Quais são os seus limites? Até onde você iria para chegar ao desconhecido? E quando chegasse lá, o que faria, se o desconhecido quisesse te engolir? Estaria pronto o homem, em sua jornada neste planeta, para desvendar os segredos obscuros do mundo natural? Estes são questionamentos que, direta ou indiretamente o mais novo filme de sobrevivência, In the Heart of the Sea pretende tentar responder. Mas a pergunta que mais me abalou durante a projeção não foram estas. Se você tivesse que sobreviver, para que um dia todos soubessem de sua história, estaria disposto a praticar o impensável e o abominável? Questionamentos duros de responder. O mais novo filme do, para usar um neologismo, "serviçável" diretor Ron Howard, que às vezes acerta a mão e às vezes erra feio, dependendo do projeto, e que já trabalhou antes com Chris Hemsworth - o Thor dos Vingadores - em Rush, consegue aqui balancear a narrativa entre o chocante e o espetáculo marítimo na tela, garantindo a autenticidade da história.
A narrativa, baseado em fatos reais descritos no livro In the Heart of the Sea, escrito por Nathaniel Philbrick, se inicia com Herman Mellville (Ben Whishaw), o escritor da famosa obra clássica da literatura americana da era romântica, Moby Dick, considerada por muitos como a Odisseia americana, se encontrando com um velho chamado Tom Nickerson (Brendan Gleeson), um dos poucos sobreviventes da tragédia do navio Essex, para que o senhor lhe conte a história que, durante anos, ele não queria revelar ao mundo, em detrimento do quão trágica e vergonhosa a experiência foi para si mesmo.
Corta a cena e voltamos para 1820, quando Nickerson era apenas um menino, e viajou de navio com o capitão George Pollard (Benjamin Walker) e o primeiro imediato Owen Chase (Chris Hemsworth) para uma missão no Oceano Pacífico para conseguir óleo de baleia, porque ambos estavam no negócio de comercializar o recurso natural, e para isso, tinham que caçar baleias em alto mar e extrair delas o produto, o que incluía até coisas nojentas como entrar (literalmente) na cabeça do mamífero marítimo para conseguir a coisa. Isto foi muito antes de alguém descobrir as utilidades do petróleo, escavando a terra. Depois de navegarem algum tempo e obtiverem algum sucesso, os marinheiros são atacados por uma baleia branca enorme que destrói o navio, e é aqui que o drama verdadeiramente começa.
Perdidos e à deriva, os navegantes passam por muitas dificuldades. Alguns tripulantes chegam em uma ilha deserta e partem de novo de lá com o objetivo de chegar novamente em meio a civilização. Mas nada é tão difícil que não possa piorar ainda mais. As dificuldades enfrentadas pela equipe vão desde racionar provisões (as que sobraram, após o ataque da baleia) até ter que recorrer ao canibalismo para sobreviver.
Da mesma forma que é incrível ver o show visual no IMAX do cinema, é angustiante a trajetória dos marinheiros em busca de se salvarem. A experiência marcou tanto o menino Nickerson que ele guardou a história para si durante muito tempo, nem mesmo contando à sua própria esposa. Foi com muito custo que ele, após uma breve conversa com sua mulher, foi convencido a revelar toda a verdade que originou a obra que conhecemos como aquela música do Led Zeppelin. Brincadeiras a parte, a história realmente tem um peso, e quem leu o livro de Mellville vai ver algumas semelhanças, mas também diferenças gritantes. Enquanto a saga de Ishmael tem tom trágico bastante semelhante à história real, os detalhes em relação à sobrevivência e o canibalismo foram omitidos do livro.
O filme tem uma qualidade visual inquestionável. Quando assisti o trailer, até pensei que fossem reimaginar Moby Dick no cinema, sem saber que se tratava da revelação nos bastidores da obra, porque o visual marítimo era simplesmente de tirar o fôlego, assim como a recriação das criaturas marítimas. Eu sou fã de histórias de sobrevivência e de náufragos, acho que elas têm, de forma geral, uma profundidade que conversa diretamente com o cerne do espírito humano, implacável e insaciável pela própria natureza.
Mas o filme vai um pouco mais longe: há ainda uma cena em que o capitão Pollard argumenta, já na ilha deserta que o ser humano é o rei supremo que reina sobre a natureza e sobre as outras raças de animais, ao que o imediato Chase retruca com o questionamento se o capitão se sentia um "rei" naquele momento de dificuldade e vencido por uma baleia. Pois é... isso dá o que pensar.
De forma geral, um filmaço de sobrevivência, não tão bom quanto o clássico Cast Away (Náufrago) ou então o maravilhoso e impecável All Is Lost (Até o Fim) estrelando Robert Redford, mas mesmo assim, um filme que documenta em película uma odisseia humana das mais difíceis e viscerais, provando que o eterno embate entre homem x natureza só achará seu equilíbrio o dia em que a humanidade souber como domar o coração implacável dos seres naturais nas profundezas escuras e misteriosas em que habitam.
Quais são os seus limites? Até onde você iria para chegar ao desconhecido? E quando chegasse lá, o que faria, se o desconhecido quisesse te engolir? Estaria pronto o homem, em sua jornada neste planeta, para desvendar os segredos obscuros do mundo natural? Assista In the Heart of the Sea e descubra você mesmo.
In the Heart of the Sea (2015)
Título em português BR: No Coração do Mar
Nota: 8,5 / 10
Produção: Brian Grazer, Ron Howard, Joe Roth, Will Ward, Paula Weinstein
Roteiro: Charles Leavitt, Rick Jaffa, Amanda Silver (baseado no livro escrito por Nathaniel Philbrick)
Trilha sonora: Roque Baños
Estrelando: Chris Hemsworth, Benjamin Walker, Cillian Murphy, Brendan Gleeson, Ben Whishaw, Michelle Fairley, Tom Holland, Paul Anderson, Frank Dillane, Joseph Mawle, Osy Ikhile, Gary Beadle, Charlotte Riley
Trailer:
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