Muito se diz que, não importa o que soframos no futuro, não importa o quanto outras pessoas queiram nos diminuir, não importa o quanto outras pessoas, por quaisquer circunstâncias queiram nos tirar coisas, riquezas, etc, nada, absolutamente nada poderá tirar aquilo que nós aprendemos, nada poderá roubar nossas memórias, quem nós somos, nossos segredos, o que sabemos e o que aprendemos. Isso vale para muitas pessoas. Mas para aquelas que possuem Alzheimer, já não é bem assim. Um dia pode-se acordar de manhã e saber exatamente o que fazer e onde ir, no outro, tudo isso pode simplesmente sumir. Este drama é real e vivido por muitas pessoas ao redor do mundo, desafortunadas o bastante para adquirirem a doença. O romance de Lisa Genova aborda essas questões e, embora seja uma história de ficção, há o fator real da doença que acomete a personagem principal da história, a professora de linguística Alice Howland.
O filme começa nos apresentando à personagem principal do romance, sua vida enquanto uma pessoa sã, independente e normal e, conforme vai passando, vamos acompanhando sua vagarosa deterioração a uma pessoa incoerente e que necessita de constante apoio e suporte de sua família para continuar vivendo. Começa com simples esquecimentos, daqueles esquecimentos mundanos que temos quase todos os dias e que vão se intensificando conforme a idade passa. Progride para visitas cada vez mais frequentes ao médico neurologista e, finalmente, transformam a vida de Alice, seu marido (Alec Baldwin) e suas duas filhas e filho em um pesadelo vivo. Aos poucos ela vai se esquecendo de palavras, passando para locais da casa, coisas que tinha que fazer e não se lembra, o nome da própria filha, coisas que ela sabe de si mesma, até perder totalmente a capacidade de ler um livro sem ter que reler uma simples página inúmeras vezes.
A angustiante passagem de Alice de uma pessoa independente para uma que depende totalmente das pessoas a sua volta até para levá-la ao banheiro ou para ir à sorveteria me faz pensar no maior medo que tenho nessa vida: o medo da perda de minha independência como pessoa. É fantástico sermos independentes; quem não gosta? Poder pegar o carro a qualquer momento, ir para lugares e eventos por vontade própria, fazer as coisas que está acostumado, isso é fantástico, eu diria até mesmo transcendental. Mas um dia isso acaba, por qualquer razão que seja, sendo tirado de nós, e é aí que precisamos atentar para a coisa mais importante que o filme nos lembra: as nossas ligações.
Vivemos em um mundo de ligações frágeis; um mundo de interesses e de favores sem compromisso. Um mundo de coisas efêmeras. Na velocidade que corre nossas vidas e as informações que captamos todos os dias, esquecemos de viver o momento, de tornar nossas experiências laços de conexão perenes com as pessoas a nossa volta. Laços estes que, serão da mais alta importância, quando chegarmos ao ponto de nos esquecermos até mesmo quem nós somos e o que fazemos. Imagine se um dia você não conseguir nem mesmo se lembrar de seu nome. Que situação desesperadora.
Retomo então a questão vital dos laços e ligações, pois são eles que um dia irão nos lembrar, no meio de nossa demência, aquilo que costumávamos ser. As ligações passam, portanto, a ser a coisa mais valiosa com a qual podemos contar na vida, mais até do que os conhecimentos que adquirimos. Saber que alguém estará ao nosso lado para se lembrarem da gente, para nos ajudarem a passar pelo difícil processo da perda da independência, com ou sem Alzheimer, é algo acalentador.
É o que dizia Doc Brown no final de Back to the Future Part III, "o seu futuro é aquilo que você faz dele, portanto faça um bom futuro". Ou o que costumava dizer Gandalf em Lord of the Rings, "tudo que temos que fazer é decidir o que fazer com o tempo que nos é dado". Fazer um bom futuro e decidir com sabedoria o que fazer com nosso tempo na Terra, isso tudo nos ajudará a criar ligações perenes e etéreas, sim, etéreas, que transcendem este mundo. Isso já fui eu que falei! E se por alguma razão eu um dia me esquecer que disse isso, peço que, quem quer que seja minha ligação perene e etérea que estiver perto de mim, por favor, me ajude a lembrar disso. Agradecerei de coração, mesmo que tenha me esquecido.
Em suma, um filme tocante e que sem dúvida nos faz pensar no valor que damos às coisas a nossa volta. Contando com a atuação fantástica de Julianne Moore, que me lembro de ter visto pela primeira vez em The Fugitive (O Fugitivo) com Harrison Ford e acompanhado sua carreira, passando por clássicos como Jurassic Park, The Big Lebowski (O Grande Lebowski), os ótimos Children of Men (Filhos da Esperança), I'm Not There (Não Estou Lá) e Blindness (Ensaio Sobre a Cegueira) e recentemente os capítulos finais da ótima série The Hunger Games (Jogos Vorazes), além das boas performances de Kate Bosworth, Alec Baldwin e (quem diria!) Kristen Stewart, que está começando a se tornar uma atriz de verdade, Still Alice é uma grande recomendação minha! Fico muito contente que uma atuação brilhante como a de Moore tenha sido reconhecida pelo Oscar deste ano para melhor atriz.
Still Alice (2014)
Título em português BR: Para Sempre Alice
Nota: 9 / 10
Direção: Richard Glatzer, Wash Westmoreland
Produção: James Brown, Pamela Koffler, Lex Lutzus
Roteiro: Richard Glatzer, Wash Westmoreland (baseado no romance de Lisa Genova)
Trilha sonora: Ilan Eshkeri
Estrelando: Julianne Moore, Kate Bosworth, Shane McRae, Hunter Parrish, Alec Baldwin, Seth Gilliam, Kristen Stewart, Stephen Kunken
Trailer:
A angustiante passagem de Alice de uma pessoa independente para uma que depende totalmente das pessoas a sua volta até para levá-la ao banheiro ou para ir à sorveteria me faz pensar no maior medo que tenho nessa vida: o medo da perda de minha independência como pessoa. É fantástico sermos independentes; quem não gosta? Poder pegar o carro a qualquer momento, ir para lugares e eventos por vontade própria, fazer as coisas que está acostumado, isso é fantástico, eu diria até mesmo transcendental. Mas um dia isso acaba, por qualquer razão que seja, sendo tirado de nós, e é aí que precisamos atentar para a coisa mais importante que o filme nos lembra: as nossas ligações.
Vivemos em um mundo de ligações frágeis; um mundo de interesses e de favores sem compromisso. Um mundo de coisas efêmeras. Na velocidade que corre nossas vidas e as informações que captamos todos os dias, esquecemos de viver o momento, de tornar nossas experiências laços de conexão perenes com as pessoas a nossa volta. Laços estes que, serão da mais alta importância, quando chegarmos ao ponto de nos esquecermos até mesmo quem nós somos e o que fazemos. Imagine se um dia você não conseguir nem mesmo se lembrar de seu nome. Que situação desesperadora.
Retomo então a questão vital dos laços e ligações, pois são eles que um dia irão nos lembrar, no meio de nossa demência, aquilo que costumávamos ser. As ligações passam, portanto, a ser a coisa mais valiosa com a qual podemos contar na vida, mais até do que os conhecimentos que adquirimos. Saber que alguém estará ao nosso lado para se lembrarem da gente, para nos ajudarem a passar pelo difícil processo da perda da independência, com ou sem Alzheimer, é algo acalentador.
É o que dizia Doc Brown no final de Back to the Future Part III, "o seu futuro é aquilo que você faz dele, portanto faça um bom futuro". Ou o que costumava dizer Gandalf em Lord of the Rings, "tudo que temos que fazer é decidir o que fazer com o tempo que nos é dado". Fazer um bom futuro e decidir com sabedoria o que fazer com nosso tempo na Terra, isso tudo nos ajudará a criar ligações perenes e etéreas, sim, etéreas, que transcendem este mundo. Isso já fui eu que falei! E se por alguma razão eu um dia me esquecer que disse isso, peço que, quem quer que seja minha ligação perene e etérea que estiver perto de mim, por favor, me ajude a lembrar disso. Agradecerei de coração, mesmo que tenha me esquecido.
Em suma, um filme tocante e que sem dúvida nos faz pensar no valor que damos às coisas a nossa volta. Contando com a atuação fantástica de Julianne Moore, que me lembro de ter visto pela primeira vez em The Fugitive (O Fugitivo) com Harrison Ford e acompanhado sua carreira, passando por clássicos como Jurassic Park, The Big Lebowski (O Grande Lebowski), os ótimos Children of Men (Filhos da Esperança), I'm Not There (Não Estou Lá) e Blindness (Ensaio Sobre a Cegueira) e recentemente os capítulos finais da ótima série The Hunger Games (Jogos Vorazes), além das boas performances de Kate Bosworth, Alec Baldwin e (quem diria!) Kristen Stewart, que está começando a se tornar uma atriz de verdade, Still Alice é uma grande recomendação minha! Fico muito contente que uma atuação brilhante como a de Moore tenha sido reconhecida pelo Oscar deste ano para melhor atriz.
Still Alice (2014)
Título em português BR: Para Sempre Alice
Nota: 9 / 10
Direção: Richard Glatzer, Wash Westmoreland
Produção: James Brown, Pamela Koffler, Lex Lutzus
Roteiro: Richard Glatzer, Wash Westmoreland (baseado no romance de Lisa Genova)
Trilha sonora: Ilan Eshkeri
Estrelando: Julianne Moore, Kate Bosworth, Shane McRae, Hunter Parrish, Alec Baldwin, Seth Gilliam, Kristen Stewart, Stephen Kunken
Trailer:
Rola crítica dos filmes "Cake" ( o da Jennifer Aniston) e do "Apineia" filme brasileiro lançado no fim do ano passado, achei muito bonito cênica e sonoramente falando, achei a ideia também muito interessante ( um drama brasileiro) mas senti falta de muitas coisas, e queria ler outras opiniões sobre... Pense no caso hahaha. Abraço! Curtindo muito o blog aqui!!
ReplyDeleteValeu, Anderson! Ainda não vi esses filmes que você falou, mas ouvi falar! Obrigado pelas dicas, vou procurar uma hora que der. Abraço!
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