Stephen King é alguém que dispensa apresentações. Grande escritor de suspense e terror, capaz de te prender até o último minuto do livro, aclamado por muitos críticos como o Shakespeare moderno, nerd old school e grande fã do bom e velho rock’n’roll, King também tem suas ligações com outras mídias, como cinema, quadrinhos e TV, e seus livros já ganharam inúmeras adaptações nessas diferentes mídias. Alguns podem argumentar se essas adaptações de sua obra são boas ou não, mas isso é questão de opinião. O que importa aqui é que, mesmo após muitos anos, King ainda continua tão relevante para a cultura pop como quando escreveu seu primeiro livro, “Carrie, a Estranha”, no longínquo ano de 1974.
O Apanhador de Sonhos porém, não é um de seus melhores contos. Escrito após um acidente que King sofreu em 2000, o escritor exorciza suas experiências neste período através de uma das personagens do livro. Basicamente a premissa trata de quatro amigos, Jonesy, Beaver, Henry e Pete, que quando eram jovens, conheceram um menino retardado chamado Duddits, que, de alguma forma possuía habilidades telepáticas que os quatro não conseguiam explicar. Quando um dia estavam acampando em um lugar, no meio da floresta, chamado “Hole in the Wall”, lugar a qual seus pais os traziam todo ano para caçar, os quatro amigos se deparam com algo que pode ser descrito por uma epidemia causada por um vírus alienígena. No meio dessa história toda, o exército americano também está envolvido, no intuito de conter a epidemia, liderado pelo implacável e psicótico Coronel Abraham Kurts e seu sub-imediato Capitão Owen Underhill.
A história mistura, de forma um tanto exagerada, elementos de ficção-científica e horror. Em alguns momentos, a mistura funciona bem, em outros, torna-se meio confusa e de difícil digestão. Porém, todas as marcas registradas do mestre do suspense e horror literário estão ali, o que faz valer a leitura do livro. Na metade do livro a história torna-se meio maçante e arrastada, mas logo recupera o fôlego, e nos dá vislumbres de flashbacks que retornam a juventude dos quatro amigos com Duddits e pontuam momentos chave para podermos compreender elementos da história no tempo presente.
No entanto, King, talvez tentando escrever sobre alguma de suas experiências pessoais, também tropeça em certos instantes. Há momentos no clímax que a narrativa se torna meio confusa, e fica meio inconclusivo se o que estava acontecendo no presente teve reflexões no passado também ou não. Outros momentos da história também emocionam, como no tempo presente, as passagens de Duddits com seus amigos. Aliás, a própria natureza de Duddits fica meio inconclusiva no fim da história, o que não deixa de ser uma boa coisa, fazendo com que nós também fiquemos na dúvida e gerando discussões após a leitura. Com isso, Stephen King vai brincando com o gênero da ficção-científica enquanto tece uma narrativa de cunho pessoal sobre amizade e fidelidade.
E, como não se pode deixar de comentar sobre isso, sim, mesmo não sendo um dos melhores trabalhos de King, o livro ainda é muito melhor do que o filme de 2001, apesar de as personagens no filme terem ficado extremamente bem caracterizadas. O Apanhador de Sonhos provavelmente é um livro que pegarei para ler algum dia novamente, mas isso vai demorar um bocado. Um conto intrincado e interessante, com seus tropeços, mas que mesmo assim, não te faz desistir de virar a próxima página.
Dreamcatcher (2001)
Título em português BR: O Apanhador de Sonhos
Nota: 7 / 10
Escrito por: Stephen King
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