Nota: 9 / 10
Fiquei interessado em ler este conto de Joseph Conrad após me recordar que havia uma música do Iron Maiden chamada "The Duellists", do álbum Powerslave. A música foi inspirada no filme de 1977, baseado no livro de Conrad. Muita coisa que eu conheço de cinema ou literatura, como Edgar Allan Poe, Dario Argento, Lewis Carroll, Ernest Hemingway, ou coisas assim, tiveram meu interesse bastante fomentado através da música, especialmente do Heavy Metal e do Rock Progressivo. Pode colocar aí na conta de bandas como Metallica, Maiden, Queen, Genesis, Floyd, e outras, muitas outras.
The Duel: A Military Story é uma história que realmente me surpreendeu. Eu já havia conhecido Heart Of Darkness, outro grande livro de Conrad, claro, este através do Coppola.
É uma leitura recomendadíssima! Publicada primeiramente pela revista Pall Mall, em formato serial, em 1908, a trama foi magistralmente escrita pelo grande autor anglo-polonês Joseph Conrad, conhecidíssimo por suas histórias envolvendo os militares e as suas próprias experiências dentro deste mundo. Por ter um enorme conhecimento do meio militar, especialmente o naval, suas histórias carregam toda a emoção e o drama das batalhas, especialmente no que tange o período napoleônico.
E em se falando de período das batalhas napoleônicas, ninguém melhor do que ele para escrever contos neste sentido. O emocionante duelo que se deu por anos entre os dois personagens deste conto em especial, é um destes exemplos.
A história narra o encontro de dois oficiais de um destacamento do exército, os oficiais D'Hubert e Féraud, na primeira metade do século XIX, durante as guerras napoleônicas. No início da história, um deles, D'Hubert, vai a procura de Féraud para colocá-lo sob custódia, achando-o com uma acompanhante; Féraud não gosta muito dessa atitude, e por causa dessa grave ofensa que Féraud acredita que D'Hubert cometeu, abre-se aqui um embate que acaba virando lenda entre os outros oficiais do exército. Acontece que Féraud matou um civil a caminho da casa da mulher, e D'Hubert o colocou sob custódia, para se apresentar ao destacamento de forma a ser preso, mas os dois oficiais duelam e D'Hubert acaba ferindo o ombro de Féraud e o humilhando. Féraud não desiste do duelo e quer travar mais batalhas pela sua honra. Este é somente o primeiro capítulo do livro, há mais três.
O duelo entre os dois é levado através da guerra, com Féraud desafiando D'Hubert para diversos embates, sem realmente nenhum ser de fato conclusivo. Quando Féraud ouve que D'Hubert foi promovido a capitão, fica possesso, porque oficiais de diferentes hierarquias, pelas regras, não podem duelar, então ele também tenta fazer esta mesma manobra. Quando consegue, outros duelos tomam lugar, e pouco a pouco você vai vendo alguns outros soldados também comentar sobre o lendário duelo que durou por anos.
Vê-se algo curioso. Napoleão é derrotado na famosa batalha de Waterloo, e Féraud, que já havia considerado antes D'Hubert um traidor por este último ter se recusado a comandar uma brigada, é preso por ser acusado de ter parte na batalha dos 100 Dias, mas D'Hubert o salva da execução sem Féraud saber, pois se sentia de alguma forma preso a ele. Féraud vai viver recluso em uma província, e passa dias amargos e de letargia.
Finalmente, Féraud ouve que D'Hubert teria sido promovido no Novo Exército Francês, e isso lhe dá novo ânimo. Ele se alista e vai atrás de D'Hubert, que já esta casado com uma mulher chamada Adele, e os dois tem o último e mais emocionante combate do livro, combate esse que acaba pondo um fim definitivo à antiga rixa dos dois antagonistas.
A artimanha usada por D'Hubert neste último combate é tão surpreendente quanto o final da história, em que D'Hubert assume que a disputa entre os dois, de alguma forma, trouxe sentido a sua vida. As descrições de Conrad não são longas, mas são precisas, e destacam aquilo que tem que ser destacado na narrativa. Eu fiquei especialmente surpreso com a fineza com que Conrad escreve, nos dando a ideia de um embate sempre tenso e uma disputa entre rivais sempre acalorada entre os dois antagonistas, mas sem recorrer ao vocabulário do homem comum. Há uma espécie de trato aqui no conto, entre os dois, pois no final de tudo, este é um embate, sobretudo, pela honra. É a honra e o prestígio que guia esta rixa que durou tanto tempo.
Conrad utiliza-se de todo seu talento como escritor da era modernista, mas calcado em vários aspectos do realismo; ele mostra uma narrativa de ficção com elementos autênticos da realidade do exército francês, mas focando nas grandes mudanças que ocorrem na sociedade daquele período, fazendo com que a obra seja, de fato, uma narrativa de vanguarda, em outras palavras, modernista. Toda a abordagem de transição da França, com a derrota de Napoleão e os novos horizontes que se formam após estes eventos também produzem eco na própria realidade de transição destes dois personagens do conto, que pouco a pouco vão se adaptando à novas realidades e novas condições de vida, ainda que resolvam manter uma antiga disputa.
E em se falando de período das batalhas napoleônicas, ninguém melhor do que ele para escrever contos neste sentido. O emocionante duelo que se deu por anos entre os dois personagens deste conto em especial, é um destes exemplos.
A história narra o encontro de dois oficiais de um destacamento do exército, os oficiais D'Hubert e Féraud, na primeira metade do século XIX, durante as guerras napoleônicas. No início da história, um deles, D'Hubert, vai a procura de Féraud para colocá-lo sob custódia, achando-o com uma acompanhante; Féraud não gosta muito dessa atitude, e por causa dessa grave ofensa que Féraud acredita que D'Hubert cometeu, abre-se aqui um embate que acaba virando lenda entre os outros oficiais do exército. Acontece que Féraud matou um civil a caminho da casa da mulher, e D'Hubert o colocou sob custódia, para se apresentar ao destacamento de forma a ser preso, mas os dois oficiais duelam e D'Hubert acaba ferindo o ombro de Féraud e o humilhando. Féraud não desiste do duelo e quer travar mais batalhas pela sua honra. Este é somente o primeiro capítulo do livro, há mais três.
O duelo entre os dois é levado através da guerra, com Féraud desafiando D'Hubert para diversos embates, sem realmente nenhum ser de fato conclusivo. Quando Féraud ouve que D'Hubert foi promovido a capitão, fica possesso, porque oficiais de diferentes hierarquias, pelas regras, não podem duelar, então ele também tenta fazer esta mesma manobra. Quando consegue, outros duelos tomam lugar, e pouco a pouco você vai vendo alguns outros soldados também comentar sobre o lendário duelo que durou por anos.
Vê-se algo curioso. Napoleão é derrotado na famosa batalha de Waterloo, e Féraud, que já havia considerado antes D'Hubert um traidor por este último ter se recusado a comandar uma brigada, é preso por ser acusado de ter parte na batalha dos 100 Dias, mas D'Hubert o salva da execução sem Féraud saber, pois se sentia de alguma forma preso a ele. Féraud vai viver recluso em uma província, e passa dias amargos e de letargia.
Finalmente, Féraud ouve que D'Hubert teria sido promovido no Novo Exército Francês, e isso lhe dá novo ânimo. Ele se alista e vai atrás de D'Hubert, que já esta casado com uma mulher chamada Adele, e os dois tem o último e mais emocionante combate do livro, combate esse que acaba pondo um fim definitivo à antiga rixa dos dois antagonistas.
A artimanha usada por D'Hubert neste último combate é tão surpreendente quanto o final da história, em que D'Hubert assume que a disputa entre os dois, de alguma forma, trouxe sentido a sua vida. As descrições de Conrad não são longas, mas são precisas, e destacam aquilo que tem que ser destacado na narrativa. Eu fiquei especialmente surpreso com a fineza com que Conrad escreve, nos dando a ideia de um embate sempre tenso e uma disputa entre rivais sempre acalorada entre os dois antagonistas, mas sem recorrer ao vocabulário do homem comum. Há uma espécie de trato aqui no conto, entre os dois, pois no final de tudo, este é um embate, sobretudo, pela honra. É a honra e o prestígio que guia esta rixa que durou tanto tempo.
Conrad utiliza-se de todo seu talento como escritor da era modernista, mas calcado em vários aspectos do realismo; ele mostra uma narrativa de ficção com elementos autênticos da realidade do exército francês, mas focando nas grandes mudanças que ocorrem na sociedade daquele período, fazendo com que a obra seja, de fato, uma narrativa de vanguarda, em outras palavras, modernista. Toda a abordagem de transição da França, com a derrota de Napoleão e os novos horizontes que se formam após estes eventos também produzem eco na própria realidade de transição destes dois personagens do conto, que pouco a pouco vão se adaptando à novas realidades e novas condições de vida, ainda que resolvam manter uma antiga disputa.
A todo mundo que se interessa por história e, principalmente, por uma narrativa curta, mas envolvente, e cheia de surpresas, eu recomendo esta leitura. É um livro que, apesar de não ser a melhor obra de Conrad, carrega em si muito do que representou a França do séc. XIX, e sua transição para o mundo moderno. E um muito obrigado, ao Iron Maiden, e, mais tarde, a Ridley Scott, que me colocaram em contato com esta interessantíssima obra de Joseph Conrad.
The Duel: A Military Story (1908)
Título em português BR: Os Duelistas
Título em português BR: Os Duelistas
Escrito por: Joseph Conrad
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