Thursday, April 9, 2015

CINESSÉRIE: The Batman (O Morcego) - especial Batman na Tela: edição 1

Imagine só você que nos anos 40, as pessoas iam assistir filmes serializados no cinema. Pois é. Como ninguém ainda possuía um televisor em casa, era comum as pessoas gastarem um dinheiro para ir ao cinema assistir alguns minutos de seriado. E o cinema capitalizava em cima disso, haviam as pré-atrações antes do filme e a atração principal. Haviam séries que faziam muito sucesso e eram campeãs de bilheteria, outras nem tanto. Neste período, os quadrinhos reinavam nos cinemas. Sim, você leu direito, os quadrinhos. O quê? Tá pensando que esse negócio de filmes baseado em HQs é coisa nova? Bom, lamento então te dar essa informação, mas o primeiro vendaval de produções baseadas em HQs foram nos anos 40 do bom e velho séc. XX. Havia de tudo, havia Superman, havia Capitão Marvel, havia O Fantasma, enfim, doses e doses cavalares de diversão para você e sua família. O Batman também foi na onda e ganhou uma série em 1943. Pois é. Pena que não vingou!


A primeira bat-série que se tem notícia e também a primeira produção feita para o cinema relacionada ao Batman recebeu o título de The Batman e foi lançada pela Columbia na época, muito antes da WB comprar os direitos do personagem. Dividida em 15 episódios de uma média de 15 a 18 minutos cada, contendo um total de 260 minutos de duração, a série estreia com seu primeiro episódio em todos os cinemas americanos com o título de "The Electrical Brain". O que se vê é... bem... não é lá algo muito atraente. Vemos um Batman sentado em uma cadeira, pensativo em um lugar cheio de morceguinhos de papel voando, Robin chega, o narrador diz que os nossos protagonistas representam a juventude americana que luta pelo seu país, etc, etc, etc. Não há menção alguma do passado trágico de Bruce Wayne nem da tragédia que acometeu Robin, é como se de repente, do nada, dois sujeitos tivessem resolvido colocarem roupas engraçadas e combater o crime. Tudo porque os roteiristas não receberam aval para trabalhar em cima das histórias de origem dos quadrinhos, então transformaram a dupla em agentes do governo.

E quando eu digo roupas engraçadas, amigos, olha, tem que segurar o riso pra não embaçar a visão dos olhos... olha só pra isso...


Se tem que ter alguém pra rir desses dois, prefiro que seja o Joker!

Cuecas desproporcionalmente grandes, máscara folgada na cara, chifrinhos molengas... e um protagonista (Lewis Wilson) com uns quilinhos a mais na pança acompanhado por um garoto (Douglas Croft) sem calças, só de cueca, com um cabelinho engraçado e uma máscara de baile... enfim... fórmula certa para comédia involuntária. Dá até vergonha! Caso em que os heróis parecem melhores sem seus trajes de heróis do que vestindo eles. Parecem até aquelas fantasias baratas que se compra no 1,99!

Sr. Wayne, que bom vê-lo, escuta, sabe... PFFFHAHAHAHAHAHAH!!!

A história então do seriado era risível por si só! Acompanhamos a caçada da dupla dinâmica indo atrás (ou será andando em círculos?) de um vilão nipônico engraçado e fanho chamado Dr. Tito Daka. Pois é, não tem vilão algum da galeria clássica do Batman, e olha que em 1943 já existiam o Coringa, o Espantalho, o Duas-Caras, o Pinguim, até a Mulher-Gato já tinha. Mas não, nós ganhamos aqui um estereótipo americano de um japonês, interpretado pelo ator americano J. Carrol Naish.

Bom, vamos ao contexto antes de alguém sair por aí berrando "preconceito, racismo" e tal. Você sabe o que está acontecendo em 1943? Isso mesmo, estamos em plena Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Durante esse período, os japoneses lutaram contra os EUA, ou seja, nada mais lógico para a época do que termos um vilão nipônico querendo desestabilizar o "american way of life". É óbvio que essa jogada deixou a série de cinema datada, nem preciso falar; mas que foi o vilão certo na hora certa, isso foi. De início as pessoas até compraram a ideia, mas vendo a qualidade dessa patacoada toda, a audiência foi aos poucos mirrando, até o seriado ficar esquecido nas areias do tempo. E o Dr. Daka vinha completo, com esconderijo secreto todo ornamentado, estátua de Buda atrás, capacete para controlar a mente das pessoas e um raio destruidor; ah sim, e os seus capangas. Quem não concordava com ele não ia para o saco, mas sim para o capacete.

Enfim, falamos do vilão, vamos ver como eram os nossos heróis. Será que eram tão abestados quanto se vestiam? Pior que eram mesmo! As cenas de lutas eram patéticas! Risíveis! Os atores não faziam outra coisa a não ser se limitarem a socos desencontrados e agarrões. Pior que sempre apanhavam dos capangas! A "coreografia" das lutas era tão porca que as coisas voavam em cenário, ou desapareciam. Tem uma cena por exemplo em um dos episódios que o "Batman, sim, Batman" como diz o narrador da chamada, perde a capa enquanto luta; aí tem um corte e na cena seguinte a capa volta pra ele, como num passe de mágica!

Sem capa... com capa... alakazam!

CONTINUIDADE: significa que você não pode fazer isso!!

Sem falar em muitas outras situações porcas e sem explicação nenhuma, como um maço de cigarros caindo do cinto do morcegudo quando sobe uma escada, ou então ele sendo empurrado por capangas de um muro e sentando nele POR VONTADE PRÓPRIA pra que os capangas o derrubassem, ou então em um outro episódio temos o "Batman, sim, Batman" sendo derrubado, e um elevador quase caindo em cima dele, mas o Robin se recuperando a tempo pra salvar seu infeliz parceiro de orelhas molengas borra-bosta de ser esmagado pelo elevador, enfim... uma tonelada de humor involuntário para o expectador se borrar de rir.

E a máquina de controle da mente do Dr Daka então!! Parece mais uma daquelas coisinhas de brinquedo que víamos nos episódios do Chapolim Colorado!

Bonito chapéu, senhorita! Onde comprou?

E não podemos esquecer da maior falha de todas, o "bat-móvel"! Então, não havia! O carro que Alfred usava pra levar seus chefinhos pra lá e pra cá era o mesmo usado por Batman e Robin! Santa ignorância!! Será que ninguém percebia que tanto o milionário e seu pupilo e suas contrapartes tinham o mesmo carro e o mesmo mordomo?? Como que ninguém atentou pra isso? Eu já teria descoberto a identidade desses doidos num piscar de olhos!

Enfim, este seriado é uma zoação involuntária que só vendo! Mesmo se você for meio ranzinza, te garanto que vai cansar de dar risada com os absurdos, as crateras de roteiro, os erros de gravação bem no meio da história e todo o guarda-roupa esdrúxulo da dupla protagonista! Mas não desperdice seu dinheiro com essa xurumela. Vá ao Youtube que lá você vai encontrar todos os episódios. Aliás, a capa do DVD que usam para comercializar a coisa é uma tremenda de uma pegadinha do malandro, ela te vende a impressão de que você vai testemunhar algo épico:

Sei, sei! Me enganem que eu gosto!
Mas enfim, nós acabamos de ver do que realmente se trata, portanto, fica aqui o aviso para os desavisados que avistarem essa caixa acima nas lojas especializadas. Moral da história: não recomendo, especialmente para os fãs afoitos, mas se for vista lá no Youtube com o conhecimento de que esta foi a primeira tentativa de levar o "Batman, sim, Batman" ao grande público, pode até ser divertido pelo humor involuntário nas situações toscas. Normalmente, um fracasso desses hoje em dia seria razão para estúdios jamais quererem saber de novo de determinada franquia, mas para nossa surpresa, essa doideira teve continuação em 1949. Mas isso é assunto para a próxima vez.

Curiosidades:

Você sabia que a Batcaverna não existia nos quadrinhos até 1943? Sim, isso mesmo, ela foi criada aqui neste seriado!! Nos quadrinhos era assim, quando Bruce Wayne queria se vestir, simplesmente pegava o pijama de Batman dobradinho do seu guarda-roupa. Com a criação da "caverna do morcego", como era chamada no seriado (The Bat's Cave), mais tarde alterada nas HQs para Batcave, a caverna também foi incluída na mídia original, porque os criadores Bill Finger e Bob Kane procuravam manter uma continuidade entre os quadrinhos e o cinema.

Contemplem: a primeira Batcaverna!

Outra coisa que também faz dessa série algo a ser mencionado, é o ator que fez Alfred. Nos quadrinhos, o personagem era bem diferente. Aliás, Batman nas primeiras histórias não possuía um mordomo, ele morava sozinho na Mansão Wayne. Aliás, ele nem morava em Gotham City, tanto a cidade quanto o mordomo foram inventados depois que foram publicadas as primeiras histórias de Batman na revista Detective Comics. Portanto, o Alfred das HQs era bastante diferente e nem mesmo tinha treinamento militar. O próprio Bruce Wayne, em Batman #16 diz que ele não tem tido um mordomo por anos. Após a série, tanto a aparência do ator que faz o Alfred, William Austin, foi incorporada nas HQs como modelo visual do personagem quanto seu histórico (Alfred sempre esteve perto do jovem Bruce Wayne desde quando perdeu seus pais e se tornou sua figura paterna) e novo sobrenome, Pennyworth, substituindo o sobrenome originalmente dado ao personagem, Beagle, que passou a ser um sobrenome de um Alfred em universos alternativos.

Alfred Beagle em Batman #16 de 1943 e Alfred Pennyworth, com o visual do ator William Austin, o Alfred que conhecemos até hoje.

A série também foi pioneira em deixar cliffhangers no final de cada episódio, de forma semelhante à série de 66 de Adam West.



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The Batman (1943)
Título em português BR: O Morcego
Nota: 3,5 / 10

Lista de episódios:
01. The Electrical Brain
02. The Bat's Cave
03. The Mark of the Zombies
04. Slaves of the Rising Sun
05. The Living Corpse
06. Poison Peril
07. The Phoney Doctor
08. Lured by Radium
09. The Sign of the Sphinx
10. Flying Spies
11. A Nipponese Trap
12. Embers of Evil
13. Eight Steps Down
14. The Executioner Strikes
15. The Doom of the Rising Sun

Direção: Lambert Hillyer
Produção: Rudolph C. Flothow
Criação e roteiros: Victor McLeod, Leslie Swabacker, Harry Fraser (baseada nas HQs escritas por Bill Finger, Bob Kane e Jerry Robinson)
Trilha sonora: Lee Zahler

Estrelando: Lewis Wilson, Douglas Croft, J. Carrol Naish, Shirley Patterson, William Austin

Trailer:


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