Monday, April 6, 2015

NO CINEMA: The Homesman (Dívida de Honra)

Tommy Lee Jones sempre habitou uma lista minha de tipos que acho interessante. Como diretor ele já havia feito outro trabalho, a produção franco-americana de 2005 The Three Burials of Melquiades Estrada (Três Enterros). Nesta nova empreitada de Lee Jones como diretor, The Homesman, baseado no romance de 1988 escrito por Glendon Swarthout, o ator toma a estrada do projeto pessoal e encarna novamente o tipo que ele adora encarnar, que é o homem comum, da zona rural, por quem ninguém daria nada, às vezes até mais bruto e rude como é o caso aqui. Está dentro daquilo que esperamos de uma atuação dele encarnar esses tipos, embora eu prefira quando ele faça homens da lei, como é o caso de ótimos filmes como The Fugitive, Men in Black e No Country for Old Men. Jones, que ainda faz o screenplay do filme, e atua como produtor executivo, ainda conta com as presenças ilustres de Hilary Swank, Meryl Streep, John Lithgow e William Fichtner.

Em The Homesman, Swank é Mary Bee Cuddy, uma senhora de New York solteira que mora em um povoado em Nebraska e que recebe a incumbência de levar três esposas que ficaram loucas por causa da rotina dos pioneiros do oeste em 1854 até uma igreja de um outro povoado em Iowa. Ela tem seus problemas pessoais, como vemos quando nenhum dos homens do povoado quer casar com ela. O tipo de Swank é o pária que não se enquadra dentro dos padrões da sociedade, como bem vemos quando os homens do povoado insistem em classificá-la como mandona. O fato de ela se julgar uma boa e fiel companheira e alegadamente saber tocar piano ou cantar também não ajuda. Para piorar, ela sofre de depressão, que só piora com as recusas de seus pretendentes.

Enquanto ela está a caminho de sua missão, ela se encontra com o personagem de Jones, George Briggs, um sujeito pouco amigável que está sentado em um cavalo com uma corda no pescoço pendurada em um galho de árvore. Mary salva o homem em troca de que ele a ajude com a carga em sua carroça. Conforme a viagem procede, os dois vão compartilhando seus segredos e descobrindo que eles tem a mesma coisa em comum, ou seja, a de serem dois párias. No entanto, George se mostra mais o tipo de porco sovina que custa a compartilhar seus segredos.

A jornada dos dois acaba causando um certo envolvimento entre eles, quanto mais vão vivenciando os seus fantasmas do passado. George já tem mais motivos para não temer a imensidão selvagem que é seu habitat natural, mas Mary se angustia a cada instante. Pouco a pouco ela vai perdendo a panca de mandona e se deixa perder no meio da pradaria, há uma cena que dura um bom tempo em que ela está a cavalo e não sabe retornar de onde veio. É nesta hora que ela acaba baixando a guarda e resolve se entregar ao velho, tentando mais uma vez lutar contra as convenções sociais. Mas o caso de George já é mais sério, uma vez que ele não consegue se ligar a nada, preferindo ficar isolado das relações sociais.

Isso tem consequências desastrosas para um dos lados. Mas a discussão sobre a honra, a moral e os anseios humanos prossegue com as mulheres loucas, que estão verdadeiramente desconectadas do mundo e precisam de ajuda mais do que todos. Talvez esta loucura advinda dessas mulheres tenha articulado algum tipo de questionamento a priori, que faz com que Mary ignore sua depressão e por um momento pense ser mais normal do que imaginava, mas a indiferença de George vai aos poucos corroendo qualquer sentido que a mulher tenha encontrado.

Jones brilha na direção do filme, com uma fotografia primorosa e um trabalho brilhante na concepção do roteiro do filme. A trilha sonora de Marco Beltrami é discreta e bonita, e não se sobressai ao que está acontecendo na tela, dando o toque sutil que complementa a história. Porém, o final da história deixa dúvidas se realmente nesta aparente busca por redenção houve alguma mudança no caráter de George, uma vez que ele parece uma hora se sensibilizar e na outra voltar ao seu estado antigo de indiferença. Talvez esta seja a questão que o ator queira nos deixar. Será que realmente mudamos com as situações que passamos na vida ou no fundo fingimos e continuamos nos aproveitando de tais situações? De qualquer forma, esta narrativa bem mccarthyana, traduzida na bela adaptação inteiramente de cunho pessoal de Tommy Lee Jones é um ótimo filme e que merece ser conferido.

The Homesman (2014)
Título em português BR: Dívida de Honra
Nota: 8,5 / 10

Direção: Tommy Lee Jones
Produção: Tommy Lee Jones, Luc Besson, Peter Brant, Brian Kennedy, G. Hughes Abell, Deborah Dobson Bach, Michael Fitzgerald, Larry Madaras, Richard Romero
Roteiro: Tommy Lee Jones, Kieran Fitzgerald, Wesley A. Oliver (baseado no romence de Glendon Swarthout)
Trilha sonora: Marco Beltrami

Estrelando: Tommy Lee Jones, Hilary Swank, Grace Gummer, Miranda Otto, Sonja Richter, William Fichtner, John Lithgow, James Spader, Meryl Streep

Trailer:

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