Lembro vivamente que comecei, assim como muitos da minha idade, a gostar do Batman por causa deste seriado. Não só por causa dele, obviamente, mas foi uma das causas. Tiveram os desenhos animados também que eu assistia todas as manhãs, e que chamavam de The Batman/Superman Hour e The New Adventures of Batman, este último era aquele que tinha o Batmite, feito após o encerramento da série sessentista, e que ainda contava com Adam West e Burt Ward nos papéis principais, além é claro, dos Superamigos. Quando eu era criança, o SBT sempre passava reprises dessas coisas. Haviam também os bonecos de ação que sempre eram combustível para nossa imaginação infantil e, é claro, os quadrinhos, alguns anos à frente. Mas vamos voltar à série dos anos 60.
O seriado foi realmente concebido para ser uma série de comédia, para quem nunca se deu conta. Acontece que a 20th Century Fox acabou fazendo o criador William Dozier ter acesso ao material do Batman dos primórdios, aquele mais sério e sombrio; só que o Dozier simplesmente disse que não gostou daquilo porque achava muito sombrio demais e que não faria coisa alguma com o personagem se não fosse para ser uma comédia. Então o estúdio direcionou Dozier para as HQs da Era de Prata de Batman, aquelas mais fantasiosas, com criaturas de outro planeta e um Batman sorridente, estilo tiozão. Dozier gostou do que viu e disse que faria o Batman naqueles moldes mais alegre e descompromissado. Assim nasceu o Batman dos anos 60.
Agora um pouco mais de contexto para você, caro leitor. Como eu disse acima, o Batman da Era de Prata era mais alegre e sorridente, mais fantasioso e direcionado ao público mais infantil; enquanto tudo isso que eu te falei é verdade, uma coisa que vale ressaltar é que os criadores não se sentiam confortáveis em trabalhar o personagem daquela maneira. Eles só faziam aquilo porque entrou nos anos 40 a maldita da censura dos quadrinhos imposta pelo selo Comics Code Authority, censura essa que eu já até havia detalhado no meu artigo sobre a HQ The Cult, que proibia que os personagens de HQs fossem sombrios e tivessem histórias macabras, sangrentas ou com apologia a violência e ao sexo, coisa comum de se ver nos quadrinhos dos anos 80 e 90. Por causa disso, os criadores do Batman não tiveram outra alternativa para manter seu personagem vivo senão aderir ao que foi imposto pelo selo. Esta é a razão pela qual o Batman parecia um tiozão bacana nos anos 50 e 60 e porque a série estrelando Adam West foi criada. Consequentemente, esta é a razão de eu pessoalmente chamar o seriado sessentista de um paródia do Batman original.
Sim, para mim é uma paródia. Se você for comparar o Batman da Era de Prata com qualquer coisa do Batman dos primórdios, não tem absolutamente semelhança alguma, são duas criações totalmente diferentes uma da outra. Dizem as más línguas que as histórias do Batman tiozão eram feitas inclusive em tom de protesto dos criadores pelas imposições do selo. Eram muitas coisas absurdas que tinham naquelas histórias, coisas que não faziam parte daquele universo.
Desenho da CBS baseado na série dos anos 60 |
O seriado foi realmente concebido para ser uma série de comédia, para quem nunca se deu conta. Acontece que a 20th Century Fox acabou fazendo o criador William Dozier ter acesso ao material do Batman dos primórdios, aquele mais sério e sombrio; só que o Dozier simplesmente disse que não gostou daquilo porque achava muito sombrio demais e que não faria coisa alguma com o personagem se não fosse para ser uma comédia. Então o estúdio direcionou Dozier para as HQs da Era de Prata de Batman, aquelas mais fantasiosas, com criaturas de outro planeta e um Batman sorridente, estilo tiozão. Dozier gostou do que viu e disse que faria o Batman naqueles moldes mais alegre e descompromissado. Assim nasceu o Batman dos anos 60.
Agora um pouco mais de contexto para você, caro leitor. Como eu disse acima, o Batman da Era de Prata era mais alegre e sorridente, mais fantasioso e direcionado ao público mais infantil; enquanto tudo isso que eu te falei é verdade, uma coisa que vale ressaltar é que os criadores não se sentiam confortáveis em trabalhar o personagem daquela maneira. Eles só faziam aquilo porque entrou nos anos 40 a maldita da censura dos quadrinhos imposta pelo selo Comics Code Authority, censura essa que eu já até havia detalhado no meu artigo sobre a HQ The Cult, que proibia que os personagens de HQs fossem sombrios e tivessem histórias macabras, sangrentas ou com apologia a violência e ao sexo, coisa comum de se ver nos quadrinhos dos anos 80 e 90. Por causa disso, os criadores do Batman não tiveram outra alternativa para manter seu personagem vivo senão aderir ao que foi imposto pelo selo. Esta é a razão pela qual o Batman parecia um tiozão bacana nos anos 50 e 60 e porque a série estrelando Adam West foi criada. Consequentemente, esta é a razão de eu pessoalmente chamar o seriado sessentista de um paródia do Batman original.
Sim, para mim é uma paródia. Se você for comparar o Batman da Era de Prata com qualquer coisa do Batman dos primórdios, não tem absolutamente semelhança alguma, são duas criações totalmente diferentes uma da outra. Dizem as más línguas que as histórias do Batman tiozão eram feitas inclusive em tom de protesto dos criadores pelas imposições do selo. Eram muitas coisas absurdas que tinham naquelas histórias, coisas que não faziam parte daquele universo.
E são por essas razões que podemos ver o Batman do seriado fazer as coisas mais inesperadas, como fazer aparições públicas e dançar com belas moçoilas balançando sua bat-capa, receber ligações da polícia através de seu bat-fone vermelho para emergências, escorregar em um pilar de alumínio para já aparecer vestido como o vigilante na Batcaverna, e principalmente: agir durante o dia e a noite em Gotham. Pois é, este seriado do Batman é mais uma tremenda zoeira. Mas diferente das cinesséries quarentistas, é uma zoeira que, gostando ou não, tem estilo, charme e um contexto bem definido. A série realmente abraça o nonsense e a comédia e faz destes elementos seus principais atrativos.
Os vilões por si só são um bando de malucos, elevando o nonsense da série e o clima lisérgico sessentista à décima potência. Temos o Coringa de Cesar Romero disputando quem que era o vilão mais engraçado e risonho com o Charada de Frank Gorshin.
Tínhamos também a sensual Julie Newmar e Eartha Kitt, ambas fazendo a Mulher-Gato em períodos distintos do seriado, além é claro do bufão Burgess Meredith como o Pinguim.
Pois é, caro leitor, tem tudo isso e mais algumas surpresas. Quando eu era criança eu adorava, nunca perdia um episódio. Mas aí veio a série animada dos anos 90 e minha concepção de Batman acabou amadurecendo um pouco e mudando totalmente. Quando se é criança, geralmente a gente se apega na primeira coisa que vê, mas quando se cresce, você começa a se perguntar certas coisas, como por que você gosta tanto de algo. E aí várias coisas em que você acreditava a princípio podem mudar. Eu confessei em meu artigo sobre o filme que eu não gostava desta versão de Batman, agora direi o porquê, aliás, os porquês.
Quando eu tinha meus 14 anos eu comecei a assistir a série animada dos anos 90 e lia as HQs do personagem. As vezes ficava me perguntando a razão do personagem ser tão sombrio em uma coisa e tão alegre em outra. Acabou que, após muito tempo eu acabei descobrindo as razões pela qual o personagem havia sido criado a princípio.
Batman foi planejado pelos criadores Bill Finger e Bob Kane para ser um personagem de histórias pulp. Manja aqueles personagens como o Fantasma, Mandrake ou o detetive Sam Spade? Pois é. De certa forma eu acabei me sentindo traído pela série sessentista, por ter me passado uma visão que, em essência, não era a visão que os criadores do Batman tinham para o personagem. Essa visão se agravou mais ainda no momento em que eu descobri que muito do universo da série animada noventista era uma tradução praticamente fiel aos quadrinhos originais dos anos 70 e 80, que remontam às origens do Batman no final dos anos 30. Aí eu já estava meio cansado do seriado sessentista e achando aquela visão da série animada um verdadeiro colosso de trabalho, amando praticamente tudo que havia na animação e tive contato com muitas HQs oitentistas do Batman que eram violentas e traziam todo aquele fundo noir do personagem antes de virar um tiozão nos quadrinhos.
A coisa acabou piorando um pouco mais para o Batman sessentista quando eu finalmente descobri isso: um psicólogo imbecil chamado Fredric Wertham escreveu um livro chamado Seduction of the Innocent, onde ele alega que, baseado nas histórias em quadrinhos (se é que o idiota conhecia alguma coisa de quadrinhos) e na série sessentista, ele acusava personagens como a Mulher-Maravilha de ser uma lésbica e Batman e Robin de serem homossexuais. Mesmo após intensos esclarecimentos dos próprios criadores dizendo que Batman e Robin eram sim, heterossexuais convictos, o projeto de psicólogo aí acabou deixando uma ferida que sangrou durante muitos anos e motivos para pessoas fazerem chacota dos personagens que desde criança me inspiraram.
E eu quero deixar claro uma coisa aqui: não é a razão de acusarem a dupla dinâmica de homossexualismo que me deixa realmente puto, mas sim, de alguém de fora que não possui o mais remoto conhecimento e propriedade para falar de uma criação taxar ela de algo que não seja. Eu não tenho preconceitos e sou totalmente a favor de o público homossexual ter seus ícones também, como é o caso do super-herói da Marvel, Pantera Negra, que é um herói muito interessante e homossexual assumido. Aliás, a Marvel Studios vem planejando fazer um filme dele, e eu realmente estou curioso para assistir quando sair. Mas vir acusar ícones da minha infância que eu escolhi como meus exemplos justamente por serem o que são, de algo que não sejam é muita sem-vergonhice e muita perversidade na minha opinião.
Enfim, essas coisas todas fizeram com que eu cada vez mais fosse me distanciando do seriado sessentista. No entanto, com o passar dos anos, eu fui entendendo as razões pelas quais muitas pessoas ainda a adoram tanto. A comédia e a aventura descompromissada daquele seriado presentes a todo momento é, de fato algo intoxicante. Sem falar que possui grandes lições de vida para as crianças, então eu fui vendo essas qualidades, sabem, tentando canalizar novamente meu olhar de criança e vi que é algo realmente inofensivo e que eu não gosto por motivos pessoais e que eu defini pra mim, de forma que consigo compreender completamente por que outras pessoas ainda tem essa série perto do coração. São heróis fazendo heroísmos e vilões fazendo vilanias e pronto, tudo muito preto e branco, sem tons de cinza.
Porém, para mim, vale muito mais o caráter acinzentado de Batman em suas histórias sérias e dramáticas, são as coisas que realmente me prendem a atenção para o personagem, de forma que eu termino minha fala aqui nesta edição dizendo: se você curte a série sessentista, vá em frente e seja feliz.
Sem contar diversas outras participações especiais no seriado, fazendo desde outros vilões da galeria de Batman a outros tipos igualmente malucos. Dessas participações pode-se destacar o grande diretor Otto Preminger (de Anatomy of a Murder), o ator George Sanders (que fez Rebecca, de Alfred Hitchcock) e o grande Eli Wallach (o "Tuco" de The Good, The Bad and the Ugly), todos os três como o Sr Gelo em períodos distintos da série, o grande ator de filmes clássicos de terror Vincent Price como o Cabeça de Ovo, Victor Buono como o famigerado Rei Tut, o único personagem desta relação que foi criado especialmente para a série, David Wayne como o Chapeleiro Maluco, Walter Slezak como o Rei dos Relógios e muitos outros mais.
Os três Sr. Frio da série, Cabeça de Ovo, Rei Tut, Chapeleiro Maluco e o Rei dos Relógios |
E ainda, a série incorporou aquela coisa dos seriados quarentistas de deixar um cliffhanger no final de cada episódio para deixar o expectador sedento por saber o que iria acontecer com a dupla dinâmica no episódio seguinte. Os episódios eram quase sempre duplos, por consequência uma participação especial muitas vezes estava em dois episódios da série, a exemplo dos vilões acima. E acabava sempre com aquela chamada, lembram? "Não perca a conclusão eletrizante deste episódio, nesta mesma bat-hora, neste mesmo bat-canal!"
Pois é, caro leitor, tem tudo isso e mais algumas surpresas. Quando eu era criança eu adorava, nunca perdia um episódio. Mas aí veio a série animada dos anos 90 e minha concepção de Batman acabou amadurecendo um pouco e mudando totalmente. Quando se é criança, geralmente a gente se apega na primeira coisa que vê, mas quando se cresce, você começa a se perguntar certas coisas, como por que você gosta tanto de algo. E aí várias coisas em que você acreditava a princípio podem mudar. Eu confessei em meu artigo sobre o filme que eu não gostava desta versão de Batman, agora direi o porquê, aliás, os porquês.
Quando eu tinha meus 14 anos eu comecei a assistir a série animada dos anos 90 e lia as HQs do personagem. As vezes ficava me perguntando a razão do personagem ser tão sombrio em uma coisa e tão alegre em outra. Acabou que, após muito tempo eu acabei descobrindo as razões pela qual o personagem havia sido criado a princípio.
Batman foi planejado pelos criadores Bill Finger e Bob Kane para ser um personagem de histórias pulp. Manja aqueles personagens como o Fantasma, Mandrake ou o detetive Sam Spade? Pois é. De certa forma eu acabei me sentindo traído pela série sessentista, por ter me passado uma visão que, em essência, não era a visão que os criadores do Batman tinham para o personagem. Essa visão se agravou mais ainda no momento em que eu descobri que muito do universo da série animada noventista era uma tradução praticamente fiel aos quadrinhos originais dos anos 70 e 80, que remontam às origens do Batman no final dos anos 30. Aí eu já estava meio cansado do seriado sessentista e achando aquela visão da série animada um verdadeiro colosso de trabalho, amando praticamente tudo que havia na animação e tive contato com muitas HQs oitentistas do Batman que eram violentas e traziam todo aquele fundo noir do personagem antes de virar um tiozão nos quadrinhos.
A coisa acabou piorando um pouco mais para o Batman sessentista quando eu finalmente descobri isso: um psicólogo imbecil chamado Fredric Wertham escreveu um livro chamado Seduction of the Innocent, onde ele alega que, baseado nas histórias em quadrinhos (se é que o idiota conhecia alguma coisa de quadrinhos) e na série sessentista, ele acusava personagens como a Mulher-Maravilha de ser uma lésbica e Batman e Robin de serem homossexuais. Mesmo após intensos esclarecimentos dos próprios criadores dizendo que Batman e Robin eram sim, heterossexuais convictos, o projeto de psicólogo aí acabou deixando uma ferida que sangrou durante muitos anos e motivos para pessoas fazerem chacota dos personagens que desde criança me inspiraram.
E eu quero deixar claro uma coisa aqui: não é a razão de acusarem a dupla dinâmica de homossexualismo que me deixa realmente puto, mas sim, de alguém de fora que não possui o mais remoto conhecimento e propriedade para falar de uma criação taxar ela de algo que não seja. Eu não tenho preconceitos e sou totalmente a favor de o público homossexual ter seus ícones também, como é o caso do super-herói da Marvel, Pantera Negra, que é um herói muito interessante e homossexual assumido. Aliás, a Marvel Studios vem planejando fazer um filme dele, e eu realmente estou curioso para assistir quando sair. Mas vir acusar ícones da minha infância que eu escolhi como meus exemplos justamente por serem o que são, de algo que não sejam é muita sem-vergonhice e muita perversidade na minha opinião.
Enfim, essas coisas todas fizeram com que eu cada vez mais fosse me distanciando do seriado sessentista. No entanto, com o passar dos anos, eu fui entendendo as razões pelas quais muitas pessoas ainda a adoram tanto. A comédia e a aventura descompromissada daquele seriado presentes a todo momento é, de fato algo intoxicante. Sem falar que possui grandes lições de vida para as crianças, então eu fui vendo essas qualidades, sabem, tentando canalizar novamente meu olhar de criança e vi que é algo realmente inofensivo e que eu não gosto por motivos pessoais e que eu defini pra mim, de forma que consigo compreender completamente por que outras pessoas ainda tem essa série perto do coração. São heróis fazendo heroísmos e vilões fazendo vilanias e pronto, tudo muito preto e branco, sem tons de cinza.
Porém, para mim, vale muito mais o caráter acinzentado de Batman em suas histórias sérias e dramáticas, são as coisas que realmente me prendem a atenção para o personagem, de forma que eu termino minha fala aqui nesta edição dizendo: se você curte a série sessentista, vá em frente e seja feliz.
Batman (1966-1968)
Título em português BR: Batman
Nota: 7 / 10
Direção: Oscar Rudolph, James B. Clark, George Waggner, Sam Strangis, Robert Butler, Murray Golden, Larry Peerce e outros
Produção: William Dozier, William P. D'Angelo, Howie Horwitz
Criação e roteiros: William Dozier, Lorenzo Semple Jr., Edmond Hamilton, Sheldon Moldoff, Stanley Ralph Ross, Charles Hoffman, Stanford Sherman, e outros
Trilha sonora: Nelson Riddle, Billy May, Warren Barker, Neal Hefti
Estrelando: Adam West, Burt Ward, Alan Napier, Neil Hamilton, Stafford Repp, Madge Blake, Yvonne Craig, Cesar Romero, Burgess Meredith, Julie Newmar, Frank Gorshin, Victor Buono, Vincent Price, Eartha Kitt, David Wayne, Eli Wallach, George Sanders, Walter Slezak, Malachi Throne, John Astin, Otto Preminger, Tallulah Bankhead, Michael Rennie, Art Carney
Trailer:
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