Saturday, March 14, 2015

FILME: The Terminator (O Exterminador do Futuro)


Os anos 80 foram marcados por diversas produções icônicas e memoráveis. Não é a toa que está tendo este turbilhão recente de nostalgia fílmica referente aos anos 80. Eu, como uma cria da década, claro, adoro isso, especialmente quando a coisa é bem feita. E entre todas as boas produções que eu possa me lembrar e que tiveram um enorme impacto sobre mim e a forma como vejo o mundo estão os filmes de ficção-científica. Eu sou absolutamente fascinado pelo gênero, e esse fascínio vem principalmente quando essas produções discutem possibilidades futuras para a humanidade. É o caso de filmes como "Back to the Future Part II" (De Volta para o Futuro Parte II), "Things to Come" (Daqui a Cem Anos), "Metropolis", "The Time Machine" (A Máquina do Tempo, de 1960) e o grande clássico Blade Runner e muitos outros clássicos. Chega-se então aqui em uma das histórias mais interessantes e que possuem uma crítica muito forte sobre o ser humano e suas conquistas, o clássico do visionário diretor James Cameron feito em 1984, The Terminator.


Quero começar então dizendo que este filme eu costumava assistir na TV com minha família quando era pequeno e somente a visão do andróide T-800 no final do filme e a cena em que ele quase consegue alcançar a Sarah Connor eram o bastante para rechear minhas noites de sono com pesadelos. Hoje quando ainda assisto o filme, claro, os efeitos especiais e a animação stop-motion do T-800, em comparação com as tecnologias que temos atualmente já não metem tanto medo assim, mas ainda são boas o bastante para nos fazerem imergir no universo do filme e nos causarem pensamentos obscuros de um futuro apocalíptico, ou seja, mesmo após anos de existência e o advento tecnológico que tivemos o filme ainda é bom o bastante para nos causar calafrios, cortesia esta do mestre e lenda dos efeitos especiais práticos Stan Winston, falecido em 2008.

A grande surpresa do filme: o androide sem sua pele sintética

E não é para menos. A premissa é o seguinte: no ano de 2029, um exército da resistência humana envia Kyle Reese (Michael Biehn), um soldado do exército, de volta no tempo, ao ano de 1984. Do mesmo jeito, o exército das máquinas oniscientes que trava uma feroz batalha contra os humanos pelo domínio total envia o andróide T-800 (Schwarzenegger) para o mesmo ano, afim de matar a mãe que dará luz ao líder da resistência humana, John Connor. Esta mulher é Sarah Connor (Linda Hamilton). Em outras palavras, este supostamente é o conflito final entre o ser humano e a tecnologia que ele mesmo criou.

E é aí que está a sacada genial de Cameron. Diversas outras produções cinematográficas já conceberam tramas em que o homem se coloca para questionar seus avanços e seu domínio sobre o planeta. Um bom exemplo é o filme 2001: Uma Odisseia no Espaço, em que temos uma tripulação de um módulo espacial lutando para sobreviver à falha de programação de Hal 9000 e sua inteligência artificial que remete ao fantasma de silício da onisciência da máquina. Quem não conhece esta teoria de Gilbert Ryle, bastante disseminada no universo da robótica sobre os "fantasmas da máquina", recomendo que leia sobre ela.

Mas mesmo 2001 que considero um filme perfeito em sua abordagem, não chegou a atacar diretamente a tecnologia de ponta e o grande desejo do homem em brincar de Deus, criando criaturas mecânicas que podem no futuro ter o famoso complexo de Frankenstein e irem contra seu criador de forma aterradora e brutal. O futuro pintado aqui por Cameron em sua espetacular trama dá medo até no maior dos marmanjos e faz com que nós repensemos sobre os avanços da inteligência artificial e seus desdobramentos.

A trama então passa a seguir Kyle Reese e Sarah Connor a cada momento que são perseguidos pelo androide T-800, a cada escapada e a cada desdobramento na trama que nos revela um pouco desse futuro distópico, onde podemos em um relance bem rápido do futuro, ver Reese e alguns de seus amigos soldados nesta luta cruel e aterradora contra os robôs assassinos. Mas são apenas relances rápidos. A trama se concentra nos anos 80, e o casal principal do filme passa por mudanças. Sarah era uma garçonete que trabalhava em um clube noturno, o tipo de mulher que jamais veríamos empunhando um rifle ou partindo para cima de alguém, assustada, indefesa. Se ouvíssemos Reese dizer antes que esta era a mãe do líder da resistência contra as máquinas, isso não surtiria efeito algum, mas não, o filme toma seu tempo e espera para fazer a grande revelação.



E é quando Reese e Sarah se encontram e o soldado diz que está lá para protegê-la, que a vida da menina vai ter uma completa guinada. Ela começa a adquirir contornos mais interessantes do meio do filme para o fim, acreditamos mais que ela será a mãe de um líder militar, ela perde todos aqueles trejeitos de patricinha e mergulha na psique de uma mulher amargurada com a situação presente que se encontra e, mais tarde, com o seu próprio futuro. Para mim, Sarah Connor é uma das personagens mais bem criadas e construídas do cinema justamente por isso, você não acredita nela a princípio; ela começa inocente, bidimensional, em suma, com nada ali de interessante, simplesmente nada. Então há o encontro com o soldado do futuro e aí sim, o roteiro começa a recheá-la com conteúdo e a dar contornos mais interessantes para ela. Ela passa por todo um processo de reconstrução total de sua psique, sua mentalidade, enfim, fica muito interessante vê-la, acompanhá-la.

Da mesma forma, passamos a gostar também da figura de John Connor, embora ele ainda nem tenha nascido, mas a forma como Reese o descreve, chegando até mesmo a dizer que morreria por John Connor nos causa simpatia por esse personagem, imaginamos um líder forte, imponente, justo, fiel, alguém que tivesse bastante influência em meio às pessoas. Ficamos então imaginando em nossas cabeças o que será que aconteceu, em que ponto a guerra no futuro chegou para que a batalha final entre os humanos e as máquinas tivesse que se dar no passado. Temos a vaga ideia de que a humanidade estava em vantagem, porque para que os robôs tivessem que chegar a extremos de querer mandar um androide para matar o líder dos humanos antes mesmo de ter nascido, é porque realmente as máquinas estavam perdendo território.

Diferente de muitos blockbusters de hoje, que aceleram demais seu ritmo para não se perceber a falta de conteúdo, ou diminuem demais seu ritmo e vão preenchendo os espaços com situaçõezinhas paralelas pra irem se arrastando, também pelo mesmo motivo, The Terminator tem o ritmo certo. Ele acelera na ação quando necessário, e quando as cenas de ação aparecem, são efetivas e colaboram para o recheio da história, a exemplo da cena de perseguição no carro com Sarah e Reese e, da mesma forma, o filme diminui o seu andamento na hora certa, para fazer o expectador respirar e, da mesma forma anterior, desenvolver personagens e estabelecer relações entre eles, é o caso da cena do apartamento onde Sarah e Reese consumam o seu amor que dará origem ao salvador da humanidade.

E quando eu uso aqui o termo "salvador", não estou fazendo exagero algum, afinal; vamos parar e analisar um pouco: temos um casal que foge de perseguidores que querem matá-los para que não deem origem ao cara que vai libertar a raça humana do domínio das máquinas e se escondem em um quarto de hotel precário e lá concebem o tal salvador, OK? Puxa vida, onde mesmo eu já vi essa história?

Humm, pois é, olha outro J. C.!
E se as iniciais do nome John Connor não forem o bastante pra te convencer da referência deslavada, caro leitor, eu não sei o que é.

Enfim, vamos agora falar sobre aquela que é a atração principal deste filmaço, Arnold Schwarzenegger. Estando em um relativo começo de carreira e tendo subido uns degraus de estrelato por causa do concurso de Mister Universo, e também por ter estrelado o filme Conan the Barbarian, o fisioculturista estava em uma maré de sorte para vingar em Hollywood. Sua escalação como o robô T-800 não somente foi perfeita como também apropriada para o momento que vivia, e imortalizou a figura do androide do universo de Cameron.


Carismático, Arnold nunca foi um primor como ator, até hoje não o é, apesar de ter melhorado e muito, é um ator de filmes de ação que funciona bem; portanto, as falhas que ele tinha como ator dramático foram muito bem acobertadas neste filme, ainda mais contando com a direção segura de Cameron, uma vez que Arnold tinha simplesmente que fazer um androide, ou seja, uma figura que nunca expressa emoção alguma. O papel acaba servindo como uma luva para ele e lhe dá a oportunidade de começar a fazer algo que se tornou constante na sua carreira, como inventar frases de efeito que grudam na cabeça. É o caso do "I lied!" (eu menti!) em Commando, ou então de "get to the chopa!" (vão pro helicóptero!) em Predator. Aqui, Arnold imortaliza frases como "fuck you, asshole!" (foda-se, cuzão!) quando responde para um cara de um hotelzinho ou mesmo uma de suas frases que se tornou seu cartão de visitas: "I'LL BE BACK!" (eu vou voltar). E ele realmente voltou, várias vezes. Não dá pra resistir a seu carisma, mesmo em um filme ruim, ver Arnold ainda é algo prazeroso, como é o caso de Red Sonja, onde ele nem mesmo é o ator principal.

Vamos falar também deste que foi um diretor visionário, James Cameron. Em uma entrevista, Cameron dizia que jamais teve qualquer intenção de fazer uma série de filmes com seu Terminator, o filme simplesmente aconteceu porque Cameron tinha como intuito brincar justamente com essas ideias de produções clássicas em que faz-se um recorte da humanidade e de alguma forma coloca-se alguém em um impasse que decidirá o futuro de todos. Ou seja, The Terminator acabaria com Sarah Connor decidindo o que fazer com o seu futuro a partir daquele momento do frame final do filme, sem que a guerra contra as máquinas realmente acontecesse. E essa acabou sendo outra sacada genial que somente diretores como Cameron em seus dias áureos teriam capacidade para conceber. Fecha-se uma história ali, não há a necessidade de se construir uma cinessérie a partir daquilo; diretores modernos excelentes como Christopher Nolan, Tarantino e outros se utilizam muito desse recurso. Mal sabia Cameron que sua ideia vingaria em uma continuação anos a frente. Mas falarei sobre ela no próximo mês.

E por fim, a excepcional, a fantástica trilha sonora composta pelo talentosíssimo Brad Fiedel. Eu sou fã do trabalho de Fiedel, não só aqui, como também em outros trabalhos de sucesso, como Johnny Mnemonic e True Lies, porém, aqui foi onde Fiedel realmente escreveu seu Magnum Opus das trilhas sonoras. A música tema de Terminator tem todo um clima opressor e melancólico sendo construído, que te dá a ideia da aproximação da atmosfera criada na produção com o futuro distópico que mostra em pequenos flashes. Diametralmente, há o clima épico de batalha contra essas forças opressoras, um senso de imediata ação quando a marcha segue num crescendo constante e são ouvidos o martelar de metal frio nos indicando a presença do inimigo concebido por nossas próprias mãos. O próprio Brad Fiedel descreve seu tema como sendo sobre "um homem mecânico e seu batimento cardíaco". Um trabalho absolutamente primoroso de trilha sonora que entrou para a história como um dos temas mais reconhecíveis e icônicos do cinema e que, infelizmente é mal aproveitado nas encarnações mais recentes da franquia.

Claro, eu não poderia deixar de concluir esta breve análise recomendando altamente a todos esta pequena obra-prima do cinema blockbuster de ficção-científica que, acredite, James Cameron acabou financiando praticamente do próprio bolso. Sim, na época, era uma produção independente, assim como o Mad Max de George Miller foi, sendo um grande sucesso de público e crítica no ano de seu lançamento e abrindo as portas para sequências futuras. Mal sabíamos nós de que James Cameron, alguns anos após o êxito deste filmaço iria conseguir o feito de nos impressionar mais ainda com sua continuação.

A praticamente quatro meses de estrelar o quinto filme da franquia, Terminator Genisys, este foi então o primeiro dos quatro especiais que farei sobre a grande saga cinematográfica criada por Cameron e seu espírito visionário. Nos vemos em Abril!

The Terminator (1984)
Título em português BR: O Exterminador do Futuro
Nota: 9 / 10

Direção: James Cameron
Produção: John Daly, Derek Gibson, Gale Anne Hurd
Roteiro: James Cameron, Gale Anne Hurd, William Wisher Jr.
Trilha sonora: Brad Fiedel

Estrelando: Arnold Schwarzenegger, Michael Biehn, Linda Hamilton, Earl Boen, Paul Winfield, Lance Henriksen, Rick Rossovich, Bess Motta

Outros filmes desta cinessérie:
- Terminator: Dark Fate (O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio) (2019)
- Terminator Genisys (O Exterminador do Futuro: Gênesis) (2015)
Terminator Salvation (O Exterminador do Futuro: A Salvação) (2009)
- Terminator 3: Rise of the Machines (O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas) (2003)
Terminator 2: Judgment Day (O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final) (1991)
The Terminator (O Exterminador do Futuro) (1984)

Trailer:


2 comments:

  1. Nao sei como nunca reparei no lance das iniciais de John !!! Boa sacada cara.

    Nao sei a sua interpretacao mas na minha opiniao existem diversas linhas do tempo e na linha original JC nao e` filho de reese.

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    1. Valeu, carinha! Eu também não havia reparado lá no começo, mas após alguns anos, re-assistindo o filme, eu fiquei surpreso quando um cara mencionou o negócio e pensei "puts, tem tudo a ver!"

      Essa coisa das várias linhas temporais é uma coisa que eu também defendo, e, pelo que eu vi até agora, vão acabar usando isso como mote para o Terminator Genisys, no caso aí para reiniciar a franquia como fizeram em Star Trek, respeitando a continuidade anterior mas impondo-nos uma história diferente. Confesso que não estou muito seguro em relação a esse novo filme e me irrita essa coisa de quererem reiniciar tudo de novo, mas espero que funcione.

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