O impasse provocado pela saída de Neal Morse foi superado e o Beard mostrou um futuro promissor no seu debut, sem seu principal compositor. Nick mostrou que não estava apenas fazendo a manobra Phil Collins, mas também esbanjando talento e uma tremenda vontade de encontrar uma nova identidade para a banda, tremendamente desfalcada com a saída de Neal. Não só isso. Ele deu um novo gás à ela, e agora todos da banda compõem material. Alguns torceram o nariz para essas mudanças, claro, mas o talento dos caras definitivamente passou na prova com nota consideravelmente grande. E como se não fosse o bastante, conseguiram um membro honorário da banda. John Boegehold, webmaster do site oficial não apenas assina grande parte das novas composições, junto aos membros remanescentes mas também cuida de arranjos de synths, cordas, instrumentos de sopro, e faz vozes ocasionais e sons ambientes nos dois últimos discos. Um verdadeiro prodígio.
Mas aí vem a pergunta que não vai se calar até o próximo disco de estúdio: será Octane, o Wind & Wuthering do Beard? Tudo vai depender de Alan Morse agora. O rumo semelhante que a banda tem tomado em relação à uma de suas maiores influências, o Genesis, tem sido razão de tal especulação. Mas parece que depois de escutar o material apresentado aqui no disco, fica bem mais difícil fazer tal comparação ou mesmo adivinhar o rumo que tomarão depois dele. As composições continuam bem diferentes daquelas feitas na era Neal. A nova identidade sonora convence e se mostra bem interessante na medida que se escuta. Não que não bata uma saudade de Neal de vez em quando, mas no final não importa, porque ele anda fazendo em carreira solo praticamente o mesmo que fazia quando estava na banda.
As sete primeiras faixas do disco que formam o épico "A Flash Before My Eyes" contém uma história intrigante. Vale a pena citar trechos do texto contando um pouco do início desta odisséia. Só achei que teria ficado bem mais legal se tivessem usado trechos do texto narrativo com som de fundo para narrar a história enquanto rolam as músicas, numa referência a Rick Wakeman em sua "Journey To The Center Of The Earth", adaptação musical do livro de Julio Verne, "Viagem ao Centro da Terra". Mas vamos aos fragmentos:
"Sob 15 pés à minha direita da janela há um homem retirando rosas de uma caixa de flores. Está inclinando-se em um bastão de madeira, pois mal consegue manter seu contrapeso, enquanto um bando de pombos levantam vôo da calçada, em torno dele. Alguns passos adiante, na esquina, há uma pequena garota ruiva com uma bolsa plástica rosa, segurando a mão de sua mãe, enquanto esperam para atravessar a rua."
"Então, é isso? É onde um exército de anjos aparecem em uma cegante luz branca para cantar para mim em meu repouso eterno? Onde eu queimo pela eternidade dentro deste escuro pântano sem sonhos?"
"Uma coisa é certeza. Se em algum momento eu acordar, irá ser infernalmente doloroso..."
Uma narrativa realmente curiosa e filosófica. O final dela é tão intrigante quanto esses trechos iniciais que transcrevi. É o tipo de sonho mais real que alguém pode sonhar. Não vou revelar mais detalhes, ou então acabarei contando a história. No campo musical, é um épico surpreendente, com algumas partes dele contendo subdivisões, e a musicalidade está completamente de acordo com o lirismo apresentado em seus versos. Destaque para a crimsoniana "The Ballet Of The Impact", a floydiana "I Wouldn't Let It Go", "She Is Everything" com ares de Marillion e "Of The Beauty Of It All", que são fantásticas, imprimindo também outras influências que vão desde Tears For Fears e Genesis à música contemporânea. De fato, um épico maravilhoso e que merece figurar nos concertos ao vivo.
As 5 faixas soltas restantes do disco também não desapontam. "NWC" não é a melhor instrumental que a banda já fez, mas mesmo assim é bastante empolgante. Temos também a pop "There Was A Time", com sua melodia encantadora e "The Planet's Hum", com seus ares de Gentle Giant visita King Crimson. As duas últimas, "Watching The Tide", uma composição de Nick tem uma melodia maravilhosa e "As Long As We Ride" é aquele tipo de hard à lá Kiss e AC/DC, bem empolgante, tipo apropriado para balançar mesmo, e não poderiam ter terminado o disco de maneira melhor!
Na versão Special Edition ainda encontramos músicas extras que não entraram na normal, com destaque para "Game Face" e a ótima instrumental "Listening To The Sky", além de fragmentos extras do épico que acabaram ficando de fora. Há também um vídeo muito legal, "The Formulation Of Octane", mostrando cenas da banda em estúdio. Eu sugiro que quem realmente gosta do grupo, dê uma chance aos caras. "A Guy Named Syd" e "A Flash Before My Eyes" não são nenhuma "The Light" ou "The Great Nothing", nem deveriam ser, mas certamente têm potencial para se tornarem clássicos, se escutarmos com atenção e sem preconceitos. E assim a nave do Spock's Beard continua sua viagem.
Octane (2005)
(Spock's Beard)
Nota: 8 / 10
Tracklist:
(A Flash Before My Eyes)
01. I. The Ballet Of The Impact
(a) Prelude To The Past
(b) The Ultimate Quiet
(c) A Blizzard Of My Memories
02. II. I Wouldn't Let It Go
03. III. Surfing Down The Avalanche
04. IV. She Is Everything
(a) Strange What You Remember
(b) Words Of Forever
05. V. Climbing Up That Hill
06. VI. Letting Go
07. VII. Of The Beauty Of It All
(a) If I Could Paint A Picture
(b) Into The Great Unknowable
08. NWC
09. There Was a Time
10. The Planet's Hum
11. Watching the Tide
12. As Long as We Ride
Special Edition Bonus Disc:
01. When She's Gone
02. Follow Me to Sleep
03. Game Face
04. Broken Promise Land
05. Listening to the Sky
(Extras from "A Flash Before My Eyes")
06. Someday I'll Be Found (string quartet, Flash #2)
07. I Was Never Lost (background vocals, Flash #2)
08. Paint Me a Picture (pipe organ outtake from Flash)
Selos: InsideOutMusic
Nick D'Virgilio: voz principal, bateria, percussão, violão, guitarra e loops
Alan Morse: guitarra, theremin, voz
Dave Meros: baixo
Ryo Okumoto: teclado
Discografia:
Site oficial: www.spocksbeard.com
Nick D'Virgilio: voz principal, bateria, percussão, violão, guitarra e loops
Alan Morse: guitarra, theremin, voz
Dave Meros: baixo
Ryo Okumoto: teclado
Discografia:
- Noise Floor (2018)
- The First Twenty Years (2015) - compilação
- The Oblivion Particle (2015)
- Brief Nocturnes and Dreamless Sleep (2013)
- X (2010)
- Spock's Beard (2006)
- Octane (2005)
- Feel Euphoria (2003)
- Don't Try This At Home & The Making Of V (2002) - DVD
- Snow (2002)
- V (2000)
- Day for Night (1999)
- The Kindness of Strangers (1998)
- Beware of Darkness (1996)
- The First Twenty Years (2015) - compilação
- The Oblivion Particle (2015)
- Brief Nocturnes and Dreamless Sleep (2013)
- X (2010)
- Spock's Beard (2006)
- Octane (2005)
- Feel Euphoria (2003)
- Don't Try This At Home & The Making Of V (2002) - DVD
- Snow (2002)
- V (2000)
- Day for Night (1999)
- The Kindness of Strangers (1998)
- Beware of Darkness (1996)
- The Light (1995)
Site oficial: www.spocksbeard.com
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