Thursday, February 5, 2015

NO CINEMA: Big Eyes (Grandes Olhos)

Dizem que a inspiração do verdadeiro artista vem de dentro. Uma imensa verdade, na minha opinião. Veja a história dos Keane, por exemplo. Um dos maiores casos de falsificação de identidade artística já vistos na história, e pior... compactuados pelo próprio artista, ou aqui devo dizer própria. Durante toda sua vida, Margaret vinha pintando seus quadros, porém nunca ganhando crédito pelo seu trabalho. Seu marido, hoje o falecido ex, chamado Walter Keane, acabava ganhando os louros e o crédito pela pintura da mulher. Defendia com unhas e dentes que o trabalho era seu, quando na verdade nem sequer conseguia desenhar um traço no quadro branco. Até a maltratava quando Margaret ameaçava revelar a verdade.

Continuou defendendo até o final da vida que o trabalho era seu e não de sua ex, mesmo após ter passado vergonha em frente a um juri. Hoje, Margaret é uma feliz senhora que, não apenas ganha o devido crédito pelo trabalho de sua vida, como ainda continua pintando, todos os dias. O que prova minha afirmação anterior, aliás, minha não, pois eu não concebi essa afirmação, isso é dito popular. Mas tão verdadeiro ontem, quanto hoje.

Em frente aos vários casos e acusações de bandas e compositores, cineastas, etc, em relação a plágio de seu trabalho, seja um dos mais recentes envolvendo Roger Dean e James Cameron com relação aos conceitos das capas do Yes com os conceitos visuais de Avatar, ou mesmo Joe Satriani acusando o Coldplay de plagiar sua "If I Could Fly", a discussão está sempre aberta. Uma coisa no entanto é certa como a vida: o verdadeiro artista reconhece sua arte e sabe que um filho seu foi roubado de seu ventre. E Margaret, mais do que todas as pessoas, sabe disso.

Seus grandes olhos, no filme do diretor Tim Burton, nada mais representam do que os olhos da alma, os olhos do sentimento. São os olhos de Margaret Ulbrich em primeira instância, antes de se tornarem os olhos de Margaret Keane; são sua vida, existência, sentidos, percepção, ALMA. Impossíveis de serem reproduzidos por qualquer pessoa que seja, mesmo por um imitador habilidoso. São os olhos da verdade.

Com um elenco primoroso, Tim Burton abandona sua cartilha de sempre para fazer não somente uma ótima cinebiografia, mas também um de seus melhores filmes mais recentes. E se o Burton mais moderno andava parecendo apático, vazio, kitsch, este Burton de agora volta a ter vida e a lembrar os olhos do grande Burton de outrora, o Burton de clássicos como Edward Scissorhands, de Ed Wood, de Big Fish, ou de filmes mais recentes como o musical Sweeney Todd. Não me entenda mal, este Big Eyes em quase nada lembra o Burton destes outros filmes, mas a vivacidade do Burton de outrora está impressa lá, latente e bela.

Esqueça por um momento os maneirismos Burtonianos como o macabro ou o bizarro, que aparece meramente como ferramenta narrativa surrealista neste filme baseado em fatos reais, ou os seus colegas de trabalho de sempre (apenas Danny Elfman e os roteiristas de Ed Wood estão aqui), e delicie-se com este singelo e honesto trabalho do diretor. Tenha a certeza: os grandes artistas são inimitáveis. E aqui, Burton permanece um grande artista. E quem fica com os olhos arregalados no final, é a audiência.

Big Eyes (2014)
Título em português BR: Grandes Olhos
Nota: 8,5 / 10

Direção: Tim Burton
Produção: Scott Alexander, Tim Burton, Lynette Howell, Larry Karaszewski, Bob Weinstein, Harvey Weinstein
Roteiro: Scott Alexander, Larry Karaszewski
Trilha sonora: Danny Elfman

Estrelando: Amy Adams, Christoph Waltz, Krysten Ritter, Jason Schwartzman, Danny Huston, Terence Stamp, Jon Polito

Trailer:


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