Nota: 8 / 10
Há algum tempo atrás eu comecei a prestar mais atenção num cara chamado Felipe Folgosi. Como não assisto televisão, eu nem sequer fazia ideia de que ele já era conhecido anteriormente por telenovelas, mas como leio muito os quadrinhos, acabei finalmente conhecendo-o através de sua primeira obra em quadrinhos, Aurora, lançado em 2015, uma história bem interessante.
Agora, o ator e roteirista, ainda apostando no quadrinho independente, lança seu segundo trabalho nesta mídia, a história chamada Comunhão. Quanto a esta última, eu realmente fiquei esperando ela sair, e comprei faz pouco tempo. Impressões? Bem, eu percebi que a religiosidade é uma característica extremamente forte na narrativa do Folgosi, o que não é ruim, mas tenho algumas observações em relação a isso que tratarei logo abaixo.
Comunhão pode ser encarada como uma história de terror com elementos de safari, ou seja, possui aquela aura aventuresca, mas como em toda boa história de terror, alguma tragédia sempre acaba acontecendo. A história não tem esse nome a toa, pois não só seus protagonistas "comungam" em termos de grupo, como também passam por uma situação em que o conceito de comunidade unida será importante a todos, diante dos perigos.
Novamente, assim como em Aurora, temos aqui um roteiro que Folgosi escreveu originalmente para virar filme, mas terminou por transformá-lo em quadrinhos por questões de logística e custo de produção. A história é sobre um grupo de aventureiros que decidem ir para uma selva brasileira fazer uma caminhada, mas lá eles acabam encontrando muito mais do que as paisagens e a natureza. Eles acham uma tribo indígena que está sob os cuidados de alguém.
Amy, a protagonista da história, se converteu faz pouco tempo, e aceitou Deus no coração. Isso aconteceu, porque ela é uma ex-piloto que sofreu um acidente, e por causa disso, parou com sua paixão, que era correr, mas como sobreviveu ao acidente, teve motivos para crer que foi obra do Divino. Nesse grupo, você tem a ela, você tem os céticos, mas que respeitam a escolha da moça, e você também tem um ateu que é bem categórico em sua crença de não haver Deus. Porém, neste grupo todos eles comungam da mesma paixão, que é a aventura.
Passado algum tempo, o grupo se separa, e Amy fica sozinha perto de uma lagoa com um cara que tem uma caída por ela, enquanto os outros vão apostar corrida. Ele a convida para um mergulho na lagoa, uma coisa leva a outra, e eles quase chegam à "brincar" na lagoa, quando um menino indígena rouba algo, e ele corre atrás do moleque, mas quebra a perna. Quando o grupo se reúne de novo, eles começam a querer achar um lugar para levar o amigo ferido, e acabam encontrando uma cabana, com um cara dentro que parece o Walter White de Breaking Bad.
Eles descobrem que o tal cara é um missionário que celebra missas no lugar, catequizando os índios e meio que sendo um "chefe" de tribo naquela região; ele acolhe os aventureiros e os ajuda. E é a partir daí que coisas macabras começam a acontecer. Qualquer outra coisa que eu disser a partir disso, será um grande spoiler; esta sinopse somente já lhe deve estar apontando as possíveis repercussões que essa trama pode ter.
E claro, sendo uma história de terror, muita gente morre nela, isso já não é spoiler, é somente o modus operandi do gênero de terror sendo usado aqui. Você sabe, eu sei.
Pois bem, de forma geral, eu achei uma história bacana. Não é melhor que Aurora, acho que a primeira HQ do Folgosi foi mais dinâmica e interessante. Mas esta daqui não deixa de ser um bom lançamento e uma mudança positiva de ares para que o autor possa explorar outros gêneros.
Tem também a questão da religião. Isso é uma coisa muito forte e pungente na obra do Folgosi, e de uma maneira positiva. A obra do autor leva as pessoas, ou pelo menos as convida, a reavaliar os seus conceitos de religião e espiritualidade, o que eu acho bastante positivo. No entanto, eu como leitor e observador, recomendaria que Folgosi usasse sempre de um certo grau de sutileza, sem é claro, desvirtuar de sua verdadeira mensagem. As citações de passagens bíblicas em suas histórias eu acho bacanas, e contextualizam aquilo tudo que se passa; exemplo, é a citação do Livro de Amós em Aurora, e aqui em Comunhão, o Livro de Mateus, na passagem em que Cristo nos alerta sobre os falsos profetas.
Eis outra coisa que eu mudaria em Comunhão: colocaria a citação, mas no final do texto, após o término da história, de modo a deixar a audiência se familiarizar primeiro com tudo, pois aqui, a verdadeira natureza do antagonista da narrativa já foi deflagrada no começo, e creio que seria mais vantajoso, até mesmo pela questão da sutileza que mencionei, que isso fosse um segredo, até o fim da história, quando então seria revelada a mensagem.
Por que acho que a sutileza é tão importante? Para a coisa não parecer deveras pregativa. Senão, corre-se o risco de Folgosi falar somente com gente como eu, que já possui essa religiosidade, marginalizando aqueles que ele poderia estar arrebanhando na mensagem de sua obra. Não é a toa que Cristo sempre falava aos outros em forma de parábolas, não para soar bonito, nem para parecer intelectual, muito menos para esconder sua verdadeira intenção, mas Ele sabia que só assim, outras pessoas o ouviriam.
Fora essa questão da sutileza, a história é bacana, e também bastante sanguinária, contendo cenas de mutilações, decapitações, e toda sorte de maldade humana possível. Obviamente, porque se trata de uma narrativa de terror, o que justifica tal fim. A arte preta e branca do desenhista J. B. Bastos também ficou ótima, muito embora eu acho que poderia ter coloração, mas ficou bacana a estilização dos painéis, ainda mais com o formato gigante da HQ, que tem medidas equivalentes a de um pôster. Tive que ajeitar ela bem na minha estante, ao lado de Aurora, para guardar.
De forma geral, uma narrativa bastante envolvente e divertida, até emotiva por vezes. Gostei dos diferenciais usados aqui nesta história, muito embora ainda ache Aurora um trabalho mais bem acabado. Mas eu recomendo a leitura de Comunhão a todos, especialmente agora no final do ano, é uma história de terror bem envolvente, e que, no fim das contas, nos mostra que mesmo frente às situações mais desesperadoras, não devemos perder a nossa fé.
Editora: Instituto dos Quadrinhos
Formato: Graphic Novel
Roteiro: Felipe Folgosi
Desenhista: J. B. Bastos
Letrista: Flavio Soares
Editor: Klebs Junior
Novamente, assim como em Aurora, temos aqui um roteiro que Folgosi escreveu originalmente para virar filme, mas terminou por transformá-lo em quadrinhos por questões de logística e custo de produção. A história é sobre um grupo de aventureiros que decidem ir para uma selva brasileira fazer uma caminhada, mas lá eles acabam encontrando muito mais do que as paisagens e a natureza. Eles acham uma tribo indígena que está sob os cuidados de alguém.
Amy, a protagonista da história, se converteu faz pouco tempo, e aceitou Deus no coração. Isso aconteceu, porque ela é uma ex-piloto que sofreu um acidente, e por causa disso, parou com sua paixão, que era correr, mas como sobreviveu ao acidente, teve motivos para crer que foi obra do Divino. Nesse grupo, você tem a ela, você tem os céticos, mas que respeitam a escolha da moça, e você também tem um ateu que é bem categórico em sua crença de não haver Deus. Porém, neste grupo todos eles comungam da mesma paixão, que é a aventura.
Passado algum tempo, o grupo se separa, e Amy fica sozinha perto de uma lagoa com um cara que tem uma caída por ela, enquanto os outros vão apostar corrida. Ele a convida para um mergulho na lagoa, uma coisa leva a outra, e eles quase chegam à "brincar" na lagoa, quando um menino indígena rouba algo, e ele corre atrás do moleque, mas quebra a perna. Quando o grupo se reúne de novo, eles começam a querer achar um lugar para levar o amigo ferido, e acabam encontrando uma cabana, com um cara dentro que parece o Walter White de Breaking Bad.
Eles descobrem que o tal cara é um missionário que celebra missas no lugar, catequizando os índios e meio que sendo um "chefe" de tribo naquela região; ele acolhe os aventureiros e os ajuda. E é a partir daí que coisas macabras começam a acontecer. Qualquer outra coisa que eu disser a partir disso, será um grande spoiler; esta sinopse somente já lhe deve estar apontando as possíveis repercussões que essa trama pode ter.
E claro, sendo uma história de terror, muita gente morre nela, isso já não é spoiler, é somente o modus operandi do gênero de terror sendo usado aqui. Você sabe, eu sei.
Pois bem, de forma geral, eu achei uma história bacana. Não é melhor que Aurora, acho que a primeira HQ do Folgosi foi mais dinâmica e interessante. Mas esta daqui não deixa de ser um bom lançamento e uma mudança positiva de ares para que o autor possa explorar outros gêneros.
Tem também a questão da religião. Isso é uma coisa muito forte e pungente na obra do Folgosi, e de uma maneira positiva. A obra do autor leva as pessoas, ou pelo menos as convida, a reavaliar os seus conceitos de religião e espiritualidade, o que eu acho bastante positivo. No entanto, eu como leitor e observador, recomendaria que Folgosi usasse sempre de um certo grau de sutileza, sem é claro, desvirtuar de sua verdadeira mensagem. As citações de passagens bíblicas em suas histórias eu acho bacanas, e contextualizam aquilo tudo que se passa; exemplo, é a citação do Livro de Amós em Aurora, e aqui em Comunhão, o Livro de Mateus, na passagem em que Cristo nos alerta sobre os falsos profetas.
Eis outra coisa que eu mudaria em Comunhão: colocaria a citação, mas no final do texto, após o término da história, de modo a deixar a audiência se familiarizar primeiro com tudo, pois aqui, a verdadeira natureza do antagonista da narrativa já foi deflagrada no começo, e creio que seria mais vantajoso, até mesmo pela questão da sutileza que mencionei, que isso fosse um segredo, até o fim da história, quando então seria revelada a mensagem.
Por que acho que a sutileza é tão importante? Para a coisa não parecer deveras pregativa. Senão, corre-se o risco de Folgosi falar somente com gente como eu, que já possui essa religiosidade, marginalizando aqueles que ele poderia estar arrebanhando na mensagem de sua obra. Não é a toa que Cristo sempre falava aos outros em forma de parábolas, não para soar bonito, nem para parecer intelectual, muito menos para esconder sua verdadeira intenção, mas Ele sabia que só assim, outras pessoas o ouviriam.
Fora essa questão da sutileza, a história é bacana, e também bastante sanguinária, contendo cenas de mutilações, decapitações, e toda sorte de maldade humana possível. Obviamente, porque se trata de uma narrativa de terror, o que justifica tal fim. A arte preta e branca do desenhista J. B. Bastos também ficou ótima, muito embora eu acho que poderia ter coloração, mas ficou bacana a estilização dos painéis, ainda mais com o formato gigante da HQ, que tem medidas equivalentes a de um pôster. Tive que ajeitar ela bem na minha estante, ao lado de Aurora, para guardar.
De forma geral, uma narrativa bastante envolvente e divertida, até emotiva por vezes. Gostei dos diferenciais usados aqui nesta história, muito embora ainda ache Aurora um trabalho mais bem acabado. Mas eu recomendo a leitura de Comunhão a todos, especialmente agora no final do ano, é uma história de terror bem envolvente, e que, no fim das contas, nos mostra que mesmo frente às situações mais desesperadoras, não devemos perder a nossa fé.
Comunhão (2017)
Nº de edições: 1
Editora: Instituto dos Quadrinhos
Formato: Graphic Novel
Roteiro: Felipe Folgosi
Desenhista: J. B. Bastos
Letrista: Flavio Soares
Editor: Klebs Junior
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