theory também fazem referência ao livro de Wells e ao filme de 1960.
Além disso, a obra inspirou inúmeras outras produções e gerou diversas sequências escritas por outros autores, como por exemplo uma do escritor Christopher Priest, chamada The Space Machine, publicada em 1976. Eu não li estas sequências, mas citei este autor, porque ele também é famoso pelo livro The Prestige, escrito em 1995, e que foi a obra que originou a adaptação cinematográfica de Christopher Nolan em 2006, após o diretor ter lançado Batman Begins, em 2005. The Time Machine ficou tão popular, que até mesmo produziu histórias em quadrinhos, lá pelos idos dos anos 50, 70 e 90 do século XX!
Mas vamos parar por aqui nessas referências, porque eu já estou me alongando demais da conta! Basta dizer que a obra exerceu uma gigantesca influência na cultura popular. Sendo assim, vamos falar da trama.
No livro, um cientista do período vitoriano, referenciado apenas como o "viajante do tempo", que vive em sua modesta casa, está com seus amigos, um deles o distinto Sr. Filby, explicando a eles o funcionamento da sua invenção através do conceito de quarta dimensão. Para quem não sabe, a quarta dimensão refere-se ao tempo, ou seja, passado, presente e futuro, e o nome, obviamente é uma alusão à existência das outras três primeiras dimensões, largura, altura e profundidade. Sendo assim, estas três, são as dimensões às quais estamos mais suscetíveis, e que conseguimos manipular. A quarta dimensão existe, mas já não está exatamente ao nosso alcance, não conseguimos percebê-la da mesma maneira que as outras três dimensões.
Pois bem, os amigos do viajante estão extremamente desacreditados do que o viajante está relatando, e assim acabam deixando a casa dele. Então, ele insere o cristal de sua máquina do tempo, que é descrita como um aparato de estética formidável, e viaja para o ano de 802701. Sim, eu não estou inventando número, este é o ano que o narrador nos informa!
Pois bem, ao viajar para lá, após algum tempo, ele retorna à sua casa no período vitoriano, e conta, em um jantar aos seus amigos, sobre sua magnífica experiência. O narrador da história deixa de ser aquele que a iniciou e passa, portanto a ser o viajante do tempo. Ele relata, portanto, as experiências que teve ao chegar ao futuro longínquo, ao ver uma sociedade dividida em duas camadas: a camada dos habitantes do solo e dos habitantes do subterrâneo. George Pal, em seu filme de 1960, dá uma explicação muito inteligente para essa separação, mas vamos nos ater ao livro.
Temos portanto a classe dos Eloi, que são os habitantes de cima da terra, que vivem em um edílico paraíso terrestre e pastoril, aparentemente sem problema algum. O viajante até mesmo chega a se questionar se o ser humano finalmente conseguiu alcançar o seu equilíbrio. Mas depois, ele se decepciona completamente, quando descobre que os habitantes do subterrâneo, os monstros conhecidos como Morlocks, são os responsáveis por esse "paraíso de mentira".
Os Morlocks são criaturas que se alimentam dos Eloi, ou seja, quando sentem necessidade, eles vão até os Eloi e os matam, para servirem de alimento. Nenhum dos outros Eloi questiona a razão de um dos seus estarem sendo vítimas desses monstros. O viajante, além de ver estes horrores, fica estarrecido também pelo fato dos Eloi não terem memória alguma de seu passado e nem perspectivas para o futuro. Pior: nem mesmo curiosidade eles tem! O viajante é levado, através de uma Eloi que ele salvou de morte certa chamada Weena e que fica sendo o par romântico do personagem, a um lugar onde ele consegue bolar uma forma de derrotar os Morlocks.
Dessa forma, estabelece-se aqui na história, um paralelo do autor com os efeitos do comunismo. E isso não sou eu que estou dizendo não, está no livro, o próprio viajante chega a essa conclusão. O fato de termos uma população massa de manobra (os Eloi), que não detém o conhecimento nem de si mesmos, dependente de um estado que os gere (os Morlocks), toda esta sociedade dividida em classes antagônicas, e onde a classe dominante (que ironicamente é a classe trabalhadora) oferece ao povo a ilusão de paraíso na Terra, ou seja, a mentira, para se sustentarem da carne e do sangue desse povo.
Doravante, sem lembrança alguma de sua própria história, este mesmo povo não consegue se defender, ficando refém desse estado e de suas mentiras. É incrível como podemos visualizar, em plena modernidade este discurso anti-comunista proferido por Wells em 1895. O viajante tem sua máquina roubada pelos Morlocks, para que não consiga escapar, mas os monstros, sem saber do funcionamento da mesma, não conseguem detê-lo; ele acha a sua máquina dentro de uma construção que parece com uma esfinge, a mesma da ilustração da capa original da obra (referência ao Egito antigo e ao livro do Êxodo, onde os judeus eram a classe escravizada?), e dessa forma, o viajante vai mais alguns séculos no futuro, e vê a vida no planeta, agora vermelho e moribundo, se acabar de vez.
O viajante então retorna em sua época, e conta sua história. O narrador do início do livro assume o comando novamente, e apenas informa, que três anos depois, o viajante do tempo havia sumido de vez e nunca mais deu notícias. Talvez tenha se perdido, ou talvez tenha retornado a 802701 para ajudar Weena e os Eloi a mudar o seu futuro dantesco, e assim, construir uma verdadeiramente bela e nobre vida para os Eloi, salvando assim a raça humana da extinção.
Uma narrativa bela, poderosa, e que nos traz uma visão de mundo relevante e algo para se pensar sobre o futuro da humanidade, através do pano de fundo de ficção-científica e fantasia. O futuro distópico a qual a humanidade se encontra, as interessantes passagens contendo monumentos modernos e futurísticos no futuro longínquo, misturado com o panorama paradisíaco e pastoril, de uma sociedade aparentemente em sintonia, mas marcada pelo domínio de forças ocultas, sem se dar conta disso, representa um alerta para nós, homens modernos, e que eu pessoalmente levo muito a sério.
No filme de George Pal, temos uma recontagem bastante fiel ao livro, porém, dando um outro tratamento, a da guerra e a da corrida armamentista, assuntos muito populares para aqueles tempos. Mas isso é conversa para tratarmos em um futuro artigo onde dissertarei sobre o filme. A versão em português que eu li anos atrás é da editora Nova Alexandria, enquanto que a versão original em inglês que possuo agora, de 128 páginas, saiu pela editora Flame Tree 451, com 76 páginas da curta história de Wells e mais uma outra história curta chamada A Dream of Armageddom. Uma leitura sensacional, e mais do que recomendada a você, que assim como eu, é fã da boa ficção-científica, contestadora e que não é somente a arte pela arte, mas nos traz tópicos interessantes sobre o futuro da humanidade. Assim sempre foi a bibliografia de H. G. Wells, e assim é esta magnífica obra sua, que tornou tão popular a quarta dimensão e a ânsia do ser humano de conhecer as futuras possibilidades de suas conquistas.
The Time Machine (1895)
Título em português BR: A Máquina do Tempo
Escrito por: H. G. Wells
No livro, um cientista do período vitoriano, referenciado apenas como o "viajante do tempo", que vive em sua modesta casa, está com seus amigos, um deles o distinto Sr. Filby, explicando a eles o funcionamento da sua invenção através do conceito de quarta dimensão. Para quem não sabe, a quarta dimensão refere-se ao tempo, ou seja, passado, presente e futuro, e o nome, obviamente é uma alusão à existência das outras três primeiras dimensões, largura, altura e profundidade. Sendo assim, estas três, são as dimensões às quais estamos mais suscetíveis, e que conseguimos manipular. A quarta dimensão existe, mas já não está exatamente ao nosso alcance, não conseguimos percebê-la da mesma maneira que as outras três dimensões.
Pois bem, os amigos do viajante estão extremamente desacreditados do que o viajante está relatando, e assim acabam deixando a casa dele. Então, ele insere o cristal de sua máquina do tempo, que é descrita como um aparato de estética formidável, e viaja para o ano de 802701. Sim, eu não estou inventando número, este é o ano que o narrador nos informa!
Pois bem, ao viajar para lá, após algum tempo, ele retorna à sua casa no período vitoriano, e conta, em um jantar aos seus amigos, sobre sua magnífica experiência. O narrador da história deixa de ser aquele que a iniciou e passa, portanto a ser o viajante do tempo. Ele relata, portanto, as experiências que teve ao chegar ao futuro longínquo, ao ver uma sociedade dividida em duas camadas: a camada dos habitantes do solo e dos habitantes do subterrâneo. George Pal, em seu filme de 1960, dá uma explicação muito inteligente para essa separação, mas vamos nos ater ao livro.
Temos portanto a classe dos Eloi, que são os habitantes de cima da terra, que vivem em um edílico paraíso terrestre e pastoril, aparentemente sem problema algum. O viajante até mesmo chega a se questionar se o ser humano finalmente conseguiu alcançar o seu equilíbrio. Mas depois, ele se decepciona completamente, quando descobre que os habitantes do subterrâneo, os monstros conhecidos como Morlocks, são os responsáveis por esse "paraíso de mentira".
Os Morlocks são criaturas que se alimentam dos Eloi, ou seja, quando sentem necessidade, eles vão até os Eloi e os matam, para servirem de alimento. Nenhum dos outros Eloi questiona a razão de um dos seus estarem sendo vítimas desses monstros. O viajante, além de ver estes horrores, fica estarrecido também pelo fato dos Eloi não terem memória alguma de seu passado e nem perspectivas para o futuro. Pior: nem mesmo curiosidade eles tem! O viajante é levado, através de uma Eloi que ele salvou de morte certa chamada Weena e que fica sendo o par romântico do personagem, a um lugar onde ele consegue bolar uma forma de derrotar os Morlocks.
Dessa forma, estabelece-se aqui na história, um paralelo do autor com os efeitos do comunismo. E isso não sou eu que estou dizendo não, está no livro, o próprio viajante chega a essa conclusão. O fato de termos uma população massa de manobra (os Eloi), que não detém o conhecimento nem de si mesmos, dependente de um estado que os gere (os Morlocks), toda esta sociedade dividida em classes antagônicas, e onde a classe dominante (que ironicamente é a classe trabalhadora) oferece ao povo a ilusão de paraíso na Terra, ou seja, a mentira, para se sustentarem da carne e do sangue desse povo.
Doravante, sem lembrança alguma de sua própria história, este mesmo povo não consegue se defender, ficando refém desse estado e de suas mentiras. É incrível como podemos visualizar, em plena modernidade este discurso anti-comunista proferido por Wells em 1895. O viajante tem sua máquina roubada pelos Morlocks, para que não consiga escapar, mas os monstros, sem saber do funcionamento da mesma, não conseguem detê-lo; ele acha a sua máquina dentro de uma construção que parece com uma esfinge, a mesma da ilustração da capa original da obra (referência ao Egito antigo e ao livro do Êxodo, onde os judeus eram a classe escravizada?), e dessa forma, o viajante vai mais alguns séculos no futuro, e vê a vida no planeta, agora vermelho e moribundo, se acabar de vez.
O viajante então retorna em sua época, e conta sua história. O narrador do início do livro assume o comando novamente, e apenas informa, que três anos depois, o viajante do tempo havia sumido de vez e nunca mais deu notícias. Talvez tenha se perdido, ou talvez tenha retornado a 802701 para ajudar Weena e os Eloi a mudar o seu futuro dantesco, e assim, construir uma verdadeiramente bela e nobre vida para os Eloi, salvando assim a raça humana da extinção.
Uma narrativa bela, poderosa, e que nos traz uma visão de mundo relevante e algo para se pensar sobre o futuro da humanidade, através do pano de fundo de ficção-científica e fantasia. O futuro distópico a qual a humanidade se encontra, as interessantes passagens contendo monumentos modernos e futurísticos no futuro longínquo, misturado com o panorama paradisíaco e pastoril, de uma sociedade aparentemente em sintonia, mas marcada pelo domínio de forças ocultas, sem se dar conta disso, representa um alerta para nós, homens modernos, e que eu pessoalmente levo muito a sério.
No filme de George Pal, temos uma recontagem bastante fiel ao livro, porém, dando um outro tratamento, a da guerra e a da corrida armamentista, assuntos muito populares para aqueles tempos. Mas isso é conversa para tratarmos em um futuro artigo onde dissertarei sobre o filme. A versão em português que eu li anos atrás é da editora Nova Alexandria, enquanto que a versão original em inglês que possuo agora, de 128 páginas, saiu pela editora Flame Tree 451, com 76 páginas da curta história de Wells e mais uma outra história curta chamada A Dream of Armageddom. Uma leitura sensacional, e mais do que recomendada a você, que assim como eu, é fã da boa ficção-científica, contestadora e que não é somente a arte pela arte, mas nos traz tópicos interessantes sobre o futuro da humanidade. Assim sempre foi a bibliografia de H. G. Wells, e assim é esta magnífica obra sua, que tornou tão popular a quarta dimensão e a ânsia do ser humano de conhecer as futuras possibilidades de suas conquistas.
The Time Machine (1895)
Título em português BR: A Máquina do Tempo
Escrito por: H. G. Wells
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