Pouca gente tem conhecimento do material que vou expor aqui. Pouca gente mesmo! Ninguém conseguiria imaginar o grande Deep Purple sendo banda de abertura, não é mesmo? Bem, isso porque, como eu falei, pouca gente já ouviu falar deste registro, uma das primeiras apresentações da banda, finalmente lançada em 2002. Aqui, vemos um jovem Ritchie Blackmore, um jovem Jon Lord e um jovem Ian Paice, acompanhados pelo hoje misterioso primeiro vocalista da banda Rod Evans e, o hoje integrante do Wee Willie Harris & the Alabama Slammers, Nick Simper, como banda de abertura do Cream, em sua última apresentação antes de se separarem, no forum de Inglewood em Los Angeles, California, no longínquo ano de 1968. O Deep Purple tinha alcançado um razoável sucesso com seus dois primeiros discos de estréia, estava na hora de mostrar a todos quem eles eram nos palcos pela primeira vez. Preparados para entrar no túnel do tempo?
O show abre com "Hush", composição do músico country Joe South, que passou a ser marca registrada do Purple, a partir do momento que eles regravaram esse sucesso das rádios daquela época em seu disco de estréia Shades Of Deep Purple, vindo ainda a fazer mais uma regravação em 1988 no famoso e polêmico Nobody's Perfect e tocá-la inúmeras vezes até hoje em seus shows, inclusive no concerto de 1969. É notável, como diriam os ingleses, as intermináveis linhas de improviso, proferidas por Blackmore, Lord e Paice em seus momentos mais ousados da primeira formação. Nota-se já uma banda que sabe para onde quer ir, mas por ser uma nova banda (naquela época, claro), acerta umas vezes e outras nem tanto. Segue com outra cover, desta vez de Neil Diamond, "Kentucky Woman", cover essa presente no segundo disco da banda, The Book Of Taliesyn.
A seguir, Evans anuncia as músicas anteriores, e apresenta uma própria, "Mandrake Roots", primeiro sucesso que a banda viria a conquistar, presente no disco de estréia. Aqui Jon Lord já dá mostras de suas influências clássicas e Ritchie Blackmore faz o que melhor sabia fazer nessa época, ou seja, imitar Jimi Hendrix, o que é claro, não viria a se repetir em seus próximos discos com a banda, onde Ritchie gradativamente encontraria seu próprio estilo e faria escola, se tornando a lenda da guitarra que é. Paice, por outro lado, manda um solo de bateria mostrando desde já porque é ainda hoje considerado referência para tantos bateristas.
A seguir, Evans anuncia outra cover, desta vez a famosíssima "Help" dos Beatles, regravada pela banda em seu disco de estréia, em uma versão mais lenta e introspectiva, misturando na hora do improviso passagens clássicas. Mas veremos o que a banda tem a oferecer realmente em seu próximo número, "Wring That Neck", do segundo disco da banda, genial composição própria da banda em seu primeiro período, com Ritchie mostrando os primeiros sinais de quem viria à ser realmente a partir dos anos 70 nessa instrumental recheada de feeling e ritmo, que até seria executada novamente no concerto de 1969 e novamente em 1999 no concerto no Royal Albert Hall, dessa vez pela orquestra mesmo ao invés da banda. Uma pena, pois seria uma ótima oportunidade para presenciá-la com Steve Morse na guitarra.
O show segue e a introdução da famosa peça de Richard Strauss, que viria a ficar popular na trilha do filme "2001: A Space Odissey", introduz a cover de "River Deep, Mountain High", originalmente composta por Phil Spector, famoso produtor dos Beatles, por sua técnica "Wall Of Sound" empregada no disco Let It Be dos FabFour. A música, originalmente gravada por Ike e Tina Turner e regravada pelo Purple em seu segundo disco aqui ganha um aspecto clássico andante nos teclados de Lord e na guitarra ainda tímida de Ritchie. Por fim, a última dessa apresentação, antes do Cream subir ao palco, mais uma cover, desta vez de "Hey Joe", originalmente composta pelo obscuro cantor folk Billy Roberts, gravada originalmente pelos The Leaves e regravada por Jimi Hendrix, em 1966, vindo essa versão de Hendrix, ficar como versão definitiva da música, e por isso a mais famosa e difundida. A versão do Deep Purple encontra-se em seu disco de estréia. Interessante é ver como até para essa canção a roupagem clássica ficou adequada. No final, pode-se notar a aprovação do público a uma das mais novas bandas que viria a conquistar a todos.
Voltando do túnel do tempo... que viagem, não? Pois é, se você realmente gostou do que leu aqui, tente conseguir essa apresentação de uma banda que viria a se tornar uma lenda viva do rock e uma das mais importantes peças do rock pesado, dando os seus primeiros e tímidos passos no caminho ao estrelato. Curioso como hoje também ninguém mais, nem mesmo a própria banda tem notícias de Rod Evans, que mais tarde, nos anos 70 viria a fundar, meio sem sucesso, o Captain Beyond e depois vindo a desaparecer. A qualidade desse material do Purple não é das melhores, e é o registro da banda mais difícil de encontrar nos dias de hoje. Mesmo assim, vale a pena conferir essa raridade se você tiver a chance.
Inglewood 10/18/68: Live in California (2002)
(Deep Purple)
Nota: 7,5 / 10
Tracklist:
01. Hush (Joe South)
02. Kentucky Woman (Neil Diamond)
03. Mandrake Root
04. Help (The Beatles)
05. Wring That Neck
06. River Deep, Mountain High (Ike & Tina Turner)
07. Hey Joe (The Leaves)
Selo: Mira (no. 207)
Deep Purple é:
Rod Evans: voz
Ritchie Blackmore: guitarra
Nick Simper: baixo
Jon Lord: teclado
Ian Paice: bateria
Discografia anterior:
- inFinite (2017)
- Now What?! (2013)
- Rapture of the Deep (2005)
- Bananas (2003)
- Inglewood 10/18/68: Live in California (2002)
- Abandon (1998)
- Purpendicular (1996)
- The Battle Rages On... (1993)
- Slaves and Masters (1990)
- The House of Blue Light (1987)
- Perfect Strangers (1984)
- Come Taste the Band (1975)
- Stormbringer (1974)
- Burn (1974)
- Who Do We Think We Are (1973)
- Machine Head (1972)
- Fireball (1971)
- In Rock (1970)
- Deep Purple (1969)
- The Book of Taliesyn (1968)
- Shades of Deep Purple (1968)
Sites oficiais: www.deeppurple.com, www.thehighwaystar.com
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