Bill Murray é um cara que fez parte da minha juventude. Através de várias comédias, o ator foi pavimentando sua escada para o sucesso. Quem, com minha idade ou perto dela, não se lembra por exemplo de clássicos como Ghostbusters (Caça-Fantasmas), Scrooged (Os Fantasmas Contra-Atacam), Groundhog Day (Feitiço do Tempo) e outras produções em que ele esteve envolvido? Na última década, o ator ficou mais focado em produções dramáticas como em Broken Flowers (Flores Partidas), Lost in Translation (Encontros e Desencontros) e nos últimos anos, caiu para papéis secundários, como em The Monuments Men (Caçadores de Obras-Primas), The Fantastic Mr. Fox (O Fantástico Senhor Raposo), The Grand Budapest Hotel (O Grande Hotel Budapeste) e Dumb & Dumber To (Debi & Lóide 2). Ou seja, para muitas pessoas ele simplesmente saiu do radar. St. Vincent é portanto o retorno do astro aos papéis principais. Um retorno aliás, muito bem-vindo, porque eu estava sentindo uma falta danada de seu humor ácido e irônico e de seus trejeitos carismáticos, com aquela cara de cachorro sem dono.
Aqui neste filme, Murray retorna com todas as suas características de humorista. O filme, no entanto, é passável, nada além disso. Conta a história de um velhote rabugento que mora sozinho, transa com uma prostituta (Naomi Watts), vai em casas noturnas, fuma e bebe todas e aposta em corridas de cavalos, ou seja, o típico protótipo do tipo bukowskiano. Adicionado a isso, ele tem uma esposa que está com alzheimer e se trata em um hospital. Sua vida está prestes a mudar quando uma mulher divorciada e seu filho se mudam para a sua vizinhança, passando a serem os vizinhos de Vincent, personagem de Murray. O menino sofre de bullying na escola em que atende e por isso um dos bullies rouba a chave de casa e o celular do garoto, então o garoto pede para entrar na casa de Vincent para que ele possa ligar para a mãe. A partir disso, a relação entre o menino e Vincent passa a crescer e os dois formam laços de amizade. O garoto, muito esperto, consegue enxergar por trás da crueza e arrogância de Vincent e nele acha um modelo, com Murray ensinando o garoto a se defender dos bullies e a se auto-valorizar como pessoa.
É bastante irônico o nome da escola em que o menino vai, St. Patrick, a ironia portanto está no fato de o garoto sofrer com os colegas de sala e de ter pais distantes, até mesmo por parte da mãe que trabalha o dia todo e não tem tempo para o menino, fazendo com que ele enxergue em Vincent, sua figura paterna. Lá na escola, ele conta com um professor católico que ensina os valores da religião e da família, falando muito sobre a figura dos santos e de como pode-se encontrar santos ao nosso redor. Então o professor sugere aos alunos encontrarem pessoas que se qualificam como santas em seu cotidiano.
Desnecessário dizer quem o menino irá apontar. O filme é realmente previsível assim, e esse é um de seus erros. É um filme seguro, sem grandes surpresas. Uma coisa desnecessária foi o arco do derrame de Vincent, uma vez que achei que aquele arco foi puro mecanismo para preencher tempo e, assistindo ao filme até o final, você irá entender o motivo.
Apesar destes tropeços, é um filme do tipo feelgood com aquela atmosfera light, bem característico de Sessão da Tarde, bom para reforçar bons conceitos sobre a família, as pessoas ao nosso redor que estarão sempre por perto se precisarmos e até mesmo para arriscar jogar uma crítica velada ao preconceito, a não-aceitação das pessoas em relação às diferenças de seu semelhante e até mesmo à hipocrisia, uma vez que temos a figura do católico (o professor) que reforça ser sua religião a melhor do mundo, para logo depois jogar na cara do menino (que se diz judeu) que todos na sala eram iguais e que a variedade de religião lá dentro era uma coisa boa, que agregava.
Entre acertos e tropeços, Murray retorna aos papéis principais trazendo de volta seus trejeitos cômicos de costume, e foi muito bom vê-lo de novo estrelando um filme. E se a cena final dos créditos, com Murray brincando com a mangueira d'água enquanto cantarola alegremente "Shelter from the Storm" de Bob Dylan não for motivo suficiente para querer vê-lo novamente em breve em outro papel principal é porque, meu amigo, você está velho e rabugento demais. Murray é a prova viva daquele ditado que diz que nosso corpo envelhece sem nossa permissão, mas nossa alma só envelhece se nós deixarmos.
Não me amolem agora!! Preciso pensar nisso!
St. Vincent (2014)
Título em português BR: Um Santo Vizinho
Nota: 7,5 / 10
Direção: Theodore Melfi
Produção: Don Cheadle, Peter Chernin, Theodore Melfi, Fred Roos, Jenno Topping
Roteiro: Theodore Melfi
Trilha sonora: Theodore Shapiro
Estrelando: Bill Murray, Melissa McCarthy, Naomi Watts, Chris O'Dowd, Terrence Howard, Jaeden Lieberher
Trailer:
No comments:
Post a Comment