Você já vai assistir a um filme de Clint "fuckin'" Eastwood (sim, é desse jeito que chamo minha grande inspiração dos filmes clássicos de faroeste) sabendo que irá testemunhar uma grande história. Eastwood se especializou ao longo dos anos em contar histórias de homens comuns em um mundo bem verossimilhante ao nosso, colocados em situações extremas, incríveis. Eastwood é um dos grandes diretores, ao lado de caras como John Ford, a popularizar o cara que ninguém daria nada e torná-lo algo significativo, ao retratar a odisseia americana do homem comum. Esta é uma tradição que vem desde seus filmes de faroeste clássicos. Eastwood é, seguramente, um dos maiores e melhores cronistas da história americana.
É com este sentimento que assisti filmaços como High Plains Drifter (O Estranho Sem Nome), The Outlaw Josey Wales (Josey Wales: O Fora da Lei), Unforgiven (Os Imperdoáveis), Mystic River (Sobre Meninos e Lobos) e mais recentemente o espetacular Gran Torino (Gran Torino), Invictus (Invictus) e Jersey Boys (Jersey Boys: Em Busca da Música). De uma forma ou de outra, Eastwood me fascina desde os tempos em que somente atuava, em obras-primas como The Good, The Bad and The Ugly (Três Homens em Conflito) ou Dirty Harry (Perseguidor Implacável), ele é o cara que me faz pôr a mão no peito em reverência quando vou assistir uma de suas novas obras no cinema.
E foi com este sentimento que adentrei a sala para assistir à mais nova crônica de Mr. Eastwood, American Sniper, baseada em fatos reais sobre um atirador de elite do exército que fica dividido entre a sua pátria e sua família. Assistindo ao filme, me coloquei a pensar o quanto as famílias de veteranos nos EUA sofrem com seus entes que vão para as trincheiras.
O filme é carregado de patriotismo, mas ao mesmo tempo faz uma análise incrível do ser humano. E ao final da projeção, a pergunta que fica é o que realmente foi responsável pelo destino do atirador? Questionamentos sobre responsabilidades e deveres são colocados na linha de fogo, enquanto Chris, o personagem de Bradley Cooper convive com a culpa e com a dor de estar dividido entre as vidas que salva e as vidas que cativa.
Há um ditado que diz que "você é eternamente responsável por aquilo que cativa" ( A. S. Exupéry). Eastwood vai além e divide esta responsabilidade com a audiência. O filme praticamente não tem música de fundo, só a música ambiente que toca em cenas chave. Ao chegar dos créditos, vem o total e incômodo silêncio. Penso que o chegar do silêncio é o cessar da vida. E se ficamos eternamente responsáveis pelo que cativamos, o silêncio também há de ser eterno, não somente por uma, mas por tantas outras vidas. É o silêncio do luto, da reflexão, da apreciação. Eastwood mostra clara e explícita apreciação pela figura do homem que desenha na tela grande, de forma intrínseca à apreciação de seu povo.
E se a "lenda" formada possui características que a tornam super-humana e maior do que a vida, aqui temos, da mesma forma que Eastwood demonstrou em Gran Torino, a humanização dela em uma cena angustiante que o atirador hesita em atirar em um menino que segurava um lança-foguetes. São momentos de tensão e angústia em que Eastwood desmistifica o personagem e o trás para a nossa condição de homens.
É um retrato duro e realista dos espólios que o campo de batalha trás à figura da "lenda", que permanece viva apenas nos pensamentos e lembranças do povo que a conheceu. Com este filme, Eastwood traz sua crônica americana a um nível pessoal e atribui a ela o valor dos seus personagens, que lutam em uma batalha sem fim, sacrificando seus anseios ou até mesmo as vezes seus valores pelo bem comum. Recomendação máxima que faço de um retrato extraordinário do homem e que espero que ganhe prêmios no Oscar deste ano.
American Sniper (2014)
Título em português BR: Sniper Americano
Nota: 9,5 / 10
Direção: Clint Eastwood
Produção: Bradley Cooper, Clint Eastwood, Jason Hall, Andrew Lazar, Robert Lorenz, Peter Morgan
Roteiro: Jason Hall (baseado em romance escrito por Chris Kyle, Scott McEwen e James Defelice)
Trilha sonora: Joseph S. DeBeasi, Clint Eastwood
Estrelando: Bradley Cooper, Kyle Gallner, Cole Konis, Ben Reed, Elise Robertson, Luke Sunshine, Troy Vincent, Troy Vincent
Trailer:
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