Nota - Superman: 10 / 10
Nota - Batman: 10 / 10
Uma coisa que o Superman e o Batman tem muito em comum nos quadrinhos, é que ambos ganharam suas, assim chamadas, "histórias finais".
"Uai, Ricardo, mas eles continuam a serem publicados, você fala deles praticamente o tempo todo!"
He he, sim, incauto leitor, isso é verdade. Mas só para garantir, caso um dia eles fossem descontinuados, assim como foram diversos personagens do imaginário popular no passado, alguém então resolveu dar um ponto final em suas aventuras.
Bem vindos às últimas histórias (pelo menos em teoria), do Homem de Aço e do Cavaleiro das Trevas!
E desta vez, eu resolvi fazer uma edição dupla e mais longa, porque não queria, de forma alguma, separar estes dois belíssimos encadernados que a Panini nos trouxe, até mesmo aproveitando a proximidade do feriado para quem se interessar pela leitura. Os volumes foram relançados semana passada, nas bancas, e olhem, vale muito a pena o investimento! Eu já havia tido contato com essas duas histórias do Homem de Aço e do Cavaleiro das Trevas faz muito tempo atrás, mas uma vez que não possuía a versão impressa delas, não consegui resistir à tentação quando vi o luxo com a qual foram tratadas estas histórias dos dois personagens. Os encadernados são em capa dura, e contém, além das histórias principais, várias outras surpresas! Passei o fim de semana todo lendo estes encadernados para lhes trazer aqui minha sincera opinião de fã destas edições históricas destes personagens tão queridos.
Alan Moore |
Neil Gaiman |
Alan Moore - sim, ele, o bardo inglês ranzinza das HQs, escritor de obras seminais como V for Vendetta, Watchmen, Batman: The Killing Joke, e outras - e Neil Gaiman - a quem eu gosto de chamar de "o Stephen King dos quadrinhos", inclusive elogiadíssimo pelo próprio King, por obras seminais das HQs, como Sandman, e escritor de maravilhosas obras literárias como Coraline, The Graveyard Book, Stardust e a série de contos Smoke And Mirrors, que estou tendo o prazer de ler neste momento - reuniram artistas gráficos de peso para escreverem a história final de cada um dos heróis.
Curt Swan |
Andy Kubert |
Curt Swan (1920-1996) - conhecido como o desenhista definitivo do Superman - em 1986, junto com Alan Moore, e o conceituadíssimo Andy Kubert, em 2009, junto com Neil Gaiman, nos contam em detalhes, como eles imaginam que os dois maiores heróis do mundo na ficção iriam acabar, segundo a ótica de cada um. Não podemos deixar de reconhecer que é muito interessante pensar como estes heróis sairiam da ribalta, se um dia assim o fizessem. Portanto, vamos visitar seus contos finais e também ver quais outras surpresas iremos encontrar em cada um destes dois maravilhosos encadernados.
1. O QUE ACONTECEU AO HOMEM DO AMANHÃ?
Vamos começar primeiramente com um breve histórico baseado na introdução de Paul Kupperberg, e o que o editor nos conta sobre como esta obra seminal do Superman veio à ver a luz do dia.
Conta o Sr. Kupperberg, que a ideia desta história veio justamente após a faxina que a Crise das Infinitas Terras promoveu no universo DC. Para quem não sabe, a mencionada Crise é uma história que foi escrita por Marv Wolfman e George Pérez para "zerar" a confusão que o universo DC se tornou nos anos anteriores à década de 80.
Todos os heróis recomeçariam, com origens novas, e cronologia zerada, indicando uma nova era ao universo DC, onde todas as histórias aconteceriam em uma só Terra, em uma só linha cronológica. Claro que após todos estes anos, eles conseguiram a façanha de bagunçar tudo de novo, mas enfim, era um novo começo à época, e por isso, os editores da DC resolveram que era a hora de fechar a Era de Prata com a história final do Superman.
Assim, começaram a querer contactar Jerry Siegel, o co-criador do Homem de Aço, para escrever a história, pensando que, oras bolas, se ele escreveu a primeira de todas, nada mais justo que deixar o homem escrever a última. Não deu certo, e então eles começaram a considerar outros roteiristas, até que em uma bela manhã, Kupperberg, tomando café com Alan Moore, sondou a ideia de escrever o roteiro da última história do Super. Eis que Moore se levanta da cadeira, e faz uma "ameaça de morte" ao cara; pois é, o bardo inglês disse, com a mão no pescoço do editor e desenhista do Capitão Marvel (personagem da DC hoje conhecido como Shazam), que iria matá-lo, caso deixasse alguém, além dele, Moore, escrever a história, conseguindo assim a vaga.
Que moral, hein? Ave Maria! Bom, eu não vou contar mais nada, leia a introdução de Kupperberg na HQ que está ótima. Vamos à história principal e às surpresas extras.
a. Whatever Happened to the Man of Tomorrow?
(O que Aconteceu ao Homem de Aço?)
Ano: 1986
Publicada originalmente em duas edições:
- Superman #423 (setembro/1986)
- Action Comics #583 (setembro/1986)
Roteiro: Alan Moore
Desenho: Curt Swan
A história começa nos exibindo uma estátua do Superman escrita "in memoriam", e corta para Tim, um repórter do Planeta Diário, indo entrevistar uma dada Sra Elliot... Lois Elliot, antes conhecida como Lois Lane, ex-repórter do Planeta. Aqui, Lois casou-se com Jordan Elliot, após a morte do Superman, e vai contar tudo a Tim, como foram seus últimos dias ao lado do kriptoniano.
Vemos Superman tendo que lidar com a ameaça de Bizarro, que acaba matando a si próprio. O surto de Bizarro ainda era fichinha, perto do que viria a seguir. O Planeta Diário recebe um pacote contendo mini-Supermans, que atiram raios pelos olhos, e eles acabam revelando a todos a verdadeira identidade de Clark Kent na frente de Lana Lang e outros que estavam por perto. No processo, as miniaturas assassinam Pete Ross, e isso deflagra uma parte estranha da história, onde vemos Lex Luthor no Ártico, indo atrás do crânio de Brainiac. Ele parecia desativado, mas se reaviva e se instala no cérebro de Luthor, forçando o vilão a obedecer o cérebro eletrônico. Isso começa a ativar uma horda de robôs Metallo em Metropolis, fazendo com que o Superman entre em ação.
Superman tenta proteger seus amigos os levando à Fortaleza da Solidão, mas Brainiac invoca o Homem Kriptonita, fazendo com que o Homem de Aço enfrente uma crise como jamais havia enfrentado. Outros heróis tentam ajudá-lo, como o Rapaz Elástico, Lana, a Liga da Justiça, e Kripto, o supercão, mas alguns deles acabam perecendo.
Além disso, um povo do século XXX vem visitar o Homem de Aço para lhe dar um presente, uma estátua de ouro com Super segurando uma superfície redonda refletora. O que achei engraçado, é as vezes ver o Super parecer uma diva, andando por aí e segurando essa estátua. Brainiac cria um campo de força intransponível na Fortaleza da Solidão, impedindo que a Liga da Justiça entre. No fim das contas, Superman descobre por que lhe deram a estátua; vemos alguns de nossos mais conhecidos heróis e vilões morrerem, e Superman se despedir de todos, entrando em um local que continha kriptonita dourada. O azulão nunca mais é visto por ninguém.
Esta, é uma das histórias mais apaixonantes que eu já li do Superman. Ela consegue canalizar, em uma só narrativa, inúmeros elementos das histórias clássicas do Superman da Era de Prata, e trazê-las para cá, homenageando anos e anos de histórias e sendo uma verdadeira carta de amor a um período onde o personagem ganhou histórias memoráveis, antes de sua reinvenção nos anos 90. Tenha em mente que esta é uma época onde a grande maioria das histórias clássicas que conhecemos hoje ainda não haviam sido escritas, e portanto, esta se trata de um dos maiores feitos da nona arte já concebidos. Superman se despede de todos de maneira respeitosa, honrada, e apaixonada. Uma leitura que qualquer fã de quadrinhos não pode perder.
b. Superman and Swamp Thing: The Jungle Line
(Superman & Monstro do Pântano: A Linha da Selva)
Ano: 1985
Publicada originalmente na revista DC Comics Presents 85 (setembro/1985)
Roteiro: Alan Moore
Desenho: Rick Veitch
Alan Moore já havia escrito Superman em outras ocasiões, antes de sua história final. Aqui nesta história, escrita pelo bardo e desenhada por Rick Veitch, vemos Clark sofrer com o calor escaldante no meio da estrada, dirigindo um carro, o que é estranho, pois Superman não tem sensibilidade a essas pequenas distrações terrenas. Acontece que, na história, descobrimos que ele havia tido contato com uma estranha rocha kriptoniana, que acabou por, estranhamente, lhe retirar, pouco a pouco, os poderes que tem.
Assim, sem seus poderes, Superman passa por uma jornada de superação, tendo estranhas alucinações e finalmente encontrando, sem sequer saber, o Monstro do Pântano. O monstro não o reconhece a princípio, mas após saber de quem se trata, ajuda o kriptoniano a superar sua crise de identidade e o vírus que contraiu do contato com a rocha, e voltar a ser quem era. Esta é uma das histórias mais interessantes que já li do Superman desta era, mas afinal, qual história de Moore não é? Muito boa e vale muito a pena por estar no mesmo pacote que a atração principal.
c. Superman: For the Man Who Has Everything...
(Superman: Para o Homem que Tem Tudo...)
Ano: 1985
Publicada originalmente na revista Superman Annual #11 (janeiro/1985)
Roteiro: Alan Moore
Desenho: Dave Gibbons
Conta o Sr. Kupperberg, que a ideia desta história veio justamente após a faxina que a Crise das Infinitas Terras promoveu no universo DC. Para quem não sabe, a mencionada Crise é uma história que foi escrita por Marv Wolfman e George Pérez para "zerar" a confusão que o universo DC se tornou nos anos anteriores à década de 80.
Todos os heróis recomeçariam, com origens novas, e cronologia zerada, indicando uma nova era ao universo DC, onde todas as histórias aconteceriam em uma só Terra, em uma só linha cronológica. Claro que após todos estes anos, eles conseguiram a façanha de bagunçar tudo de novo, mas enfim, era um novo começo à época, e por isso, os editores da DC resolveram que era a hora de fechar a Era de Prata com a história final do Superman.
Assim, começaram a querer contactar Jerry Siegel, o co-criador do Homem de Aço, para escrever a história, pensando que, oras bolas, se ele escreveu a primeira de todas, nada mais justo que deixar o homem escrever a última. Não deu certo, e então eles começaram a considerar outros roteiristas, até que em uma bela manhã, Kupperberg, tomando café com Alan Moore, sondou a ideia de escrever o roteiro da última história do Super. Eis que Moore se levanta da cadeira, e faz uma "ameaça de morte" ao cara; pois é, o bardo inglês disse, com a mão no pescoço do editor e desenhista do Capitão Marvel (personagem da DC hoje conhecido como Shazam), que iria matá-lo, caso deixasse alguém, além dele, Moore, escrever a história, conseguindo assim a vaga.
Que moral, hein? Ave Maria! Bom, eu não vou contar mais nada, leia a introdução de Kupperberg na HQ que está ótima. Vamos à história principal e às surpresas extras.
a. Whatever Happened to the Man of Tomorrow?
(O que Aconteceu ao Homem de Aço?)
Ano: 1986
Publicada originalmente em duas edições:
- Superman #423 (setembro/1986)
- Action Comics #583 (setembro/1986)
Roteiro: Alan Moore
Desenho: Curt Swan
A história começa nos exibindo uma estátua do Superman escrita "in memoriam", e corta para Tim, um repórter do Planeta Diário, indo entrevistar uma dada Sra Elliot... Lois Elliot, antes conhecida como Lois Lane, ex-repórter do Planeta. Aqui, Lois casou-se com Jordan Elliot, após a morte do Superman, e vai contar tudo a Tim, como foram seus últimos dias ao lado do kriptoniano.
Vemos Superman tendo que lidar com a ameaça de Bizarro, que acaba matando a si próprio. O surto de Bizarro ainda era fichinha, perto do que viria a seguir. O Planeta Diário recebe um pacote contendo mini-Supermans, que atiram raios pelos olhos, e eles acabam revelando a todos a verdadeira identidade de Clark Kent na frente de Lana Lang e outros que estavam por perto. No processo, as miniaturas assassinam Pete Ross, e isso deflagra uma parte estranha da história, onde vemos Lex Luthor no Ártico, indo atrás do crânio de Brainiac. Ele parecia desativado, mas se reaviva e se instala no cérebro de Luthor, forçando o vilão a obedecer o cérebro eletrônico. Isso começa a ativar uma horda de robôs Metallo em Metropolis, fazendo com que o Superman entre em ação.
Superman tenta proteger seus amigos os levando à Fortaleza da Solidão, mas Brainiac invoca o Homem Kriptonita, fazendo com que o Homem de Aço enfrente uma crise como jamais havia enfrentado. Outros heróis tentam ajudá-lo, como o Rapaz Elástico, Lana, a Liga da Justiça, e Kripto, o supercão, mas alguns deles acabam perecendo.
Além disso, um povo do século XXX vem visitar o Homem de Aço para lhe dar um presente, uma estátua de ouro com Super segurando uma superfície redonda refletora. O que achei engraçado, é as vezes ver o Super parecer uma diva, andando por aí e segurando essa estátua. Brainiac cria um campo de força intransponível na Fortaleza da Solidão, impedindo que a Liga da Justiça entre. No fim das contas, Superman descobre por que lhe deram a estátua; vemos alguns de nossos mais conhecidos heróis e vilões morrerem, e Superman se despedir de todos, entrando em um local que continha kriptonita dourada. O azulão nunca mais é visto por ninguém.
Esta, é uma das histórias mais apaixonantes que eu já li do Superman. Ela consegue canalizar, em uma só narrativa, inúmeros elementos das histórias clássicas do Superman da Era de Prata, e trazê-las para cá, homenageando anos e anos de histórias e sendo uma verdadeira carta de amor a um período onde o personagem ganhou histórias memoráveis, antes de sua reinvenção nos anos 90. Tenha em mente que esta é uma época onde a grande maioria das histórias clássicas que conhecemos hoje ainda não haviam sido escritas, e portanto, esta se trata de um dos maiores feitos da nona arte já concebidos. Superman se despede de todos de maneira respeitosa, honrada, e apaixonada. Uma leitura que qualquer fã de quadrinhos não pode perder.
b. Superman and Swamp Thing: The Jungle Line
(Superman & Monstro do Pântano: A Linha da Selva)
Ano: 1985
Publicada originalmente na revista DC Comics Presents 85 (setembro/1985)
Roteiro: Alan Moore
Desenho: Rick Veitch
Alan Moore já havia escrito Superman em outras ocasiões, antes de sua história final. Aqui nesta história, escrita pelo bardo e desenhada por Rick Veitch, vemos Clark sofrer com o calor escaldante no meio da estrada, dirigindo um carro, o que é estranho, pois Superman não tem sensibilidade a essas pequenas distrações terrenas. Acontece que, na história, descobrimos que ele havia tido contato com uma estranha rocha kriptoniana, que acabou por, estranhamente, lhe retirar, pouco a pouco, os poderes que tem.
Assim, sem seus poderes, Superman passa por uma jornada de superação, tendo estranhas alucinações e finalmente encontrando, sem sequer saber, o Monstro do Pântano. O monstro não o reconhece a princípio, mas após saber de quem se trata, ajuda o kriptoniano a superar sua crise de identidade e o vírus que contraiu do contato com a rocha, e voltar a ser quem era. Esta é uma das histórias mais interessantes que já li do Superman desta era, mas afinal, qual história de Moore não é? Muito boa e vale muito a pena por estar no mesmo pacote que a atração principal.
c. Superman: For the Man Who Has Everything...
(Superman: Para o Homem que Tem Tudo...)
Ano: 1985
Publicada originalmente na revista Superman Annual #11 (janeiro/1985)
Roteiro: Alan Moore
Desenho: Dave Gibbons
Finalmente, indo um pouco mais atrás no tempo, temos esta maravilhosa história que explora o psicológico de nosso herói. Também temos aqui a união de uma dupla considerada hoje clássica, Moore e Gibbons, nada mais do que escritor e desenhista do clássico Watchmen, de 1986. Isso mesmo, caro leitor, a história em quadrinhos que revolucionou, para sempre, a nona arte. Aqui, nesta história do Superman de 1985, Batman, Robin (Jason Todd) e Mulher Maravilha estão se dirigindo à Fortaleza da Solidão para comemorarem o aniversário do Homem de Aço. Só que ao chegarem lá, veem Superman aprisionado por uma estranha planta.
A planta acabou tomando conta do cérebro do Superman, deixando o herói em estado catatônico. Dentro da cabeça do azulão, vemos o que acontece: seu planeta natal, Krypton, não explodiu, e ele é casado com uma kriptoniana e tem um filho. Só que seu pai, Jor-El, é tido como louco pela comunidade científica, porque ele afirmava que o planeta iria explodir, fato que não aconteceu.
Corta para a realidade e vemos os heróis tentando livrar Superman da planta, quando descobrem que a Fortaleza da Solidão foi invadida pelo ditador espacial Mongul, que deu a planta ao Super e o deixou daquela maneira. Eles fazem de tudo, enquanto isso, acompanhamos o sonho de Superman, vendo Krypton entrar em crise e vendo o que começou como um sonho agradável se tornar um verdadeiro pesadelo. É um conto maravilhoso, que explora fundo a psique e os desejos mais profundos dos nossos heróis, e onde vemos eles tendo que lidar com a dura realidade. Aqui, Moore e Gibbons mostram porque depois se juntaram para escrever, em 1986, uma das histórias em quadrinhos mais geniais que já foram escritas por alguém. Leitura mais do que recomendada.
Hora de visitarmos o mundo do morcego.
2. O QUE ACONTECEU AO CRUZADO DE CAPA?
Esta história foi pensada logo após ter terminado a saga Batman R.I.P. na revista clássica do morcego. Acreditem ou não, esta saga ficou conhecida no Brasil como Batman: Descanse em Paz.
Grant Morrison havia pego todos os elementos possíveis da Era de Prata do morcego, como o Batman de Zur-En-Arrh, um planeta distante do universo clássico da era de prata, que tinha um Batman mais colorido e bizonho; com esses artifícios, e a reviravolta de que todos os acontecimentos, inclusive a experiência mental que Batman fez na era de prata, foram um truque para fazer lavagem cerebral no Cavaleiro das Trevas, Morrison levou o Batman a um fim misterioso no final da saga.
Mais tarde, descobrimos que ele havia viajado entre dimensões e enfrentado a sanção ômega de Darkseid, que aparentemente o mata. Descobrimos no futuro, mais uma vez, que isso não era verdade, e que o raio de Darkseid na Crise Final apenas fez o morcego viajar no tempo, dando vazão à saga do Retorno de Bruce Wayne à modernidade.
Enquanto isso tudo acontecia, dentro desta proposta de fim de caminho para o combatente mascarado, e aproveitando a deixa do relançamento luxuoso da história final do Superman, foi requisitado que um roteirista se aventurasse a contar a provável história final do morcego. Eis que Neil Gaiman é contactado pela DC Comics para tal feito. Imediatamente, em sua introdução no encadernado, Gaiman nos conta que a primeira coisa que lhe veio à lembrança, obviamente, foi a história de Alan Moore e Curt Swan de 1986. Mas Gaiman, sendo um grande fã do Batman, estava disposto a não seguir a mesma proposta de Moore e Swan, afinal de contas, o Super é um personagem mais otimista e colorido, e o mundo do morcego já é mais sombrio, mais opressor, mais macabro.
Gaiman se inspirou na história do Super como um guia de como narraria o fim do Batman, não em termos de proposta. A história do Superman foi episódica, sendo que cada fato nela narrado levaria a outro, e todos evocariam um determinado momento da imensa narrativa do Homem de Aço desde que foi primeiramente publicado em 1938. Aqui, a história de Batman também é episódica e cada narração também evoca um determinado momento do morcego em sua história, flertando com grande parte da mitologia dele. A diferença, é que o habilidoso Andy Kubert não se ateria somente a seu traço, tentando emular o traço de vários dos desenhistas que fizeram Batman ao longo dos anos, então podemos ver relances de diversas histórias que lemos. E assim como o encadernado luxuoso do Super, este também tem seus extras, então vamos dar uma olhada em cada um deles, privilegiando, claro, a história principal.
a. Whatever Happened to the Caped Crusader?
(O que Aconteceu ao Cavaleiro das Trevas?)
Ano: 2009
Publicada originalmente em duas edições:
- Batman #686 (abril/2009)
- Detective Comics #853 (abril/2009)
Roteiro: Neil Gaiman
Desenho: Andy Kubert
A história começa nos mostrando relances de Gotham City. Uma voz se pergunta onde está, e se tudo é um sonho. Uma outra voz clarifica as coisas e diz para a primeira acompanhar o desenrolar dos fatos. A entidade que pergunta, aparenta ser o "espírito" de Batman, e a que clarifica, alguma entidade mística. Convidados, entre vilões e aliados, vão chegando para um funeral. Joe Chill, o bandido que matou os pais de Bruce Wayne, está no balcão de um bar, em frente ao serviço do funeral. O funeral é o de Batman, cujo corpo se encontra alojado no caixão, com sua roupa de vigilante. O espírito inquieto do morcego vagueia espantado, se perguntando como que aquele pode ser ele. Aparentemente, o morcego não encontra descanso nem mesmo em sua própria morte.
Pra começar, eu gosto muito deste estilo sobrenatural de Gaiman conduzir sua narrativa, bem ao estilo que ele emprega na série Sandman. Alfred recebe os convidados, que vão chegando um a um. Vemos Selina, Dick Grayson, o Coringa, o Dr. Kirk Langstron, Arlequina, Harvey Dent, Gordon empurrando Barbara (a Batgirl) na cadeira de rodas, Charada, Bullock e Montoya, o Chapeleiro Maluco, enfim, toda sorte de personagens que podemos imaginar da mitologia do morcego estão lá presentes. Em alguns quadros a frente, podemos até mesmo vislumbrar Ras Al'Ghul, o Espantalho, o Pinguim, Superman, Hera Venenosa, todos. A mitologia do morcego se encontra toda em um só lugar para celebrar anos e anos de histórias do Cavaleiro das Trevas nos quadrinhos e em outras mídias.
Começam os discursos e as narrativas episódicas. Selina Kyle, a Mulher-Gato, é a primeira a se levantar para contar como conheceu o Batman, e como o morcego veio a falecer. Vemos então um dos trajes antigos que a vilã empregava, aquele que ela usava uma máscara de gato mesmo, vestido amarelo e então vemos o morcego a perseguindo, ao longo dos anos, passando por diversos momentos da história dos dois. O final da história, claro, é inverossímil, e quem é fã sabe que o que Selina conta em relação à morte de Batman não aconteceu realmente daquele jeito.
Alfred é o próximo a se prostrar para falar. Ele diz que os vilões lunáticos que Batman enfrentava eram, na verdade, atores da trupe de teatro itinerante à qual Alfred fazia parte; e não pára por aí; Alfred era o Coringa, o tempo todo! Bom, pelo menos é isso que ele conta. Todos sabemos que não é bem assim. Mas as histórias continuam. Ras Al'Ghul, Superman, Bullock, Robin (Dick Grayson), Coringa, enfim, todo mundo lá dá sua versão de uma história conhecida do Batman, e de como ele morreu.
Estas referências são todas verdadeiras. Batman quase morreu em muitas ocasiões. Os próprios Bob Kane e Bill Finger, em sua época, chegaram a escrever uma história em que o Batman morria. Tem até uma coletânea de histórias chamada The Many Deaths of the Batman, que aqui no Brasil atende pelo nome de As Muitas Mortes do Batman. Então, sim, algumas situações são invenções de Gaiman, mas muitas referências são destas histórias. Há até alguns painéis que referenciam a arte expressionista de Grant Morrison em Arkham Asylum, a HQ de 1989. Eu não vou revelar muito mais, porque senão estraga o prazer de quem vai ler.
Só terminarei dizendo que o final é de uma carga emocional absolutamente fascinante. Eu até mesmo derramei uma lágrima. A trama nos revela que o outro espírito que estava junto com Batman é um familiar dele, que o consola e o guia através do mundo espiritual, para desgarrar-se de seu corpo físico e abraçar o infinito cósmico, para descansar, e se desprender da luta, de sua vida, de sua guerra contra o crime... até a próxima encarnação. Eu não vou dizer mais nada, leia e veja o quão bem bolada a coisa toda é!
Gaiman termina seu conto de Batman exatamente como um conto de Batman deve terminar: nos deixando sensibilizados após o clímax altamente emocional, tristes de alguma forma, com aquela sensação agridoce... e extremamente satisfeitos com o que lemos. Uma história final extremamente linda do homem-morcego, de fazer verter lágrimas até no mais insensível marmanjo. Gaiman promove uma ode à verdadeira natureza do homem-morcego: a de nunca desistir, não importa o quão difícil a batalha seja, e ao mesmo tempo, faz reverência a milhares de histórias do morcego ao longo dos anos. Uma leitura absolutamente apaixonante e extremamente recomendada por este que vos fala.
Passemos para os extras do encadernado.
b. Batman: A Black and White World
(Batman: Um Mundo em Preto e Branco)
Ano: 1996
Publicada originalmente na revista Batman Black And White 2 (julho/1996)
Roteiro: Neil Gaiman
Desenho: Simon Bisley
Assim como no encadernado de Superman, iremos mais para trás no tempo, para ver como foi a produção de Gaiman com o Batman antes de sua história final. O que temos a seguir é algo bem divertido que Gaiman escreveu em 1996 para o título Batman Black and White, conhecido aqui como Batman Preto & Branco. Eu até já havia lido, na própria revista mencionada, esta história curta, mas não tinha qualquer versão impressa do título.
Em uma manobra de quebra de quarta parede, Batman e Coringa se encontram no backstage da revista do Batman e esperam a vez deles de entrar para fazerem suas cenas. Simples assim. Os dois tem plena consciência, nesta historinha curta, que são personagens fictícios de quadrinhos, e o Coringa chega até a reclamar que seus pais não aprovaram sua escolha de profissão de ser um astro dos quadrinhos. É bem cômico!
Ver o Batman e o Coringa, inclusive com a arte gráfica bem desbocada do traço de Simon Bisley, agindo com polidez com a secretária do estúdio e conversando entre si como duas pessoas normais é algo bem incomum, e que foge completamente daquilo que se espera de uma história do morcego. Gaiman usa-se do mecanismo de sátira, para surpreender o leitor, mas não, claro, sem dar a todos a pancadaria tradicional, na hora que herói e vilão entram em cena; por pouco tempo, mas vemos acontecer.
Ao final da cena, o Lobo (???) aparece e diz "corta!" Puts! A história está sendo dirigida pelo maioral? Não acredito em uma palavra disso, chefe O'Hara! Me explica como que pode ser uma porra dessas!? Enfim, Batman e Coringa saem do estúdio e vão comer alguma coisa, nos deixando com este take cômico e algumas críticas a assuntos da mídia à época. História curta, divertida, vale a pena ler para se descontrair e sair daquilo que é habitual, te surpreende positivamente.
c. Poison Ivy: Pavane
(Hera Venenosa: Pavana)
Ano: 1996
Publicada originalmente na revista Secret Origins 36 (janeiro/1989)
Roteiro: Neil Gaiman
Desenho: Mark Buckingham
Aqui nesta história, escrita em 1989, a personagem protagonista é Pamela Isley, a Hera-Venenosa. A arte gráfica da história é a mesma que vemos nas HQs do Sandman, inclusive o desenhista é o mesmo de histórias do Sandman escritas por Gaiman, como The Time of Your Life, The High Cost of Living e The Song of Orpheus. Buckingham também se uniu a Gaiman em histórias do personagem Miracleman, da Marvel e Eclipse Comics.
Eu geralmente acho meio chatas as histórias da Hera-Venenosa, prefiro vilãs mais interessantes como Mulher-Gato, Talia, ou mais divertidas, como a Arlequina. Mas quando Neil Gaiman escreve uma narrativa como essa, inclusive lembrando o estilo do Sandman, é difícil resistir. Como a própria erva-daninha que nomeia a personagem, a narrativa de Gaiman te captura, suga tudo de ti e não te deixa escapar. Na história, um inspetor vai até a prisão em que está encarcerada Pamela Isley e começa a avaliá-la para ver se pode ser solta ou não.
Aos poucos, a vilã mexe com os sentidos do inspetor, e quase o hipnotiza com sua beleza, seu carisma e sensualidade; seu toque venenoso vai vagarosamente tomando os pensamentos do pobre homem. Ele não consegue tirar Pamela da cabeça. Em cada entrevista, ele se deixa dominar pela prisioneira. O estilo de narração prosaica e lenta de Gaiman vai construindo o passado da vilã, que vai se abrindo ao inspetor. Só que, o que era para ser um mel bem passado nele, acaba se virando contra ela. Ela comete erros, se vitimiza, clama por socorro... mas o homem se mostra forte o bastante e termina por não ceder aos charmes dela. Por muito pouco, Hera-Venenosa não está novamente solta e nas ruas para aterrorizar a todos com suas plantas. Mas foi por muito pouco mesmo. A imagem sensual da moça ficará impregnada para sempre na cabeça do inspetor, mas por hora, Gotham pode respirar aliviada de saber que Pamela foi mandada pelo homem para o Asilo Arkham.
Uma narrativa densa e fantástica. Ela vai fazendo até mesmo o leitor se hipnotizar pelo charme da moça, que o vai perturbando, como um barulho ensurdecedor da qual não nos há escapatória. Mas sempre é possível abaixar o volume... a câmera, no entanto, fica ligada. E Neil Gaiman acaba por nos capturar os sentidos. Em suma, uma ótima leitura.
d. i. Batman : Original Sins;
ii. Riddler: "When" Is A Door. The Secret Origin of The Riddler
(i. Batman: Pecados Originais;
ii. Charada: "Quando" É Uma Porta. A Origem Secreta do Charada)
Ano: 1989
Publicada originalmente na revista Secret Origins Special #1 (janeiro/1989)
Roteiro: Neil Gaiman
Desenho: Mike Hoffman (i) / Bernie Mireault (ii)
Finalmente, chegamos à última história do encadernado e deste artigo. Ela é dividida em duas partes, metade desenhada por Mike Hoffman, que desenha o começo e a conclusão, e a parte intermediária, que é a entrevista, é desenhada por Bernie Mireault. Isso acontece porque a história não está inteiramente publicada aqui. Na sua publicação original, Secret Origins Special #1, ela é maior e inclui outros roteiristas e desenhistas, mas aqui neste encadernado, só é extraído da revista os trechos com Neil Gaiman escrevendo.
Bem, para sintetizar: na primeira parte, Original Sins, um repórter pretensioso quer fazer um especial de TV entrevistando muitos dos vilões da galeria de Batman, fazendo com que eles posem de vítimas da sociedade opressora e o Batman de lobo mau.
Humm... curioso, onde é que eu já vi isso antes?... Hã-haaamm, não importa...
Ele tenta entrar em contato com os vilões, mas para a maioria deles, só consegue capangas e contatos distantes. Frustrado, tenta jogar sua melhor carta: uma entrevista com o Charada.
Aqui, entra a segunda parte, "When" Is A Door. The Secret Origin of The Riddler. O Charada é entrevistado pela equipe, fazendo estripulias e dando aquelas respostas enigmáticas de sempre. A equipe, e especialmente o cabeça de tudo isso, Steve Jones, que é nosso repórter pretensioso, sai de mãos abanando. Então, Steve tenta consertar a empreitada toda do jeito que pode, e aí volta a primeira parte, Original Sins, para o final de tudo.
E o final é surpreendente, divertidíssimo, muito satisfatório, e... bem, caro leitor... vamos apenas dizer que ele vai te deixar com um grande sorriso na cara. Mais uma narrativa do articulado e dinâmico talento de Neil Gaiman, se provando um belíssimo contador de histórias, mostrando que pode navegar entre diversos tipos de narrativas, desde a narrativa cômica e irônica até a mais profunda análise psicológica, fechando aqui um encadernado simplesmente fabuloso, que você não pode perder.
3. O QUE ACONTECEU À CONCLUSÃO?
Só para dar um fechamento geral: estes dois encadernados foram, provavelmente, minhas melhores aquisições este ano, pelo menos até o presente momento. Eu os recomendo altamente, mesmo para quem jamais tenha lido uma história dos dois personagens, tenho certeza que irá se apaixonar. Não são apenas histórias clássicas e monumentais. São narrativas envolventes, e que certamente venceram o teste do tempo e vão continuar a inspirar a todos por muitos anos.
Quem diria que, em suas dadas histórias finais, o azulão e o morcego sairiam de cena de forma tão glamourosa? E assim também, de forma honesta, eu me retiro de cena, afinal de contas, já falei demais da conta, para deixar com vocês minha recomendação para lerem estas fantásticas histórias de dois dos maiores ícones culturais de todos os tempos, escritas e desenhadas por alguns dos maiores talentos que já foram reunidos.
Encadernado originalmente publicado em 2009.
Publicado no Brasil em 2013 pela Panini Books.
Batman: Whatever Happened to the Caped Crusader? (2009)
Título em português BR: Batman: O que Aconteceu ao Cavaleiro das Trevas?
Encadernado originalmente publicado em 2009.
Publicado no Brasil em 2013 pela Panini Books.
Grant Morrison havia pego todos os elementos possíveis da Era de Prata do morcego, como o Batman de Zur-En-Arrh, um planeta distante do universo clássico da era de prata, que tinha um Batman mais colorido e bizonho; com esses artifícios, e a reviravolta de que todos os acontecimentos, inclusive a experiência mental que Batman fez na era de prata, foram um truque para fazer lavagem cerebral no Cavaleiro das Trevas, Morrison levou o Batman a um fim misterioso no final da saga.
Mais tarde, descobrimos que ele havia viajado entre dimensões e enfrentado a sanção ômega de Darkseid, que aparentemente o mata. Descobrimos no futuro, mais uma vez, que isso não era verdade, e que o raio de Darkseid na Crise Final apenas fez o morcego viajar no tempo, dando vazão à saga do Retorno de Bruce Wayne à modernidade.
Enquanto isso tudo acontecia, dentro desta proposta de fim de caminho para o combatente mascarado, e aproveitando a deixa do relançamento luxuoso da história final do Superman, foi requisitado que um roteirista se aventurasse a contar a provável história final do morcego. Eis que Neil Gaiman é contactado pela DC Comics para tal feito. Imediatamente, em sua introdução no encadernado, Gaiman nos conta que a primeira coisa que lhe veio à lembrança, obviamente, foi a história de Alan Moore e Curt Swan de 1986. Mas Gaiman, sendo um grande fã do Batman, estava disposto a não seguir a mesma proposta de Moore e Swan, afinal de contas, o Super é um personagem mais otimista e colorido, e o mundo do morcego já é mais sombrio, mais opressor, mais macabro.
Gaiman se inspirou na história do Super como um guia de como narraria o fim do Batman, não em termos de proposta. A história do Superman foi episódica, sendo que cada fato nela narrado levaria a outro, e todos evocariam um determinado momento da imensa narrativa do Homem de Aço desde que foi primeiramente publicado em 1938. Aqui, a história de Batman também é episódica e cada narração também evoca um determinado momento do morcego em sua história, flertando com grande parte da mitologia dele. A diferença, é que o habilidoso Andy Kubert não se ateria somente a seu traço, tentando emular o traço de vários dos desenhistas que fizeram Batman ao longo dos anos, então podemos ver relances de diversas histórias que lemos. E assim como o encadernado luxuoso do Super, este também tem seus extras, então vamos dar uma olhada em cada um deles, privilegiando, claro, a história principal.
a. Whatever Happened to the Caped Crusader?
(O que Aconteceu ao Cavaleiro das Trevas?)
Ano: 2009
Publicada originalmente em duas edições:
- Batman #686 (abril/2009)
- Detective Comics #853 (abril/2009)
Roteiro: Neil Gaiman
Desenho: Andy Kubert
A história começa nos mostrando relances de Gotham City. Uma voz se pergunta onde está, e se tudo é um sonho. Uma outra voz clarifica as coisas e diz para a primeira acompanhar o desenrolar dos fatos. A entidade que pergunta, aparenta ser o "espírito" de Batman, e a que clarifica, alguma entidade mística. Convidados, entre vilões e aliados, vão chegando para um funeral. Joe Chill, o bandido que matou os pais de Bruce Wayne, está no balcão de um bar, em frente ao serviço do funeral. O funeral é o de Batman, cujo corpo se encontra alojado no caixão, com sua roupa de vigilante. O espírito inquieto do morcego vagueia espantado, se perguntando como que aquele pode ser ele. Aparentemente, o morcego não encontra descanso nem mesmo em sua própria morte.
Pra começar, eu gosto muito deste estilo sobrenatural de Gaiman conduzir sua narrativa, bem ao estilo que ele emprega na série Sandman. Alfred recebe os convidados, que vão chegando um a um. Vemos Selina, Dick Grayson, o Coringa, o Dr. Kirk Langstron, Arlequina, Harvey Dent, Gordon empurrando Barbara (a Batgirl) na cadeira de rodas, Charada, Bullock e Montoya, o Chapeleiro Maluco, enfim, toda sorte de personagens que podemos imaginar da mitologia do morcego estão lá presentes. Em alguns quadros a frente, podemos até mesmo vislumbrar Ras Al'Ghul, o Espantalho, o Pinguim, Superman, Hera Venenosa, todos. A mitologia do morcego se encontra toda em um só lugar para celebrar anos e anos de histórias do Cavaleiro das Trevas nos quadrinhos e em outras mídias.
Começam os discursos e as narrativas episódicas. Selina Kyle, a Mulher-Gato, é a primeira a se levantar para contar como conheceu o Batman, e como o morcego veio a falecer. Vemos então um dos trajes antigos que a vilã empregava, aquele que ela usava uma máscara de gato mesmo, vestido amarelo e então vemos o morcego a perseguindo, ao longo dos anos, passando por diversos momentos da história dos dois. O final da história, claro, é inverossímil, e quem é fã sabe que o que Selina conta em relação à morte de Batman não aconteceu realmente daquele jeito.
Alfred é o próximo a se prostrar para falar. Ele diz que os vilões lunáticos que Batman enfrentava eram, na verdade, atores da trupe de teatro itinerante à qual Alfred fazia parte; e não pára por aí; Alfred era o Coringa, o tempo todo! Bom, pelo menos é isso que ele conta. Todos sabemos que não é bem assim. Mas as histórias continuam. Ras Al'Ghul, Superman, Bullock, Robin (Dick Grayson), Coringa, enfim, todo mundo lá dá sua versão de uma história conhecida do Batman, e de como ele morreu.
Estas referências são todas verdadeiras. Batman quase morreu em muitas ocasiões. Os próprios Bob Kane e Bill Finger, em sua época, chegaram a escrever uma história em que o Batman morria. Tem até uma coletânea de histórias chamada The Many Deaths of the Batman, que aqui no Brasil atende pelo nome de As Muitas Mortes do Batman. Então, sim, algumas situações são invenções de Gaiman, mas muitas referências são destas histórias. Há até alguns painéis que referenciam a arte expressionista de Grant Morrison em Arkham Asylum, a HQ de 1989. Eu não vou revelar muito mais, porque senão estraga o prazer de quem vai ler.
Só terminarei dizendo que o final é de uma carga emocional absolutamente fascinante. Eu até mesmo derramei uma lágrima. A trama nos revela que o outro espírito que estava junto com Batman é um familiar dele, que o consola e o guia através do mundo espiritual, para desgarrar-se de seu corpo físico e abraçar o infinito cósmico, para descansar, e se desprender da luta, de sua vida, de sua guerra contra o crime... até a próxima encarnação. Eu não vou dizer mais nada, leia e veja o quão bem bolada a coisa toda é!
Gaiman termina seu conto de Batman exatamente como um conto de Batman deve terminar: nos deixando sensibilizados após o clímax altamente emocional, tristes de alguma forma, com aquela sensação agridoce... e extremamente satisfeitos com o que lemos. Uma história final extremamente linda do homem-morcego, de fazer verter lágrimas até no mais insensível marmanjo. Gaiman promove uma ode à verdadeira natureza do homem-morcego: a de nunca desistir, não importa o quão difícil a batalha seja, e ao mesmo tempo, faz reverência a milhares de histórias do morcego ao longo dos anos. Uma leitura absolutamente apaixonante e extremamente recomendada por este que vos fala.
Passemos para os extras do encadernado.
b. Batman: A Black and White World
(Batman: Um Mundo em Preto e Branco)
Ano: 1996
Publicada originalmente na revista Batman Black And White 2 (julho/1996)
Roteiro: Neil Gaiman
Desenho: Simon Bisley
Assim como no encadernado de Superman, iremos mais para trás no tempo, para ver como foi a produção de Gaiman com o Batman antes de sua história final. O que temos a seguir é algo bem divertido que Gaiman escreveu em 1996 para o título Batman Black and White, conhecido aqui como Batman Preto & Branco. Eu até já havia lido, na própria revista mencionada, esta história curta, mas não tinha qualquer versão impressa do título.
Em uma manobra de quebra de quarta parede, Batman e Coringa se encontram no backstage da revista do Batman e esperam a vez deles de entrar para fazerem suas cenas. Simples assim. Os dois tem plena consciência, nesta historinha curta, que são personagens fictícios de quadrinhos, e o Coringa chega até a reclamar que seus pais não aprovaram sua escolha de profissão de ser um astro dos quadrinhos. É bem cômico!
Ver o Batman e o Coringa, inclusive com a arte gráfica bem desbocada do traço de Simon Bisley, agindo com polidez com a secretária do estúdio e conversando entre si como duas pessoas normais é algo bem incomum, e que foge completamente daquilo que se espera de uma história do morcego. Gaiman usa-se do mecanismo de sátira, para surpreender o leitor, mas não, claro, sem dar a todos a pancadaria tradicional, na hora que herói e vilão entram em cena; por pouco tempo, mas vemos acontecer.
Ao final da cena, o Lobo (???) aparece e diz "corta!" Puts! A história está sendo dirigida pelo maioral? Não acredito em uma palavra disso, chefe O'Hara! Me explica como que pode ser uma porra dessas!? Enfim, Batman e Coringa saem do estúdio e vão comer alguma coisa, nos deixando com este take cômico e algumas críticas a assuntos da mídia à época. História curta, divertida, vale a pena ler para se descontrair e sair daquilo que é habitual, te surpreende positivamente.
c. Poison Ivy: Pavane
(Hera Venenosa: Pavana)
Ano: 1996
Publicada originalmente na revista Secret Origins 36 (janeiro/1989)
Roteiro: Neil Gaiman
Desenho: Mark Buckingham
Aqui nesta história, escrita em 1989, a personagem protagonista é Pamela Isley, a Hera-Venenosa. A arte gráfica da história é a mesma que vemos nas HQs do Sandman, inclusive o desenhista é o mesmo de histórias do Sandman escritas por Gaiman, como The Time of Your Life, The High Cost of Living e The Song of Orpheus. Buckingham também se uniu a Gaiman em histórias do personagem Miracleman, da Marvel e Eclipse Comics.
Eu geralmente acho meio chatas as histórias da Hera-Venenosa, prefiro vilãs mais interessantes como Mulher-Gato, Talia, ou mais divertidas, como a Arlequina. Mas quando Neil Gaiman escreve uma narrativa como essa, inclusive lembrando o estilo do Sandman, é difícil resistir. Como a própria erva-daninha que nomeia a personagem, a narrativa de Gaiman te captura, suga tudo de ti e não te deixa escapar. Na história, um inspetor vai até a prisão em que está encarcerada Pamela Isley e começa a avaliá-la para ver se pode ser solta ou não.
Aos poucos, a vilã mexe com os sentidos do inspetor, e quase o hipnotiza com sua beleza, seu carisma e sensualidade; seu toque venenoso vai vagarosamente tomando os pensamentos do pobre homem. Ele não consegue tirar Pamela da cabeça. Em cada entrevista, ele se deixa dominar pela prisioneira. O estilo de narração prosaica e lenta de Gaiman vai construindo o passado da vilã, que vai se abrindo ao inspetor. Só que, o que era para ser um mel bem passado nele, acaba se virando contra ela. Ela comete erros, se vitimiza, clama por socorro... mas o homem se mostra forte o bastante e termina por não ceder aos charmes dela. Por muito pouco, Hera-Venenosa não está novamente solta e nas ruas para aterrorizar a todos com suas plantas. Mas foi por muito pouco mesmo. A imagem sensual da moça ficará impregnada para sempre na cabeça do inspetor, mas por hora, Gotham pode respirar aliviada de saber que Pamela foi mandada pelo homem para o Asilo Arkham.
Uma narrativa densa e fantástica. Ela vai fazendo até mesmo o leitor se hipnotizar pelo charme da moça, que o vai perturbando, como um barulho ensurdecedor da qual não nos há escapatória. Mas sempre é possível abaixar o volume... a câmera, no entanto, fica ligada. E Neil Gaiman acaba por nos capturar os sentidos. Em suma, uma ótima leitura.
d. i. Batman : Original Sins;
ii. Riddler: "When" Is A Door. The Secret Origin of The Riddler
(i. Batman: Pecados Originais;
ii. Charada: "Quando" É Uma Porta. A Origem Secreta do Charada)
Ano: 1989
Publicada originalmente na revista Secret Origins Special #1 (janeiro/1989)
Roteiro: Neil Gaiman
Desenho: Mike Hoffman (i) / Bernie Mireault (ii)
Finalmente, chegamos à última história do encadernado e deste artigo. Ela é dividida em duas partes, metade desenhada por Mike Hoffman, que desenha o começo e a conclusão, e a parte intermediária, que é a entrevista, é desenhada por Bernie Mireault. Isso acontece porque a história não está inteiramente publicada aqui. Na sua publicação original, Secret Origins Special #1, ela é maior e inclui outros roteiristas e desenhistas, mas aqui neste encadernado, só é extraído da revista os trechos com Neil Gaiman escrevendo.
Bem, para sintetizar: na primeira parte, Original Sins, um repórter pretensioso quer fazer um especial de TV entrevistando muitos dos vilões da galeria de Batman, fazendo com que eles posem de vítimas da sociedade opressora e o Batman de lobo mau.
Humm... curioso, onde é que eu já vi isso antes?... Hã-haaamm, não importa...
Ele tenta entrar em contato com os vilões, mas para a maioria deles, só consegue capangas e contatos distantes. Frustrado, tenta jogar sua melhor carta: uma entrevista com o Charada.
Aqui, entra a segunda parte, "When" Is A Door. The Secret Origin of The Riddler. O Charada é entrevistado pela equipe, fazendo estripulias e dando aquelas respostas enigmáticas de sempre. A equipe, e especialmente o cabeça de tudo isso, Steve Jones, que é nosso repórter pretensioso, sai de mãos abanando. Então, Steve tenta consertar a empreitada toda do jeito que pode, e aí volta a primeira parte, Original Sins, para o final de tudo.
E o final é surpreendente, divertidíssimo, muito satisfatório, e... bem, caro leitor... vamos apenas dizer que ele vai te deixar com um grande sorriso na cara. Mais uma narrativa do articulado e dinâmico talento de Neil Gaiman, se provando um belíssimo contador de histórias, mostrando que pode navegar entre diversos tipos de narrativas, desde a narrativa cômica e irônica até a mais profunda análise psicológica, fechando aqui um encadernado simplesmente fabuloso, que você não pode perder.
3. O QUE ACONTECEU À CONCLUSÃO?
Só para dar um fechamento geral: estes dois encadernados foram, provavelmente, minhas melhores aquisições este ano, pelo menos até o presente momento. Eu os recomendo altamente, mesmo para quem jamais tenha lido uma história dos dois personagens, tenho certeza que irá se apaixonar. Não são apenas histórias clássicas e monumentais. São narrativas envolventes, e que certamente venceram o teste do tempo e vão continuar a inspirar a todos por muitos anos.
Quem diria que, em suas dadas histórias finais, o azulão e o morcego sairiam de cena de forma tão glamourosa? E assim também, de forma honesta, eu me retiro de cena, afinal de contas, já falei demais da conta, para deixar com vocês minha recomendação para lerem estas fantásticas histórias de dois dos maiores ícones culturais de todos os tempos, escritas e desenhadas por alguns dos maiores talentos que já foram reunidos.
Superman: Whatever Hapenned to the Man of Tomorrow? (2009)
Título em português BR: Superman: O que Aconteceu ao Homem de Aço?Encadernado originalmente publicado em 2009.
Publicado no Brasil em 2013 pela Panini Books.
Batman: Whatever Happened to the Caped Crusader? (2009)
Título em português BR: Batman: O que Aconteceu ao Cavaleiro das Trevas?
Encadernado originalmente publicado em 2009.
Publicado no Brasil em 2013 pela Panini Books.
No comments:
Post a Comment