Sunday, March 26, 2017

NO CINEMA: Logan (Logan)

Nota: 10 / 10

"E você pode ficar com tudo / todo meu império de sujeira / eu vou te decepcionar / eu vou te machucar" (Trent Reznor)

"Coisas ruins acontecem com as pessoas que me importo" (Logan)

"Haverá uma escada dourada quando o filho do homem chegar" (Johnny Cash)

E essa é minha mesmo: Logan é, sem sombra de dúvida, o melhor filme do Wolverine feito até o momento, e uma celebração sensacional aos 17 anos de Hugh Jackman no papel. É uma despedida difícil, tanto para o personagem, quanto para a audiência. O filme não tem cenas pré, tampouco pós-créditos, indicando, de forma solene e honrosa, o fim de uma era.

E, caso estejam perguntando, sim... desabei em lágrimas ao final do filme. Não sou de chorar à toa, mas ver aquele personagem, que Jackman adaptou para o cinema e fez seu, dar adeus após tantos anos, foi doloroso; tão doloroso quanto as decapitações e o rio de sangue que o filme faz jorrar, possivelmente, o mais violento da Marvel/Fox até agora. A jornada final de Wolverine termina de forma sofrida, fazendo o expectador pensar o quanto a vida nos desafia a situações das mais extremas e dificultosas; os momentos em que todos estão contra você, onde você não se encaixa, onde todos os seus amigos e aliados foram embora. O momento mais sofrido de toda sua vida.

Mistura de Mad Max e western com road movie, o filme te leva a uma grande jornada de redenção. Lembro do trailer do filme, com a música "Hurt" versão de Johnny Cash. A intenção fica clara, se trata de uma confissão de Logan das coisas que ele fez em vida, das pessoas que machucou. Outro trailer trazia trechos do filme com a música "Amazing Grace", cantada nos EUA quando uma pessoa vem a falecer. Daí eu já me dei conta fácil, de tão escancarada que estava a intenção dos roteiristas ao fim da jornada de Logan. E se você acha ainda que isso é um spoiler, pense com clareza, e me diga: qual outra razão de anunciar este como o filme final de Jackman como o Carcajú, se não fosse para dar cabo dele? É exatamente essa a intenção. Não que saber disso deixe a jornada menos emocional, muito pelo contrário.

O filme é lindo, como um líbelo à culpa e ao ressentimento. Não é nem de longe, uma aventura bacana de quadrinhos, muito embora tenha elementos das HQs. Muito pelo contrário, o filme passa longe de ser a sua típica aventura de verão. Ele fica melhor caracterizado como sendo um belíssimo drama de redenção, pegando os moldes do que Nolan fez com seu Batman, o trazendo para perto do mundo real.

Nele, Logan se machuca. Nele, Logan sofre. Ele encontra uma menina de 11 anos que tem o gene dele, sendo portanto, de certa forma, sua filha. A menina também tem garras nas mãos (além dos pés), e fator de cura. Caliban e ele cuidam de um Xavier no alto de seus 90 anos, já meio gagá e afetado pela idade, não conseguindo controlar seus poderes psíquicos. Em 2029, em um futuro próximo, é onde será o palco onde todos os mutantes serão exterminados e só sobrarão Logan, Xavier e a menina, além de Pierce, o vilão do braço mecânico, e os Reavers.

Segundo os produtores, a história se passa naquela realidade pós Days of Future Past, sendo portanto uma sequência, mas debates dão margem para sugerir que a trama leva em conta apenas o X-Men de 2000 e X-2. Um dos teasers de Deadpool 2 se passa aqui em um cenário de Logan, em que o mercenário tagarela vai ao lugar onde Logan descansa e faz uma graça por lá, então podemos concluir que é a realidade pós-Days of Future Past. Bem, qualquer que seja a realidade, esta é uma história envolvente, cativante e deslumbrante. Os elementos pós-apocalípticos ao estilo de Mad Max casam perfeitamente com sua estrutura de road movie, nos trazendo uma história belíssima e tocante.

Aliás, adorei a forma com que o filme trouxe as HQs dos X-Men pra dentro de seu universo. A história, sugerida pela graphic novel Old Man Logan, também cita o arco das HQs onde os Novos Mutantes estão a procura do Eden, um lugar onde os mutantes podem viver em paz. A referência ao belíssimo faroeste Shane (Os Brutos Também Amam), de 1953, também foi muito bem usada, enriquecendo mais a trama.

Apesar de não referenciar todos os filmes em que Jackman esteve envolvido, ver esta trama é como folhear um álbum de fotos. Nem todas as fotos são boas, claro, e algumas agradam mais do que outras, mas você percebe o peso que Jackman trouxe ao personagem, envelhecido e amadurecido ao longo dos tempos e anos. Você sente a necessidade imediata de Logan de se encontrar nesta última viagem, antes de seu descanso final, antes do fechar das cortinas. Em uma das cenas, dá pra gente ver a espada que o personagem usou em The Wolverine. A continuidade também está em conformidade com este filme anterior do Carcajú, uma vez que Logan tem dificuldades de se curar das feridas, seu fator de cura já não é o mesmo de antes. Uma de suas garras, em uma das cenas, até mesmo dá uma emperradinha na hora de sair.

Outro aspecto interessante é a maturidade deste filme em relação a qualquer outro. Fica até quase difícil de acreditar que o mesmo James Mangold que fez o irregular The Wolverine também desenvolveu esta trama séria, quase que flertando com um George Miller, ou um Sergio Leone. Logan também evoluiu aqui, amadureceu. Já não se trata mais do Wolverine do bordão "eu sou o melhor no que faço, mas o que faço não é nada bonito". Não, aqui o nível já sobe para "coisas ruins acontecem com quem eu me importo". Todo o sofrimento, todas as desventuras pela qual o personagem passou são sentidas, tudo aquilo que o personagem se tornou, experimentou, todo o caminho que ele fez para chegar até aqui, tudo isso se acumula e traz este retrato sóbrio do personagem, velho, monossilábico, descrente, e até mesmo, suicida, claro, sem necessariamente ignorar o humor, de vez em quando, mas a coisa é tão séria, que até mesmo Stan Lee se absteve de aparecer, para não cortar o clima. Dá para sentir cada gota de suor em seu caminho, cada gota de sangue derramada, cada hematoma, cada ferida, tudo que testemunhamos durante o passar do tempo, catarseado nesta última balada do carcajú, neste canto do cisne, entoado de forma sentida e chorosa.

Um verdadeiro adeus a um personagem que cresceu com muitas pessoas. Eu até posso dizer que também cresceu comigo, apesar de eu ser mais velho, da época da saudosa série animada de TV dos X-Men de 1992; mas mesmo assim, ele cresceu comigo. Jackman era criticado no início, lembram? Tinham escolhido ele como o Wolverine, e todo mundo foi lá e tirou uma casquinha, não deram muito crédito ao rapaz. Hoje, dizemos que ele moldou um personagem para o cinema, fazendo com que sua interpretação possivelmente encontre eco no próximo ator que ficar com a difícil tarefa de substituí-lo como o Carcajú. E que venha este novo e jovem talento e dê sua melhor interpretação de Logan, mas jamais nos esqueçamos de Jackman. Ele foi ontem, hoje, e sempre, independente se o filme era bom ou não, um Wolverine espetacular.

Eu recomendo com força este filme final, este final de uma era, que fecha com glórias e cava seu espaço na história. Vá aos cinemas, enquanto você ainda pode, testemunhar este "homão da porra", em uma trama sensacional e emotiva, uma despedida que irá fazer o fã se derreter em lágrimas, após ver o X que fecha o filme. Confira Jackman em uma atuação final que honra o legado do personagem e que nos leva à catarse em seus momentos finais. Obrigado, Hugh Jackman e Patrick Stewart, por 17 anos incríveis!


Logan (2017)
Título em português BR: Logan

Direção: James Mangold
Produção: Simon Kinberg, Stan Lee, James Mangold, Hutch Parker, Lauren Shuler Donner, Dana Robin, Kurt Williams
Roteiro: James Mangold, Scott Frank, Michael Green (baseado em personagens e histórias criadas por John Romita, Roy Thomas, Len Wein, Herb Trimpe, Craig Kyle, Christopher Yost e na HQ Old Man Logan, escrita por Mark Millar, Brian Michael Bendis e Jeff Lemire)
Trilha sonora: Marco Beltrami

Estrelando: Hugh Jackman, Patrick Stewart, Dafne Keen, Boyd Holbrook, Stephen Merchant, Elizabeth Rodriguez, Richard E. Grant, Eriq La Salle, Elise Neal, Quincy Fouse, Reynaldo Gallegos, Krzysztof Soszynski, Stephen Dunlevy, David Kallaway

Filmes da série dos X-Men da Marvel/Fox:
ESPECIAL: A Série de Filmes Marvel/Fox dos X-Men

Trailer:

1 comment:

  1. Assisti o filme ansioso por todos os comentários que havia visto. Todos falando bem do filme. Eu como fã das HQs do X-men achei um filme bem mediano, e vendo como um filme sobre o personagem Wolverine, achei um filme pifio. Acho que é mais um daqueles filmes igual o dark knight, que só conseguimos ver seus defeitos e falar mal dele depois de alguns anos, passado essa animação do lançamento.

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